Capitulo 12
ELISA
Levei Becca ao carro, ela conseguiu dirigir até minha casa que não ficava muito longe do colégio. Becca ficou em silêncio durante a maior parte do trajeto. Eu a conhecia muito bem para saber que ela estava bastante envergonhada para falar qualquer coisa. Quando chegamos a minha casa a convidei para entrar.
-- Becca, você está bem? -- Perguntei, oferecendo-lhe um copo de água.
-- Eu perdi a cabeça, Lisa. -- Refletiu ela.
-- Becca, não entendo por que você fez isso.
-- Já disse que perdi a cabeça. Sai de mim. Depois que você disse aquilo, perdi o controle.
Becca parecia prestes a chorar.
-- Sabe, Lisa -- Continuou ela, controlando as emoções -- Você é tudo em minha vida. Tenho uma mãe que se importa mais com o que vai vestir amanhã do que com meu bem-estar, um pai que quase nunca vejo, não tenho amigos de verdade e assim como você, sou filha única. Sinto-me muito sozinha. Só não quando estou com você.
-- Porque nunca me disse que se sentia assim, Becca. Eu sempre achei que fosse feliz, você é sempre uma pessoa tão de bem com a vida...
-- Esse é meu modo de lhe dar com a solidão, Lisa. Eu preciso disso para tentar ser feliz. Você é a única coisa verdadeira na minha vida. Com você posso ser eu mesma. Então, vem aquela garota e tenta tomar de mim o que tenho de mais importante. Como acha que eu me sinto sabendo que posso te perder? Eu estou ao seu lado desde sempre, Lisa. Não ela. Ela pensa que pode surgir do nada e roubar você de mim.
Fiquei surpresa com o desabafo de Becca. As lágrimas começaram a descer em seu rosto e eu a abracei, tranquilizando-a.
-- Becca, querida. Eu nunca vou te abandonar.
-- Eu sei, Lisa. É só que...
-- O que? -- Perguntei.
-- Isso que está acontecendo é demais para mim. Eu não sei o que fazer em relação a isso. Eu sempre te apoiei em tudo, mas isso é diferente. É confuso demais para eu tentar entender...
-- Tem coisas na vida que não precisamos entender. Acredite, Becca. Para mim, também é muito confuso. Mas o que eu sinto por ela é forte demais para negar.
-- Você a ama? -- Perguntou Becca, de repente.
-- Bem, eu nunca me apaixonei por ninguém antes, Becca. Mas se o amor é essa coisa que faz o coração da gente querer saltar pela boca. A resposta é sim. Eu a amo.
Era a primeira vez que eu dizia que a amava.
-- É, parece que não tem remédio. Isso te pegou de jeito. -- Comentou Becca -- Lisa, não quero que você saia magoada dessa situação toda. Você tem que pensar aonde isso irá te levar. As pessoas são mesquinhas, querida. Nunca irão entender o seu amor por outra garota. Vão te chamar de coisas horríveis. Sei disso porque eu mesma já agi assim antes. Tenho medo por você, Lisa. Eu queria poder te proteger do mundo.
-- Você está falando como se fosse minha mãe, Becca.
-- Mas é a verdade.
-- Obrigada por querer me proteger, Becca. Você é a melhor amiga que uma pessoa pode ter. Desculpe mais uma vez por ter mentido.
-- Sabe, Lisa. Eu até te entendo. Se fosse comigo, eu não sei o que faria. Se teria a coragem para contar a você. -- Falou Becca. Sincera. E depois completou: -- Eu só não sei o que você viu nela.
Ri pela primeira vez naquela noite.
-- Sério, Lisa. Se ela fizer algo com você, eu a mato, faço picadinho dela sem pensar duas vezes. E estou falando muito sério. Procuro aquela garota até o fim do mundo.
-- Nada mais justo. -- Falei -- Essa é a Becca que conheço.
O clima entre a gente mudou, e começamos a rir e brincar. Convidei Becca para ficar e dormir em minha casa esta noite. Em meu guarda-roupa havia algumas roupas suas e objetos pessoais que Becca deixava sempre que vinha me fazer companhia. Aprontamo-nos para dormir e Becca como sempre dividiria a cama comigo.
-- Será que a sua namoradinha não vai se importar de eu dormir na mesma cama que você? -- Brincou Becca.
- - E por que ela precisaria se importar? -- Provoquei, entrando na brincadeira.
-- Sei lá, agora que você tá nessa onda lésbica, me fala a verdade, não vá me dizer que nunca nem sentiu uma atraçãozinha por mim?
-- Onda lésbica, essa é boa. Claro que não, Becca. Você é como uma irmã para mim. Além do mais, não é assim que as coisas funcionam.
-- E como você sabe, você tá nessa há pouco tempo. -- Desafiou Becca.
-- Ah, não sei, Becca. Acho que é coisa de pele. -- Expliquei -- Por exemplo: você, não é todo cara que te atrai, sei que você gosta do tipo aventureiro, misterioso...
-- E de preferência atlético. -- Completou Becca.
-- Então, acho que é por aí. Bem, é melhor irmos dormir, essa noite foi longa demais.
-- Tem razão. Boa noite, Lisa.
-- Boa noite, Becca.
Viramo-nos cada uma para um lado da cama.
-- Lisa, e se eu jogasse todo o meu charme, confessa: você não resistiria.
-- Vá dormir, Becca! -- Protestei.
-- Acho que isso foi um sim. -- Disse ela, divertida.
Nos demos boa noite mais uma vez e ambas nos preparamos para dormir. Acho que eu estava enganada e apesar de todo o transtorno, não havia sido uma ideia de todo ruim contar a verdade para Becca. Como disse meu avô, certa vez, o apoio incondicional de uma pessoa que nos ama verdadeiramente é sempre importante. Becca sempre estaria ali quando eu precisasse, e eu precisava dela naquele momento, mas eu também não poderia saber o que ainda estava por vir, da tragédia que estávamos destinadas. Os sinais estavam todos ali, mas eu não conseguia enxerga-los. Essa é uma daquelas coisas que nunca se compreende por completo e que, talvez, não se pudesse evitar. E seja preciso juntar os pedaços e seguir em frente.
Fim do capítulo
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