2.  Aproximação

 

Na segunda-feira elas queriam um reencontro, mas, Thayná teve um dia muito corrido, trabalhou até tarde, perdeu o ônibus, acabou chegando atrasada e no intervalo precisou falar com o seu orientador, por isso, acabaram se desencontrando. Na terça-feira nem marcaram nada, passaram o dia lidando com a expectativa e quando a noite veio, as agendas novamente não colaboraram, pois, tiveram aulas em prédios diferentes.

 

- Mônica, quem é a gata?

 

- Tenho o irmão mais xereta que existe.

 

- Eu te chamei, você nem respondeu, estava muito concentrada e resolvi espiar.

 

- Cara, você é muito curioso.

 

- Sou! Então desembucha logo.

 

- Murilo, me deixa (respondeu bloqueando o celular).

 

- Fugindo da conversa, então tem coisa. Vou deixar meu carro no mecânico por uns dias. Que tal um motorista particular?

 

- É desse modo que você me pede emprestado meu carro?

 

- Sou muito cavalheiro, pode dizer.

 

- Um safado isso sim e você nem tem sossego, qual é a nova? Vai envelopar de Pink?

 

- Engraçadinha.

 

- Se você aparecer com o motor todo barulhento, vou pedir para o pai te deserdar.

 

- Toda engraçada ela, aposto que tem mulher nova na área. Domingo você voltou muito sorridente e também anda distraída. Te conheço maninha.

 

- Você vai ficar na curiosidade. Boa noite!

 

- Só não deixe ninguém ferir seus sentimentos e se quiser conversar estou aqui.

 

Foi para o seu quarto, ainda não tinha nada para contar, depois de fechar a porta voltou a mexer em suas redes sociais, aceitou a solicitação e começou a olhar todas as fotos.

Do outro lado da cidade, a morena fazia o mesmo e estava encantada com tanta imagem linda, da outra em vários locais, logo percebeu que ela viajava bastante, leu declarações para família, notou o quanto ela é próxima do irmão e gostou de não ter encontrado nada sobre relacionamento. Elas ficaram pensando muito uma na outra, imaginando se seriam só amigas ou se poderia rolar algo mais íntimo entre elas.

Continuaram trocando mensagens, com intuito de manter o contato. Na quarta-feira, a aula da Mônica terminou mais cedo, ela foi com os colegas para um bar e fez o convite:

 

- Oi, estou com o pessoal do meu curso, aqui em frente da faculdade. Quando sair se der passa aqui.

 

Ficou de olho no celular e na expectativa dela aparecer. Demorou uns quarenta minutos para receber uma resposta.

 

- Peguei meu celular só agora e já entrei no ônibus.

 

Não mandou mais nada, ligou para o irmão e ele já estava chegando para buscá-la.

No outro dia, aguardou ser procurada, mas, nenhum sinal da outra.

 

- Estou te achando desanimada, desde ontem.

 

- Tenho que parar de criar expectativas, acabo frustrada.

 

- Quer que eu te apresente alguém?

 

- Não.

 

- Então, se você não quer partir para outra, tenha paciência. Além disso, relaxa, que você sempre foi boa quando o assunto é conquista.

 

- O problema é que já tem um tempo que estou de olho nela, achei que agora que nos conhecemos daria certo, mas, ela não está me dando muito espaço.

 

- Será que ela está interessada?

 

- No último final de semana sim, conversamos muito e foi bem legal, mas, agora ela parece distante, sempre muito ocupada.

 

- Quer dizer que o jogo virou, lembro bem que a Lili terminou contigo por causa disso, você sempre estava atolada de coisas, nunca tinha tempo para namorar.

 

- E você me fez ver a realidade, eu estava me distanciando dela, não estava mais dando certo, por isso, eu sempre arrumava uma desculpa, pedi um tempo para ver se a gente se acertava, só que ela cansou e acabou tudo. Ainda bem que agora ela está super bem.

 

- Não sente falta dela?

 

- É que no fundo, nós duas sabíamos que fomos passageiras uma na vida da outra, foi bom no começo, depois a gente estava tentando insistir em algo sem sentido.

 

- Mana e ela casou recentemente com um cara, isso é de boa para você?

 

- Sim, sempre fomos sinceras, quando nos conhecemos ela me contou que é bissexual.

 

- Que bom! É o que o pai fala, sinceridade é sempre o melhor caminho.

 

- Verdade, por isso, vou tentar novamente, serei sincera, para saber quais são as minhas chances e se eu levar um toco, tenho seu ombro amigo.

 

- Sempre, minha chata favorita.

 

Na sexta-feira a noite, Thayná viu ela chegando e até levantou do banco que estava, deu um tchau, Mônica também acenou, mas, contra a sua vontade, seguiu reto, não parou.

 

"Venha! Espero não ter dado um tiro no pé, vamos moça, me ajuda e me procura".

Subiu as escadas pensativa e parou em frente da lanchonete, esperou alguns segundos.

"Droga! Agora se eu voltar vai pegar mal, qual desculpa vou inventar"?

Seu celular vibrou e ela sorriu com a mensagem.

 

Acho que você estava com pressa, me avisa se puder me encontrar no intervalo.

 

Pode ser na lanchonete do bloco D?

Sim! Boa aula.

Obrigada e para você também (respondeu satisfeita).

 

Elas ficaram entretidas com seus conteúdos e como combinado se encontraram.

 

- Oi, finalmente conseguimos nos rever, minha semana foi corrida.

 

- Tudo bem contigo? (Perguntou dando um beijo no rosto dela).

 

- Sim, só um pouco cansada e você?

 

- Tudo certo. Vamos tomar um café?

 

- Não, obrigada, fico com dificuldade para dormir. Só tomo quando estou com muito sono e preciso ficar acordada até de madrugada estudando.

 

- O que vai fazer mais tarde?

 

- Quero chegar em casa e dormir.

 

- Estava pensando em te chamar para ir numa balada.

 

- Trabalho cedo amanhã.

 

- Entendo. Vou pegar meu café, até mais então.

 

- Posso te acompanhar?

 

- Não precisa e foi bacana te conhecer.

 

- É... me desculpa, pelos desencontros, eu vim correndo hoje, para chegar mais cedo e conseguir te ver. Amanhã a noite estou livre. No domingo vou estudar de manhã, mas, podemos marcar algo depois do almoço, se você não tiver compromisso (explicou).

 

- Uma amiga vai se apresentar no Teatro Municipal amanhã, quer me acompanhar?

 

- Claro, se não for te atrapalhar.

 

- Ótimo! Passo te buscar por volta das dezenove e ficarei chateada se você me der um bolo.

 

- Não farei isso.

 

- Estou disposta a te conhecer (assumiu).

 

- Eu também, só meu tempo que é um pouco apertado, espero que não seja um problema.

 

- Podemos lidar com isso.

 

- Que bom. Agora temos que ir, para não nos atrasarmos.

 

Se despediram e cada uma seguiu para sua sala.

No dia seguinte, elas queriam que o dia terminasse rápido, porém, foi vagaroso.

Mônica chegou uns minutos antes do horário marcado, mandou mensagem avisando e Thayná apareceu no portão, trajando calça jeans, uma camiseta do Nirvana e tênis.

 

- O quê foi? Eu não sabia o que vestir e você toda elegante, tinha que ser roupa social?

 

- Não se preocupe com isso, olha meu All Star (falou apontando para o pé).

 

Seu calçado vermelho era o único item despojado, para aquela noite ela escolheu um vestido preto de manga bufante e de caimento rodado, acessórios dourados, sendo: brincos, colar, pulseiras e anéis, além de uma maquiagem impecável.

 

- Você está linda (elogiou fechando a porta do carro).

 

- Obrigada e você também (disse enquanto se cumprimentavam).

 

- Não sei se a sua altura (respondeu encabulada).

 

- Relaxa, eu só estava inspirada para me arrumar, fiquei animada por você ter topado, e você vai ver que lá não vai ter nenhuma frescura, não tem nada disso de precisar usar social (esclareceu dando partida).

 

- Sendo assim, fico mais tranquila. Como foi na balada ontem?

 

- Acabei não indo, mas, podemos marcar qualquer dia. Fiquei olhando para tua camiseta, tentando lembrar quando foi a última vez que ouvi essa banda e bateu vontade de escutar.

 

- Quer que eu coloque? Qual música deles você quer ouvir?

 

- Pode ser Lithium.

 

- Eu gosto dessa.

 

- O vocalista, Kurt Cobain, também entrou para o clube dos 27 ou estou confundindo?

 

- Infelizmente, idade que os astros do rock morreram e todos eles foram músicos tão talentosos, por isso, da curta duração da banda, acabou depois que ele, que era "a alma" do Nirvana se suicidou.

 

- Triste isso, tão jovem. Pode dar play DJ (falou dando uma piscadinha e fazendo a outra sorrir).

 

Durante o trajeto escutaram e cantaram algumas músicas, ficaram envolvidas pelo poder que a música tem de unir as pessoas e foi num clima muito agradável que trocaram os primeiros beijos, assim que chegaram nas imediações do teatro, ainda dentro do automóvel.

 

- Eu estava doida para te beijar (confessou olhando nos seus olhos).

 

- Thay, então somos duas, só que agora temos um problema.

 

- Qual?

 

- Quero continuar te beijando, mas, a peça começa dentro de quinze minutos.

 

- Vamos, para não nos atrasarmos e quando acabar, continuamos de onde paramos (desta vez foi ela quem deu uma piscadela, antes de descer do carro e deixar a outra suspirando).

 

 

Fim do capítulo