Capitulo 84
A Última Rosa -- Capítulo 84
Capone olhou no relógio e ergueu as sobrancelhas.
-- Acho melhor a senhora entrar e buscar a dona Maya.
-- Não tem problema, ela já se vestiu -- exclamou ela, também olhando as horas.
Capone coçou a cabeça com impaciência.
-- A dona Jessica vai dizer que a culpa é minha.
-- Tá bom, tá bom, vou apressá-la.
Sem conseguir esconder a ansiedade, Valquíria foi ao encontro de Maya. Escutou a voz dela, antes de vê-la jogada em uma cadeira.
-- Não pode ser...
Maya falava quando ela entrou na sala. Estava completamente pálida. Uma angústia dolorosa percorreu o corpo da chef, quando viu a expressão da amiga, ao se entreolharem. Ela estava paralisada de medo e ao ver Valquiria, levantou a mão, fazendo um sinal.
-- Sim, senhor juiz...
Valquíria se aproximou, como se quisesse deixar claro que estaria ao lado dela, acontecesse o que quer que acontecesse.
-- Está bem, senhor juiz, eu falo com ela. Traga-a até aqui, vamos resolver logo isso.
Maya desligou o telefone, fechou os olhos e mordeu o lábio, à medida que buscava se acalmar.
-- Pelo amor de Deus, Maya, o que aconteceu?
Ela deu um suspiro profundo, antes de responder:
-- A avó das meninas apareceu.
-- Oh! Meu Deus! -- era como se tivesse recebido um soco na boca do estômago -- Ela veio buscar as meninas?
Maya fez um gesto desconsolado com a cabeça.
-- Não sei. O juiz Everaldo Castro não quis adiantar -- sentiu a cabeça latejar -- Oh, Val! Estou com tanto medo. Nunca senti tanto medo em toda a minha vida.
Valquiria a abraçou.
-- Calma amiga. Não vamos nos desesperar.
-- O juiz está vindo para cá com ela.
-- Quer que eu chame a Jessica?
-- Não -- Maya tentou se recompor do choque, respirou fundo e se levantou -- Eu resolvo isso.
-- Vai dar tudo certo. O encontro com essa mulher não deve demorar.
Maya estufou o peito para se mostrar corajosa e caminhou em direção a porta.
-- Por favor, Val, liga para a tia Inês e pede para ela avisar a Jessica que vamos nos atrasar.
-- Vou ligar, agora mesmo -- avisou Valquiria.
-- Obrigada -- Maya olhou para a amiga, agradecida.
Valquiria desceu as escadas, apressadamente. Sem fôlego, chegou à porta da frente.
-- Meu Deus, o que aconteceu? -- Capone percebeu imediatamente que havia alguma coisa errada.
-- Tivemos um imprevisto e vamos nos atrasar para o casamento.
Valquiria fez a ligação e quando voltou, encontrou Maya parada, olhando pela janela.
-- Não vão levá-las -- murmurou -- nem que a gente tenha que fugir com elas.
Maya sorriu, sem vontade.
-- Talvez não precisemos chegar a esse ponto. Quem sabe se essa mulher não quer apenas ver os bebês? -- ela disse, mesmo não acreditando nessa possibilidade -- Chegaram -- falou Maya, ao ver o carro do juiz parando próximo à entrada -- Ainda bem que você está aqui, amiga.
Valquiria apertou os ombros dela e sorriu.
Observaram o Juiz descer do carro, acompanhado por uma senhora idosa, de cabelo grisalho.
-- É tão idosinha -- comentou Maya.
-- E tão debilitada -- acrescentou Valquiria.
Estava mal vestida e tinha o cabelo preso por um elástico. Quando Maya abriu a porta para que entrassem, o juiz a abraçou com carinho.
-- Puxa, você está radiante! -- ele exclamou -- Maya, essa é a senhora Maria Rosa, avó das meninas.
-- Muito prazer, dona Maria.
-- Muito prazer, Maya.
Maya achou que nunca vira uma pessoa com olhos tão tristes em toda a vida.
-- Vamos sentar na sala.
Everaldo e Maria a seguiram. As duas mulheres sentaram no sofá e o juiz em uma poltrona à frente delas.
-- Val, por favor, pode trazer um pouco de chá para nós?
-- Claro -- definitivamente, Valquíria não estava gostando nada do rumo que as coisas pareciam estar tomando -- Não esqueça que você tem um casamento para ir, que inclusive, você é a noiva.
-- Eu sei, Val. Tentaremos ser o mais breve possível.
Valquíria foi para a cozinha. Quando voltou para a sala, trazendo o chá, Maria Rosa aparentava muito nervosismo. Tomou vários goles da bebida fumegante, o que pareceu aliviá-la. Então, pôs a xícara sobre a mesa e perguntou:
-- Posso ver as meninas?
-- Elas não estão em casa, dona Maria. Estão no local onde vai acontecer o casamento.
-- Que pena. Como elas se chamam?
-- Alexia e Alessia -- respondeu Maya, sorridente.
-- Hum, uma dupla sertaneja.
O sorriso de Maya desapareceu por completo.
-- Como a senhora já deve ter percebido, hoje é o meu casamento. Confesso que não esperava que alguém da família das meninas aparecesse depois de tanto tempo.
-- Eu pensei muito antes de decidir procurá-las.
-- E o que a fez decidir que deveria vir?
-- Você não faz idéia do que minha filha passou -- Maria virou-se para Maya e falou:
-- Minha filha tinha apenas dezesseis anos quando engravidou. Foi expulsa de casa pelo pai e não tendo para onde ir, ela foi morar em um bordel.
-- Oh, meu Deus. É tão triste!
-- Quando o homem que a engravidou descobriu, tentou forçá-la a fazer um aborto. Um perfeito idiota.
Maya sacudia a cabeça, sem conseguir dizer nada. Enquanto ouvia a história, começou a chorar.
-- E mesmo contra a vontade dele, comendo o pão que o diabo amassou, ela teve os bebês.
-- Graças a Deus! -- disse Maya, emocionada.
-- Ele tentou roubar as meninas e levá-las para bem longe, mas minha filha foi muito corajosa e na calada da noite, pegou as meninas, entrou em seu carro e fugiu para um lugar que ele não pudesse encontrá-las.
-- E o cara por onde anda?
-- Descobrimos que ele é casado, por isso o desespero em esconder as crianças da esposa -- Maria Rosa conteve as lágrimas, olhou para Maya e deu um sorriso amarelo -- Desculpa, não sabíamos de nada, por isso não procurei por minha filha e os bebês. Mas finalmente uma assistente social da cidade onde moramos, nos comunicou do acidente, da morte da minha filha e o destino das meninas.
Maya ficou parada olhando para a idosa, enquanto Valquiria observava Maya. A cheff pôs o braço no ombro da amiga e cochichou em seu ouvido:
-- Não podem tirá-las de vocês -- disse inconformada.
Maya estava desolada.
-- O que eu posso fazer, Val? Olhe para ela. Olhe bem. Não podemos separar a avó das netas.
-- Maya, não! -- Valquiria olhou. Sentiu um nó na garganta. A idosa estava com o rosto vermelho de tanto chorar, era a imagem de uma pessoa sofrida -- Essa senhora parece não ter a menor condição financeira e muito menos física para cuidar das gêmeas.
Maya sabia que Valquiria tinha razão, porém, nem todo o dinheiro do mundo poderia ser comparado ao amor verdadeiro.
-- Onde a senhora mora atualmente, dona Maria?
-- Estou morando num abrigo do governo em Porto União, mas já arranjei um emprego e estou me preparando para mudar para um albergue. Desde que me separei do meu marido, a assistente social está me ajudando muito.
Maya, Valquíria e o juiz, se entreolharam.
-- Como a senhora vai cuidar das meninas? -- os três perguntaram em coro.
Natália estacionou o conversível junto ao jardim do palácio. Jessica abriu a porta e desceu acenando para todos.
-- Obrigada! Obrigada!
Natalia balançou a cabeça, incrédula.
-- Para que isso?
-- Veja como eu sou amada por eles.
Natália desceu do carro batendo a porta.
-- Larga de ser boba, eles amam é a Alcatra, a costela, a picanha e o contrafilé que você tá financiando.
-- Poxa Natália, como você é broxante!
-- Jessica! Jessica! -- Pepe chegou, esbaforido.
-- O que aconteceu? -- ela perguntou, assustada.
-- A Maya, a Maya...
Jessica agarrou ele pelo pescoço e o sacudiu como uma boneca de pano.
-- Fala, fala o que aconteceu com ela.
Ele tossiu antes de responder.
-- A Valquíria ligou avisando que houve um imprevisto e ela vai se atrasar.
Jessica balançava a cabeça enquanto Pepe falava.
-- Eu bem que avisei que ela não devia ter comido tanta pizza. Provavelmente não conseguiram fechar o zíper do vestido.
-- E agora? Coitadinha -- disse Pepe, tristemente -- O que ela vai fazer?
-- Problema de fácil solução -- respondeu Jessica -- É só ela passar um pedaço de fita crepe por cima do zíper. Pronto.
-- Que quer dizer com "tivemos um imprevisto"? -- perguntou Carmem, aproximando-se do grupo -- Não podemos começar o casamento sem a noiva.
-- Claro que podemos, Carmem -- interveio Jessica -- É só a gente servir o almoço para o pessoal, quando a Maya chegar a gente casa.
-- Eu sabia que a Maya se atrasaria. Lembra que eu falei para você?
Eva parece que intuía exatamente o que aconteceria. Jéssica às vezes tinha a impressão de que a futura sogra era paranormal.
-- Onde está a Maya? -- perguntou Nilson.
-- Está atrasada -- disse Inês, entregando automaticamente Alessia para ele -- Ela teve que experimentar três ou quatro vestidos antes de encontrar um que servisse.
-- Ela engordou? -- perguntou Dino -- Coitada!
-- Dizem que ela comeu uma pizza inteira ontem -- disse Nicolas.
-- Eu, quando fico ansioso, sou capaz de comer um boi -- disse Nilson -- embalando Alessia nos braços.
-- Delegado, ela vomitou!
-- Não! Que desastre! -- ele berrou -- Essa menina arruinou o meu terno.
-- Entregue ela para mim -- ofereceu-se Inês -- Vamos lá dentro tentar limpar isso.
-- Já que a Maya não vem, acho melhor cancelar tudo -- disse o prefeito, parando ao lado de Jessica -- Não se preocupe, vai dar tudo certo. Podemos fazer o casamento no dia do aniversário da cidade -- disse, afagando-lhe os ombros.
-- O prefeito quer economizar com a festa -- comentou o comandante dos bombeiros.
-- Quem disse que a Maya não vem? -- perguntou, Natália.
-- Não sei, só sei que estão todos comentando.
Dino viu Pepe conversando com um grupo de pessoas e se aproximou.
-- Deixem que eu falo com eles. Tenho certeza de que todos entenderão a situação.
-- Entenderão o que, Pepe?
-- Que o casamento foi cancelado.
-- O casamento foi cancelado? -- ele repetiu, fazendo gestos melodramáticos -- Oh, isto é muito sério. Quem disse isso? Pelo que sei ela só se atrasará um pouco.
-- Não, não, acabaram de me falar que ela não virá. Estão dizendo que nenhum vestido coube nela. Ela surtou e se trancou no banheiro.
Quando Jessica entrou sozinha no palácio, todos a olharam.
-- Onde está Maya? -- várias vozes soaram em uníssono.
Jessica fez o sinal da cruz e murmurou alguma coisa para uma imagem no canto da sala.
-- Qual é o nome desse santo?
-- Esse é o fundador da cidade -- respondeu o padre.
-- Desculpa. Foi mal -- ela chamou os pais de Maya de lado para conversar -- Afinal de contas, o que está acontecendo? Ninguém atende o telefone naquela casa.
Honório fez uma expressão de tristeza. Mas não disse nada, apenas sacudiu os ombros.
As quinze daminhas de honra corriam de um lado para o outro, gritando como um bando de loucas, sujas e suadas. E os padres, os médiuns, os pastores, o rabino e o babalorixá que estavam ali do lado, olharam para ela sem entender nada.
O técnico do time de futebol da cidade passou por eles com uma bola debaixo do braço.
-- Enquanto a noiva não chega, vamos jogar uma partidinha lá nos fundos do palácio.
Jessica respirou fundo num esforço para controlar sua decepção.
-- Ela ligou para quem afinal de contas? -- perguntou Jessica, para a futura sogra.
-- Não sei, quem me contou foi a Inês. Acha que devemos ir ver o que está acontecendo?
Jessica olhou para o celular que segurava e fez uma careta.
-- Que droga! Porque não atende -- ela ligou novamente, pronta para dizer-lhe umas boas verdades, assim que Maya atendesse. Afinal, ela a havia abandonado à sua própria sorte, no meio de toda aquela confusão, deixando-a desolada, confusa e preocupada. Porém, Maya pela vigésima vez não atendeu -- Chega! Vou acabar logo com essa palhaçada -- disse, virando-se para sair.
-- Que pena, Jessica -- Melissa parou à sua frente -- Cheguei a imaginá-los como uma família perfeita, mas agora vi que também tem suas roupas sujas guardadas no fundo do armário e que nem tudo é flores. As meninas estarão mais seguras com o casal da fila de adoção.
Jessica cerrou os dentes antes de responder:
-- Escuta, dona Melissa, cansei das suas ameaças. O casal da fila de adoção desistiu de adotar as meninas. Sabe por que? Porque eles perceberam que elas são as crianças mais amadas do mundo. Então, por favor, se não pode ajudar, não atrapalhe a vida das crianças -- acrescentou, olhando para Eva com ar de curiosidade -- Falando em crianças, onde estão as minhas filhas?
-- Uma está com o delegado, a outra eu pedi para o Pepe fazer dormir.
-- Ah, que bom -- Jessica olhou ao redor e então se voltou para fitar Eva novamente -- Aquela criança dormindo na caminha do cachorro da primeira dama, não é a Alexia?
Eva franziu a testa para enxergar.
-- Sim -- respondeu Eva, depois de apertar os olhos -- Mas é a Alessia e não a Alexia.
Melissa ficou horrorizada.
-- Nos vemos no tribunal! -- a assistente social saiu do palácio pisando duro, sem olhar para trás.
-- Ela acabou de ameaçá-la -- disse Honório, franzindo as sobrancelhas -- Acho que você pegou pesado.
-- Tô nem aí, as meninas vão ficar com a gente e ponto final -- disse Jessica, decidida -- Meu Deus, dona Eva! Tira logo a menina da cama do cachorro -- ela bufou, impaciente, olhando para o teto e depois para Honório -- Vou ver o que está acontecendo lá em casa -- virou-se e ficou olhando para a porta de entrada do palácio.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 14/09/2022
Meu Deus
Espero que tudo seja um pesadelo, a vo chegando uma assistente só de olho para dar o bote e essa turma mais atrapalhada dando corda.
E no lugar de dizer a Jéssica que a Maya está com o abacaxi em casa dizem que ela vai se atrasar, e pegam os finais das frases e já decretaram que não tem mais casamento.
Bjus e até o próximo capítulo
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]