Por mais que o beijo estivesse sendo bom e de alguma forma libertador, Chloe não poderia deixar aquilo continuar, para ela sempre foi um ato de amor, algo muito pessoal, intimo, mais importante do que sex*. E lá estava ela quebrando uma de suas próprias regras, de nunca beijar antes do primeiro encontro, ou pior, sem conhecer a pessoa direito, há apenas três coisas que sabe sobre a italiana e isso não é o suficiente. Por isso a afastou com as mãos quase a jogando para longe, Ângela não entendeu nada e ergueu os braços em sinal de rendição.

- O que há, Srta. Charlton? - indagou cínica, com um sorriso convencido estampado na cara - Nunca beijou uma garota antes?

- Também, mas nós mal nos conhecemos... - a loira tentava raciocinar do que deveria fazer dali em diante, mas nada lhe veio a cabeça - Acho que bebemos demais.

- Eu não, estou bem lúcida. 

- Não importa! Não sei quase nada sobre você. - a perfumista começou a andar de um lado para o outro com as mãos na cabeça, nervosismo é pouco para definir seu estado, ela quem sempre foi certinha e perfeccionista quebrou uma regra imposta por si.
- O que quer saber? - Ângela andou a passos rápidos e a abraçou por trás, beijando o pescoço exposto.

- Me diga qualquer coisa... - as palavras de Chloe saíram num gemido contido, seu corpo não conseguia reagir aos toques da morena de outra forma, principalmente quando a mesma mordeu a pele branca e depois lambeu o local.

- Bem, tenho 29 anos, sagitariana e trabalho como jornalista. Bem, pelo meu sotaque é óbvio que nasci na Itália, Soraloro para ser mais exata, uma terra de belos vinhedos. - por mais que tentasse negar, a jovem queria apenas beija-la, então virou-se e voltou a olhar para a morena nos olhos, procurava algo a lhe convencer para não fazer isso, mas não encontrou nada.

- Não combinamos, sou de touro... - foi o que ela pode dizer antes de seus lábios serem atacados pela verocidade do desejo de Ângela, ambas acabaram rindo durante o beijo e a jovem jurou que sentiu as mãos bobas da outra na barra de seu vestido.

- Você fala muito "Não". - comentou após se separarem, ambas tinham o batom borrado e a menor já se encontrava ruborizada novamente, aquele olhar.

- Agora eu pergunto, porque está me olhando assim? - Ângela não entendeu nada de início, mas logo percebeu que o feitiço virou contra o feiticeiro.

- Se você não me respondeu, eu não deveria lhe responder.

- Justo! - e assim acabou o assunto entre elas, um silêncio desconfortável tomou conta e Chloe não sabia o que falar ou fazer, pois a outra ficava apenas lhe estudando.

- Vai fugir? - a italiana tentou tirar a tensão do momento.

- Oh, não, nem haveria como, não sei dirigir... - mais uma vez na vida entendera o sentido literal de frases ou passou a falar demais, comum quando se sente envergonhada ou está sob pressão, neste caso a primeira opção.

- Você é realmente adorável.

- O que? 

- Desde o momento que lhe vi, com esse vestido adorável e seus olhinhos brilhantes. - Chloe não falou nada apenas, apenas baixou a cabeça, ninguém havia falado assim com ela, tudo parecia tão sincero - Hey, levante a cabeça! - a morena se aproximou e ergueu o rosto da jovem para que olhasse em seus olhos - Eu não sei se seu amigo é cego ou se faz, mas você é linda.

- Obrigada! Mas você é mais bonita que qualquer uma aqui. 

- Não mais que você, provavelmente só me acham bonita porque sou alta. - a loira acabou rindo do comentário e negou.

- Eu não acho que seja apenas por isso, mas suas pernas deixam qualquer um babando. 

  E as duas mulheres ficaram trocando elogios por algum tempo, outra coisa que descobriram em comum é a teimosia, tudo o que Matarazzo fala Chloe retruca com algum comentário engraçado ou elogio mascarado, ou vice versa. Tudo que passava na mente da italiana é que fora um bom negócio vir ao noivado de sua meia-irmã, por pouco deixou de vir, já que tinha uma viagem marcada para sua terra natal e as linhas acabaram sendo cortadas por conta de um temporal, agradeceu mentalmente por isso. Caso contrário estaria na Itália tendo dores de cabeça com reuniões estressantes ao invés de estar na companhia de uma jovem linda como Charlton. Aguentar Madison valeria se pudesse continuar mantendo contato com ela, a princípio queria apenas se divertir, mas algo em Chloe lhe chamou atenção como se fosse um ímã, talvez seu jeito certo demais ou os olhos apaixonantes, porém isso não importou mais naquela hora.

  Catherine voltou para sua mesa com os pés doendo de tanto dançar, usar um salto tão alto quanto o dela não fora uma boa ideia, principalmente quando tenta pular de um lado para o outro acompanhando crianças. Ela tirou o calçado e massageou o pé rapidamente, estava ferrada, aquilo doeria mais ainda no dia seguinte.

- Dá de passar um gel aí, melhora logo. - comentou uma garotinha sentando ao seu lado, com alguns doces em mãos - Quer um?

- Tem de amendoim? - ela não conhece a menina, mas nunca recusaria algo para comer.

- Ah, sim! Variaram bastante no cardápio. - ela lhe entregou um tipo de brigadeiro com cobertura parecida com o que quis - Prazer, Eleanor!

- Prazer, Catherine! 

- É um nome bonito. - ambas morderam seus doces e observaram todos dançando, até mesmo a noiva que fazia caretas nada feliz - Uma perguntinha, o que faz na mesa das crianças?

- Eu sou apenas uma criança que cresceu demais.

- Ata! - Eleanor bufou e deu mais um mordida em seu doce.

- O que? Não acredita em mim? - a morena fingiu estar indignada e virou-se para o outro lado fazendo biquinho.

- Tenho dez anos, não seis. - a menina acabou rindo da ceninha de Catherine.

- Tá, eu tenho 26 anos e praticamente fui expulsa da mesa do casal pela noiva. - foi difícil dizer isso pois Alex é seu melhor amigo desde que se entende por gente e não entendeu do porque ele não defendê-las.

- Ah, aquela bruxa! 

- Ela também fez isso com você?

- Não, minha tia é uma das madrinhas e me arrastou para essa palhaçada. - Cath quase cuspiu o pedaço do alimento que mastigava, a garotinha tem uma língua afiada - Sabia que aquele bronzeado é falso?! Ela retoca a cada duas semanas.

- Como sabe disso?

- Sobrinha de uma das madrinhas, minha querida! Ela é melhor amiga dessa vaca.

- Boca suja! - ambas riram e a morena olhou de relance para o casal na pista, não seriam nada felizes - Não gosta mesmo dela, não é?

- Nem um pouco, mas olhe o que vai acontecer. - a garotinha sorriu diabolicamente e continuou a comer os doces.

- O que você fez? 

- Espere um pouco, ela está saindo da pista... 5, 4, 3, 2, 1...  Quando a pequena terminou a contagem Madison se sentou em sua cadeira, a loira usa um vestido branco de seda e todo detalhado, provavelmente caríssimo. De longe as duas observavam tudo e Catherine estranhou por não ter acontecido algo.

- Não era para ela sair pulando?! - indagou a morena confusa.

- Tachinhas é algo do passado. - Eleanor respondeu sem olhar diretamente para a outra - É agora!

  Alexander havia chegado perto da noiva e lhe puxou para um abraço, ele sussurrou algo no ouvido da loira e a fez sorrir, Madison levantou-se toda feliz indo em direção a pista novamente.

- Não creio que você fez isso! - quase gritou Cath pulando da cadeira.

  Havia uma mancha enorme na bunda dela, muito parecida com sangue como se estivesse menstruada. Muitos convidados olhavam espantados, outros riam, e ela sem entender nada.

- Você é má! 

- Todos somos... - a menina riu e bebeu um pouco de suco, apenas vendo o circo pegar fogo.

- Não queria ser sua inimiga agora.

  A jovem riu e continuou a comer, ela odiou Madison no primeiro contato, a achou falsa e sem amor pelo seu amigo, merecia tal vergonha. Provavelmente lembrariam até o dia da troca de alianças. Após algum tempo ela começou a imaginar o que poderia fazer contra a loira para se vingar por acabar parando com as crianças e já sabia com quem contar, com um pequeno ser de 1,40 de altura que usa aparelho sentado ao seu lado.
  Madison Reed está ferrada!
  Paloma nunca gostou muito da nora e agora que a conhecia melhor não haveria como simpatizar com ela, até considerou uma moça bonita, de boa família e educada, mas sem sentimentos bons, cheia de não me toques e exigências, faltando a humildade qual ironicamente é a única qualificação da matriarca para alguma pretendente do filho. Ele é seu único herdeiro e precisa uma mulher boa ao lado, pois Alexander nunca conseguiu fazer algo sem ser guiado, um exemplo foi a faculdade que seguiu, fora praticamente escolhida pelo pai já falecido. Um homem sem postura diante de tudo, ela não ficou surpresa pelo fato dele nunca falar nada sobre seus sentimentos por Chloe ou sofrer escondido pela loira, o medo de rejeição sempre lhe consumiu por tantos anos. E agora está ali, noivando com a Barbie de Ohio, alguém por quem não tem algum sentimento e fingindo que são felizes, tentando convencer todos, até a si mesmo.

- No que tanto pensa, Paloma? - perguntou a mãe da noiva, Sofie Matarazzo, uma ruiva alta e esguia.

  No erro que meu Alex está comentando ao se casar com sua filha, pensou a mulher em dizer.

- Nada demais, estou apenas olhando para aquela mancha horrorosa na roupa dela. - provocou, como não gosta da filha não gosta da mãe, nem das outras crias.

- Que mancha? - a matriarca Matarazzo/Reed olhou em direção a sua primogênita e se assustou ao ver a coloração vermelha no branco, então correu até ela lhe cobrindo com o casaco de pele que usava.

- Essa mulher é uma pirua! - falou para si e riu, Sofie é a clássica viúva metida a besta que enriqueceu engravidando de milionários, assim acabou tendo Madison e seus outros três filhos.

  Preferia mil vezes sua pequena Chloe Charlton, a única mulher que colocaria o filho nos trilhos certos e lhe deixaria feliz, adoraria ter netos nascidos dela, imaginou pequenas crianças loiras de olhos castanhos esverdeados, combinação perfeita de Alex e sua favorita. Um sonho distante que a cada dia próximo do casamento ela tenta deixar de lado.

  Chloe e Ângela voltaram para a festa em um silêncio incomodativo, ambas não queriam comentar nada pois qualquer coisa poderia expor o que acontecera minutos atrás, ainda tinham uma garrafa lacrada e tinham pretexto de bebe-la, ninguém recusaria aquele saboroso champanhe. Já não havia quase ninguém pois muitos foram ajudar a noiva e a maioria foi embora após ela entrar totalmente envergonhada na mansão, chorando muito.

- Nossa, cadê os convidados dessa festa? - perguntou a italiana surpresa, não ficaram longe nem meia-hora.

- A noiva teve um probleminha feminino. - Catherine apareceu do nada atrás das duas com uma bandeja de camarões em mãos - Querem um? - as mulheres negaram.

- O que aconteceu? - foi a vez da loira indagar, já não tinha mais de 20 pessoas ali.

- Vão ouvir algumas coisas por aí, mas a verdade é que uma garotinha pôs suco de beterraba com laranja na cadeira da noiva e eu juro pela mamãe, ela parecia estar naqueles dias. - Ângela riu imaginando a cena desesperadora da meia-irmã, já Chloe ficou pensando como ela se sentiu - Foi hilário! Tinham que ver a cara dela de "Oh meu Deus! Me tirem daqui!".

- Que horror!

- Garanto que se tivesse visto não falaria isto, irmãzinha.

- Foi você não é mesmo?

- Assim me sinto ofendida! - Catherine fez carinha de triste e colocou mais um camarão na boca - Longe de mim, foi um pequeno gênio de 10 anos.

- Adoraria conhecer esta garota, preciso dar umas ideias a ela. - brincou a italiana sentando-se em uma das mesas desocupadas - Talvez a ajude.

- Pensei na mesma coisa.

  Sorrisos diabólicos surgiram nos rostos das morenas e Chloe olhou assustada pela elas, aquilo parecia sério, e elas esperavam que fizesse parte. Não seria a opositora do plano e poderia ficar de fora, mas algo no fundo fez ela concordar com a cabeça e sorrir junto. 

  Madison Reed está realmente ferrada! Muito ferrada!

Fim do capítulo