Capitulo 82
A Última Rosa -- Capítulo 82
Jessica parecia a mulher mais feliz do mundo, aguentando com bom humor o papo deprimente da atendente do atelier de costura.
-- Já que resolveu casar deve saber que não levará apenas a sua esposa para o seu dia a dia, mas também toda uma nova família, incluindo a sua sogra! E, muitas são sensacionais, tratando suas noras como verdadeiras filhas, com muito carinho e atenção, se mostrando felizes e apoiando a futura união, mas outras... -- ela fez suspense -- São umas COBRAS! Como é a sua?
-- Ela é queridinha, mas tem uma língua tão afiada que é capaz de descascar um coco.
-- A minha fez aniversário ontem. Comprei um presente lindo para ela. Você costuma presentear a sua sogra? Elas amam receber mimos.
-- Ah, sempre presenteio a minha. Já dei batom de pimenta, colírio de limão e shampoo de cola. Coisinhas básicas.
Maya também estava alegre, comentando com a costureira os planos do futuro casamento.
-- Vai ser no Jardim do Palácio de Vidro de Hills.
-- Que chique! -- disse a mulher, enquanto tentava fechar o zíper do vestido.
-- Os únicos lugares que encontramos com espaço suficiente para receber tanta gente, foi o Estádio Municipal e o Palácio de Vidro.
-- Eu queria que fosse no Estádio Municipal, mas a Maya não concordou -- disse Jessica, aproximando-se delas -- Depois de cortar o bolo organizaríamos uma partida de futebol entre casados e solteiros. Seria top das galáxias!
A costureira encarou Jessica, com uma expressão de incredulidade.
-- Quanto romantismo! -- ironizou.
-- Encolha a barriga Maya, ou a costureira não vai conseguir fechar este zíper.
-- Obrigada, Jess -- disse Maya, zangada -- Você acaba de dizer que engordei. Era só o que faltava eu ouvir tão próximo do casamento.
-- Não quis dizer isso, amor.
-- Mas disse. É tudo culpa sua. Se não tivéssemos comido tanto ifood neste mês, eu não estaria nessa situação.
A costureira respirou fundo.
-- Aguente aí, estou quase conseguindo. Pronto!
-- Tenho medo que no dia do casamento o vestido não sirva.
-- É só não comer tanta pizza -- resmungou Jessica.
-- O que você falou? -- perguntou Maya, olhando-se no espelho.
-- Nada não. Terminou?
-- Ainda falta o cabelo. Preciso escolher um penteado.
-- Aff, vou esperar lá fora -- Jessica saiu do atelier, deixando Maya na frente do espelho.
Pepe parou diante da porta fechada da sala da assistente social. Lá dentro o silêncio era completo.
-- Vamos entrar.
-- O que te faz pensar que ela não está lá dentro? -- perguntou Dino, parado ao seu lado.
-- Intuição.
-- Sua intuição pode nos levar para a cadeia.
-- Que coisa mais sem criatividade, se ela estiver lá dentro diremos que nos enganamos de sala, pedimos desculpa e saímos. Simples assim -- Pepe pegou na maçaneta, mas antes de girá-la olhou mais uma vez para Dino -- Não se preocupe, já trabalhei no teatro.
-- Sério? Quando?
-- Na quarta série do ensino fundamental. O nome da peça era: O urso e a florzinha despetalada.
-- Você era o urso?
-- Claro que não! Eu fui a florzinha despetalada -- em seguida, Pepe abriu a porta e dirigiu-se para dentro. Era uma sala pequena, mas bem decorada. Os móveis eram simples e surrados. Apenas uma mesa e duas cadeiras, uma mesinha com uma garrafa térmica e um arquivo de aço. Ao lado, havia uma porta meio aberta para um banheiro.
-- Viu? Eu disse que ela não estava.
-- Tá, tá. Vamos procurar por esse documento. Não vejo a hora de sair daqui.
Pepe dirigiu-se para o arquivo, abriu uma gaveta e consultou várias pastas. Não encontrando o que queria, foi procurar noutra gaveta. Por fim, pegou uma pasta.
-- Encontrei.
-- Que rápido -- comentou Dino.
-- Essa é uma das vantagens de morar em cidade pequena -- Pepe levou um minuto para fotografar o documento -- Prontinho.
Pepe devolveu o documento ao arquivo e guardou o celular no bolso.
-- Agora podemos ir. Até já sei quem é o casal.
Maya sentou-se no sofá, sorrindo para a irmã que acabara de chegar.
-- Pedi que champanhe fosse trazido no instante em que você chegasse.
-- Hum, que chique! -- exclamou Carmem, com um sorriso contagiante -- É tão maravilhoso vê-la tão feliz.
-- Sim, tudo agora está perfeito. O universo até parece conspirar para que a nossa felicidade seja completa -- Maya falou com os olhos marejados.
Uma moça chegou com uma garrafa de champanhe, recebeu a aprovação de Maya, então puxou a rolha e encheu duas taças.
-- Obrigada -- Maya agradeceu a moça, que saiu logo em seguida.
-- Quem é ela?
-- A empresa que contratamos para organizar o casamento enviou vários funcionários para nos ajudar na recepção dos convidados que ficarão hospedados aqui em casa.
-- Quando papai e mamãe chegam?
-- Chegam no domingo -- Maya ergueu a taça e bateu na de Carmem levemente -- À felicidade -- elas deram um pequeno gole, saboreando a bebida francesa -- Você acha que eles se adaptarão à Hills? Estou tão preocupada.
Carmem deu uma risadinha.
-- Sua boba, eles vão adorar. Hills é um paraíso.
Maya balançou a cabeça, sorrindo.
-- Papai vai sair todos os dias para pescar. É, ele vai amar.
Nos dias seguintes, os convidados de fora de Hills foram chegando para o casamento. A casa estava cheia, durante o dia a maioria saía para fazer turismo, curtir a praia ou passear pelos shopping, mas à noite todos preferiam ficar em casa batendo papo ou se divertindo na sala de jogos.
-- Os pais da Maya já chegaram? -- perguntou Natália.
-- Chegaram ontem -- Jessica respirou fundo e meneou a cabeça, para então levar outra colherada de papinha à boca de Alexia.
-- Pelo que me falaram, eles são bem legais.
Jessica levantou a cabeça para responder.
-- Sim, eles são, mas há um ditado sobre as sogras que diz: A sogra é igual a uma hemorróida, você pode cuidar bem dela, mas um dia ela apronta alguma contigo.
-- Como você é má!
-- Sou não -- Jessica passou a ponta do dedo pelo cabelo louro da menina, sentindo algo pegajoso -- O que é isso? Ah... que nojo!
-- Caramba Jessica, você errou a boca da menina.
Sorrindo melancolicamente, Jessica depositou a colher no pratinho de Alexia.
-- A culpa foi sua, tirou a minha concentração -- ela balançou a cabeça, meneando o cabelo louro -- Pega um guardanapo.
Natália não pôde deixar de rir.
-- Você é um desastre, Jessica.
A porta abriu-se de repente, e Pepe entrou na sala com as bochechas avermelhadas, acompanhado de um casal.
-- Jessica -- disse com um agradável sorriso nos lábios -- tem uma visita. Angelo e sua esposa Karine -- ele fez um gesto com o braço e o homem passou a seu lado para cumprimentar Jessica.
Ela deu a impressão de não estar entendendo nada, mas mesmo assim estendeu a mão para cumprimentá-lo.
Natália pegou Alexia do colo de Jéssica.
-- Vou dar um banho nela e tirar essa meleca do cabelo.
-- Obrigada, Nat -- a atenção de Jessica se voltou novamente para o casal -- Em que posso ajudar? -- ela perguntou, curiosa.
-- Será que podemos conversar em particular?
Jessica hesitou um instante antes de responder.
-- Tudo bem, vamos até o escritório.
-- Acho que o assunto também interessa à Maya -- disse Pepe -- Vou chamá-la.
Pepe deu dois passos e quase se esbarrou em Maya.
-- Ah, estava indo chamá-la.
-- O que aconteceu? -- perguntou Maya, o tom tanto surpresa quanto preocupada.
-- Por enquanto nada. Estamos indo conversar no escritório -- respondeu Jessica, começando a caminhar -- Vamos -- disse apontando para o longo corredor.
Eles a acompanharam. Jessica abriu a porta e entrou silenciosamente, olhou ao redor, depois virou-se para o casal.
-- Fiquem à vontade -- disse ela, indicando-lhes as cadeiras de couro. Em seguida, esperou que eles se acomodassem, contornou a escrivaninha executiva e sentou-se ao lado de Maya.
-- Imagino que estejam curiosos para saber por que estamos aqui?
-- Surpresa, sr. Angelo -- corrigiu Jessica com educação.
-- Oh, por favor, dispensamos as formalidades -- o sorriso dele era cordial.
Jessica balançou a cabeça, concordando.
-- Eu e minha esposa fizemos questão de vir pessoalmente comunicar a nossa decisão.
-- Não estou entendendo -- disse Maya, com aparente tranquilidade, que estava longe de sentir -- Que decisão?
Jessica acompanhava tudo com o cotovelo apoiado no braço da cadeira e uma mão junto ao queixo.
-- Faz três anos que nos inscrevemos no cadastro de adoção existente na comarca de Hills, assim como no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).
Maya puxou a mão de Jessica. Ela segurou-a enquanto olhava para Ângelo. O homem continuava sentado lá com uma expressão neutra em seu rosto. Vendo suas mãos apertadas, Jessica deu a Angelo um olhar que gritava: "diga logo o que quer".
-- Então, vocês são o casal que pretendem adotar as gêmeas? -- Maya apertou a mão de Jessica novamente.
Angelo viu o desespero escondido atrás daqueles olhos castanhos.
-- Sim, somos nós.
Maya olhou ansiosa para Jéssica, mas, ela parecia catatônica, aguardando o desenrolar da conversa.
-- Eu e minha esposa viemos para Hills em busca de uma vida nova, abrir um restaurante, ganhar muito dinheiro, formar uma família. Karine fez o curso de cozinha que tanto almejava e eu o curso de administração de empresas. Então, por que não tentar? O dinheiro que tínhamos na época não era muito, mas com um pequeno empréstimo poderíamos finalmente atingir o nosso objetivo.
Maya e Jessica entreolharam-se sem entender o que aquela conversa tinha a ver com as meninas.
-- Por favor, Angelo. Seja mais claro, eu e a Maya estamos muito nervosas. Essas meninas tem sido a nossa felicidade.
Angelo balançou a cabeça.
-- Eu sei, eu sei. Os seus amigos nos contaram como a chegada delas trouxe a felicidade para essa casa.
-- E como elas foram salvas da enxurrada por você, Jéssica -- completou Karine.
-- Eu ainda acredito no ser humano, na bondade, na gentileza das boas atitudes. Tenho gratidão por aqueles que têm bom coração. Pessoas como você que mesmo não nos conhecendo, ajudou a salvar o nosso restaurante e o sustento de muitas pessoas.
-- Agora me lembro -- disse Jessica, estalando os dedos -- Vocês são donos daquele restaurante do centro da cidade! Aquele amor, que foi praticamente destruído pelas águas da enchente. Lembra?
-- Claro, me marcou muito a cena da senhora chorando. Mas...
Angelo se levantou.
-- Pessoas boas merecem ser felizes. Seria muita maldade tirar as meninas de um lar tão maravilhoso como esse. Nessa casa, só moram sentimentos bons e o principal deles é o amor. Eu sinto isso. Por esse motivo e, pela felicidade das meninas, eu e Karine estamos desistindo de adotá-las. Deus é fiel e proverá grandes coisas para nós.
A emoção tomou conta do coração de Jessica e Maya. Palavras não eram capazes de descrever o que elas estavam sentindo.
-- Podemos abraçar vocês?
-- Claro, Maya.
Foi um abraço coletivo. Um abraço vale mais que mil palavras.
Ao fazer o bem, não olhe a quem e nem pense duas vezes. Faça o bem de coração, a recompensa de tudo que você faz vem de Deus, e um dia você vai dizer: Valeu a pena.
Tarcísio Custódio
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 12/09/2022
Quem tem bons sentimentos e pensamentos positivos sem está a salvo.
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Mille
Em: 10/09/2022
Oi Vandinha
A boa ação da Jéssica trouxe o sentimento de gratidão no casal, e claro que o Pepe dessa vez acertou e tudo saiu bem. Falta só oficializar o casório e a guarda das pequenas.
Jessica errar a boca foi hilario.
Bjus e até o próximo capítulo
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