Trouxemos News!
Trilhas sonoras:
Música 1: Banda A Favorita: Diga que foi amor.
Música 2: Raphaela Santos: Não sei voar.
Música 3: Simone: Encontros e despedidas.
Capitulo 4
Terça-feira, 7h35min
BA 535 - Sentido Salvador - Carro de Aplicativo
“[...] Será mesmo que você me amava? Eu que sempre acreditei em suas palavras. Será mesmo, era só nós dois? Será que me enganou esse tempo todo?Diga que foi amor. Diga que não vivi uma grande ilusão. Que nunca me enganou, que nunca me usou, que nunca brincou com meu coração.”
Quando está tudo indo mal, algo o torna pior. Era o pensamento de Alice, enquanto olhava as casas passando. No rádio do carro, uma das vozes femininas da nova geração do arrocha, conhecida como sofrência, cantava uma letra que descrevia seus pensamentos atuais. O motorista parecia conhecer bem a canção, pois tamborilava os dedos no volante sempre que possível.
Um filme passava em sua mente. Quando conheceu Suelen Cristina, teve a certeza de que nada aconteceria entre elas. E, se muito rolasse, seriam alguns beijos. A outra era uma das solteiras mais cobiçadas do Tardal do Farol da Barra. Muitas garotas tentavam entrar para a lista de contatinhos. Contrariando as expectativas de Alice, elas começaram sair e ficar sem compromisso de exclusividade. Suka, como os amigos a chamavam, era possuidora de uma beleza só dela. Possuía um sorriso típico de conquistadora que convidava a se perder em seus lábios carnudos. Na terceira saída delas, Alice se viu apaixonada e, aparentemente, era correspondida em igual intensidade.
“Mas seja de verdade. Que só ta procurando prazer. E eu sou só mais uma pra você. So não me ilude que eu me apaixono. Não diz que me ama que já faço planos. Não manda bom dia todas as manhãs no meu celular. Não me leve ao céu que eu não sei voar.”
O pedido de namoro, com menos de um mês, feito com todos os clichês clássicos, foi orquestrado por Suelen. Alice organizou um almoço em família para que Suelen conhecesse os sogros e cunhados. Por causa do seu carisma e bom humor, todos a amaram. A única pessoa que não havia caído nas graças de Suelen era Maristela, amiga de infância de Alice. Suelen tentava agradá-la, mas a outra a repelia. Quem via esses embates, tinha convicção de que, em algum momento, Maristela se declararia apaixonada por Alice devido a forma protetora com a qual cuidava da amiga e rechaçava a mulher que dizia amá-la.
— Ah! Quando eu contar… - Alice murmurou.
— Falou comigo, dona?
O motorista indagou enquanto fazia o retorno com o veículo na Avenida Pinto de Aguiar, em frente ao conjunto habitacional que Alice morava. Abriu a porta da casa e observou os porta retratos espalhados na parede da sala. Sua mãe sempre gostou de fotografias e festas, tentava unir as duas coisas. No meio do mural, uma foto sua abraçada a Suelen. Retirou com cuidado para não derrubar as outras. Rasgou em vários pedaços e jogou no lixo.
Escutou o celular tocar. Abriu a mochila e ao ver o vocativo AMOR na tela, desligou. Foi para seu quarto, pegou uma mala de viagem que ficava em cima do guarda-roupas e escolheu algumas peças de roupas para todas as ocasiões que conseguiu lembrar. Sabia que não era o correto sumir no mundo sem deixar rastro para seus familiares, mas se todos corriam perigo por causa dela, tentaria mantê-los a salvo, à sua maneira.
Após arrumar a mala, pegou alguns de seus livros preferidos e colocou em uma mochila. Parou no centro do quarto e deu uma conferida em tudo pela última vez. Queria memorizar o máximo que conseguisse. Seguiu para o banheiro e pegou seus produtos de higiene. Abriu o fundo falso do armário e retirou uma boa quantia de dinheiro que deixava em casa para emergências. Deixou tudo pronto antes de tomar banho e vestir uma roupa quente. Desceu com as malas e as deixou perto da porta de entrada. Catou o aparelho celular em cima do aparador e discou. No segundo toque a ligação foi atendida.
— Oi! Sei que não deveria pedir, mas preciso, mais uma vez, de sua ajuda.
— …
— Sim. Saí de lá. Aconteceram algumas coisas. Te conto quando chegar aqui.
— …
— Certo! Estou te esperando.
—...
— Até!
Enquanto esperava sua carona, preparou um sanduíche, pois seu estômago havia alertado-a que ela não se alimentava desde o dia anterior. Viu o bloco de anotações da mãe próximo do telefone fixo da residência. Tinha pontas quebradas e bagaço de lápis em cima. Soprou o papel e começou a escrever.
O barulho do celular vibrando na mesa de centro de madeira a despertou do sono. havia cochilado sem perceber. Viu o nome de sua carona na tela. Pegou a mala e as mochilas, olhou para a casa uma última vez antes de sair. Ali, por enquanto, não poderia ser seu lar. Não era mais um refúgio e sim um alvo.
Caminhou distraidamente pelas pedras retangulares da rua e mal pode acreditar quando viu sua carona. Ela estava esplêndida trajando uma calça jeans de lavagem clara e uma camisa polo feminina azul royal. Colocou as malas no banco traseiro do Renault prata e sentou no banco do navegador.
— Tem certeza de que essa é a sua decisão final, Alice?
— Tenho.
— Então coloque o cinto. Não quero desrespeitar leis de trânsito.
Lentamente, o veículo se movimentava. A sensação do incerto começava a se apossar dos pensamentos de Alice. Como se respondesse aos sussurros mentais que reverberavam em sua consciência, a voz da cantora Simone a fez prestar atenção a letra da melodia. Aumentou um pouco o volume, permitindo sua compreensão perfeita..
“São só dois lados da mesma viagem. O trem que chega é o mesmo trem da partida. A hora do encontro é também despedida.”
— Adeus! - Lançou um sussurro enquanto o carro se afastava cada vez mais do lugar que, um dia, a abrigou das tempestades e intempéries da vida.
Fim do capítulo
Até breve!
Comentar este capítulo:
Cristiane Schwinden
Em: 24/08/2022
ah bróder, quero saber quem é a carona, foi a ana martha? conta aí vai
amei o conto <3 vai ter mais?
foi gostoso ler um texto assim não linear, narrativa gostosa.
parabéns e obrigada por participar!
Resposta do autor:
Oxe!
Mas eu disse quem era a carona.
Só não dei o nome.
Saí um pouco da minha zona, mas foi divertido pensar nas desventuras de Alice.
Grata por ter proposto esse desafio que nos possibilita expandir a criatividade.
Quanto a ter mais... Quem sabe....
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