Boa tarde meninas,

         Sei que algumas já sabem e até me escreveram dando parabéns por isso, mas, não poderia deixar de agradecer a vocês por essa história ter entrado entre as 20 mais lidas do mês de Julho, confesso que me surpreendi, afinal era um texto que até acabei mudando toda a estrutura dele...rsrsrs, Enfim, agradeço, e sei que nada disso aconteceria se não tivesse vocês ao meu lado, comentando e me dando forças para continuar.

         Obrigada mesmo, por tudo e por tanto, beijos,

         Sabrina

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Praia do Naufrágio, 27 de dezembro de 2022

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         Samira observou Maria Rosa caminhando da água para o quiosque onde estavam, os cabelos haviam crescido, descendo fartos pelos ombros até as costas, percebeu que a pele morena estava avermelhando devido ao sol, lamentou por ter esquecido de passar protetor solar na sua amada, mas, o faria quando retornasse.

         Ayana vinha em direção a policial, fingindo não perceber a sua presença, seguia olhando a sua volta como se procurasse alguém. Maria Rosa fingiu não perceber seu disfarce, interceptando-a enquanto a cantora ajeitava os óculos Bentley. Em segundos teve uma ideia e arriscou, desejando que o rato roesse bastante o queijo bem encaixado na ratoeira.

- Bom dia Ayana, quanto tempo...

- Bom dia Policial – Respondeu seca, não estava para muita conversa.

- Continuo ouvindo o seu cd, fazia tempo que não me comovia tanto com letras tão lindas, ainda mais com a sua voz.

- Que bom que está gostando, vou fazer inúmeros shows depois do ano novo, traga seu cd que dou um autógrafo.

- Sabe o que fiquei curiosa? Não escreveu nada de novo nesses meses todos?

- Não, ainda não...

- Depois de tantos meses, nunca mais veio uma inspiração?

- Estou com bloqueio criativo, mas, depois de uma obra tão especial posso me dar ao luxo de um descanso, é merecido até.

- A gravadora não pressiona para produzir mais? Você é tão talentosa que se gravasse uma música todo dia com certeza o público escutaria já esperando por outras.

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         Maria Rosa foi certeira apostando na passagem bíblica Vaidade de vaidades! — diz o pregador, vaidade de vaidades! É tudo vaidade. Ayana sorriu relaxada, a policial não vinha com elogios baratos a sua beleza, nem tecia comentários rasos sobre as músicas, o que significava que não era uma fã qualquer.

- Ah querida, você não imagina como me pressionam, a cada data importante deste ano me encheram o saco para escrever algo, ainda rascunhei umas coisas, mas, rejeitaram, afirmando que queriam uma música brilhante como as do CD. Aquela foi a minha obra prima. Não sei porque tanta pressão, eles nem precisam tanto de mim, estão lucrando milhões com os shows, músicas e com o DVD. Pensávamos que não íamos vender tantos, hoje existem milhares de plataformas e aplicativos de música, não é verdade? Então, o recorde de vendagem surpreendeu.

- Sim, mas, você é diferente...

- Obrigada, ah, preciso te contar de primeira mão, duas músicas vão entrar na trilha sonora da próxima novela do horário nobre, de autoria da Glória Perez.

- Legal mesmo. Sabe, eu acredito que seja quase impossível escrever outras músicas baseadas novamente em suas vivências. Mas, continue, não se sabe nunca quando um coelho pode sair da cartola, não é?

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         Ayana optou por não responder, mesmo sentindo a frase carregada de ironia, acreditava que seria impossível a policial ter descoberto a autoria da morte de Daniella, não tinha ninguém na cachoeira, também não havia deixado evidências, ainda teve o trabalho de apagar tudo do celular e do computador da ex namorada. Então, de certo estava jogando verde só para ter certeza.

 A cantora já estava saindo quando Maria Rosa a olhou de sorriso de lado pra dizer: - já reparou que nos filmes de terror sempre aparece um último monstro para dar um susto, pois é, assim é na vida.

         Ayana seguia impassível, sem nenhuma reação, por mais que a policial a provocasse parecia que nada abalava sua estrutura, já Pietra não conseguiu ter a mesma desfaçatez, a fala da policial a pegou de surpresa, não tendo o mesmo preparo psicológico, ficou pálida, quase da mesma cor da areia da praia. A cada fala olhava para a cantora, com uma expressão interrogativa que indicava “o que devo falar?”.

         - Amore, Maria Rosa já falou tudo o que tinha pra dizer – Falou observando que a morena estava desarmada. Só então Pietra deu um passo à frente estufando o peito, de forma ameaçadora.

         A policial apenas sorriu de forma sarcástica, o rato tinha caído na ratoeira, respirou profundamente, voltando para o quiosque onde Samira estava, pediu uma água de coco a atendente, esticando o corpo na cadeira de sol.

         - Oi amor? – Piscou, pegando o celular na bolsa, escreveu uma mensagem absorta, e por fim deixou um recado para alguém, pedindo que retornasse com urgência.

         - Maria Rosa, você pode me dizer o que está acontecendo?

         A policial não respondeu, apenas pegou o rosto de Samira, com uma expressão divertida, dando uma série de beijinhos em vários lugares, deixando a namorada vermelha.

         - Olha lá quem vem vindo...Júnior.

         O rapaz chegou, tirando a camiseta do U2 para sentar ao lado das amigas, só assim Maria Rosa abriu que tinha arrumado uma testemunha que viraria o jogo.

- É quem estou pensando?

- Sim, exatamente...

- O que você fez para convencer?

- Mandei uma série de fotos de Daniella morta, não deu outra, ela topou depor.

Os três se olharam com os olhos rasos de lágrimas.

- Eu sei que nada vai trazer a Dany de volta, mas, é uma forma de dizer a essa bandida que não concordamos com essa maldade que ela fez.

Júnior sorriu, dizendo que também tinha uma surpresa... – Daniella deixou uma cópia do seu diário com... não deu tempo de concluir a frase, Marília e Giulia chegaram de mãos dadas.

- Oi gente – Falou Giulia animada por estar presente à reunião.

- Ora, ora Dona Marília, pensei que não voltaria nunca mais da lua de mel.

- Ah, Maria Rosa, pedir exoneração da Polícia foi a melhor coisa que fiz na vida, não nasci para isso, estou agora administrando a pizzaria com a Giulia, e vamos abrir em breve a nossa Casa das Massas, quero ser feliz e mais nada.

- Está certa Lila, sei o quanto você sofreu nesses anos todos na polícia.

- Espero que mantenham a promessa de investigar o desaparecimento da minha mãe depois, estou pronta pra tudo, pode acreditar.

- Nós vamos cumprir isso, imagine...

- Oieee... – Daisy e Bia falaram ao mesmo tempo. Beatriz sorria orgulhosa, segurando um menininho de dois anos que começava tardiamente a dizer as primeiras palavrinhas.

- Quem é esse gatinho? – Samira falou alisando os cabelos cacheados do menino que voavam com o vento.

- É o João, nosso filho...

- Meu Deus, nesses meses longe, vocês passaram a morar juntas e tem até um bebê?

- Sim, eu cuidei dele no hospital, criei vínculos fortes de amor, foi fácil até a adoção, quase um milagre ter saído tão rápido.

- Parabéns!

- Viemos para ver o desenrolar na história da Daniella e Júnior nos convidou para o ano novo no resort, ficamos até o dia 5.

- Eu não acredito que estão pertos, meus amigos... – Trocaram um abraço coletivo, e silenciaram ao ouvir um mamã...

- Como é João? repete filho...

- Mamã, mamã Biaaaaaa...

- Meu Deus, ele me chamou de mãe, olha isso Daisy, meu coração não aguenta. Diz de novo João.

- Na...nãaaa...o. Hahahahah.

- Ele está falando, você quer alguma coisa filho? Pede, pode pedir...

- Coié

- Acho que ele quer picolé, hein?

- É isso filho, quer picolé?

- Tim...

Samira pegou o menino no braço, caminhando até o carrinho de picolé, sem acreditar no pequeno milagre que acontecia ali.

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Pousada La Luna, horas depois...

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- Vamos tomar um banho? Estou queimada demais do sol. Amor, que bom que temos amigos por perto – Maria Rosa tirou o biquini amarelo e entrou nas águas mornas. Samira foi atrás, ela estava curiosa para saber quem era a testemunha, uma era Giulia que tinha a cópia do diário de Dany, mas, e a outra? Quem seria? Já ia perguntar, mas, a namorada a beijou de forma tão apaixonada e com saudades, que acabaram fazendo amor sentindo as águas caindo nos corpos que tanto se queriam.

Depois voltaram a conversar sobre o assunto, Maria Rosa comentou que estava ansiosa em fechar o caso para ir atrás de pistas da mãe de Marília, no entanto tinha que esperar, já tinha feito girar a roda da vida, e feito a engrenagem se mexer, o que demandava no instante era paciência.

- O fato meu bem é que Dany conversava com Sade, ela enviou os originais a cantora e nunca contou a ninguém, nem para sua amada – Falou desenhando as aspas com o dedo.

- Sade é aquela cantora americana?

- Não, ela é nascida na Nigéria, mas criada em Colchester, Inglaterra, para onde foi viver com a sua mãe (britânica) quando esta se separou do seu pai (nigeriano).

- E ela sabe português?

- Fala perfeitamente, mas, Dany também sabia inglês, de forma que se viraram pra conversar.

- E Sade topou participar do julgamento?

- Então, topou, Júnior descobriu a conversa entrando na nuvem virtual do celular de Dany, ela não queria participar de jeito nenhum, mas, quando viu as fotos ficou revoltada, deve estar chegando no Brasil, amanhã, aproveitando para passar o ano novo.

O telefone tocou quando estavam vestindo os pijamas.

- Boa tarde, desculpe Maria Rosa, estava dormindo um pouco...

- Tudo bem, tenho novidades, descobri e tenho como provar quem matou a Dany. Mas, preciso de sua ajuda.

- Quem foi?

- Calma Delegada, prefiro dizer pessoalmente, é uma história longa e não quero que venha distraída na estrada, eu também vi teu nome na lista de Dany, desculpa...conseguimos o diário na íntegra.

- Tudo bem, não tem problema...mas, pra que deseja a minha ajuda?

- Para provar...

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Desligaram e Maria Rosa olhou Samira, ela tinha tirado o pijama e passava hidratante no corpo.

- Você é linda demais, como vou pensar em crime vendo você assim na minha frente.

- Quer dizer que vou precisar ficar nua todas as noites para te inspirar?

- Humrum? – Falou beijando a barriga de Samira, indo em direção aos seios. A policial tirou o pijama e delicadamente encostou a namorada na parede, tirando a calcinha, beijando a virilha da namorada.

Fizeram amor de um jeito delicioso, ficaram abraçadas depois, Maria Rosa voltando seu pensamento ao caso.

- O que está pensando?

- Se a minha provocação fez com que Ayana mordesse a isca.

- Como assim?

- Ela prestou queixa por calúnia essa manhã...sabia que ela não ia deixar barato a minha atitude acusatória, com essa eu lhe peguei.

- Maria Rosa, meu amor, você é um gênio.

- Aprendi a blefar jogando poker com meus primos. Hahahahah. Amanhã chego com a Delegada Maria Clara, Sade e Giulia, ela não tem como escapar.

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         The Day After

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         Maria Rosa dirigia a caminho da Delegacia, escolhendo Disparada, uma música protesto da época da Ditadura Militar para tocar.

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Prepare o seu coração

Pras coisas que eu vou contar

Eu venho lá do sertão

Eu venho lá do sertão

Eu venho lá do sertão

E posso não lhe agradar

Aprendi a dizer não

Ver a morte sem chorar

E a morte, o destino, tudo

E a morte, o destino, tudo

Estava fora do lugar

E eu vivo pra consertar

Na boiada já fui boi,

mas um dia me montei

Não por um motivo meu

Ou de quem comigo houvesse

Que qualquer querer tivesse

Porém por necessidade

Do dono de uma boiada

Cujo vaqueiro morreu...

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- Está ansiosa, não é?

- Avisei ao Delegado da Praia do Naufrágio que chamasse Ayana, tenho testemunhas importantes sobre o caso que ela diz não ter ligação alguma.

- E se ela se recusar?

- Bom, como falei vou provar quem assassinou Dany, ela estando lá ou não.

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         Maria Rosa contou os pormenores do caso ao Delegado Paredes, falou das músicas, dos livros que Dany lia, do diário completo, e principalmente das testemunhas que provariam que ela havia sido morta por um motivo muito mais torpe do que seria se fosse um crime passional, o assassinato a assustava muito mais pela motivação ser tão sórdida.

         Sade entrou, causando um silêncio constrangedor, somente Ayana se levantou, tentando apertar a mão da cantora, que não apenas recusou o cumprimento, como a olhou de cima baixo para dizer – Você me enoja.

- Peço que me escutem com atenção, eu jamais acusaria uma pessoa sem ter um mínimo de provas suficientes. Chamo agora Sade, cantora de fama internacional como estão vendo, que se correspondia com Dany há anos.

- Um dia recebi um e-mail de uma fã, o título me pareceu tão engraçado que respondi, fiquei feliz de ter uma fã brasileira, amo esse país, e começamos a nos comunicar, ela me mandou em mp3 versões de duas músicas minhas, fiquei impressionada com a voz de anjo, levemente rouca, de um contralto que nunca ouvi antes, era um talento. Um belo dia sumiu, voltando tempos depois dizendo que estava experimentando a vida, e que aos poucos estava escrevendo umas músicas pensando em gravar um cd, me mandou três para começar, e as outras vinham aos poucos, cada uma mais interessante do que a outra.

         Nesse momento Ayana levantou para falar – Ela me disse que nunca tinha mostrado as músicas pra ninguém! – Falou e foi perdendo a voz, percebendo que tinha praticamente assinado a sua confissão. Sade olhou, sorrindo de canto para dizer.

         - Como vê, nós mulheres somos mesmo um oceano de mistérios – Falou com o português carregado de sotaque – sinto decepciona-la, my dear.

         - Encerro minha fala dizendo...todos os cantores de uma forma geral sonham com um cd que mude sua carreira, arrastando milhares de fãs, querer todo mundo quer, escrever música barata muitos conseguem, mas, música de qualidade, não é pra qualquer um. Atrevo dizer que fazer música e dar dinheiro no Brasil é muito difícil.

Ayana continuava impassível, com a mesma expressão que viu na praia.

         - Eu mesma tentei gravar, e olha tenho uma voz bonita. Samira, o violão por favor.

         - Mas isso é uma palhaçada! – A cantora levantou irada, mas, Maria Rosa continuou, sem se importar com a ira da outra.

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I've got you under my skin

I've got you, deep in the heart of me

So deep in my heart that you're really a part of me

I've got you under my skin

I'd tried so, not to give in

I said to myself this affair never will go so well

But why should I try to resist when baby I know so well

I've got you under my skin

I'd sacrifice anything come what might

For the sake of having you near

In spite of a warning voice that comes in the night

And repeats, repeats in my ear...

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- Canto bem, não? – Todos aplaudiram animados... – Pois é, mas, nunca consegui uma gravadora, sabe porquê?

- Você pode ir direto ao ponto, por favor – Falou o Delegado Paredes já perdendo a paciência.

- Tudo bem, vamos ao que interessa...eis que descobri um amigo que é hacker, atualmente contratado pela Polícia como T.I, Júnior, por favor...sua vez.

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         Junior impressionou dizendo tudo o que havia descoberto, ocultando alguns detalhes, até que finalmente deu a cartada final.

- Acontece Delegado, que um homem que aqui vamos chamar de Zé das Couves, instalou em uma árvore próxima a cachoeira uma minúscula câmera, tentando filmar uma possível traição da mulher, não posso apontar o Zé porque não sei, a informação é que ele é um político conhecido da região, segundo ele mesmo na carta. E aqui está o vídeo do crime. A escrivã desceu a tela, ligando o retroprojetor para passar o vídeo do assassinato, deixando todos perplexos.

- Maria Rosa, ainda preciso mostrar a xérox do diário?

- Obrigada Giulia, mas, depois desse vídeo, o diário deve ficar apenas como prova circuntancial.

- Tudo bem...

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(CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO)

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...: ♫ MÚSICAS DO CAPÍTULO ♫:...

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Disparada –Lucy Alves

I've got you under my skin – Diana Krall

Fim do capítulo