Da manga rosa quero o gosto e o sumo

Melão maduro, sapoti, juá

Jaboticaba, teu olhar noturno

Beijo travoso de umbu, cajá

Pele macia, é carne de caju

Saliva doce, doce mel, mel de uruçu

Linda morena, fruta de vez, temporana

Caldo de cana caiana

Vou te desfrutar...

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       Maria Rosa almoçava com Samira no Restaurante Flor do Sertão enquanto uma jovem com vestido estilizado, imitando chita, cantava Alceu Valença no disputado restaurante de comida nordestina. As peritas conversavam, discutindo o que haviam conseguido do caso até o presente momento. Alguns suspeitos haviam sido descobertos e investigados pessoalmente, outros haviam recebido uma espécie de dossiê anônimo, vindo da parte de Júnior, com dicas assertivas que iriam buscar aos poucos. Uma nova música havia começado, e as duas sorriram para cantar juntas, com os braços abertos, curtindo a melodia.

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Se a gente lembra só por lembrar

O amor que a gente um dia perdeu

Saudade inté que assim é bom

Pro cabra se convencer

Que é feliz sem saber

Pois não sofreu

Porém se a gente vive a sonhar

Com alguém que se deseja rever

Saudade, entonce, aí é ruim

Eu tiro isso por mim

Que vivo doido a sofrer

Ai quem me dera voltar

Pros braços do meu xodó

Saudade assim faz roer

E amarga qui nem jiló

Mas ninguém pode dizer

Que me viu triste a chorar

Saudade, o meu remédio é cantar...

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- Essa moça canta bem demais!

- Amor, será que o assassino teria a ousadia de mandar pistas para nós?

- Não Sá, se mandasse seria para nos despistar, esse anônimo, por alguma razão, quer nos ajudar. Bom, vamos a análise dos casos.

- Claro...

- Duda parece sincera e transparente demais para ter cometido um crime com tantos requintes de crueldade. Por outro lado, tinha a motivação de ter sido rejeitada, aspecto fundamental numa investigação criminal. Também tem a chef de cozinha lésbica, que talvez por não ter conseguido penetrar Dany, tenha ficado com tanta raiva, que introduziu a foto do artista Global em seu ânus. Agora, analisar o jogador de Polo Aquático é difícil, de concreto temos que ele é filho de um político homofóbico coligado a um partido de extrema direita, o jeito é esperar sua chegada na quinta para o aniversário da mãe, isto, segundo a dica do nosso informante anônimo. E por fim, entre tantos nomes, precisamos descobrir o tal Pierrô – Maria Rosa respirou desanimada ao enumerar a lista de suspeitos que só aumentava.

Discutiam as possibilidades, quando o garçom chegou carregando uma bandeja grande, colocando uma travessa com o peixe frito sobre a mesa, seguido de um prato fundo com molho de camarão, depois vieram os recipientes com arroz, salada e fritas. Era um rapaz bonito, bronzeado, com os cabelos cor de mel, e estava sempre sorrindo.

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- Desejam beber alguma coisa?

- Igor, traga uma jarra de suco de caju fazendo favor – Respondeu Samira, olhando a plaquinha com o nome, ao mesmo tempo em que retribuía o sorriso. Adorava o suco, ainda mais da fruta, como era o caso. Olhou o rapaz sair para perguntar a Maria Rosa:  - Lembra que no caderninho de Dany tinha um “Igor, garçom delícia”?

- Sim, deu um 8 para o beijo e 9,5 pelo sex* – Riram juntas, vendo o garçom voltar com a jarra – Maria Rosa olhava Samira, sorrindo para a namorada que estava bronzeada, contrastando com o vestido branco, com uma renda rosa clara por cima.

- Amor, quem odiava tanto a Dany ao ponto de matar? – Sua fala foi cortada da pelo garçom, que nervoso derramou um pouco do suco em cima da toalha na hora de servir.

- Mil perdões, foi sem querer, vou buscar uma toalha limpa.

- Calma rapaz, essas coisas acontecem... – Maria Rosa falou, fechando um pouco os olhos, deixando pequenas ruguinhas surgirem, da forma com que fazia quando estava cismada.

- Você não conhece a minha mãe, ela é terrível.

- Quem é sua mãe?

- É a dona do restaurante, estou aqui de castigo há meses trabalhando como garçom!

- É um trabalho digno, porque ela está te castigando, posso saber? Quem sabe posso te orientar em algo, estou vendo que não está confortável com essa situação – O rapaz encostou as mãos na cadeira vazia pra dizer.

- Eu fico com vergonha entende, meus amigos vêm aqui, ficam caçoando de mim, é chato. E minha mãe não me perdoou por ter ficado com a Dany, ela soube...a cidade toda soube.

- Entendi, precisamos conversar, estamos investigando o caso. Ah, pode mudar a toalha, diga que fui eu quem derrubei meu copo, tua mãe não vai brigar por isso.

- Obrigado, eu volto, quero muito saber quem teve a coragem de matar alguém tão bacana quanto ela. Dany era só amor, totalmente diferente das outras meninas que fiquei.

- Você gostava dela?

- Sim, foi a única experiência que tive com... – Igor pediu com licença, aproveitando que Maria Rosa observava uma mesa próxima para buscar uma toalha e troca-la, tentando voltar a falar de Dany.

- E vocês já tem algum suspeito?

- Obrigada Igor, me deixa teu celular, depois marcamos em outra oportunidade.

- Tudo bem.

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      A conversa foi interrompida pois Ayana havia entrado no restaurante, vestia uma calça jeans e uma bata indiana com estampa verde, ela não se arrumara tanto, mas, estava linda como sempre. Novamente um grupo aglomerou no seu entorno para aplaudi-la, a cantora respondia a todos de forma simpática, dando autógrafos, tirando selfies e fotos, somente quando todos saíram sentou com Pietra, pedindo o cardápio. Maria Rosa viu que ali era a sua grande chance.

- Boa tarde Ayana, desculpe incomodar, mas, podíamos marcar uma conversa? não quero atrapalhar seu almoço.

- Podia ter vindo com os outros fãs, não é querida? Se for jornalista, só falo nas coletivas.

- Você não está entendendo...sou da Polícia e estou investigando o Caso Daniella, tenho certeza que vai colaborar para que consigamos desvendar esse crime, como todos da cidade estão fazendo.

- Bom, aconselho procurar a Polícia Civil de Armação, já dei meu depoimento falando sobre o caso – O que vamos pedir, Pietra? – Falou desviando o corpo. Mas, o descaso não atrapalharia Maria Rosa de continuar.

- Já li, mas prefiro marcar uma conversa – Ayana olhou para Pietra perguntando qual dia da sua agenda estaria livre, a assistente após pegar o objeto, sorriu avisando que segunda era o seu dia mais tranquilo. Maria Rosa percebeu que a agenda era idêntica à de Dany, mudando apenas a cor principal para vermelho. Pietra levantou os olhos, observando a policial com desdém, falando de má vontade que as esperavam no dia seguinte as 14h, por fim, lembrou seguidas vezes que não atrasasse nem um minuto – Maria Rosa agradeceu, voltando para mesa, enquanto Ayana e Pietra se levantaram, mudando para o outro lado do restaurante.

- O que houve meu bem?

- Ayana achava que era uma fã querendo fotos ou algo do tipo...

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         Terminavam de comer, quando viram que o garçom voltava com uma mulher alta de cabelos brancos, quase prateados, que vinha segurando o ombro de Igor, como se tivesse apoiando o corpo.

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- Ela não é a cara da Miranda Priestly?

- Quem Samira?

- A personagem da Meryl Streep em “O diabo veste Prada” – Nem terminaram de falar e os dois se aproximaram.

- Boa tarde, devo chamar um advogado para essa conversa?

- Não precisa, é informal, a senhora pode acompanhar também.

- Õ mainha, pra que isso? Posso resolver meus B.O sozinho.

- Iguim, se aquiete que eu vou falar você querendo ou não. Aliás, vá fazer uma Cartola para as moças. Conhecem Cartola? - Samira se adiantou contando que era de Fortaleza, e que amava a sobremesa feita com banana flambada com açúcar, canela e queijo de coalho. Igor saiu para preparar o prato, enquanto a mãe ficou para assuntar o que as policiais queriam com seu menino. A conversa foi tranquila, Mara contou ser nordestina de Garanhuns, cidade serrana, localizada no Estado de Pernambuco, distante 230 quilômetros da capital pernambucana, Recife. A garanhuense contou sua história de vida, até falar do filho.

- Olha, Igor pensa que eu o coloquei de castigo como garçom por causa da moça travesti, mas, não é, um dia meu filho vai herdar a rede de restaurantes e quero que ele conheça tudo, quero que ele entenda como funciona um restaurante, não tem como fazer isso começando de gerente como ele queria. Depois, ele precisa ter empatia, perceber que os garçons são essenciais para nós, ele se sentia por cima da carne seca quando vinha trabalhar.

- Entendo, e não se importava dele se relacionar com uma transexual?

- Claro que não gostava, que mãe gostaria? Ainda mais com uma moça travesti que saia por aí com todo mundo? – Maria Rosa pensou em criticar a maneira com que Mara se referia a Dany, mas, achou que ela iria se fechar, por isso esperou que desse continuidade a fala.

- E como se sentiu quando descobriu que ela havia sido morta naquelas circunstâncias?

- Eu lamentei, nenhum ser humano merece ser morta de uma forma tão brutal, mas, nem se preocupe, ela já tinha terminado com o menino, de forma que não perca seu tempo me pondo na sua lista de suspeitos.

Comeram a deliciosa sobremesa, e após o cafezinho se despediram indo para pousada, onde encontrariam Marília. Finalizaram a tarde com mais quatro nomes para investigar.

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Casa de Ayana, dia seguinte...

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         Quanto as policiais chegaram, cerca de quinze minutos antes do combinado, Ayana já estava esperando, o piano estava aberto, e duas gêmeas conversavam alegres ao seus pés, Maria Rosa percebeu que as duas levantaram correndo, aproveitando a chegada de Maria Rosa e Samira para se sentar no colo da cantora.

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- Boa tarde policiais, como vê abri minha casa em um momento de lazer para recebe-las.

- Obrigada – Respondeu Samira, olhando para as duas filhas que escondiam o rosto com timidez.

- Elas são assim mesmo até se enturmar. Malu e Clarinha, onde está o boa tarde das titias? – A mãe mal terminou de falar, e as duas riram aberto.

- Oi, vocês são amigas da mamãe? – Perguntou a pequena, parecidíssima com Ayana.

- Queremos ser.

- Vou te mostrar a foto da nossa outra mãe... – Falou Maria Clara, a gêmea loira, que saiu correndo, voltando com o porta-retrato, entregando para Maria Rosa – Essa é a Mamãe Stella, hoje ela está morando no céu.

- De onde ela está, aposto que sente muito orgulho de vocês – As meninas se despediram, indo brincar no jardim.

- Não sabia que era viúva...

- Minha mulher foi mais uma dos muitos que morreram na Cachoeira do Diabo. Estava fazendo rapel e a corda soltou, existe algumas especulações que ela se matou, mas, quem a conheceu sabe que ela amava vier. Se existe um Deus, afirmo que ele levou a lésbica errada.

- Não fale assim – Samira falou emocionada.

- É verdade, Stella era altruísta, sempre ajudando os outros, a obra social que ela deixou é incrível, fora a ONG de acolhimento as vítimas LGBTQI+. Ela nos deixou há seis anos, uma pena, teve pouco tempo para curtir as nossas gêmeas.

- Lamentamos essa história tão trágica – Maria Rosa falou, fazendo algumas anotações incompreensíveis em seu caderno.

- Pois é, minha Stella foi mais uma a alimentar os medos das pessoas em relação a cachoeira.

- Assim como Vivi e Dany.

- Vivi não tive a oportunidade de conhecer, já Dany era uma filha pra mim, uma criatura adorável, saudades daquela risada tão gostosa, e daquela alegria tão dela.

- Ela tinha talento?

- Nossa, era perfeita, me superou em tudo, e falo de coração aberto, ia lançar a Dany, com certeza em breve seria uma grande estrela – Falou sorrindo, deixando as covinhas em cima dos lábios apareceram.

- É uma pena que a morte dela não tenha sido acidental como a da sua mulher, mas, um assassinato cruel. Possivelmente um crime planejado, e cada vez mais acredito na premeditação, o que torna ainda mais hediondo, inclusive nas leis, graças a Glória Perez.

- Como?

- A mãe da atriz Daniella Perez, assassinada por um colega de trabalho, é a novelista Glória Perez, ela promoveu um abaixo-assinado com 1,3 milhão de assinaturas pedindo a inclusão do homicídio qualificado na lista de crimes hediondos. O homicídio qualificado é aquele praticado por motivo torpe ou fútil, mediante emprego de tortura ou de maneira que reduza ou impossibilite a vítima de se defender.

- Nunca entendi de leis...aceitam um suco?

- Claro – Maria Rosa e Samira responderam juntas e logo Pietra voltou trazendo a jarra e os copos, sentando ao lado da cantora fazendo um carinho nada discreto em sua coxa. Ayana sorria, fazendo movimentos circulares com o canudo no suco de abacaxi. Enquanto Maria Rosa se mantinha séria observando o jeito debochado da secretária faz tudo da cantora.

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- Eu vi que Pietra tem uma agenda igual a de Daniella.

- Sim, é uma agenda comum, você pode encontrar no “Beco Diagonal”, livraria e papelaria que Dany trabalhava.

- Obrigada por informar, vou precisar te entrevistar também.

- Eu mal conhecia a menina, mas, não me custa.

- O que achava dela?

- Não tenho uma opinião formada, sinceramente, não que seja transfóbica, mas, o meu lance é mulher.

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         Conversaram mais alguma coisa e se despediram, indo em direção a pousada, ligaram a net pesquisando sobre o caso de Stella, haviam muitas especulações, a maioria insinuava traições e suicídio, um blog relatou que a empresária havia recebido uma carta anônima falando de possíveis traições de Ayana, anotaram o nome da jornalista, indo em direção a banheira. Precisavam descansar um pouco da tarde intensa.

         Samira colocou os sais de banho, sentindo que a água da banheira estava na temperatura ideal que gostavam, morninha, entrou encostando na borda, deixando que Maria Rosa encaixasse nela, fazendo suaves carinhos em seus seios...a morena fechou os olhos para sentir seus toques, respirando cadenciado para acariciar a coxa da namorada.

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- Humm, acho que merecemos uma pausa para namorar, não concorda?

- Acho sim amor – Samira respondeu, virando Maria Rosa, para beijar sua boca, enquanto suas mãos se encaixavam nos montinhos morenos.

- Eu te amo minha linda...

- Também, não para amor...

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         Lá fora, alguém ouvia “More words”, enquanto os gemidos invadiram o quarto...

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Saying "I love you"

Is not the words I want to hear from you

It's not that I want you

Not to say but if you only knew

How easy, it would be to show me how you feel

More than words is all you have to do to make it real

Then you wouldn't have to say that you love me

'Cause I'd already know

What would you do

If my heart was torn in two?

More than words to show you feel

That your love for me is real

What would you say

If I took those words away?

Then you couldn't make things new

Just by saying "I love you"...

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...: ♫ MÚSICA DO CAPÍTULO ♫:...

 Sabiá/Numa sala de Reboco/Morena Tropicana – Marina Aquino

Qui nem jiló – Lucy Alves

More Words – Extreme

Fim do capítulo