• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Fora do tempo
  • 7. Reconvexo

Info

Membros ativos: 9524
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,491
Palavras: 51,957,181
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Thalita31

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell
  • 34
    34
    Por Luciane Ribeiro

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Um novo jeito de ver o amor
    Um novo jeito de ver o amor
    Por Cida Dias
  • Nórdicos
    Nórdicos
    Por Natalia S Silva

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Fora do tempo por shoegazer

Ver comentários: 2

Ver lista de capítulos

Palavras: 3509
Acessos: 824   |  Postado em: 20/07/2022

7. Reconvexo

— Talvez vocês estejam ligadas uma com a outra.

Era a hora do almoço, e Coralina não tinha aula pela tarde naquele dia. Estava sentada na mesa enquanto Júlia colocava água no filtro de barro que ficava no canto da bancada onde preparavam comida.

Olhou-a pelo ombro antes de se virar e a encarar de frente, de braços cruzados. Só estavam as duas em casa, já que os pais dela tinham saído para o centro e Júlia tomando banho.

— Como é?

— Não sei, mas se quando vocês se encontraram aconteceu o que aconteceu... – Coralina matutava, apoiando nas pernas de trás da cadeira – só pode ter sido o destino, não?

Ela assentiu devagar, mesmo que não achasse o sentido total naquilo. Ainda assim, era alguma coisa. Coralina, no entanto, começava a expressar seus pensamentos alto.

— Se for, o que me liga a ela? – ela deu com os ombros – Vivi minha vida toda em um interior, só meus pais e eu. Como teria relação com ela?

— Será que ela não é alguém da sua família e você não conhece?

Júlia riu, negando com a cabeça de um lado a outro.

— Nem chance disso, Cora.

— Mas você a conhece faz pouco tempo, não é?

Júlia franziu o cenho perante o comentário. Não fazia sentido, mesmo fazendo, porém como ela ia dizer que ela estava confiando puramente em sua intuição?

Ela se serviu de água e se sentou na cadeira em frente à Cora, suspirando. O dia estava ameno. Apesar do sol, não estava quente como nos outros dias.

— Vai ver estavam procurando a mesma coisa, não?

Júlia franziu as sobrancelhas. Sabia que não era bem isso que ela estava procurando, mas não falaria à sua colega de quarto porque não poderia imaginar sua reação.

— Acho que não – foi a melhor resposta que pensou – cada uma estava indo para um lado diferente, e mesmo se tivesse, eu já teria descoberto.

Júlia apoiou as mãos na mesa, olhando a esmo para algum ponto inerte enquanto Coralina suspirou se aproximando dela com um plano inesperado em mente.

— Você tem a lista das pessoas que morreram?

— Claro, está tudo lá no meu caderno – ela apontou para trás, e Coralina voltou a ponderar.

— E se... – ela se aproximou para não ser ouvida – conferíssemos?

— Como isso?

— É simples... – sua voz se tornou um murmúrio – pegando os documentos dela.

Elas se entreolharam, e antes que Júlia falasse qualquer coisa, Ana Clara apareceu de fundo, com uma das sobrancelhas levantadas enquanto arrumava o cabelo.

— Estão falando de quem?

— Ninguém – Cora logo negou, voltando a se sentar – só perguntando umas coisas pra Júlia. E você, vai passear? Está tão bonita...

Nisso ela não mentiu. Ana Clara estava tentando adaptar suas roupas, então usava uma camiseta estampada por dentro de uma bermuda improvisada por ela cortando uma de suas calças e tênis de cano médio. Além disso, cheirava bem como o perfume fresco de alguém recém-saído do banho.

— É... – ela falou sem jeito – eu...encontrei com sua amiga e ela ficou de me emprestar umas...fitas.

Júlia a encarou séria, como de costume, e Ana retribuiu de relance. Basicamente, perguntando o que ela estava pensando que estava fazendo em falar com alguém assim e outra respondendo qual o problema que tinha.

— Laura falou contigo? Sério? – Cora levantou as sobrancelhas, surpresa, e Ana Clara concordou – E como foi isso?

— Eu me perdi, aí ela me deu esse salve e falei que estava com maior falta de ouvir um som, e foi isso.

Coralina só entendeu metade do que ela falou, mas se tinha som no meio entendeu o motivo de sua amiga ter intervindo assim.

— Pior coisa que você fez então, Ana – ela riu – porque ela curte muito isso mesmo, se empolga falando e tudo...Quando vou pra lá, o toca-discos é direto.

— Então somos duas – ela sorriu sem jeito e se sentou junto a elas, ainda com o olhar repressor de Júlia para ela.

— Mas, acredita que ela não gosta do Michael Jackson? – Cora fez uma menção chateada – Como alguém não gosta dele?

Ela olhou para ambas esperando a confirmação que não veio. Júlia deu com os ombros e Ana Clara, que fez uma cara de meio desgostosa.

— É...tem quem tenha seus motivos para não gostar, né? – disse Ana Clara.

— O que você quer dizer com isso, Ana? – ela fez uma cara séria – Você também não gosta?

— Meninas, chegamos! – ouviu-se a voz de dona Maria de fundo, abrindo a porta, e ali o assunto foi deixado de lado.

Não sabiam se deveriam falar das coisas de sua época assim, e fingiam na maior parte do tempo muito bem que estavam a par de tudo que acontecia, e não que nunca viveram aquela realidade. Poderia ser que influenciasse em algo que não deveria, já que nem deveriam estar ali em tese. Falavam somente o essencial.

Almoçaram todos juntos, e quando estavam se reunindo para assistir televisão, alguém bateu no portão. Ana Clara olhou de prontidão, e viu que era Laura, que chegara pontualmente.

Coralina foi abrir o portão, e não conseguiu esconder a reação quando viu a amiga ali, com sua jardineira preferida, a camiseta branca com as mangas enroladas e o boné verde gasto.

— Depois você vai me explicar isso aí – disse ela em tom irônico, e Laura revirou os olhos – Não eram as estranhas perigosas, Laurinha?

— Não enche, Coralina.

Em sua bolsa, tinha as fitas e seu Walkman. Ana Clara, que esperava animada na porta, a recepcionou com um aceno.

E, enquanto Laura cumprimentava os pais de sua amiga, Cora teve uma ideia que considerou genial, e parou ao lado de Júlia, que descascava uma laranja apoiada na parede, para sussurrar.

— Se elas saírem, dá pra agilizarmos aquilo.

Ela levantou uma das sobrancelhas sem deixar a função de descascar.

— E você acha seguro deixar a Ana Clara saindo assim?

— A Laura é minha melhor amiga – ela olhava para frente, tentando disfarçar.

— Mas eu não conheço – Júlia a olhou de relance, e voltou ao que fazia em mãos – e essa menina é muito desconfiada.

— É o jeito dela, Ju, olha como a Ana tá empolgada de estar conversando com alguém das coisas que gosta – ela gesticulou brevemente para frente na direção de ambas.

— Ana Clara já é empolgada normalmente – ela disse atravessada, cortando a ponta da laranja e colocando a casca de lado – e se ela falar alguma coisa errada e tua amiga tratar ela mal?

— Júlia, relaxa – ela segurou o antebraço de Júlia, chamando sua atenção – te dou minha palavra que não vai acontecer nada.

Ela olhou desconfiada, mas ainda assim, concordou. Foi a deixa para Coralina pigarrear e colocar seu plano em ação.

— Essa tarde está tão linda hoje, não é? – Cora pegou Ana Clara pelo braço, deixando-a surpresa – Por que vocês não vão dar uma volta?

— Nós duas? – Ana Clara apontou para elas, e Cora concordou novamente, olhando para sua amiga – Só nós?

— E o que tem?

Laura olhou sem jeito para as duas visitas, e Cora revirou os olhos.

— Não precisa ficar acanhada, Ana – ela as aproximou, e Júlia continuou olhando atentamente para as duas figuras, visivelmente contra aquela aproximação, mas sem dizer nada.

— É...Tudo bem eu ir, Ju? – perguntou Ana para Júlia lembrando de manter aquela breve encenação familiar, que concordou suspirando.

— Vá se divertir um pouco – e gesticulou para que seguisse.

Laura, de olhar quase sempre baixo, encarou Ana de relance antes de se despedir dos demais e ir para fora, com Ana Clara fazendo o mesmo.

Já Coralina e Júlia se entreolham cúmplices perante o acontecido. Com Ana Clara fora, poderiam começar a procurar as respostas para uma pergunta que sequer tinha sido feita.

 

Já do lado de fora daquela tarde que começava a ficar nublada, as duas caminhavam paralelas na calçada.

— Sua irmã é bem coruja – Laura comentou baixo, chamando a atenção de Ana Clara. Em um primeiro momento, quase falou que não tinha irmã, mas logo veio em sua mente de quem se tratava.

— É...A Ju é bem protetora mesmo – e perigosa quando quer, pensou ela lembrando da agilidade dela ao manusear as facas da cozinha de dona Graça e sua canivete estrategicamente escondida debaixo do colchão.

Não falaram mais nada depois disso, e continuavam caminhando. Ana Clara seguia Laura, que nada dizia. Não era uma garota de muitas palavras e estranhou tal aproximação, mas não reclamou, muito pelo contrário.

— Então, estamos indo pra onde? – Ana Clara enfiou as mãos nos bolsos, olhando para os tons azuis vívidos do céu, a movimentação parca da rua, tão diferente do que era acostumada.

— Ah, é aqui perto.

Caminharam mais algumas quadras até pararem em um lugar arborizado, ventilado, o qual tinham alguns bancos rústicos. As árvores eram altas e frondosas, e a grama não estava aparada. Ali perto tinham algumas pessoas, tão jovens quanto elas conversando em um dos bancos, e outros jogavam damas. Devia ser algum ponto de socialização dos moradores, pensou Ana Clara enquanto Laura andava até debaixo de uma das árvores com o banco feito de algumas tábuas apoiadas em pedras.

Sentaram-se uma ao lado da outra, o calor começando a transparecer em seus poros, e Laura colocou a bolsa entre elas. De lá, puxou seu Walkman e os fones, o qual Ana olhou atentamente para os gestos que ela fazia.

Primeiro colocou as pilhas, em seguida plugou o fone e pegou as fitas, as dispondo em sua frente.

— Eu não sei o que gosta de ouvir, então...Trouxe uma só de internacionais e outras nacionais.

Ana Clara pegou as fitas com a capa escritas à mão, em caneta esferográfica azul, e as devolveu para a dona.

— Qual você ouve mais?

— Ah, bem... – e pegou uma delas, mostrando a capa das internacionais – essa é a que estou mais ouvindo, tem uns lançamentos.

— Então... – Ana apontou para a fita – é essa que quero ouvir.

Era estranho alguém se interessar pelos gostos de Laura, uma entusiasta musical declarada. Quando compartilhava isso com sua melhor amiga ela nunca dava a devida atenção. Ouvia, mas sabia que ouvia só por consideração, não que se interessasse. Estava mais ocupada em seus livros e teorias fantasiosas sobre o espaço do que com o que tinha ali, entre elas.

Colocou a fita e Ana Clara alocou os fones em seu ouvido. Quando Laura deu play no botão, ouviu-se um chiado inicial o qual não estava habituada, mas quando a música começou a tocar, logo nas primeiras notas, sabia que tinha gostado, mesmo que aquilo fosse uma gravação feita da música original.

— Esse som é muito bom – ela fechou os olhos, sentindo a experiência tomar conta dos seus sentidos – qual o nome?

— Eu não sei falar o nome da música direito... – Ana ouvia a voz de Laura de fundo pelo fone abafado – mas a artista é Berlin, toca até no Top Gun, já viu?

— Não, ainda não.

— Virou uma das minhas preferidas.

— Com certeza vai virar uma das minhas também – e deu um sorrisinho de canto.

Sentia saudades disso. Dos fones, da música, da paz de espírito que se encontra naqueles poucos minutos em que a melodia toca, a sensação de que não importava onde estivesse, continuava ali.

Era uma felicidade boa demais para não ser compartilhada.

— Não vai ouvir também? – disse ao abrir os olhos.

— Não, não, nem tem como – Laura nego apontando para os fones – esse fone não dá pra ouvir duas pessoas.

— Dá pra dar um jeito – os tirou e apoiou na parte mais alta do banco, improvisando os fones como pequenos altos falantes, aproximando a cabeça deles.

Olhou para Laura, que cerrou os olhos e, pela primeira vez a viu sorrir, fazendo o mesmo gesto que ela.

— É, dá mesmo.

A tarde estava tranquila o suficiente para que desse para ouvir a música que saía dos fones sem problemas para ambas. Ana Clara encarava o céu e as nuvens que passavam aos seus olhos, em sua pose torta, as mãos juntas batendo os polegares, apreciando o que a amiga de Cora compartilhava com ela.

Talvez tivesse a julgado mal, pensou Laura, e elas fossem tão legais quanto Cora costumava falar. Na verdade, estava vendo que estava errada. Sua companhia, de olhar ameno, apreciava o momento como se aquele gesto simples fosse significante. E era.

Ana Clara olhou de relance para Laura, mas dessa vez ela não desviou o olhar com prontidão, tempo suficiente para que ela retribuiu o sorriso com um obrigada nas entrelinhas, ou como costumava dizer, um valeu.

No quarto de Coralina, a situação era caótica. Júlia era relutante com a invasão de privacidade de Ana Clara mesmo tendo mexido em seu telefone, e Corala resmungava revirando suas coisas.

— Deixa isso pra lá, Cora, isso não é certo de se fazer.

— É só a identidade... – disse ela abrindo as bolsas – só isso.

Júlia revirou os olhos e deu as costas para o que estava acontecendo. Não iria intervir porque ela ainda o faria, mas também não ia compactuar. Não demorou para que, em um bolso escondido da mochila, puxasse seu porta documentos com alguns cartões de créditos e junto a eles, sua identidade.

Ana Clara estava ali, na foto tamanho 3x4 e sua assinatura ao lado em letra cursiva. No verso, tentou não se assustar com a data de nascimento ser tão discrepante, mas na atual conjuntura não tinha mais local para se assustar com tais informações.

— Pega seu caderno, Ju – disse ela olhando atentamente para o nome completo, e Júlia a contragosto o pegou – Ana Clara Alves Schmütz.

O final do nome a chamou atenção, o qual cerrou os olhos e voltou a sua feição séria habitual.

— Ana o quê?

— Ana Clara Alves Schmütz – disse Cora, lendo mais uma vez, pausadamente.

— Schmütz... – Júlia pensou consigo. Conhecia aquele sobrenome peculiar de algum canto, e logo folheou rapidamente as folhas do seu caderno com Coralina ao seu lado – eu conheço esse sobrenome, agora de onde que...

Não precisou procurar muito para saber de onde tinha visto isso.

Coralina olhou para Júlia, que manteve os olhos focados naquela figura. César Schmütz foi um dos quatro elementos principais do tiroteio, e sua família, influente e rica, fora uma das principais financiadoras para que o caso fosse acobertado da grande mídia mesmo com toda a repercussão.

Apesar de certa semelhança física, Júlia jamais remeteria uma coisa a outra, mas Coralina, com aquela nova informação, sentiu uma faísca brotar de sua mente.

— Agora as coisas fazem mais sentido, Júlia – disse ela batendo na foto dele com a ponta dos dedos – não é você, é esse rapaz.

— É o irmão dela... – concluiu Júlia, analisando a foto de sua identidade com a do irmão – mas por que?

Por que ela escondeu aquilo? Tinha vergonha, medo da repreensão? De achar que a julgariam por conta de sua família? Essas perguntas borbulhavam na mente de Júlia enquanto Cora andava de um lado para o outro, em êxtase com aquela informação.

Parecia que estava quase arranhando a linha de sentido delas estarem ali, mas precisavam de uma coisa.

— Precisamos conversar com a Ana.

— E falar que descobrimos isso mexendo nas coisas dela? – Júlia respondeu ainda olhando para o caderno.

— Eu assumo minha responsabilidade, relaxa – ela deu com os ombros – mas sério, a gente precisa falar com ela logo que ela chegar.

— É... – Júlia olhou pela janela – espero que não demore.

Mas demorou a tarde inteira para voltar. Ficaram ali ouvindo a fita, ouvindo outras, Ana Clara perguntava sobre Laura e ela, cada vez menos tímida, perguntava da sua vida.

Ana Clara sabia que Laura não era filha única, tinha mais três irmãos. Um homem, o mais velho, e mais duas garotas. Ela era a terceira, e todos moravam juntos. Também soube que seus pais eram japoneses e que falavam a língua de origem em casa mesmo ela tendo nascido ali. Seus pais eram donos de um mercadinho o qual os pais de Cora forneciam mercadoria.

Já Laura sabia que Ana Clara tinha sua irmã Júlia vinda de um casamento com seus pais – já que desquite era polêmico – e que eles tinham boa vida financeira por seu pai fazer alguns investimentos para fora, mas que elas escolheram desbravar o mundo. E sobre descendências ela não se importava, mas que sua avó paterna era alemã e que eram muito próxima dela mesmo morando longe.

Que Ana Clara detestava uva passa na comida, enquanto Laura já gostava, e que seu doce preferido era prestígio enquanto da outra era pudim. Ana Clara evitava falar com afinco dos seus gostos porque eles seriam no mínimo, suspeitos, então se prestou em mais ouvir Laura do que falar. Foi nisso que soube que Laura estudava para ser professora junto com Cora e por isso elas passavam o dia na escola, já que o curso era uma espécie de técnico.

Já Ana Clara não sabia o que queria da vida. Não queria estudar e não queria assumir os negócios dos pais. Não tinha cabeça para nada daquilo, e se sentia pressionada para poder decidir algo que não fazia ideia para onde iria.

E Laura compreendeu, porque também se sentia perdida na maior parte do tempo. Só fingia muito bem que sabia o que estava fazendo, com toda a conversa desenrolando enquanto continuavam a ouvir música, até as pilhas levadas acabarem. Quando isso aconteceu, viram o entardecer já dando sinais de que a noite estava chegando. Se levantaram e seguiram caminhando.

— Quando a gente fica conversando o tempo passa voando, né? – Ana Clara disse a Laura, que sequer lembrava a vez que tinha falado tanto de si.

— É...verdade – ela voltou a dizer acanhada – desculpe, eu falo muito.

— Mas do que está se desculpando? – Ana Clara cerrou as sobrancelhas – Faz tempo que não me divertia assim.

Não estava mentindo, e por conta da veracidade das palavras Laura sentiu suas bochechas corarem levemente porque não era o tipo de coisa que ouvia isso todo dia.

— Deveria ter te mostrado pra ver os outros lugares que tem por aqui... – Laura gesticulou – que acho que vocês ainda não conhecem.

— Fica pra próxima vez, então – Ana Clara respondeu com um sorriso afável, e Laura riu consigo.

— Próxima vez?

— Sim, podemos ter outra tarde como essa?

Laura riu desconcertada, coçando o rosto devagar, concordando.

— Agora tenho que ir porque devem estar me esperando – Ana Clara apontou para trás – você vem comigo?

— Eu até iria, mas... – Laura disse pesarosa – já tenho que ir também.

— Então... – Ana estendeu a mão – até a próxima?

Ela segurou sua mão levemente fria combinando com a sutil queda de temperatura do ambiente, e a apertou.

— Até.

Despediram-se. Laura, ali parada na esquina enquanto Ana Clara acenava assim como da última vez que tinham se visto.

Não, eu não estou empolgada com isso, disse Laura consigo a caminho de casa, onde com certeza sua mãe já deve estar a esperando junto a suas irmãs.

Isso não é nada demais, Ana Clara, a pessoa só está sendo legal contigo, não que necessariamente tenha apreciado sua companhia, ela pensava a caminho. Não estava esperando romance daquilo, mas queria a ver uma próxima vez.

Mas, conforme se distanciavam ao seguir seus caminhos, cada uma era absorvida por seus próprios pensamentos. Ana queria ouvir ela falando um pouco mais de si, entender como as coisas funcionam ali da sua visão sem saber de nada que está acontecendo com ela e Júlia e os reais motivos para estarem ali. Já Laura queria saber cada coisa que aquela figura tão distinta tinha a dizer. Distinta no modo de falar, se vestir, gesticular, como uma estrangeira que caiu ali e calhou que falassem a mesma língua que eles, a qual chamava tanto sua atenção.

Mas, aquela sensação de desprendimento da realidade de Ana Clara se dissipou no momento em que colocou os pés na casa de Cora. Ao entrar e procurar por elas, as encontrou no quarto, sérias.

Júlia levantou o olhar sob suas grossas sobrancelhas, e Cora parecia não se conter em si.

— Ana, estávamos só te esperando.

Não tinha como isso ser bom. Da última vez que falaram que deveriam conversar foi quando Coralina soube delas, e pela cara de Júlia, parecia que dessa vez seria só com ela.

E seu maior receio.

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]
  • Capítulo anterior
  • Próximo capítulo

Comentários para 10 - 7. Reconvexo:
Lea
Lea

Em: 24/08/2022

Será que dá para ter um romance aí??

*

 

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 20/07/2022

Ana Clara casa caiu kkkk

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web