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Acessos: 597 | Postado em: 14/07/2022

Notas iniciais:

Boa noite meninas, espero que gostem do capítulo contando um pedacinho do começo de Daisy & Beatriz.

Capitulo 11 - How deep is you love

Curitiba, 20 de outubro de 2012

Dance in the old fashioned way

Won't you stay in my arms?

Just melt against my skin

And let me feel your heart

Don't let the music win

By dancing far apart

Come close where you belong

Let's hear our secret song...

Cristine dirigia batendo levemente na direção quando a voz de Charles Aznavour encheu o carro com sua música melódica, fazendo com que sua cabeça balançasse no mesmo ritmo, sorrindo ao mesmo tempo em que cantava os versos, afrancesando o tom, exatamente como o cantor.

Estacionou em frente ao seu destino, olhando o nome do lugar "Café La Mer", parando uns instantes pensativa, ao mesmo tempo em que observava a elegante fachada do café sofisticado, que tinha fama de servir uma comida deliciosa, além de cafés especiais, causando nos clientes experiências ímpares, que o convidavam a retornar.

A mulher elegante, abraçou a direção, encostando o queixo dos braços, pensando se deveria ou não descer, afinal havia sido convidada para a inauguração do espaço há mais de seis meses e passado o tempo, ainda não tinha ido ao local, fora isso, trazia em sua história, pequenas rusgas do passado com a dona do lugar.

Deu de ombros, nunca foi de retroceder ao que queria, sorriu olhando no espelho, sentindo-se atraente, pegou a bolsa Speedy da Louis Vuitton, que estava do lado do carona, entrando no café.

- Boa tarde Patrícia - falou olhando o crachá da atendente novinha que ficou desconcertada com sua voz enfática - gostaria de falar com a Daisy, diga que é Cristine Loewenstein - Patrícia teve certeza que não ia conseguir pronunciar direito o nome elegante da mulher, mas, fez o que pediu.

- Daisy, tem uma senhora grã-fina querendo falar contigo, Cristine alguma coisa bem diferente, tipo Lew...Low...não sei como falar esse nome, bom, ela está lá fora, avisou que só vai pedir depois que chegar para conversar com ela.

- Tudo bem, vamos lá, Cristine sempre foi altiva, digamos assim.

- Percebe-se, até o sobrenome ajuda.

Daisy respirou fundo antes de se aproximar, ajeitou no corpo o vestido preto solto, com pequenas flores de lis brancas, o cabelo escuro caia em cachos feitos com babyliss até o meio das costas, e a franja estava segura com um pequeno tic tac.

- Bom dia Cristine, Patrícia disse que queria falar comigo.

- Sim, que prazer em revê-la, minha querida. Antes, prefiro provar uma das suas iguarias tão famosas, o que me indica para o lanche da tarde?

- Pelo que te conheço, acredito que vá gostar do Croissant Piaf, com queijo e geleia de pimenta da Boulangerie Coquelicot. Para tomar indico o Mont Blanc, um chocolate quente encorpado, com um chantilly feito aqui mesmo no café.

- Acho que essa opção é maravilhosa, mas, sente, nunca pensei que aquela menina magrela ia ficar tão bonita, e acima de tudo, ainda ia ter um café tão elegante, você mal comia, nem sei como sobreviveu. Mas, me conta, o que fez para ter esse corpão?

- Me cuidei, fiz aulas de danças diferentes, fui a uma nutricionista, essas coisas...e que bom que as pessoas mudam, não é mesmo? Também nunca imaginei que aquela menina sem sal ia se tornar uma mulher tão bonita, agora o seu interior pelo visto, segue da mesma forma, sinal que tem coisas que não conseguimos mudar.

- Eu sofri para chegar a esse esplendor querida...nada é de graça.

- Mas, com certeza você não deve ter vindo aqui para recordar o passado.

- Não, passado superado, hoje até gosto do Pedro ter casado contigo, não ia dar certo, ele sempre foi uma tripinha, mais novo, imagina se ia dar conta disso tudo e dos meus luxos? - Falou apontado para si.

- De certo que não, mas, me fale, a que devo a honra dessa visita?

Antes de prosseguir o assunto, Patrícia chegou com o lanche, servindo, pedindo licença para se retirar, deixando a bandeja comprada no Museu do Louvre, impressionando pela beleza, e pelo cheiro do croissant e do chocolate que abriram o apetite e os olhos de Cristine, que dava uma mordida, um gole, passando o guardanapo na boca.

- Humm, que delícia, parabéns Dadá. Bom, você deve lembrar da Bia, olha não sei mais o que fazer com ela, está em uma tristeza que nem te conto, a tal da Margot, que ela dizia ser a namorada, foi embora para a California, o que achei excelente, imagina só, uma mulher mais velha dez anos que a menina, que absurdo. O fato é que a minha Beatriz não come direito, não dorme a noite inteira, chora por tudo, e como levar uma faculdade de Medicina assim? Não fez um semestre que entrou e não está conseguindo estudar.

- Lamento, Beatriz sempre foi uma criança adorável, mas, em que posso te ajudar?

- Tive uma ideia, a menina sempre foi louca por piano, você deve lembrar dela te olhando tocar, um toquinho de gente assim - Falou demonstrando a altura - lá na casa dos meus pais, então achei que com umas aulas ela deve se sentir melhor - Daisy pensou em dizer que não recordava, mas, algo a impediu, também achou cara de pau o pedido de Cristine, mas, pensou que Bia de fato não tinha culpa de ter uma mãe tão complicada e arrogante, portanto não custava nada ajuda-la.

- O que ela gosta de ouvir? Posso ir lá como quem não quer nada e tocar algo, oferecer umas aulas, ela tem algum compositor preferido? Algo assim?

- E eu lá entendo de música clássica? Coisa chata, algo só tocado, que graça tem? - Daisy revirou os olhos discretamente, respirando baixinho.

- Você consegue balbuciar o som de alguma melodia, caso ela escute de forma recorrente, isso se você recordar de alguma, já que não é fã do clássico.

- Sim, ela escuta todos os dias uma música chata que até já decorei - Daisy olhou Cristine, com muita vontade de rir da sua desafinação, mas, diante as circunstâncias achou que não seria adequado.

- É Clair de Lune, de Debussy, tem bom gosto sua filha.

Quinze dias depois Daisy cumpriu com o prometido, os cabelos já estavam mais curtos, e os cachos deram lugar ao liso verdadeiro. Vestiu uma bata azul ultramar em um discreto dégradé com flores na barra, sendo recepcionada pelo marido de Cristine.

- Boa tarde, minha esposa está esperando na sala de música - Daisy achou que Cristine lidava com ele como uma espécie de mordomo, mas, engoliu qualquer comentário, inclusive os que eram transmitidos pelo olhar. Entrou na sala admirando o piano de cauda branco, da marca Fritz Dobbert, o órgão dava um charme ao espaço, onde flautas, violões e um bandolim enfeitavam o ambiente, cercado de um sofá com almofadas fofas, além de quadros e objetos de arte.

- Montamos a sala para Beatriz, com proteção acústica, gostou? estou apostando minhas fichas em você. E claro que vamos te pagar muito bem, acima do mercado.

- Essa não é a minha preocupação - Cristine a olhou de cima abaixo, quem na vida achava dinheiro algo irrelevante? Mas não falou nada, afinal estava cumprindo seu papel de mãe.

- Filha, visita pra você...

- Mãe, dá uma desculpa qualquer, não quero ver ninguém... - Daisy se aproximou, fez um carinho nos cabelos de Bia, que virou devagar.

- Oi, acho que não lembra de mim, não é mesmo? - Beatriz balançou a cabeça, realmente não lembrava de Daisy.

- Sua mãe disse que gosta de piano, é verdade?

- Sim, gosto muito, eu peguei um livro infantil, mas, não consigo sair do básico.

- Ah, mas, posso te ajudar, acredite...

Os meses voaram, transformando-se em anos, as aulas de piano foram intercalando com os afazeres de cada uma, e no final cessaram de vez. Daisy seguiu o casamento, feliz, com poucas coisas a reclamar, cuidando do marido, das filhas, feliz por ter realizado o sonho de ter seu café tão idealizado. Por outro lado Beatriz tinha um coração jovem, que logo foi reconstruído, vieram outras namoradas, claro, novamente teve o coração partido, uma vez, outra, e cada vez sofria menos, no fundo, teve uma vida feliz, se formou, viajou, namorou, passou em um concurso, montou um consultório, apenas continuava a morar com os pais, havia pensado algumas vezes em morar só, mas, as conversas sempre terminavam com Cristine chorando e dando por encerrada a ideia, desistiu, se acomodando em uma bolha aparentemente perfeita.

Em um dia qualquer resolveu voltar a estudar piano e não tinha professora melhor do que Daisy, que por outro lado estava em uma fase tranquila, suas filhas estavam crescidas, tudo seguia ajustado, mas, no fundo parecia que faltava algo, as vezes pensava que estava cansada da sua batida, então, não pensou duas vezes antes de aceitar o convite, e esse encontro foi como se juntasse a fome com a vontade de comer.

Se alguém lhe perguntasse, Beatriz saberia indicar sem sombra de dúvidas o dia que entendeu seu interesse por Daisy.

Curitiba, 12 de junho de 2021

- Daisy, não precisava ter vindo, dia dos namorados, podia estar curtindo com seu marido, nem sei o que me deu, meus pais viajaram e estava me sentindo sozinha, desculpa, meus dedos praticamente apertaram as teclas para te ligar.

- Hahahahah, não se preocupe, também estou só, Pedro viajou e as meninas vão dormir na casa da minha mãe, também não tenho preocupação com datas comercias, como essa.

- Que bom então, assim a gente faz companhia uma pra outra, aceita um vinho? - Beatriz perguntou, já chegando na adega, torcendo por um sim, de longe Daisy olhou questionando quando a aluna tinha se tornado uma mulher tão bonita.

- O que disse Bia?

- Aceita um vinho?

- Claro, será um prazer...

Beatriz voltou, sentando de frente para Daisy, que abraçava uma almofada com um braço, enquanto com o outro recostava a cabeça. Acomodou-se para receber a taça da mão de Bia, que sorriu pensando que nunca tinha reparado na beleza da professora. Aproximou-se, e com carinho, mas, cheia de malícia pegou com a mão o colar que Daisy trazia no pescoço, deixando que o dedinho passasse discretamente em sua pele, causando um arrepio incompreendido na professora, ouvindo Bia perguntar.

- O que significa?

- É....o cubo de Metraton, um símbolo de proteção, ganhei de uma amiga, bonito, não?

- Muito, mas, muito mesmo - Respondeu Beatriz olhando os lábios vermelhos de Daisy com muita vontade de poder ir adiante. A professora quis quebrar um pouco do clima, levantando para pegar uma porta retrato de Bia quando criança.

- Lembro direitinho de você nessa época, sabia? Não parece, mas, te carreguei no colo, viu?

- Eu sei, você era vizinha da minha mãe, famílias amigas, mas, se quiser me carregar no colo de novo está permitido.

- É impressão minha, ou essa garota está flertando comigo - Foi o que Daisy pensou, mas, apenas riu sem conseguir responder.

- Posso cantar uma música para ti? - Bia perguntou com voz rouca, quase agatinhada.

- Claro, vou adorar - a professora respondeu, sentindo o rosto corar de tanta vergonha.

Bia pegou o violão cantando, "All over me" de Lindsay Harper, olhando de forma mais expressiva para cantar a estrofe da música: "In the Space between what's wrong and right, you will find me waiting for you..." (No espaço entre o que é certo e errado, você vai me encontrar esperando por você). Quando terminou, recostou o violão sentando novamente ao lado de Daisy.

- Então, gostou?

- Muito...você gosta de dançar Bia?

- Colado?

- Não garota, vou por uma música que gosto muito, vem vai ser divertido...

You're just too good to be true

Can't take my eyes off of you

You'd be like Heaven to touch

I wanna hold you so much

At long last, love has arrived

And I thank God I'm alive

You're just too good to be true

Can't take my eyes off of you...

Ao término da música, Bia sorriu para dizer - Agora é a minha vez de escolher - Andou em direção ao som para por How deep is your love, na versão da banda Take That.

- Dança comigo?

- Não, é...vamos deixar para outro dia, eu preciso ir pra casa, eu...

- Espera, vamos conversar.

- Outro dia, te prometo, no momento eu preciso ir, com licença - Falou, saindo em direção a porta, deixando Beatriz com gostinho de te quero na boca, mas, na certeza que seu coração tinha enfim encontrado o seu porto. Foi até o som, deixando tocar:

Coisa linda

É mais que uma ideia louca

Ver-te ao alcance da boca

Eu nem posso acreditar

Coisa linda

Minha humanidade cresce

Quando o mundo te oferece e enfim te dás

Tens lugar, promessa de felicidade, festa da vontade

Nítido farol, sinal novo sob o sol, vida mais real

Coisa linda

Lua, lua, lua, lua

Sol, palavra, dança nua