Capitulo 4
CAPÍTULO 04
Contém
Cenas violentas
Palavras de baixo calão
Melisandre olhava para seu relógio de pulso pela milésima vez, a todo momento virava o pulso para frente do rosto e fazia a leitura das horas, os ponteiros mostravam o quanto estava tarde para ministrar a primeira aula do dia.
Sua primeira aula começava exatamente às 13:15, os alunos já tinham perdido o primeiro tempo, àquela hora a metade da sala deveria estar andando pelas galerias, deitados embaixo dos pés de manga espalhados pelo campus, oferecendo frutos e muita sombra, outros deveriam estar tocando violão e fumando maconha, e outros tantos enchendo a cara com vinho barato e se os funcionários do campus não os expulssassem, eles entravam noite adentro.
Melisandre sorriu ao lembrar da vadiagem e vida sem compromisso que metade da sala tinha com os estudos, a maioria dos alunos eram filhos de pessoas de classe alta da nata da sociedade, e que não estava nem aí para a mensalidade absurda que a faculdade cobrava deles, ela tampouco se importava, pois tudo o que era arrecadado Ziam, o alfa e pai de Nara, destinava para projetos esportivos e de idiomas espalhados nas favelas da metrópole, e mais um tanto para as famílias que sofreram abusos sejam eles de que natureza fossem.
A faculdade e todo o terreno pertencia à reserva das lobas e de Ziam, eles eram os donos de tudo, fizeram uma votação e escolheram um reitor humano de confiança, que administrava tanto o campus como os projetos sociais com pessoas escolhidas a dedo para gerenciar, Melisandre e as irmãs ensinavam nos projetos. E na faculdade, pelo menos ela e Morgana.
Olhava para os lados com vontade de se transformar em lobo, mas desistiu, ali era arriscado um lobo correr em plena luz do dia, também não podia se transformar em outro animal como seu dom lhe permitia, o melhor a fazer seria correr em velocidade de lobo, suas pernas longas e cheias de músculos, pediam uma corridinha, porém quando olhou para seu corpo também teve que adiar esse desejo não podia ter esse luxo, estava vestida como uma humana, com uma saia azul turquesa justa aberta na lateral com o detalhe de botões minúsculo lacrando a abertura de cima a baixo, uma blusa preta de alfaiataria combinando com o sapato e uma bolsa de tamanho médio na mesma cor de sua pele, os cabelos presos de qualquer jeito eram preto com fios brancos e azulados, era uma loba bonita, mas uma lycan incapaz de correr livre como gostaria, todavia andar rápido isso ela podia fazer, sem levantar suspeitas.
Não era de bom tom viajar na dobra do tempo morando na cidade, na pressa do andar, o salto do sapato ficou preso entre duas pedras do calçamento mal feito e cheios de buracos, aquela parte da metrópoles era conhecida por ter uma péssima malha viária, as pedras que normalmente eram encaixada formando o calçamento, ali não funcionava, estavam todas fora do local, formando pequenas crateras e para piorar a falta de sorte da loba, na noite anterior tinha chovido bastante com isso os buracos no chão eram poças de lama.
A loba sentiu o ar mudar rápido demais, seus pêlos ficaram eriçados, passou os olhos por todo o local para não ser surpreendida, junto com a mudança, veio o odor de suor de três humanos machos que pelo fedor era cheiro de líquidos pré-seminal, não teve dúvidas do que eles pretendiam fazer com seu corpo, ela poderia eliminar os dois que estavam vindo e correr o risco do outro filmar tudo no celular e mandar para alguém e adeus sossego, apurou a audição, mesmo não sendo necessário, os três estavam com as batidas cardíacas aceleradas, seu corpo começou a tremer obrigando-a mudar, exigindo que ela se transformasse, coisa que ela tentava evitar, olhou para trás no fim da rua havia um barbudo escorado no carro, com a uma das mãos massageava o próprio membro com gestos obscenos e com a outra segurava um cigarro aceso, à sua frente vinham outros dois com expressões semelhantes ao do homem com o carro e a intenção do trio era bem clara.
Melisandre sentiu outro cheiro diferente que não era humano ele apareceu e ficou circulando seu corpo numa clara demonstração de proteção, ela estranhou e a todo momento procurava ver a quem pertencia, sem conseguir descobrir o dono agradeceu mentalmente a companhia, já não estava sozinha naquela rua esquisita.
― Você cuida do filho da puta ali atrás e eu cuido desses dois aqui? ― Questiona para ninguém em especial antes de se transformava em lobo, depois pula e cai em cima dos humanos ao mesmo tempo ouviu um sorrisinho de deboche, depois analisaria isso, segurou um com a pata e outro segurou com a boca no pescoço já estraçalhando a jugular e puxando a garganta do homem que ainda se estrebuchava batendo os pés no chão, balançou a cabeça com violência e arrancou, separando-a do pescoço, um pedaço da clavícula e da coluna vertebral rasgaram a pele saindo como uma espada de ossos quebrados e pontiagudos. Melisandre jogou fora os pedaços humanos e sem demora fez o mesmo trabalho com o outro, que a tempos tinha deixado de tentar fugir ou gem*r.
Quando terminou arrastou os corpos empilhando um sobre o outro de qualquer jeito, depois se afastou para um canto e lambeu toda a sua pelagem, quando não restava nem mais um resquício de sujeira, voltou a forma humana olhando sem ter certeza de onde havia deixado suas roupas, na mesma hora um vento suave trouxe suas vestes que caíram em seus pés, deixando-a intrigada. Vestiu a roupa e se dirigiu para perto dos corpos, abriu as mãos, deixou sua energia subir por suas veias, sentindo cada milímetro de fogo frio correr entre elas e explodir na ponta dos dedos exonerando os cadáveres, não deixando vestígio algum, quando terminou esfregou as mãos uma na outra enquanto falava.
― Acho que agora podemos nos apresentar, eu sou Melisandre Pietra Aruna, da reserva das lobas bruxas… e você é?? — Esperou paciente uma resposta que não veio, então voltou a seguir seu caminho novamente, atenta ao cheiro, queria saber se ele a seguiria ou se desaparecia, a mesma risada de antes da luta se fez ouvir e a loba continuou falando sozinha. ―Tem muitas coisas que não esqueço na vida, uma boa foda...uma boca gostosa entre minhas pernas...mas a mais importante...EU NUNCA ME ESQUEÇO DE QUEM FAZ ALGO PRA MIM. Seja coisa boa ou coisa ruim, sabe eu queria te conhecer, mas se nã.. — Não pode terminar a frase nesse momento o celular começou a tocar a música “Autumn Leaves” de cara soube que o chamado vinha da sua mãe, essa era a música que embalava seu sono quando criança nas noites em que tinha pesadelos, deixou que a música tocasse transportando seus pensamentos para a reserva, o cheiro do mato verde, das lagoas e o som da mata acalmou seus pensamentos, trazendo-lhe de volta ao seu eixo. No segundo toque do celular ela sentiu a brisa bagunçar seus cabelos, e teve a impressão de sentir uma mão acariciar seu rosto e passar junto com a brisa, mas uma vez forçou a visão e não viu nada.
Sentiu a presença estranha próxima, acompanhada de um risinho baixo quase sussurrando, deixando seus pêlos arrepiados, imediatamente fez um exame mental para ver se o seu cheiro original estava camuflado e estava, mas quem quer que estivesse a seguindo sabia o que ela era antes mesmo de ter se apresentado e também tinha camuflado seu próprio cheiro. Melisandre só não sabia por que esse ser preferia estar invisível.
Não era um ser celestial, ela sabia disso pelo horário os anjos ou os caídos, geralmente, passam pela terra entre 3:00 da tarde ou 3:00 da madrugada e 6:00 da manhã ou da noite, quando os portais se alinham e eles podem transitar tranquilamente parando o tempo, mas são obrigados a voltar, no entanto, aqui ou acolá sempre tinha os desgarrados que ficavam para trás enfeitiçados pela magia do local, ou pela beleza dos humanos.
Então a segunda hipótese é que ela estivesse sendo seguida por um bruxo, mesmo não sentindo o cheiro de mirra, que geralmente é o cheiro da maioria das bruxas, ou o mau cheiro de ferrugem derretido, que também é um dos cheiros dos bruxos.
Os cheiros separados quer dizer que o bruxo ainda não tem consciência da sua magia, que é o mais comum entre os humanos, Melisandre convivia na faculdade com muitos humanos híbridos, filhos de humanos com bruxos ou humanos e anjos ou com os caídos, todos esses humanos possuíam magia, mas eram cegos para esse conhecimento, alguns ainda tinham um certo pressentimento de quando coisas ruins estavam para acontecer, mas nunca sabiam explicar porque sentiam isso, claro que não poderiam, o Criador não permitia que humanos tivessem essa visão por isso o pai biológico desse tipo de criança era obrigado a passar a mão nos olhos da criança na hora do nascimento para que seus olhos estivessem sempre cegos para magia e também para esconder do Criador que estavam infringindo as leis divinas.
Melisandre chegou a conclusão de que não se tratava de nenhum deles, que a estava seguindo. E tampouco eram demônios, não às duas da tarde, no momento em que dobrou a esquina parou ficando de costas para o campus.
― Cheguei é aqui que trabalho, se bem que eu tenho a impressão que já sabe.
Seus lábios foram gentilmentes tocados por um calor desconhecido, parecia uma loucura, mas ela sentiu uma língua invadir sua boca num beijo que ela não quis sentir no momento, por vergonha de estar em um espaço aberto e ter certeza que estaria fazendo papel de retardada se deixasse aflorar tudo que ela estava sentindo, quem a visse no meio da rua iria ver uma linda mulher com movimentos estranhos no corpo. O mesmo sorriso dessa vez bem próximo a seu ouvido.
― Eu te vejo nos teus sonhos minha companheira.
Uma brisa suave passou balançando a copa das arvores arrancando as folhas amareladas levando consigo numa dança exótica, a poeira de terra fina subiu em redemoinho acompanhando as folhas que dançavam longe e o cheiro de Belarome amadeirado doce misturado com hortelã ficou no ar impregnado na sua pele.
Fim do capítulo
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