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A Outra Metade do Amor por Carol Rutz

Ver comentários: 6

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Palavras: 3230
Acessos: 1308   |  Postado em: 24/06/2022

Epílogo

Epílogo

 

Paula

Quando o avião pousou o horizonte tinha aquela mistura de tons alaranjados e azuis das manhãs frias. Enquanto percorria a infinidade de corredores e escadas até o desembarque, fiquei olhando cada placa, cada cartaz ou aviso, e o idioma me roubou um sorriso.

No táxi que me levou para casa, ao invés de afundar meu rosto no smartphone, fiquei à janela, olhando para todos os lados, percebendo como tudo estava tão diferente de como eu imaginava. Apesar de todos os relatos de minha mãe, ver com meus próprios olhos era fantástico.

Ao sair do carro, com duas malas ao pé, não tive pressa em ligar ou tocar a campainha. Fiquei diante do portão, que era novo pra mim, bebendo cada detalhe com os olhos. O jardim parecia menor, cercado de grades daquele jeito. A varanda, com seu telhado de madeira, já não tinha flores. Eu mirei a janela do meu antigo quarto e meu coração se apertou. Tudo no quarteirão estava tão distinto: nenhum gramado emendava mais com a calçada. Ergueram-se muros, barreiras, paredes concretas, mas também metafóricas, isolando as famílias dentro de suas próprias casas. A rua ainda tinha o calçamento irregular que arrancara tantas tampas dos meus dedos descalços, mas parecia infinitamente menor.

Ganhar o mundo tinha mudado minha percepção das coisas.

Dona Magali não escondeu a surpresa ao ver quem chamava. Se eu tivesse contado meus planos, ela certamente teria me dissuadido, como tentou me convencer a descansar da viagem, dormir, me acomodar.

Eu não tinha voltado ao Brasil, depois de doze anos, pra dormir.

Quem me deu a notícia, por telefone, foi a esposa de Fernando: “Quincas” finalmente tinha decidido se divorciar de minha mãe. Pelo olhar atravessado que Dona Magali lançou pra mim ao me ouvir perguntar se tudo estava bem, percebi que não estava.

Eu não sei se algum dia ela chegou a amá-lo. Nem sei se tentou. Em mais de uma década, mesmo depois de aceitar o casamento pelo qual ele teve de lutar bastante, minha mãe passou mais tempo na Califórnia comigo do que em casa, com ele. Eu continuava sendo, e provavelmente para sempre seria, a desculpa de Dona Magali para tudo.

– Mãe, vem cá! – eu chamei, ao me jogar sobre o sofá que há alguns anos tinha substituído aquele que eu conhecia.

Ela veio. Não disse nada, e nem precisava dizer. Entrelacei meus dedos no cabelo dela, vendo os fios grisalhos que a tinta havia deixado escapar. Ela também não chorou, mas eu me vi derramando lágrimas tímidas. Ela não sabia, porque nunca queria saber desse departamento, mas estávamos em situações parecidas, guardadas as devidas proporções.

– Não há motivo para dramas – ela disse, com a voz forte e sua eterna pose.

– Eu também não vim para fazer dramas, mãe – repliquei.

Era verdade. Olhar aquela sala, tão parecida com como eu lembrava, trouxe um choque bom: a noção de que deixar o tempo passar, agindo sobre nós, é algo maravilhoso. Mas a conclusão me fez rir, porque a maturidade estava me deixando cada vez mais parecida com mamãe: pragmática e resoluta.

– E o seu trabalho? O que você tinha na cabeça de se despencar até aqui sem aviso?

– Tive saudades e quis ficar com você.

Ela resmungou, contrariada, mas não fez mais perguntas. Nem afirmações. Nem cobranças. Aceitou, enfim, a minha presença e os meus afagos. E aceitou, embora relutante, as lágrimas que seus olhos verteram quando eu passei a cantar pra ela a cantiga que ela e papai tinham inventado pra mim.

Depois de muito tempo, ela adormeceu no meu colo. Provavelmente tinha virado a noite, insone, triste, com medo de passar o resto da vida sozinha. Eu também estava cansada, mas a adrenalina que tomara conta do meu corpo, ao decidir viajar, sobrepujava o sono.

Comecei a pensar em todos que queria rever, mas não tinha ideia de por onde iniciar essa jornada. Da turma do colégio, a única que encontrei de novo foi Chris, que estava consagrada como jogadora da seleção brasileira de voleibol, e anos atrás tinha tomado um café comigo na Itália. Através dela, fiquei sabendo que Nicholas tinha se tornado engenheiro civil.

Daniela e eu mantivemos nossa amizade à distância pelos primeiros anos após a minha mudança. Ela seguiu a carreira de enfermeira da mãe e eventualmente se casou. Com o tempo a freqüência entre nossas mensagens foi diminuindo até se extinguir. Nunca brigamos. Apenas seguimos rumos diferentes. Eu a amava como a irmã que nunca tive, mas sem o contato direto, deixamos de nos adorar, de necessitar da presença constante uma da outra, e encontramos cumplicidade em outras pessoas ao longo de nossas jornadas. 

Eu descobri, é claro, que ela ajudou Yasmin a mentir. “Descoberta” talvez não seja o termo correto. Daniela nunca precisou contar, eu apenas compreendi os fatos quando encaixados na linha da vida. Depois que as feridas se fecharam, eu entendi, aceitei e perdoei todas as envolvidas – o que incluiu minha própria mãe.

Foi melhor assim.

Quando o tempo aquietou minhas memórias, meus anseios, meus hormônios, minhas birras e minhas mágoas, a sabedoria dos anos me trouxe o dom da paz. Yasmin e eu teríamos amargado um namoro à distância doloroso e finito, em uma época da vida em que os corpos querem demais e mandam em nós. Às vezes eu parava para pensar em quanto tempo teríamos resistido. Alguns meses? Quem sabe mais que um ano? Dificilmente...

A decisão dela, embora no calor do momento tenha sido cruel, foi o que fez de mim a mulher que sou hoje. As lágrimas que derramei pensando nela teriam vertido de qualquer forma, pela mesma saudade, e na ausência da raiva, teriam molhado meu rosto por muito mais tempo, salgando minha boca com um sabor talvez ainda mais amargo.

Mas houve, sim, de qualquer modo, um tempo durante o qual eu senti muita dor. E ele foi suficiente para que perdêssemos todo o contato. Para que todos ao meu redor ficassem convencidos de que o tema jamais deveria ser mencionado. Hoje eu me pergunto como foi para ela... Por quanto tempo será que ainda pensou em mim? E às vezes, muito de vez em quando, eu me pego pensando que rumos sua vida tomou. Se encontrou alguém, como eu fatalmente encontrei, e se ela se perdeu do amor de novo, como eu me perdi também.

E o irônico, nas minhas lembranças e divagações sobre Yasmin, é que nunca deixei de senti-la como parte de minha própria alma. Amores muito mais maduros a sucederam, no meu caminho, mas as recordações adolescentes que partilho com ela ainda são as mais doces, e me parecem as mais certas.

– Filha? – ouvi minha mãe sussurrar.

– Sim?

– Você não está com fome?

Para agradá-la, eu menti. Ajudei-a a arrumar a mesa e partilhamos um bolo já duas vezes adormecido e um café fresco, sob novos protestos dela de que eu deveria ter avisado sobre a viagem, para que ela pudesse se preparar. Tudo aquilo era tão desimportante para mim, mas fazia uma enorme diferença para ela. Por isso dediquei o meu primeiro dia de volta à terra natal inteiramente a minha mãe. Vimos fotos, fomos ao mercadinho do bairro, e, também juntas, arrumamos meu antigo quarto.

No dia seguinte, munida do último endereço que tinha, fui procurar por Daniela. Sabendo que a rotina dela deveria ser apertada por causa dos plantões, fui sem muita esperança de encontrá-la na primeira tentativa, e de que o reencontro fosse um daqueles momentos mágicos, de filme, onde duas pessoas que não conversam há anos de repente ignoram que a intimidade foi perdida e tudo volta a ser como era antes.

Mas foi! Foi exatamente assim.

Ela estava de folga, o marido no trabalho e a filha na casa da avó paterna. Tivemos uma daquelas tardes que valem por dez anos de uma vida: rimos, choramos, contamos fatos e piadas, nos abraçamos pelo menos duzentas vezes e entendemos a maior parte de tudo o que uma queria dizer para a outra sem precisar de palavras.

– E você, Paula? Não me diga que deixou alguma maluca te esperando em Los Angeles...

– Não – respondi, depois de alguns segundos de hesitação.

– Mas o que há com as mulheres de lá? São cegas?

Eu ri.

– Não.

– Então desembucha essa trama!

Suspirei longamente, tentando organizar lembranças e dramas de doze anos em uma frase simples de dizer:

– Eu namorei... Casei, descasei de novo... Voltei a namorar... Terminei com a última há menos de um mês.

– Alguém digna de nota? – Daniela questionou.

– Todas – eu disse, e gargalhamos juntas.

Mas Daniela estava atipicamente séria e profunda.

– Você foi feliz?

– Fui! – respondi, depois de avaliar minha consciência. – Sou. Na imensa maioria do tempo, sim.

Ela me encarou com olhos estreitos e nós duas soubemos, ao mesmo tempo, que havia meia verdade e meia mentira naquela resposta.

Eu tinha sido feliz, mas...

Aquele “mas”. Uma sensação de que poderia ter sido mais. De que ainda faltava algo. E a certeza dolorosa de que eu nunca mais tinha conseguido me entregar completamente.

O olhar de Daniela foi suficiente para romper minha carapaça.

Não foi fácil tocar naquele assunto. Pronunciar o nome de Yasmin doía. Fisicamente. Emocionalmente. Contudo, eu precisava me livrar daquele peso, de uma vez por todas. Contar que eu sabia, que entendia e que tinha perdoado todo mundo.

Só não consegui dizer que estava em paz. Porque essa era a parte da mentira que eu tinha inventado pra mim. E Daniela, mesmo depois de tantos anos, ainda conhecia minha alma como se eu fosse transparente.

Quando Jorge chegou em casa trazendo a pequena, senti meu coração se encher de amor à primeira vista. Era uma miniatura da Dani! O mesmo jeito maroto de olhar, o sorriso que iluminava tudo ao redor. O trio insistiu que eu ficasse para jantar, mas não quis deixar minha mãe sozinha.

– Quanto tempo você vai ficar no Brasil? – Daniela me perguntou, enquanto trocávamos mais um abraço, dessa vez de despedida.

– Ainda não sei... – respondi, honestamente. – Tudo depende de Dona Magali...

Fizemos, juntas, uma careta e eu parti, mesmo morrendo de vontade de ficar. Como tínhamos trocado telefones (atualizados!), eu pretendia marcar outro encontro assim que a agenda deles permitisse.

Em casa, mamãe me esperava com meu prato favorito.

A segunda noite, sem o cansaço do vôo longo, foi mais difícil que a primeira. Demorei horas até pegar no sono e, quando consegui, ecos de um passado que eu julgara enterrado vieram me visitar na forma de sonhos tristes.

Joaquim foi buscar suas coisas no dia seguinte e convenci mamãe a deixá-lo sozinho em favor de passear comigo pelo centro da cidade, onde eu ansiava por rever tudo, reexperimentando gostos, cheiros e sensações que nunca tinha esquecido. Na volta, um bilhete sobre a mesa da sala avisava que as cópias das chaves estavam na caixa de cartas, ao lado do portão.

E então, finalmente, Dona Magali desabou de verdade, num choro de soluços altos que comprimiu meu coração num aperto quase fulminante. Doía tanto vê-la sofrer e não poder fazer nada!

Ela dormiu, exausta, com os nervos em frangalhos, abraçada ao porta-retratos que exibia o sorriso do meu pai. Às vezes, não sei se sonhando ou delirando, ouvia a voz dela chamando seu nome. Juntei-me a ela na cama de casal e não saí do seu lado até o amanhecer. Quando dormi, sonhei com meu pai também. Mas não foi um sonho triste nem confuso. Foi bem óbvio, inclusive. Ele estava ali, conosco, a velar nosso destino.

Quando acordei, num susto, o sol já estava alto e mamãe batia panelas na cozinha. Era sábado e eu tinha marcado de passar a tarde no parque com Daniela e sua pequena Sofia. O almoço foi silencioso e breve, e me despedi de Dona Magali com um beijo no rosto.

– Eu te amo – me vi dizendo, não de forma mecânica, mas querendo gravar cada palavra no coração dela.

Ela forçou um sorriso, porque ainda estava pesada, cheia de lutos.

– Eu sei que, como mãe, tenho muitas falhas, querida.

Ante a frase dela, apenas sorri mais. Pousei outro beijo, na outra bochecha, e tomei sua mão.

– Eu te amo incondicionalmente – reafirmei.

Não tinha sido uma provocação, e espero que ela não tenha tomado dessa forma. Logo em seguida, parti para o parque, a pé, pois não ficava longe de casa.

Sofia correu ao meu encontro assim que me avistou e ficou no meu colo pelo resto do percurso. Daniela foi falando sem parar sobre os garotos da época da escola e outros que conheceu antes de Jorge e depois de mim. Dada a presença da filha, usava eufemismos engraçadíssimos e a pobre Sofia logo desistiu de tentar entender o assunto.

Depois de algum tempo, voltamos a falar de mim. Àquela altura, tínhamos nos acomodado num banco à sombra. Perto de nós, Sofia brincava na areia e fazia amigos no escorregador.

– Quando você casou, foi de papel passado e tudo? Lá pode, não?

– Pode, mas não... Moramos juntas por dois anos e meio, e consideramos um casamento. Ainda somos amigas... Foi um processo tranqüilo de transição. Ela casou de novo, dessa vez no papel, adotou duas crianças e sou até madrinha do mais velho.

Daniela acenou positivamente e estava preparando a próxima questão quando uma bola de vôlei me acertou na coxa, quase me matando de susto.

Foi por instinto que me virei, sem conseguir evitar a expressão zangada que se formou em meu rosto.

O tom ruivo dos cabelos era exatamente o mesmo da minha memória, ainda que o corte estivesse atualizado. Prendi minha respiração por não sei quanto tempo, enquanto observava passos tímidos trazendo Yasmin de volta para a minha vida como se ela nunca tivesse saído. Seus ombros reluziam o sol da tarde, expostos pela regata escura. Estava completamente diferente. E exatamente igual.

A mão de Daniela tocou minhas costas, numa espécie de afago.

– Falando em madrinhas... – ela disse, a voz bem baixa. – Aí vem a da Sofia...

Queria olhar pra Daniela e interrogar um milhão de coisas, mas não consegui me mover. Todas as possibilidades do mundo me ocorreram, num fluxo de memórias me arrebatando em velocidade supersônica. Todas as pausas que Dani tinha feito, quando ainda conversávamos depois que me mudei, todas as contradições que tinham ficado meio mal explicadas. Naqueles milésimos de segundo guardados na linha da vida, tinham estado informações que agora eu precisava.

De repente, queria saber tudo o que jurei nunca perguntar. Queria voltar em cada episódio, cada conversa, e ser atualizada direito. Precisava saber onde estivera Yasmin, o que tinha feito, o que andava sentindo, por cada maldito dia desde o último... Desde a briga. Queria os detalhes mais banais e os anseios mais secretos. Tudo, qualquer coisa. Mesmo aquilo que Dani quase acabou contando, no outro dia, e eu a interrompi, porque não estava pronta. 

Queria ter uma crise de ciúmes por Dani e Yasmin terem se tornado tão amigas depois que eu parti, e queria ter comemorado que as duas pessoas que eu mais amava e deixei pra trás tinham ficado próximas e cuidado uma da outra.

Quando Yasmin enfim parou diante de nós, saltei do banco num pulo e, nervosa, corri a mão pelos cabelos. Não sei se fiquei tonta pelo movimento brusco, pela respiração que estava suspensa há séculos ou, simplesmente, porque aquela história de ficar reencontrando Yasmin ao longo do tempo, em diferentes fases da vida, era ridiculamente arrebatadora.

– Paula?

Até a voz eu ainda sabia de cor, em cada tom e nuance.

Doze anos ensaiando discursos enormes, dos piores aos melhores, e tudo o que saiu foi:

– Oi.

– Desculpa... Pela bolada... Não era pra acertar...

E Yasmin abriu um sorriso lindo e constrangido que eu admirei por trás de um véu de lágrimas. Em seguida, senti as duas mãos de Daniela pousando em meus ombros e o rosto dela chegando perto do meu:

– Eu fui agente da separação de vocês... E isso me deixou em dívida com o destino. Paulinha, a novata agora é você. Se machucar a minha amiga, vai me machucar também.

E se afastou, com a desculpa de atender Sofia. Yasmin olhou na direção dela, com outro sorriso, tão lindo quanto o primeiro. Um sorriso energético, de gente de bem com a vida. De garota atrevida. De mulher.

Meu coração já estava prestes a saltar pela boca e me vi, como num feitiço, arrastada à adolescência de novo, à época das impetuosidades, dos impulsos, de se jogar no vazio de olhos fechados e sentir o vento arrepiando os cabelos.

– Ei, Dani? – chamei de volta e ela parou, olhando pra mim.

– Quê?

– Pergunta de novo... – pedi. – Aquilo que você perguntou na outra noite.

Ela pensou por três segundos, bastante intrigada.

– Quanto tempo você vai ficar no Brasil?

Acenei, confirmando, mas só dei a resposta depois de encontrar o olhar de Yasmin de novo:

– Pra sempre...

As mesmas palavras que tinham dado início a nossa história...

A angústia que sentíamos, entretanto, era oposta. Aos treze anos tinha sido um adeus. Aos trinta, não era apenas um reencontro: era a certeza de que não haveria mais despedida.

E como no final da infância, a promessa foi marcada por um beijo, dessa vez entre mulheres com a vida feita, a cabeça em ordem e o mesmo coração louco, desesperado, suplicando para ficar junto do seu par. Um beijo intenso, mas lento. Tão profundo quanto tudo aquilo que nos unia.

– Não houve um só dia em que eu não tenha pensado em você – ela disse, sufocada.

A confissão me fez apertar os olhos, vertendo lágrimas que eram uma mistura de felicidade, de amor e de saudade.

– Nunca mais me deixe ir, Yasmin. Mesmo que eu insista. Mesmo que você ache que é o melhor pra mim.

Ela confirmou, com o rosto enterrado em meu ombro e seus braços ao redor da minha cintura. Num impulso, tomou-me no colo. Não era lugar para uma cena que fosse muito além daquilo, mas roubei-lhe ainda um beijo rápido, que encerramos com um sorriso que virou uma risada. Gargalhando, ela rodopiou comigo até quase cairmos estateladas na grama, e, naqueles segundos, eu senti que podia voar. Que estava, de fato, voando.

Ao lado dela essa sensação nunca mais me abandonou. 

 

– x –

 

Tive um pássaro de estimação na infância e por muitas vezes ele chegou a ser o meu único confidente. Para uma doce criança eu até tinha algum preparo emocional e me fiz de forte e de madura quando meu pai e eu fomos até um parque para que o meu amigo ganhasse a liberdade.

Minha mãe me dissera que o melhor para ele era viver na natureza e que ele ficaria feliz comigo por deixá-lo ir, mas que se fosse o nosso destino permanecermos juntos... Bem, você com certeza já ouviu isso.

O que eu não sabia era que, tantos anos depois, seria remetida à mesma lição, e aprenderia finalmente que aqueles que nos amam não precisam de gaiolas, de grades, nem de amarras... Mesmo livres, eles voltam pra nós, por vontade própria.

Yasmin

 

 

FIM

Fim do capítulo


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Comentários para 13 - Epílogo:
patty-321
patty-321

Em: 31/07/2022

Que história!  12 anos foi tempo demais. Queria mais detalhes.

Responder

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Pouca Sombra
Pouca Sombra

Em: 18/07/2022

Historia perfeita

Responder

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Lea
Lea

Em: 13/07/2022

Amei cada linha,uma estória linda. Yasmin amou incondicionalmente a Paula e virse versa. O tempo não foi capaz de destruir o amor dentro delas.

Eu como emocionada que sou,chorei.

Obs: não reclamaria de um especial da Paula com a Yasmin. 

Boa noite Carol!

Responder

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Mille
Mille

Em: 30/06/2022

Oi 

Amei a história, queria mais uns dois capítulos com o novo encontro que o destino preparou para elas.

No fim o amor delas não era o que dona Magali pensou, é verdadeiro e foi capaz de todas vezes se reencontrar falar mais alto.

Bjus e parabéns 


Resposta do autor:

Mille,

Muito obrigada por esse comentário tão doce e gentil.

O plano original era fazer toda uma segunda parte com mais 10 capítulos delas adultas. Mas perdi o fôlego pra isso e costurei um epílogo ao menos para dar a elas um encerramento. 

Mas que eu queria toda aquela segunda parte, ah, eu queria!

Beijos

 

Responder

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kasvattaja Forty-Nine
kasvattaja Forty-Nine

Em: 27/06/2022

Olá! Tudo bem?

 

Querida Autora, adorei seu texto.

Muito bem escrito e encadeado. História simples, direta e certeira, como tem de serem as boas histórias.

Lindas, Paula e Yasmin. Maravilhosas.

Parabéns.

É isso!

 

Post Scriptum:

 

''Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem luta é melhor. ''

William Shakespeare,

 

Escritor.


Resposta do autor:

Kasvattaja, 

Que delícia de comentário! Muito obrigada pela força e que bom que as gurias te envolveram. 

Abraços

Responder

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LeticiaFed
LeticiaFed

Em: 26/06/2022

Querida autora, muito feliz em te rever por aqui! Confesso não lembrar de ter lido essa história anteriormente, mas devorei no final de semana. Que delicadeza de enredo, prendendo até o final, e que mensagem linda! Seja muito bem-vinda de volta. Beijo e uma ótima semana!


Resposta do autor:

Leticia!!!!

Que bom ver você aqui também! Sempre adorei seus comentários em OT e fico feliz que OMA tenha sido uma novidade pra você. Passei um bom tempo sem histórias inéditas... rs (rindo de nervosa). 

Obrigada pelas boas vindas e até breve!

Responder

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