Capitulo 7
Capítulo 07 – À Flor da Pele
Yasmin
Depois daquela tarde na piscina, na qual devo ter pedido Paula em namoro umas cem vezes, só nos vimos na escola. A semana de provas foi longa e dura, mas insuficiente para tirar meu bom humor.
Paula e eu nos falávamos por telefone todas as noites, antes de dormir. Sem os treinos, eu tinha de me contentar com conversas triviais nos intervalos, quase sempre com a insuportável da Daniela no nosso pé. A garota mais parecia um guarda-costas!
Com um sorriso cruel nos lábios, enquanto dirigia com calma, lembrei que Daniela passaria por alguns apuros naquele final de semana. E, claro, eu tinha tudo a ver com aquilo. Tomei emprestado o carro do meu pai, pouco antes do meio-dia de sábado, para ir até a rodoviária e buscar a minha grande arma naquele plano.
– Joana! – chamei, em voz alta, antes de começar a correr na direção da minha melhor amiga.
– Ruivinha!
Fizemos um escândalo. Naquele momento percebi o quanto eu sentia falta da minha melhor amiga. Ainda que nos falássemos sempre, não era a mesma coisa que ver o sorriso dela e receber seu abraço apertado.
– Trouxe presente pra mim? – perguntei, enquanto apanhávamos a mala e íamos para o estacionamento.
– Interesseira – acusou ela, fazendo uma pausa. – Claro que eu trouxe! Entrego depois do almoço.
– Como assim?
Ela gargalhou. Já conhecia a minha ansiedade. E entre risos e provocações, chegamos em casa e meus pais a receberam com muita simpatia. Era comum que meu pai fosse para a cozinha nos finais de semana, e Joana ainda era apaixonada pelos pratos dele.
Minha amiga puxou tanto o saco dos meus pais durante a refeição que fomos liberadas de cuidar da louça para nos divertimos. Joana era demais!
– Suas colegas chegam cedo, filha? – perguntou meu pai.
– Aham, daqui a pouco devem estar aí – respondi, terminando a sobremesa.
Joana me cutucou por baixo da mesa e tive de sufocar o riso. As “colegas” que estavam para chegar eram Paula e Daniela. Subimos sem demora para o meu quarto e ficamos jogando conversa fora, atiradas na cama em meio aos meus CDs novos, que Joana ainda não vira.
– Agora conta, você me enrolou a semana toda, sumiu várias vezes... A sua Paulinha já aceitou seu pedido de namoro, a Dona Maligna já saiu do pé de vocês... E então?
– Dona Magali, Jô.
– Foi o que eu disse – ela sorriu inocentemente.
– Você não existe.
– Não enrola. Levou a Paula pra cama?
– Mas que insistência em saber disso!? Qual o problema?
– Ué, eu quero saber dos detalhes, Ya.
– Pois eu não vou te contar – cruzei os braços.
– Como assim?
Gargalhei a plenos pulmões.
– Para, boba. Paula e eu ainda estamos nas preliminares.
Joana parecia incrédula.
– Yasmin, faz uma semana que você só faz falar no namoro de vocês, respira essa menina desde que a viu de novo... E continua na seca???
– Da um tempo, Jô. Era semana de provas.
– Pois que fosse uma semana de Guerra Nuclear! Que que deu em você?
– Nada – disse eu, simplesmente.
– A Paula só pode ser virgem.
– Não é.
– Opa! E aí?
– Ela namorou uma colega de teatro, ano passado.
– Então vocês tocaram no assunto... – Joana pareceu se animar um pouco. – E aí? Quando, onde e como vai ser? Posso assistir?
– O quê??
Tenho certeza que a gargalhada dela foi ouvida da Lua. Maldita Joana!
– Ai, ruivinha, relaxa.
– Sua pervertida do inferno.
– Você ta toda vermelha... – ela continuou rindo.
– Não to.
– Ta mais vermelha que seu cabelo!
– Quer parar com isso? Vamos mudar de assunto, ok?
Ela me contou algumas coisas da faculdade e, mais uma vez, discutimos minha eterna indecisão quanto a uma carreira.
– Filha, as meninas chegaram, vá recebê-las!
Joana me olhou.
– Hora de conhecer a sua deusa Paula – piscou o olho.
– E hora de você descobrir por que eu não suporto aquela metida da Daniela.
– Então por que a convidou?
Sorri maliciosamente.
– Alguém tem de distrair você enquanto eu namoro, não?
– Yasmin, você pode até ter se apaixonado... Mas continua não valendo o feijão que come.
Respondi com outro sorriso safado e descemos as escadas praticamente correndo. Notei que minha mãe havia recebido as garotas e voltara para a cozinha. Meu pai deveria estar lendo jornal em algum canto, por isso não hesitei em beijar os lábios de Paula, com um sorriso, assim que nos aproximamos.
– Oi – ela disse, muito vermelha.
– E aí, Novata? – cumprimentou Daniela.
Rolei os olhos.
– Amor, Daniela, essa é a Joana, minha melhor amiga.
Dali em diante, Joana comandou o show. Cumprimentou Paula polidamente e pegou leve, considerando que eu esperava que ela me ridicularizasse irremediavelmente já de cara. Entre ela e a chata da Daniela, contudo, as coisas foram bem diferentes...
– Nossa, Ya, você esqueceu de acrescentar alguns adjetivos quando me falou da Daniela... – minha amiga não foi nem um pouco discreta ao devorar Daniela com os olhos.
Paula me olhou preocupada e eu sufoquei o riso. Daniela ficara ligeiramente indecisa sobre cumprimentar Joana.
– O...Oi.
– Oi – disse Joana, com a voz firme e segura de quem não entrava num jogo para perder – Vem, vamos dar uma volta pela cidade! – enganchou-se no braço da morena e foi arrastando Daniela até a porta.
– Hei, peraí! – ela protestou.
– Deve ter muita coisa legal nessa cidade para eu conhecer... – explicou-se Joana. – E a ruivinha ali pelo visto ficará bem ocupada, não? – piscou o olho para Paula.
Rimos e demos as mãos, minha namorada e eu. Daniela não teve escolha, e depois de um olhar desesperado na direção de Paula, que nada fez, saiu com Joana porta a fora. Subimos para o meu quarto ainda de mãos dadas e assim que fechei a porta, Paula empurrou minhas costas contra a parede e me roubou um beijo de tirar o fôlego!
– Agora sim, “oi, amor” – ela sorriu, provocante.
– Ah é? – puxei-a pela nuca e mergulhamos em um novo beijo, mais intenso que o anterior. – É assim?
Com os braços ao redor do meu pescoço e um sorriso lindo no rosto, Paula passou a me beijar singelamente.
– Tava morrendo de saudade de ficar a sós com você.
Sorri de volta, enquanto a abraçava pela cintura, possessivamente.
– Foi muito difícil convencer sua mãe a te deixar passar a tarde comigo?
– Aaam... Eu não fui muito específica. Disse que ia sair com a Daniela e que voltava para o jantar.
– Sei – torci o nariz.
– Estou tentando ir com calma. Já achei milagroso ela ter aceitado o nosso namoro.
– Ah é... – tentei disfarçar a lembrança repentina do acordo infundado que eu fizera com a diretora da escola.
Apanhei Paula pela mão e me sentei na cama, apoiada com as costas na cabeceira e minha namorada semi-deitada, com o rosto inclinado para trás, sobre o meu ombro. Enquanto nos beijávamos, percebi que eu não pensava em absolutamente nada que não fosse a presença dela ali do meu lado.
– Não é maravilhoso estar de férias? – disse ela.
– Uhum. Quer dizer, eu ainda não peguei os resultados, mas acho que não terei problemas em nenhuma matéria.
– Deixa de ser boba, Yasmin.
– Para você é fácil falar, Paula.
– Não começa – antes de ser chamada de CDF, ela mudou de assunto: – Já sabe que faculdade quer fazer?
– Não. E você?
– Cinema.
– Hmm. Tão decidida assim?
– Decidi assim que entrei no primeiro ano.
– É, você leva jeito. Onde quer fazer? – perguntei, enquanto acariciava seu rosto com a ponta do nariz.
– Isso eu não decidi – ela riu. – Quer dizer... Ah, esquece.
– Que foi?
– Bom, quando criança eu pensava em fazer na Califórnia, sabe? Mas isso é um sonho bobo.
– Claro que não. Seria um começo e tanto, porque eu sei que você vai ser a melhor cineasta do mundo! – beijei-a, sorrindo.
– Nem. E você... Ta em dúvida entre o quê?
– Eu sei lá, to completamente indecisa.
– Mas não tem nada que você goste?
– De você, ué!
Ela sorriu e me beijou.
– To falando de outra coisa, boba.
– As coisas que eu gosto não servem como carreiras. Por mais que eu tente me focar num curso específico, nada parece adequado. Acho que acabarei nem fazendo faculdade.
– Pois eu acho que você deveria tentar.
– Olha só quem fala, senhorita “a Califórnia é só um sonho bobo”.
– Ta bom, chata – brincou ela, virando-se sobre o meu colo e ficando de frente pra mim. – Acha que as meninas vão demorar?
– Se bem conheço a Joana, vai querer ver a cidade inteira!
– Isso não foi, por acaso, um plano seu, foi?
– Plano? Pra quê? – me fiz de inocente.
– Primeiro pra irritar a Dani e depois...
– Depois?
– Não sei... Acabou que ficamos sozinhas aqui... – ela mirou meus lábios fixamente. – ...E sem assunto...
Afastei a franja dela, que caía sobre o rosto. Em outro contexto, teria sorrido pelo simples encanto de encontrar os olhos de Paula. Estranhamente, contudo, fiquei tão séria quanto minha namorada. Trocamos um beijo tímido, pouco mais que um roçar de lábios. Mais uma vez, não sorrimos ao reabrir os olhos.
Eu sentia a respiração dela tocando meu rosto, pude notar o seu peito arfando, ainda timidamente, sem perceber que meu corpo reagia da mesma forma, que a minha respiração também tocava a face dela, se misturava com a dela.
Quando o corpo dela se moveu, vagarosamente, sobre o meu, fechei os olhos inconscientemente, e tudo o que experimentei depois foi desencadeado pela urgência crescente de todos os meus sentidos.
Um novo beijo, nada tímido, desenrolou-se por tempo suficiente para que eu esquecesse como ele tinha começado, e para que eu deixasse de me importar em como e quando ele se encerraria, porque sabia muito bem que nenhuma de nós conseguiria parar depois dele.
Fui descobrindo a pele de Paula aos poucos, conforme ela fazia o mesmo comigo, com atenção, com dedicação. E ao contrário da vulnerabilidade que já tinha sentido ao ficar seminua com alguém, percebi que minha entrega foi o suficiente para afastar qualquer vergonha, qualquer medo.
De certa forma eu estava tão encantada e inebriada pela visão de Paula nos meus braços, tão satisfeita com a naturalidade com que ela lidou com aquilo como se há anos já tivéssemos passado daquele estágio, que sinceramente não me ocorreram julgamentos. Nem tabus. Nem constrangimentos.
Rolamos sobre a cama, os corpos tão entrelaçados quanto possível, as bocas coladas, uma língua duelando com a outra, os primeiros gemidos involuntários sendo substituídos por provocações mais audíveis.
Tomei fôlego e sem perceber sorri abertamente porque Paula fazia exatamente o mesmo e parecia surpresa, como eu. Em contraste com meu coração, que batia acelerado, e com os sentidos, todos em alerta máximo, experimentei uma calma incrível... Uma serenidade incapaz de ser explicada em palavras.
Inclinei meu rosto e tomei novamente os lábios de Paula, deixando meu corpo pousar sobre o dela enquanto apanhava suas mãos, que entrelacei às minhas, na cabeceira da cama. Paula foi afastando suas pernas aos poucos, naturalmente, e eu me encaixando entre elas, escorregando os lábios através do seu colo, voltando a beijar os lábios, experimentando lhe provocar a pele sensível do pescoço, sussurrando ao seu ouvido...
– Eu te amo...
– Eu também...
E mais nenhuma palavra foi necessária, enquanto eu descia com uma das mãos, arranhando a pele de Paula, sem parar de mover o meu corpo sobre o dela, e notar o dela se movendo embaixo do meu. No mesmo embalo.
Provoquei Paula de todas as formas que tive vontade, algumas delas completamente novas para mim. Assim como as reações, que eu nem sabia ser capaz de despertar em alguém. Com meus lábios alternando entre os seus seios, meus dedos ansiosos, famintos como todo o resto, livraram-se da última peça de roupa que ela usava, ganhando espaço para a primeira carícia mais íntima que trocamos na vida.
E eu soube, naquele exato instante, que jamais esqueceria do efeito que a manifestação de prazer de Paula causou em mim. Eu me senti a única e suficiente causa da sua verdadeira felicidade.
Trocamos um beijo apaixonado, ardente... Que aos poucos se tornou selvagem... Porque aquilo entre nós era absurdamente simples e primitivo: ambas queriam a mesma coisa, e queriam muito.
Já sem fôlego, interrompi o beijo para explorar com os lábios e com a língua o resto do seu corpo, ritualisticamente. Com o coração acelerado, fui descendo até o ventre, sem enfrentar qualquer resistência.
– Garota, você só pode ser doida mesmo! Mas gostei de você e-
Era a voz de Daniela, que em pânico, ficara muda. Travada, só consegui agradecer mentalmente quando Paula, talvez no movimento mais rápido de sua vida, puxou as cobertas que estavam amontoadas na cabeceira e nos cobriu.
O que ouvi depois foi a gargalhada mais longa, mais alta e mais cafajeste da minha melhor amiga.
– Porr*, Joana, eu vou matar você! – gritei, e a minha voz foi abafada porque a coberta já estava sobre mim.
– Acho que a gente deveria ter batido na porta... – disse ela, para Daniela, antes das duas voltarem a rir convulsivamente.
– Saiam daqui! Mas que merd*...?
Ouvimos quando bateram a porta, e depois suas risadas cada vez mais descontroladas, no corredor. Atônita e paralisada pela fúria, e também pela frustração, só reagi quando Paula tocou meus ombros e me puxou para um abraço carinhoso, ainda embaixo das cobertas.
Eu tentei continuar zangada, pensar numa maneira fria e cruel de me vingar, mas ao sentir o peito de Paula tremendo, não contive, também, o riso. Acirramos o abraço, trocando um beijo um pouco mais relaxado.
– Melhor a gente se vestir – disse Paula.
– Sacanagem, eu vou matar a Jo! – disse, enquanto procurava minhas roupas pelo chão.
Paula ainda riu antes de completar.
– Não se preocupe – e me encarou. – A Daniela também vai pagar muito caro.
Rimos de novo, e fomos nos vestir, enquanto trocávamos mais beijos. Não sabia explicar o que estava sentindo. Vergonha das meninas, em parte, raiva daquilo tudo, por outro lado.
Contudo, acima de qualquer coisa, sentia um gosto amargo porque tudo fora tão perfeito, mágico, e... suspenso.
– Eu sinto muito – disse, deitando a cabeça sobre o ombro de Paula.
Ela me obrigou a olhá-la nos olhos, tomando meu rosto com as mãos.
– Se... – hesitou. – Se não fosse por isso... Eu queria, Yasmin. Ainda quero muito. E agora tenho mais certeza de que vai ser perfeito.
Batidas na porta desfizeram o sorriso que tinha acabado de tomar conta da minha face.
– Vocês vão demorar muito? Que foi? Atiraram as roupas pela janela, é? A gente pode ir lá pegar, pra vocês... – e mais risadas, tanto de Daniela quanto da Joana.
Abri a porta com violência. Ainda ouvi Paula dizendo algo sobre “deixar pra lá”, mas eu estava cega. Comecei a correr no momento que Daniela e Joana fizeram o mesmo, percebendo minhas intenções pelas faíscas que deveriam estar saltando dos meus olhos.
Elas desceram as escadas em disparada, comigo logo atrás, e conseguiram sair pela porta da frente porque, para não trombar com a minha mãe, que trazia uma bandeja nas mãos, acabei perdendo tempo.
– Meninas? Meninas...? Que diabos...?
Deixei-a para trás, ganhando o jardim. Depois da segunda volta completa na casa, nenhuma de nós tinha mais forças para continuar correndo porque não conseguíamos parar de rir.
Atiramo-nos na grama, gargalhando, ofegantes. Ergui os olhos e vi minha mãe parada na porta, com Paula ao seu lado. As duas riam.
– Isso não vai ficar assim, sua peste! – disse eu, propositalmente não definindo se era para Daniela ou Joana que eu fazia a ameaça. Na verdade era para as duas.
– Paula, você pode me explicar o que está acontecendo? – ouvi minha mãe perguntando.
Joana gargalhou mais ainda, e Paula ruborizou, provavelmente querendo sumir do mapa.
– Explica pra sua mãe, Novata...
– Daniela, não provoca mais! – Paula ralhou com a amiga.
– Ah, garotas... Sinceramente! Corram mais algumas voltas, sim? Para gastar toda essa energia de férias... O lanche está pronto, se precisarem de alguma coisa, estarei na cozinha.
E saiu.
O bairro inteiro deve ter ouvido a gargalhada das quatro. Dando alguns passos na minha direção, Paula se sentou na grama, com a mão sobre o abdome já dolorido de tantas risadas. Controlei minha súbita vontade de ficar abraçada com ela, de puxá-la para que se deitasse no chão, colada em mim.
Sussurrei um “eu te amo” que nem mesmo as garotas ouviram. E o sorriso com o qual Paula me retribuiu fez parecer nada o incômodo que seria ter de agüentar as piadinhas de Dani e Jô... Talvez para sempre.
– x –
Paula
Eu tentava não pensar naquilo. Só naquilo. Mas era inútil. Lembrar da primeira e única vez que tinha conseguido ficar a sós com a Yasmin era pedir para voltar a rir. As tiradas de Daniela, que não tinham fim, não me causavam mais vergonha. De tão batido, tinha virado tão somente uma piada. E das boas...
Durante as férias, com Joaquim na minha casa quase todos os dias e com Joana hospedada com Yasmin, não tivemos outra chance de terminar o que havíamos começado. Ainda assim passamos muito tempo juntas, felizes por Daniela e Joana terem se dado tão bem, ainda que vivessem aos tapas.
Saíamos todos os finais de tarde com lugar marcado, um barzinho perto do ginásio. Chris e Nicholas começaram a aparecer depois do segundo dia e se juntaram ao grupo. Na sexta-feira ficamos até mais tarde, dando tempo de descobrirmos que tinha música ao vivo naquele lugar.
Éramos um pouco estranhos ali... De longe os mais novos. Pra nós, dois copos de cerveja para cada um já aumentava muito a quantidade e o volume das risadas, enquanto nas outras mesas as rodadas se seguiam sem que o tom se alterasse muito.
Quando íamos pagar a conta, era uma confusão de notas amassadas e moedas, tanto que o rapaz do caixa desistiu de sugerir que usássemos cartão de crédito. Eu fiquei pensando que ter cartão de crédito faria eu me sentir mais madura, como pequenos sonhos e planos... Yasmin já podia pegar o carro do pai de vez em quando, mas não fez isso nas férias para não arriscar ser parada numa blitz, já que saíamos para beber.
A animosidade entre Daniela e minha namorada ficou um pouco mais velada conforme elas passaram a conviver mais. Com Joana e eu, não houve esse problema. Ela conversava normalmente comigo e eu com ela.
Sentíamos uma intimidade maior do que a que realmente existia porque Yasmin já tinha falado muito de uma para a outra. E o ciúmes de saber que elas foram namoradas sumiu logo no começo. Yasmin deixava muito claro, para quem quisesse ver, que só tinha olhos, ouvidos e gestos para mim. Dava sempre um jeito de ficar com a mão sobre a minha perna, de se apoiar displicentemente no encosto da minha cadeira e com isso me roubar algum carinho rápido na nuca, e se mantinha sempre olhando nos meus olhos quando eu estava falando.
Mesmo as mais simples atitudes me tornaram cada vez mais apaixonada por ela, a cada segundo que passava. E a saudade, quando cada uma ia para a sua casa, era a prova mais palpável de como eu já não sabia mais viver sem ela.
Rolava na cama, sem sono... Mandava torpedos, derretia com as respostas, ficava me segurando para não ligar mais de duas vezes, porque sabia que Joana estava com ela. E no dia seguinte, antes mesmo de abrir os olhos, ficava me perguntando a que horas conseguiria finalmente vê-la.
Sentia o coração batendo mais forte por causa da ansiedade, da espera, da expectativa, ainda que fosse simplesmente para ficar na mesma mesa que ela e nossos amigos, rindo.
No final de semana seguinte, Yasmin me convidou para almoçar na casa dela.
Eu tinha simpatizado muito com Dona Francesca e minha namorada falava coisas incríveis do pai, despertando em mim o desejo de conhecê-lo, mas eles logicamente não sabiam da real natureza da nossa relação.
Ainda que nervosa, aceitei por saber que Joana estaria lá, e apesar da pontinha de ciúmes por ela poder ficar na casa de Yasmin tanto tempo, dormir com ela no mesmo quarto e já ter uma coleção de piadas internas com os seus irmãos, que também apareceram, foi tudo perfeito.
Eu não podia cobrar nada. Se levasse Yasmin na minha casa e Joaquim estivesse por lá, também teríamos de manter as aparências, mas isso não me eximia de desejar que um dia não precisássemos mais nos esconder. Contra tudo o que a sociedade poderia pensar, eu não me sentia diferente de ninguém... Nem achava que meu namoro fosse diferente de todos os outros, a não ser, claro, pelo fato de que eu me julgava a garota mais boba e perdidamente apaixonada da face da Terra.
As duas semanas e meia de férias passaram voando e para comemorar, no último dia, reunimos a turma de sempre no mesmo bar, para marcar também a despedida de Joana, que voltaria para casa. Mas, claro, devidamente convencida a transferir sua faculdade de Direito para que não fizesse tanta falta entre nós. Ela era a mais divertida, aquela que animava e movimentava as coisas.
Suas tiradas e piadas sobre Nicholas e Daniela eram as minhas preferidas. Já tinha engasgado com cerveja uma porção de vezes por causa delas... E ainda mais por ver a expressão de ódio que elas colocavam no rosto de Daniela.
Nicholas ficava vermelho no começo, depois entrou na brincadeira. E Yasmin não perdia uma oportunidade, também. Só que dela, Daniela conseguia se vingar, lembrando sempre daquele maldito flagrante! Lógico que sobrava pra mim também...
Eu ainda ria de alguma coisa dita pela Chris quando vi que o olhar antes despreocupado e divertido de Daniela se tornara tenso. Instintivamente me virei na direção da entrada e prendi a respiração. Nicholas, Chris e Joana estavam distraídos, mas Yasmin, é claro, notou quando eu virei tudo o que restara de cerveja no meu copo, e sorvi quase num gole só.
Não sei explicar o motivo, mas senti uma espécie de medo, como nunca tinha experimentado ao lado de Yasmin.
– Quem são eles? – perguntou Joana, notando o grupo animado ocupando duas mesas.
– É a turma de Artes Cênicas... – explicou Chris, rapidamente abanando para dois conhecidos.
Daniela e Nicholas me encararam, e sob o peso de seus olhares, só consegui baixar a cabeça, desejando que aquilo não estivesse acontecendo.
– Hmmm... Carne fresca nesse bar, finalmente – comentou Joana, cheia de malícia, quem sabe até mesmo alto o suficiente para que fosse ouvida pelas recém chegadas.
Então, no que me pareceu uma caminhada em câmera lenta, Giana se aproximou da nossa mesa, sorrindo.
– Oi gente! – demonstrou animação por reencontrar Daniela, Nicholas e Chris. – Oi, Paula.
Mordi os lábios e finalmente ergui os olhos, torcendo para que ninguém notasse que eu estava tremendo.
– O...Oi – engoli em seco. – Como vai, Gi?
– To ótima, e você? Nossa... Que bom ver vocês todos aqui, como anda a escola?
– Tudo na mesma – Daniela respondeu rápido. – Bem tranqüilo.
– E a faculdade? – inquiriu Nicholas, simpaticamente.
– Uma maravilha! Vocês sabem, sempre foi o meu sonho.
Giana era uma atriz incrível. Mais do que incrível, ela era... Bom, ela tinha nascido para os palcos, não havia dúvidas. No exato momento que ela pousou a mão sobre o meu ombro, eu lembrei da última vez que a tinha visto, no dia da sua formatura.
Entorpecida pelo resultado da prova de aptidão, que saíra naquela mesma manhã, ela tinha colocado um ponto final no nosso namoro, disposta a se sentir livre de qualquer compromisso para começar aquela nova etapa na sua vida. A verdade, eu sabia, era que ela queria estar solteira porque sabia que haveria uma porção de lésbicas no mundo onde ela estava para entrar... Garotas mais interessantes que eu... Mais velhas. E, principalmente, assumidas.
A razão de eu ter começado o ano contando logo para a minha mãe que era lésbica, era que eu não queria nunca mais perder alguém por culpa do meu medo de abrir o jogo com Dona Magali.
– E você, Paulinha? Já decidiu se vai seguir a nossa carreira?
Senti, mesmo sem olhar, que Yasmin estava tão incomodada quanto eu. Olhei para Daniela suplicando alguma ajuda, mas ela também não sabia o que fazer... Poderia somente imaginar como eu estava me sentindo acuada. E ela conhecia o temperamento explosivo da Yasmin... Se Giana continuasse me tocando e me chamando de Paulinha, as coisas não ficariam nada bem.
– O teatro pra mim sempre foi um hobby – eu disse, finalmente. – Transformá-lo em profissão tiraria um pouco do encanto.
– Que bobagem, Paulinha. Cada um deve fazer o que gosta. E você é boa... Sabe disso... Teria muito futuro.
– Quem sabe um dia, não? Mas estou muito mais inclina a seguir no Cinema. E nos bastidores.
– Hum – ela não pareceu muito feliz.
– Ah, deixa eu te apresentar... – apontei. – Joana, minha amiga e também melhor amiga da minha namorada, Yasmin – passei o braço pelas costas de Yasmin e afaguei seu ombro, sorrindo.
– Hmm... Prazer, meninas – notei que ela analisou Yasmin de cima a baixo, e depois, como se lembrasse de algo, olhou de novo pra mim. – Aquela Yasmin?
Quase ri, mas estava nervosa demais.
– Sim, aquela.
A mão de Giana antes pousada no meu ombro se estendeu para cumprimentar minha namorada, enquanto seu rosto apresentava um sorriso novo e satisfeito.
– O grande amor da sua vida... – arriscou um tom de voz cênico, mas que demonstrava ainda assim uma espécie de respeito ou admiração.
– Quem é ela? – Yasmin não se agüentou e fez a maldita pergunta.
– Giana – ela mesma respondeu. – Ex-namorada da Paula. Mas não se preocupa, viu? Porque ela sempre foi apaixonada por você – completou, sem qualquer mágoa na voz.
Aquilo não era exatamente verdade. Quer dizer, eu não tinha esquecido Yasmin, jamais, mas havia, também, gostado de Giana. Entretanto, no final das contas ficar pontuando aquilo só deixaria o clima mais tenso. E Giana tinha colaborado um bocado, com a última frase. Notei que Yasmin sorriu orgulhosa.
– E eu por ela – respondeu, apanhando a minha mão e beijando, depois de cumprimentar Giana.
– Hei! Essa magoou, poxa! – reclamou Joana.
Todos rimos. Giana olhou então para Nicholas, cochichando:
– Nick, eu vim aqui dar um alô pra vocês, mas também para perguntar se eu posso dar o seu telefone para um amigo meu. É o mesmo ainda, né?
– Dar o meu telefone? Como assim?
– Não olha agora, é o cara de camisa roxa.
O pedido dela não funcionou, porque todos nós nos viramos na hora procurando um garoto de camisa roxa. Ele estava olhando para a nossa mesa e se virou, completamente sem graça. Ouvimos as risadas na outra mesa.
– Por que ele quer meu telefone?
Giana bufou impaciente.
– É o mesmo sim – eu disse, por ele.
– Valeu! A gente se vê, pessoal.
E voltou para o lugar de onde viera. Nicholas ainda olhava todo desconfiado para a outra mesa, e Daniela ficou meio calada. Embora ele tivesse se feito de bobo, sabíamos o que aquilo significava. E Nicholas também sabia.
– Bicha abusada – ele deixou escapar entre os lábios, sorvendo mais um gole de cerveja.
– Olha essa boca, garoto! – ralhou Chris, que estava ao lado dele.
– Foi mal, mas... – ele percebeu que todos olhávamos para ele. – Desculpa, eu não quis ser ofensivo. Mas tipo... Se esses caras ficassem na deles, seria melhor.
– Não se preocupa – Joana se inclinou na sua direção, parecendo entender o que ele sentia. – A Danizinha vai lá agora mesmo fazer o menino engolir uma bola de basquete, não vai?
– Ah, cala essa boca! – respondeu a minha amiga, atirando o paliteiro vazio da mesa na direção da Joana.
– Meninas, calma! – pediu Yasmin, rindo.
Joana já estava munida do saleiro, “temperando” a cerveja da Daniela. Não sei por quanto tempo as duas continuaram se atirando coisas e discutindo feito crianças. O resto de nós apenas ria, cada vez mais. Quase perdemos a hora, porque excetuando o momento crítico da chegada da Giana, tinha sido uma noite maravilhosa e todos queríamos que não terminasse nunca.
A volta às aulas foi intensa. Quatro trabalhos complicados para entregar em setembro, os professores falando cada vez mais sobre a necessidade de começarmos a fazer grupos de estudos para o vestibular e o treinador de vôlei arrancando o nosso couro.
Pudera, tínhamos um jogo importante contra uma escola que historicamente era nossa “rival” naquele esporte. Yasmin estava animadíssima. Eu já a conhecia muito melhor e sabia que ela era bastante competitiva. Depois da Chris, ela era a melhor do time, e apesar de penar um pouco nas defesas, tinha um saque que dava até medo!
Já eu, que estava ali muito mais para ficar perto da minha namorada do que para ganhar alguma medalha, ainda assim fiquei muito feliz quando conquistei uma vaga no time titular. Isso aconteceu porque Yasmin era a principal ponteira da equipe e como ela e eu nos entendíamos tão bem dentro de quadra quanto fora dela, eu aprendi a levantar a bola exatamente do jeito que ela precisava. Era como uma ligação invisível, eu parecia sempre ler os pensamentos dela e ela os meus.
Não sei se foi por causa das provocações de Yasmin ou porque realmente estava disposta a se reaproximar de mim, ou ainda, se foi para lustrar sua imagem de diretora “companheira” dos alunos, mas Dona Magali estava lá, na arquibancada, segurando uma bandeirinha da escola e com os cabelos cobertos de confete jogado pela torcida.
Sorri para ela e recebi o mesmo gesto em retribuição. Aquilo só aumentou o meu nervosismo, porque sabia que a equipe adversária era muito competente. Há três anos não ganhávamos um jogo delas... Um tempo que correspondia exatamente à minha passagem e a de Chris pela equipe da minha escola. Era meio que uma questão de honra para nós duas, ganharmos no ano da nossa formatura.
Tremi da cabeça aos pés quando Yasmin colou a boca no meu ouvido, discretamente.
– Já disse que eu adoro te ver nervosinha?
Fechei os olhos e ri para aliviar a tensão. Ou tesão, não sei. Nos últimos dias, cada vez que minha namorada chegava perto de mim, meu corpo parecia ficar em chamas.
– Minha mãe tá na arquibancada, Ya.
– Eu sei... – ela sorriu, encarando meus lábios.
– Para – virei o rosto, sem graça.
Quando olhei de novo, Yasmin tinha um sorriso maroto na face. Devolvi o olhar dela e me arrependi em seguida, porque foi impossível não acompanhar o movimento lento de sua língua, umedecendo os lábios. Tremi mais uma vez.
– Relaxa. Vamos ganhar isso fácil fácil, você vai ver.
– Você nunca jogou contra elas... São muito boas.
– Mas não são melhores do que nós – piscou o olho.
Fui para o aquecimento com o treinador e a outra levantadora, Hortência. Depois reunimos o time, próximas ao banco de reservas, e ouvimos as últimas instruções. Chris caminhou até a arbitragem, o sorteio foi feito e nos posicionamos. O primeiro saque era nosso e, logicamente, era Yasmin quem iria para o serviço.
Um segundo antes de ouvir o apito, olhei rapidamente para minha mãe e ela fez sinal de positivo. Respirei fundo e tentei me concentrar. Yasmin estava tão compenetrada, mirando o outro lado da rede, que parecia outra pessoa. Era incrível como ela entrava em quadra sempre para ganhar. Parecia não ter medo de nada.
Aproveitando que as adversárias não esperavam por aquilo, forçou logo no primeiro saque. Ace. Yasmin nem piscou, somente se virou para o ajudante e recebeu de novo a bola do jogo.
Cinco a um.
Até Yasmin queimar o pé na linha de fundo – por estar forçando demais no saque viagem – ninguém além dela tinha visto a cor da bola. Aquilo nos dava uma vantagem e tanto, e claramente tinha acalmado nossos ânimos.
Quando recuperamos o direito ao saque e nos reunimos no centro da quadra para a efêmera comemoração – que se repetia a cada ponto – aproveitei que era exatamente a minha namorada ao meu lado e discretamente lhe dei um tapinha nas nádegas – coisa que também não era tão incomum durante jogos de vôlei.
Ela me olhou deixando claro que fora pega de surpresa.
– Arrasou, Ruiva – minha vez de piscar o olho.
Chris riu de nós duas e apanhou a bola. Por mais que a partida estivesse quente, disputada, acirrada, para Yasmin e eu havia outra coisa em jogo.
Era nítida a forma como uma provocava a outra a cada movimento, olhar, gesto. E quando ela foi para a rede, permitindo que colocássemos em prática o nosso entrosamento, não foi só o treinador quem comemorou.
Ficar tão perto de Yasmin, sobretudo numa situação tensa como aquela, era algo que mexia com meu corpo, com a minha alma, com o meu coração. E mesmo a adrenalina do embate, a euforia por estarmos vencendo o primeiro set, não eram maiores nem mais capazes de me arrebatar do que a visão – da qual eu tinha um ângulo privilegiado – de Yasmin saltando para uma cortada e sorrindo antes mesmo de voltar ao chão, por saber que mais uma vez fora um ataque indefensável.
Ela estava com tudo naquele dia, e antes mesmo dos primeiros vinte e cinco pontos, eu já sabia que iríamos vencer, porque a energia de Yasmin era contagiante e até eu que nunca me destaquei como jogadora, estava superando meus limites.
Para aproveitar o choque ou o roçar natural entre nossos corpos – coisa de jogo – ficava torcendo para as adversárias acertarem o passe, apenas para que Yasmin e eu subíssemos juntas para o bloqueio.
A cada vez que nossos pés tocavam novamente a quadra, nossos olhares se buscavam, mais eletrizados, mais famintos. O treinador não cabia em si de tanta felicidade quando vencemos os dois primeiros sets, e considerando o nível das adversárias, fizemos isso com relativa facilidade.
Não que eu ainda estivesse ligando para o placar. Como atleta, estava numa espécie de “piloto automático”, mas queria que a partida terminasse de uma vez, não suportava mais a sede dos beijos de Yasmin, não agüentava mais esperar por uma oportunidade de extravasar aquilo tudo... A excitação, o desejo, a urgência de ter minha namorada nos meus braços. E queria que fosse do jeito como ela estava... Suada, descabelada, vermelha, com aquele short obsceno de tão curto.
Engoli em seco quando começamos o terceiro set em desvantagem. Aquilo me projetou de volta à partida e foi a minha sorte, porque se continuasse excitada daquele jeito, não conseguiria mais jogar direito. Na volta de um pedido de tempo do nosso treinador, sem querer, ouvi Chris cochichando com Yasmin:
– Olha, até eu to babando pela Paula hoje, mas, por favor, presta atenção no jogo, Ruiva.
Se eu não estivesse naquela situação inédita, completamente à mercê de impulsos que eu nem conhecia – não com aquela intensidade, pelo menos –, teria rido. O juiz apitou, recomeçando a partida, e por mais esforços que Yasmin e eu fizéssemos para manter uma postura estritamente esportiva, era inútil. Nossos olhares se buscavam, e se demoravam, presos, cada vez mais.
Exibida como ela era, e deixando muito claro que aquilo era para me provocar, Yasmin voltou a jogar como no começo da partida, de forma arrasadora. Recuperamos o controle do jogo, e com isso eu me soltei, passei a levantar bolas cada vez mais arriscadas, ousadas até, e Yasmin cravava todas na quadra adversária.
O treinador me pediu para maneirar, variar um pouco com as outras atacantes, mas eu dei uma desculpa qualquer sobre não mexer numa estratégia que estava dando certo e recebi de minha namorada um olhar de quem sabia que eu estava, na verdade, devolvendo as provocações dela.
O rodízio levou Yasmin de volta para o saque quando faltavam apenas três pontos para fecharmos a partida. E eu mal podia esperar por eles. Já estava a ponto de agarrar Yasmin em quadra mesmo, e beijá-la como se aquilo fosse meu último ato na vida.
Casualmente olhei na direção onde minha mãe estava sentada. Vi quando ela fez uma cara de quem não estava nem um pouco satisfeita e, olhando para trás, enxerguei Yasmin provocando a torcida. Ah, ela não prestava mesmo!
Aos gritos repetidos de “Ruiva!”, ela sacramentou nossa vitória com três aces, sendo que no último, com as adversárias esperando um saque potente no fundo da quadra, Yasmin permitiu-se tirar a força do braço e pegá-las todas de surpresa.
A bola caiu lentamente, poucos centímetros além da rede, e o ginásio explodiu em comemoração.
No centro da quadra, eu e as outras garotas nos abraçamos, radiantes, eufóricas. Chris era a mais animada. O treinador entrou na onda e por algum tempo foi uma confusão enorme de gritos, abraços, pulos, cumprimentos.
Consegui me livrar dos montes de pares de braços e mãos que me puxavam e vi Yasmin ainda parada no fundo da quadra, com um sorriso de quem sabia que tinha feito algo incrível. Como ela era nova na escola, não partilhava o nosso sentimento de revanche sobre as adversárias. Ela tinha jogado por outra coisa e eu sabia muito bem.
Com o coração martelando no peito, caminhei até ela, sem me importar com mais nada.
Eu era o seu prêmio.
Antes que todo aquele desejo nos matasse, pulei no seu colo, com as pernas ao redor da sua cintura e os braços enlaçando seu pescoço, e mergulhamos em um beijo avassalador.
Fim do capítulo
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