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A Outra Metade do Amor por Carol Rutz

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Palavras: 4353
Acessos: 1236   |  Postado em: 24/06/2022

Capitulo 5

Capítulo 05 – Antes do Amanhecer

 

Paula

Deixei que meus olhos se perdessem na vista que a janela do quarto da Daniela oferecia. Eu havia conseguido parar de chorar e até mesmo parar de tremer, mas ainda que um novo dia estivesse prestes a nascer, não sentia qualquer ânimo de deitar a minha cabeça no travesseiro.

Daniela me permitira ficar no computador a madrugada toda, e com as saudades que eu estava da internet, por algumas horas – as primeiras – isso me distraiu. Tinha tantos e-mails para abrir, centenas de coisas novas para ler, mas não mexi em nada, não respondi ninguém. Só li as boas novas... E percebi que elas não eram capazes de me fazer sentir menos miserável.

Ouvi uma batida fraca na porta e me virei rapidamente, assustada. A mãe de Daniela precipitara sua cabeça pela fresta, espiara a filha adormecida na cama e me lançara um olhar terno que ao mesmo tempo era um chamado.

Olhei pela janela como se me despedisse de alguém que ficara comigo por muito tempo... Não havia nada específico para onde eu tivesse olhado... Mas o vazio de uma vista que de certa forma me preenchera enquanto eu tentava parar de pensar na briga horrível que tivera com a minha própria mãe.

Sentamos à mesa da cozinha e dona Thereza me serviu uma xícara de café. Eu não sabia o que dizer a ela além de “obrigada” e tentei parecer calma, mas não estava. Algo dentro de mim me revoltava e meus olhos não eram capazes de escondê-lo.

– Paula, eu liguei para a sua mãe.

Ajeitei-me de novo na cadeira, encarando a minha xícara sem estar realmente prestando alguma atenção nela ou no seu conteúdo.

– Eu sou mãe também e sei que não importa o que aconteça, da forma que aconteça, ela estava morrendo de preocupação com você – completou ela.

Depois da briga eu fora até o meu quarto, apanhara a minha mochila, pusera dentro dela apenas alguns itens nos quais consegui pensar em poucos segundos e saíra de casa, intempestivamente.

Minha mãe não me seguiu, sequer perguntou onde eu estava indo. Mas sei que me viu sair, porque ainda estava na mesma posição, sentada no chão da sala, com as costas apoiadas na parede. E ainda estava chorando. Vê-la derramando lágrimas daquela forma me impediu de conter as minhas e quando cheguei na casa da minha melhor amiga, desabei por completo.

– Ela disse isso?

– Ela estava, Paula. Eu avisei que você ficaria conosco essa noite.

– Obrigada.

– Não tem por que agradecer, veio ao lugar certo, Paula.

– A Daniela te contou?

– Só por alto. Você decide se quer me contar tudo ou não, não estou te cobrando nada. A minha filha confia em você como jamais confiou em ninguém, então não tenho motivos para fazer diferente, porque eu também confio nela.

– De olhos fechados? – perguntei.

– Com olhos de mãe.

– Certo.

Não consegui sorrir. “Mãe” era uma palavra dura de ouvir, para mim.

– Mas bem, a Daniela foi trocada de turma e me falou das cartas que vocês escrevem uma para a outra, todos os dias. Ela me disse... Bem, ela já tinha deixado várias coisas escaparem, mas nada muito concreto, você conhece o comportamento maluco dela.

– É, conheço.

– Então ela me disse que sua mãe supõe que vocês duas sejam mais do que amigas.

– É, ela cismou com isso.

– A Daniela também me disse que não é verdade.

– Não é mesmo. Somos amigas, como é que as pessoas não conseguem entender isso?

– Fique calma, Paula. Mas ela também disse que sua mãe pensa isso porque sabe que... Bom, que seria possível. De sua parte, pelo menos.

– Não seria porque a Daniela é só minha amiga.

– Mas o fato de ela ser uma garota, como você, não te impediria.

Suspirei cansada, ainda absorta na xícara.

– É, tia, eu sou lésbica.

– É. Isso a Daniela também me contou. E eu sei que você tem vivido vigiada desde que admitiu isso para a sua mãe.

– Eu estou vivendo um inferno!

– Conseguiu dormir?

– Como!?

– Deitando a cabeça no travesseiro e deixando o tempo fazer o seu trabalho.

– Não é tão simples.

– Paula, eu disse que ia confiar em você porque a minha filha confia. Acha que pode fazer o mesmo por mim? Pensar que eu sou mãe da Daniela e tentar me ver como uma amiga, como ela é? Só que uma amiga que também é mãe e já viveu um pouco mais que você?

– Posso tentar.

– Ótimo. Que houve entre a Magali e você?

– Eu estava namorando um garoto do colégio, um namoro de mentira. Ele topou, para me ajudar. Fomos tentando isso, até a minha mãe aliviar o cerco um pouco. Ontem foi a primeira vez que consegui ficar sozinha com uma garota de novo, a primeira vez desde que eu contei! Ela simplesmente não aceita!

– E não vai ser fácil ela aceitar, Paula. Você é a única coisa que ela tem, imagine todos os anos que ela teve para fazer planos para você, enquanto te via crescer? Como espera que ela abandone esses planos de uma hora para a outra?

– Ela não tem que abandonar plano nenhum, a vida é minha! Minha! Só minha!

– É aí que você se engana, querida. Você é a vida da Magali.

Dona Thereza conhecia a minha mãe por causa das reuniões do colégio e também porque como Daniela e eu éramos como irmãs, nossas mães mantinham algum tipo de relação social. Não eram amigas, mas sabiam bastante uma da outra.

– Se eu sou a vida dela, por que é que ela não consegue me entender?

– Isso eu não posso responder. Eu nem consigo imaginar como seria se um dos meus filhos me contasse que é homossexual.

Daniela tinha dois irmãos e uma irmã, todos mais novos que ela.

– Mas consegue conversar comigo sobre isso. E a Daniela me contou que quando ela deixou escapar que o problema todo eram as fofocas sobre ela e eu, a senhora perguntou... Perguntou pra ela se ela era lésbica. A senhora sabe quanto tempo a minha mãe levou pra perguntar isso?

– Paula...

– A vida inteira! Ela levou a vida inteira porque ela sabia o tempo todo que eu não seria a filhinha cri-cri e cor de rosa que ela tinha sonhado, mas ficou calada!

– Como você pode dizer isso?

– Ela me contou. Ela sempre desconfiou e nunca veio no meu quarto perguntar se eu tava bem, se tinha feito o dever e se, por acaso, eu não estava gostando de uma menina ao invés de um menino.

– Paula, quer saber? Eu só perguntei para a Daniela para descarregar a minha consciência, porque eu já tinha certeza da resposta dela. Conheço a minha filha, ela não pode ver um par de calças e isso é tão claro... – fez um gesto amplo.

Pela primeira vez depois da briga, eu consegui rir. Dona Thereza continuou:

– A Magali por outro lado nunca teve essa certeza, ela te notava diferente, afinal ela convive com adolescentes há muitos anos. Como é que ela ia perguntar, Paula? Se perguntasse, ela teria uma resposta. E respostas doem. Às vezes a gente julga melhor passar anos em uma dúvida do que estragar a ilusão que criamos para nós mesmos. Ser mãe é criar muitas ilusões...

– Você não tem idéia das coisas horríveis que ela disse, tia.

– Não, não tenho mesmo, e talvez prefira nem saber. Eu acho melhor você não ir para a escola hoje, não pregou o olho a noite toda... Vá para o colchão que a Daniela preparou para você, eu estou indo trabalhar. Não vou nem tentar argumentar com a minha filha, é lógico que ela vai escolher ficar dormindo contigo ao invés de ir na escola. Ela está se saindo bem esse ano, não vou encrencar.

– Mas-

– Eu vou tentar conversar com a Magali, está bem? Já atrasei demais isso, quando ela começou a passar por cima do próprio cargo mudando a minha filha de turma por questões pessoais dela, imediatamente eu deveria ter feito alguma coisa, mas não quis me meter, temendo que pudesse atrapalhar a sua amizade com a Daniela.

– Nada pode atrapalhar a nossa amizade.

Dona Thereza sorriu para mim e me senti muito confortada.

– Eu concordo. Queria eu ter tido uma amiga tão fiel na minha juventude. Então aproveitem, porque pode ser para o resto da vida. E enquanto isso, eu ajudo do jeito que dá. Está bem?

Deixei a minha cadeira e a minha expressão de compenetração no café para me levantar e abraçar Dona Thereza com muita força. Ela se despediu e foi para o trabalho, era enfermeira e estaria de plantão pelo resto do dia.

Voltei ao quarto da minha amiga e entrei sem fazer barulho, tirei meu jeans e pousei a cabeça no travesseiro. Já não me sentia mais tão preocupada como antes, mesmo que de forma prática, meus problemas não tivessem recuado.

– Que que ela queria com você?

Ouvi a voz sonolenta da Daniela e me preocupei. Não queria tê-la despertado, tomara todo o cuidado para não fazer barulho.

– Conversar. Você tem muita sorte, a sua mãe é incrível.

– Incrível mesmo. Quando fica dizendo que o meu quarto parece um chiqueiro, na frente dos meus amigos, ela é mais incrível ainda.

– Minha mãe também faz isso.

– Horrível, né?

– Ou quando resolve contar histórias vexatórias da nossa longínqua infância, em jantares de família. Super mãe, isso.

– Às vezes eu chego a pensar que essas são as melhores lembranças que elas têm da gente. Tudo de bom que a gente fez, os prêmios no colégio, os jogos que arrasamos... E elas contam de quando a gente enfiou um balde cheio de lama na cabeça e saiu correndo pelo quintal, com um sorriso no rosto.

Tive, com aquela declaração da minha melhor amiga, um enorme impulso de chorar, mas no fim acabei rindo, timidamente. Daniela se virou na cama e deixou o rosto mais próximo da borda do colchão, de modo que conseguíamos nos ver, pela luz do sol começando a nascer, que entrava pelas frestas da janela.

– Atrapalhei seu sono.

– Você não pregou o olho.

– Tentei, mas o sono não veio.

– Eu fiquei achando que você queria conversar mais, mas só estava acordada a ponto de perceber que você ficou na janela, e não o suficiente para te ouvir direito.

– Não precisava mais conversar aquela hora. Precisava pensar.

– E pensou?

– Uhum.

– Quer falar?

Bocejei.

– Agora não. Uma hora vai sair... Ainda estou pensando.

– Estarei do seu lado quando precisar – Daniela sorriu e depois bocejou, como eu.

Ficamos rindo uma da cara da outra, e eu bocejei de novo. Isso é mesmo contagioso!

– Trouxe mais um beijo do Nicholas para você – provoquei.

Os olhos dela brilharam.

– Nossa, você nem me contou nada! – subitamente ela parecia completamente acordada. – E aí, como foi com a Yasmin?

Sorri, sem pensar. Parecia que tinha vivido dois séculos depois daquele encontro, e fora apenas na tarde anterior.

– Ah, eu fui na casa dela, a gente fez o trabalho...

– Ele deu o trabalho para a minha turma também. Eterno, né? Nem comecei a fazer, é para sexta-feira.

– Uhum.

– Mas... E aí? Conversaram? Rolou alguma coisa...?

Fiquei vermelha. Daniela sabia de tudo o que já me acontecera na vida, em detalhes proibidos para qualquer outra pessoa. Eu já contara sobre trans*s ridículas em lugares inusitados, sobre sentimentos meus, vergonhas minhas... E fui ficar vermelha por causa de um beijo, apenas.

– A gente ficou.

Daniela gargalhou. Eu sabia que ela não ia com a cara da Yasmin por causa daquela discussão no primeiro dia, e menos ainda depois que ela armou o plano no qual Nicholas se faria passar por meu namorado.

Mas também sabia que ela ficaria feliz de ouvir aquilo mesmo que eu tivesse me apaixonado pelo Hitler. Ela ficaria do meu lado e torceria pela minha felicidade do mesmo jeito.

– Logo de cara ou enrolaram um pouco?

Sentei-me em posição de lótus sobre o colchão que ela arrumara para mim ao lado da cama dela e comecei a contar tudo, os detalhes, as minhas sensações. Daniela ouvia com muita atenção, e eu notava o sorriso dela aumentando a cada passo da conversa. Quando mencionei o beijo em si, e o suspiro que repeti por viver de novo a sensação que ele deixara em mim, Daniela se desarmou completamente.

Então percebi que eu tinha conseguido contar da maneira certa. Eu estava completamente sem defesas para o que acontecia cada vez mais rápido entre Yasmin e eu. E minha melhor amiga não tinha qualquer receio de demonstrar que sentia o mesmo, por mim. Já que era para perder o medo, perdemos juntas!

– E foi por isso toda a discussão com a minha mãe – encerrei a narrativa. – Ela percebeu que eu estava nas nuvens e ficou me enchendo, queria saber se era pelo Nicholas.

– Espera, espera, espera!

Olhei para a minha amiga e percebi que ela tinha algo em mente. Já vi tudo, logo ela estaria com seu risinho superior estampado na cara de novo e quem pagaria o pato, é lógico, seria eu. Dei de ombros, era simplesmente inevitável.

– Que foi?

– Deixa eu ver se eu entendi: você disse “a medida da geratriz é igual ao diâmetro da base, que é igual a duas vezes o raio”. E ela te beijou?

Meu rosto congelou numa expressão de chateação. Maldita Daniela! Que importava o que eu tinha dito??

– Foi – disse, emburrada.

– Mas calma, não é só isso. Vocês se beijaram, e como você disse, “flutuaram indefinidamente”. E aí ela abre os olhos e diz... O que foi que ela disse mesmo?

Fiquei vermelha de raiva e tomei muito fôlego. Argh!

– Ela disse “puta que pariu”, Daniela.

Ela explodiu numa gargalhada que só não acordou os irmãos dela porque eles já haviam ido para a escola. O sol estava começando a brilhar e, encarando a janela, eu me dei conta que ainda nem dormira desde que tudo aquilo acontecera. Senti uma saudade repentina de Yasmin que me deixou triste por um instante.

Eu não sabia quando a veria de novo, quando poderíamos nos encontrar daquela maneira... Com a chance de trocarmos mais beijos e quem sabe um pouco mais do que isso. A gargalhada de Daniela ainda enchia o quarto e eu joguei meu travesseiro nela, com força. Nem isso a fez parar de rir.

– Cara, descobri o que havia de errado comigo! Eu tentando usar frases bonitas, de efeito e tal... E você consegue o melhor beijo da sua vida falando de geratrizes e diâmetros de cones!

Dessa vez joguei a coberta nela, mas não a acertei, pois ela ficara presa embaixo da minha coxa. Minha raiva foi aumentando a cada segundo que a gargalhada dela persistia, com seus comentários redundantes sobre a ridicularidade da situação... E no meio daquilo tudo eu comecei a gargalhar como ela, a me sentir ridícula como ela queria que eu me visse, e a sorrir cada vez mais porque aquela era a verdade mais nua e crua sobre o beijo entre Yasmin e eu.

Ele ia contra qualquer fórmula de conquista. Ele teria acontecido, não importava qual frase eu dissesse a ela enquanto via seu sorriso sumir da face por ela encarar meus lábios com desejo. Ele teria acontecido, não importava o que eu tivesse feito naquele quarto. Ele teria acontecido de qualquer jeito. E teria sido maravilhoso, do mesmo jeito.

 

– x –

 

Yasmin

Dei uma desculpa qualquer aos meus pais e fui para a escola mais cedo que o normal no dia seguinte. Só a ansiedade por rever Paula, mesmo sem poder me aproximar muito, para me fazer sair da cama com um sorriso no rosto e ir para a escola como se estivesse caminhando nas nuvens.

Fui percorrendo os poucos quarteirões de distância planejando tudo em minha mente: éramos do mesmo grupo, eu poderia usar a desculpa de comentar o trabalho de matemática para dar bom dia a ela...

Meus olhos vagaram cada detalhe daquela escola como se tivesse entrado nela pela primeira vez. Era tudo novo, meu olhar era diferente. Percebi que me sentia bem ali como nunca tinha me sentido em outro colégio.

Cumprimentei alguns conhecidos, duas garotas do time de vôlei, dois colegas com quem eu tinha conversado na primeira semana, na antiga turma, e mais umas pessoas que eu nem fazia idéia de quem eram...

De repente eu poderia cumprimentar todo mundo com um sorriso enorme e dizer “como vai??” só pra poder responder que eu estava bem. Maravilhosamente bem. Ótima, na verdade. Radiante. Incrivelmente alegre. Inabalavelmente feliz.

– Ruiva!?

Voltei-me para trás e vi Chris entrando pelo portão. Mais uma que seria vítima do meu sorriso maior que o mundo.

– Ooooi.

– “Ooooi”? Você bebeu logo cedo, Yasmin?

Fiquei vermelha. Já tinha saído algumas vezes com a Chris, depois dos treinos, e ela sabia que para eu ficar boba daquele jeito, bastava uns golinhos a mais de algo alcoólico. Ou então... Bom, ela não tinha como saber, nunca tinha me visto apaixonada. Na verdade, nem eu jamais tinha me visto daquele jeito.

– Bebi – respondi. – Um barril inteiro de algo que se chama...

– Paulinha! – ela completou por mim.

Rimos juntas.

– Só podia. Não perguntei ontem, mas como foi o encontro de vocês?

– Lindo. Mágico. Perfeito. Maravilhoso.

– Isso eu já sei. Quero saber dos detalhes.

– Ah... Tinha o trabalho pra fazer... Então não foi exatamente um “encontro”. Depois teve o Nicholas junto e tal. Não demos muita bandeira.

– Sua retardada, ele não está namorando a Paula de mentira só para vocês duas poderem ficar juntas? Ele sabe...

– Mas não é simples assim. E se quer saber, a sensação de estar do lado dela e não poder abusar foi muito boa.

– Vai se preparando, porque na escola vai ter de ser assim. Aliás, ela já deve estar lá na sala. Vamos?

Cada passo que encurtava a distância do pátio até a classe foi como uma longa jornada para mim. Como estaria o sorriso de Paula naquela manhã? Ela estaria mesmo sorrindo? Senti meus nervos alterados... Como eu poderia estar tão nervosa? Preferi pensar que ela apenas me daria um sorriso simpático e ligeiramente impessoal, como fazia normalmente, por causa do cerco da mãe.

Afinal ela poderia não ver na tarde anterior um motivo para mudar as coisas, mas... Balancei a cabeça, tinha de admitir para mim mesma que eu queria ver algo a mais no brilho dos olhos dela, queria ver que ela tinha gostado daquilo tanto quanto eu.

Queria ver novas promessas, das quais os meus olhos estavam repletos... Queria que ela avisasse o Nicholas no intervalo que planejava me ver de novo. Entretanto... Nada aconteceu. Toda a minha preparação fora em vão, porque Paula não estava na sala! Não pude conter um suspiro decepcionado e Chris me olhou interrogativamente.

– Vai ver se atrasou, de tanto ficar sonhando... Feito você.

Por um motivo estranho, não consegui acreditar nas palavras de minha nova amiga. Fui para a minha carteira, apanhei o celular e mandei uma mensagem para Joana. Só ela poderia me acalmar naquele momento, mas a resposta não chegava nunca! Lógico, ela estava de férias, dormia até a hora do almoço.

Liguei... Fiquei ouvindo as chamadas me prometendo que só desligaria quando ela atendesse, mas caiu na caixa de mensagens. Maldita Joana! A aula se arrastou eternamente, entreguei o trabalho de Matemática no último período antes do intervalo e troquei um olhar significativo com Nicholas, que me confirmou que não sabia do paradeiro da Paula e nem fazia idéia do motivo da falta.

Quando o sinal tocou, fui correndo atrás da Daniela, ver se ela poderia dizer alguma coisa, mas seus colegas me avisaram que ela também não comparecera à aula. Era só o que me faltava! Confirmei o que soubera desde a primeira semana: aquela garota não servia pra nada!

Quando cheguei em casa, um pouco antes do meio-dia, reparei que meu pai fazia companhia à minha mãe e só então me lembrei que era o aniversário de casamento dos dois. Nesse tipo de data, meu pai dava sempre um jeito de passar mais tempo com ela e esticava o intervalo do almoço. Como não queria atrapalhar os dois, subi para o meu quarto e mais uma vez tentei ligar para a Joana.

– Alô? – ela disse, com voz de sono.

– Sua praga, eu to te ligando desde cedo – respondi.

– Bom dia pra você também, ruivinha!

– Ah, é, bom dia.

– Que houve?

– A Paula não foi na aula.

– E...?

– Ela nunca perde aula, Jo.

– Sei lá, todo mundo tem dor de barriga de vez em quando, relaxa.

– A tal Daniela também não foi, Jo – acrescentei.

– Certo, entendi. E nesse momento você já tem mais de vinte explicações para isso, sendo que todas elas incluem a sua deusa Paula nos braços da melhor amiga que ela jura que não pega, e a sua cabeça enfeitada com uma porção de chifres lindos e cheirando a novo. Isso?

Em certos momentos eu odiava a Joana com todas as minhas forças. Eu simplesmente não conseguia controlar meu instinto natural de pensar nesse tipo de coisa, em como fatos isolados poderiam se entrelaçar em uma trama que me desfavorecia por completo.

Como me conhecia bem, Joana sempre dava um jeito de ridicularizar esses meus medos. Às vezes isso era bom, pois minha amiga me mostrava o quanto era mais simples pensar em explicações muito menos trágicas.

– Tá, já entendi. Mas é realmente estranho as duas faltarem.

– O namorado dela não sabe de nada?

– Não. Como eu, viu a Paula pela última vez aqui na frente de casa.

– Chato. Planos?

– Bem, tem o treino de vôlei mais tarde... Quem sabe ela apareça.

– É, então se acalma, sua tonta... E me deixa ir, que a sua ex-sogra preferida está aos berros lá em baixo – disse Joana.

– Da um beijo nela por mim.

– Pode deixar. Te amo, ruivinha.

– Também te amo.

– Quando você vem?

– Aaam... Eu ainda tenho uma semana de provas...

– Saco. To com saudade de ti.

– Eu também – admiti, ficando em silêncio por um bom tempo. – Escuta, por que você não vem pra cá?

Notei que pela demora, ela estava pensando na idéia.

– Quando?

– Por mim, você vinha hoje.

– Não, Yasmin, você não vai me explorar para te ajudar a estudar para essas provas.

– Saco – fiz uma pausa. – Hei! Como se você fosse mais inteligente que eu!

– Queridinha, quem está na faculdade, hein? Hein?

– Grande merd*, eu estarei ano que vem.

– Já decidiu o que vai fazer?

– Sim! – sorri, mesmo que ela não pudesse enxergar meu rosto.

– E não me contou!? Fala aí!

– Bom, eu vou pegar a lista de cursos, fechar os olhos e apontar o dedo. Aí confiro e faço a inscrição...

– Ah, sua retardada.

Fiquei rindo ao telefone, embora no fundo me preocupasse com aquilo. Nenhum curso parecia apropriado, ao mesmo tempo que eu acreditava que poderia fazer qualquer um deles.

– Amebinha...

– Que merd*, Jo!

– Amebinha linda do meu coração.

– Para com isso! – acabei por rir também. – Ta, eu vou ver com meus pais quais os planos deles para as férias e aí te aviso.

– Okay. Agora eu preciso ir. Beijo.

– Beijo. Tchau.

Fiquei olhando para o telefone na minha mão. Ouvi que meus pais também me chamavam e mecanicamente desci as escadas para almoçar com eles. Estavam tão entretidos um com o outro que nem ligaram para a minha apatia e foi melhor assim. Eu não queria conversa. Subi, apanhei meu uniforme e fui mais cedo para o treino de vôlei.

Como às vezes Paula se atrasava pra caramba para o treino, eu só me conformei com a ausência dela depois de mais de meia hora. Perguntei à Chris se ela havia descoberto mais alguma coisa, mas ela também não sabia de nada.

Ao me notar triste, convidou-me para ir a um barzinho depois do treino e eu aceitei. E embora tenha me distraído ouvindo as histórias das garotas, sobre os campeonatos dos anos anteriores, Paula não saía da minha cabeça e nem mesmo o riso deixava meu coração menos apertado.

Eu não sabia o que era aquilo, mas se parecia muito com medo. Cheguei em casa quando o sol já se despedira e topei com meus pais na sala, assistindo televisão.

– Nossa, vocês não vão se desgrudar, hein?

– Oi, filhinha. Como foi o treino?

– Ótimo. Foi o último antes das férias, semana que vem todo mundo tem muitas provas, vamos dar uma parada.

– A Joana vem pra cá nas férias?

– Vem sim, ainda estamos combinando, mãe.

Achava engraçado eles sempre perguntarem sobre a Jo. Quando morávamos na mesma cidade ela vivia na nossa casa, primeiro por ser minha namorada e depois porque nos tornamos amigas. Meus pais nunca nos arranjaram problemas.

Uma vez eu cheguei a desconfiar que minha mãe tivesse lido por engano uma mensagem dela pra mim, e descoberto alguma coisa, mas como ela nunca tocou no assunto, aliviei-me.

Tomei um banho antes do jantar e entrei na internet, mas não me animei a conversar com ninguém. Já estava me preparando para dormir quando recebi um torpedo que decretou que, definitivamente, eu não conseguiria pregar o olho naquela noite:

 “Desculpa, Ya, a diretora ameaçou me expulsar do colégio e eu contei tudo. Desculpa mesmo. Achei melhor você saber. Abraço, Nicholas.”

Fim do capítulo


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Comentários para 6 - Capitulo 5:
patty-321
patty-321

Em: 30/07/2022

Fudeu parte 2

Responder

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Lea
Lea

Em: 13/07/2022

A mãe da Daniela é um doce,adorei ela.

Nossa, Dona Magali está saindo do bom senso. Se isso tudo for proteção,está protegendo errado a filha.

Responder

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