Os dias correram rápidos demais, Maria Rosa passou na minha disciplina com louvor, juro que por merecimento, e não por foça do meu coração apaixonado, conversamos muito sobre o "nós", e cientes da validade dos nossos sentimentos, resolvemos nos permitir. E foi por essa sensação de recomeço, de ter o coração preenchido de amor que resolvemos compartilhar nossos sonhos e planos. Eu sei, esse sentir é muito gostoso e viciante. O melhor de tudo é que ao debater sobre as nossas metas, percebemos que tínhamos a mesma vontade, queríamos trabalhar como perita criminal, para isso criamos uma rotina, corre, estuda, treina e trabalha, entre uma coisa e outra cuidávamos da nossa família e namorávamos. Claro que o nosso esforço foi recompensado, passamos, as duas, felicidade completa.

       Bom, mas, não sei se já percebeu...parece que quando você pensa que está tudo indo do ótimo para o excelente, ou como diz  minha mãe, que está tudo sob carreteis, que falta pouco para concretizarem seu maior sonho, sempre vem uma novidade?, ou, como diz a Maria Rosa, sempre vem um monstro para dar o último susto, pois é, foi assim conosco. O fato é que com a nossa excelência no trabalho, não tivemos tempo para juntar as escovas de dentes, logo vieram os cargos, cobranças e mais cobranças que se renovaram à medida em que crescemos, vencendo os desafios. E então apareceram novas metas, e você decide que quer outra coisa dentro do seu ambiente de trabalho, e mais outra e mais outra. Enfim, meu conselho para hoje é... pense bem antes de pedir que os seus sonhos se realizem, pois você não sabe o que pode acontecer antes de cruzar a fronteira.

       Te digo, para mim não é nada fácil trabalhar com a escória do mundo, geralmente é isso, mas, não tem pagamento melhor do que ver a família mesmo sofrida agradecendo o nosso trabalho, alguém precisa fazê-lo, afinal, enquanto existir crimes e violência, o trabalho policial vai ser necessário.

       No primeiro mês fomos encarregadas de descobrir a motivação de um crime supostamente passional: "Cantor famoso morre baleado, o principal suspeito é ator da novela das 20h", esse era o título de todos os jornais e revistas. Ninguém conseguia provas concretas, só indícios, chegamos desacreditadas, saímos de lá conhecidas e com o caso solucionado: os dois namoravam, o cantor era ciumento, brigaram feio, o dito cujo puxou a arma, foi desarmado e levou a pior, não entendemos a dificuldade em divulgar uma verdade tão óbvia, a ficha só caiu quando o ator ficou no nosso encalço querendo vingança, assim percebemos cedo que o buraco é bem mais embaixo do que supunha nossa vã filosofia, ele preferia ser taxado de assassino do que de gay, como pode isso?, a nossa investigação conseguiu provar a legítima defesa, mas, isso não foi suficiente para que o ator saísse satisfeito, afinal, sua virilidade deveria ser preservada, com a revelação, o guapo perdeu contratos importantes, irritado conosco, como forma de retaliação soltou fotos nossas na internet, divulgando que éramos um casal, como se isso fosse ofensivo, eu hein!!, vai entender...

       Mas, o meu objetivo aqui não é apenas falar do processo de investigação, é também dizer que mesmo reclamando, amamos os nossos cargos e salários, mas, também precisamos de descanso, de um tempo sem pressão, de um momento totalmente necessário pra respirar, recobrar o fôlego e voltar ao equilíbrio, isso é essencial. E é com esse sentimento que em horas partiremos em direção as nossas tão sonhadas férias.

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         Samira deixou o que escrevia inacabado quando avistou Maria Rosa na porta, sorriu, guardando o caderno dentro da bolsa, que já arrumada mandou um beijo antes de perguntar:

- Amor, o que tanto faz com esse caderno?

- Estou escrevendo umas coisas meu Crème Bûlée...

- Posso ver o que é? Amo a sua escrita, você sabe.

- Ainda não meu bem, agora vamos? não quero perder o avião por nada desse mundo.

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       Maria Rosa sorriu, puxando a namorada para um abraço gostoso, com direito a um deslizar da mão em suas costas, deixando o corpo da outra todo arrepiado, sabedora que uma das coisas que Samira mais amava era sentir o seu cheiro, esfregou seu pescoço no nariz da namorada, e essa proximidade acordou sua libido, Samira suspirou alto sabendo que não teriam tempo hábil, e apenas sorriu para dizer entre os dentes "bandida".

O diário de Samira - Parte II

Aeroporto Internacional Afonso Pena - São José dos Pinhais - PR

       Estávamos esperando para entrar no avião quando ouvimos um funcionário da Latam gritar em alto e bom som: quem são as PF que vão entrar no avião armadas? Vi Maria Rosa passar a mão no rosto para em seguida levantar devagar avisando que éramos nós, mesmo nas viagens de lazer íamos armadas para uma emergência, fazia parte do cargo, só que não poderíamos surpreender ninguém se fosse preciso, já que o funcionário da companhia fez o favor delícia de alardear a nossa presença no voo. Entramos na frente e todos que passavam sorriam meio de lado para nós.

        No ar, em algum lugar entre as nuvens...

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       A voz da Comandante ressoou por todo o avião:

- Bom dia passageiros, aqui quem fala é a Comandante Patrícia Boghetti, peço que afivelem os cintos, e permaneçam em suas poltronas para sua própria segurança, estamos passando por uma área de turbulência.

- Good morning passengers, this is Commander Patricia Boghetti, I ask you to buckle your seat belts and stay in your seats for your own safety, we are going through an area of ​​turmoil.

- Amor, não é hora de escrever, estou tensa, colabora, vai...

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       Samira bocejou entediada, sabia que isso era corriqueiro ao passar pela Bahia, só que para Maria Rosa, o evento era totalmente novo, olhou para o lado, e nesse instante percebeu que a bela morena encontrava-se petrificada em sua poltrona, as mãos segurando o assento, enquanto os olhos negros cresceram duas vezes mais.

- Está com medo amor? Vem aqui - Falou para aconchegar Maria Rosa em seus braços - Não precisa ficar assim meu bem, vai passar rapidinho, vou cantar uma música pra ti, quer?

       Maria Rosa não conseguiu responder, apenas balançou a cabeça confirmando seu desejo.

- Você quem manda Princesa... - Samira pegou o chocolate Charge que estava na bolsa e cantou, fazendo uma coreografia totalmente sem sentido.

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Go do it,

Got to go through that door

There's no easy was out at all

Still it only takes time

'Til love comes to everyone

For you who it always seems blue

It all comes, it never rains

But it pours,

Still it only takes time

'Til love comes to everyone...

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       Maria Rosa sorriu ao ver que todos os passageiros cantavam em uma só voz, contagiados pela performance divertida de Samira, e assim foi relaxando, ainda se encolhia um pouco quando o avião chacoalhava, mas, na terceira vez que cantaram Loves comes to everyone até conseguiu cantar junto.

- Gente, agora a versão em Português, vem comigo...

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Seu coração tem algo que nunca muda

Mas que também não envelhece nunca... Seu coração...

Vá e entre por aquela porta ali

Não tem caminho fácil não

É só dar um tempo que amor vem pra cada um...

Fique feliz na boa e tudo vem

Mas nunca chove sem molhar

É só dar um tempo que amor chega até você...

Seu coração tem algo que nunca muda

Mas que também não envelhece nunca... Seu coração

Sério eu vejo tudo melhorar

Lá! É só bater na porta e abrir

Bem que eu disse pra você

Que o amor vem pra cada um

Fique feliz na boa e tudo vem

Mas nunca chove sem molhar

É só dar um tempo que amor chega até você...

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       Uhulllll...todos gritaram em uníssono quando a área de turbulência passou, e o melhor? a música de Zizi Possi havia sido cantada apenas uma vez. Todos aplaudiram Samira, que teve a certeza que faria de tudo que estivesse ao seu alcance pelo bem de Maria Rosa, que sorria agradecida.

- Muito obrigada minha linda, só você para tornar esse momento tenso em algo tão divertido.

- Não tem nada que não faça para ver a paz do seu sorriso, teve muito medo?

- Misericórdia, olha, já viajei muito, mas, nunca passei por uma turbulência tão grande.

- Pronto minha gata, já chegamos, vai aterrissar...

- Deus é mais!

        Aeroporto Internacional Pinto Martins, Fortaleza - CE

       A chegada a Fortaleza foi tranquila, embora a turbulência tenha atrapalhado um bocado a viagem, Maria Rosa conseguiu se divertir, estava entre agradecida e emocionada com o cuidado da namorada em todo o trajeto, por hora sentia um leve receio em conhecer os pais de Samira, tinham pouco mais de um ano de namoro e iam passar o ano novo juntas em Fortaleza pela primeira vez, mas, apesar da sua insegurança, sabia que esta seria uma excelente oportunidade de estreitar os laços com Samira, e conhecer  a família que de alguma forma também seria sua. Avistou de longe a sogra, uma versão mais velha de Samira, nem precisaria apontar, mesmo assim a namorada o fez, e quando se aproximaram Dona Júlia abriu os braços sorrindo para a filha.

- Minha filha querida, quantas saudades...

- Oi mamãe, também estou, que bom estar na minha terrinha. Agora, deixa te apresentar a Maria Rosa - Falou sorrindo orgulhosa para a moça dos olhos de nanquim - Ela não é linda, mamãe?

- Então essa é a minha norinha? Vejo que dessa vez escolheu muito bem. Prazer querida, bem vinda a Fortaleza.

- Muito obrigada Dona Júlia...

- Só Júlia...

- Diz agora amor, "Só Júlia". - Dona Júlia entendeu que era uma piada interna das namoradas, e sorrindo, perguntou.

- Vão passar em casa?

- Mãe, agora não, vamos passar a semana inteirinha aqui, depois do almoço levo Maria Rosa para conhecer Jericoacoara, na segunda voltamos.

- Tudo bem, seu pai fez uma reserva no Lagostim, espero que goste de frutos do mar, Maria Rosa...

- Amo...

- Então vai gostar, e vocês já tem onde ficar?

- Sim mãe, reservei o fim de semana na Pousada La vie Jeri, acho que minha flor vai gostar.

- Certamente, o lugar é muito lindo e romântico...

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       O almoço foi alegre e descontraído, com isso acabaram perdendo a hora, tinham pouco tempo para colocar tanta novidade em dia, o mais importante é que Maria Rosa tinha amado os sogros, e o sentimento era reciproco.

       Já era noite quando chegaram a pousada, Maria Rosa olhou admirada o ambiente, o lugar era ainda mais bonito do que nas fotos mostradas por Samira. A pousada tinha um ambiente charmoso, divertido, aconchegante e colorido, em local privilegiado, ficava em frente à praia, juntando ao mesmo tempo conforto, rusticidade e elegância.

       Pediram uma lasanha de carne de sol com um vinho tinto muito apreciado pelo pai de Samira, Sangiovese Toscana, 2006.

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- Está gostando meu amor?

- Sim, só que esse vinho me abriu um duplo apetite.

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O diário de Samira - Parte III

       Puxei Maria Rosa pela mão, ela sorriu, encostando a boca no meu ouvido para sussurrar baixinho: me espera...é só um pouco, prometo! Mas para mim, cada segundo me fazia sentir que morava dentro da eternidade. Volta....volta logo.

       Mas confesso que valeu cada segundo da espera, pois senti meu coração bater forte no peito quando ela voltou, estava com um sobretudo aberto mostrando para mim toda a beleza morena que tanto me atraia. Fiquei uns instantes paralisada, não tinha palavras suficientes para expressar tudo o que estava sentindo, subi minha mão trêmula pelo seu rosto, contornando o maxilar com a ponta dos dedos, depois desenhei sua boca com a minha, me afastando um pouco para olhar profundamente os olhos de nanquim que me despiam de tudo, foi ai que me dei conta que ela tinha urgência de ser minha, devagar a encostei na parede, deixando que minhas mãos segurassem em sua cintura e me aproximei beijando seu pescoço, ao ouvir seu gemido, parei para perguntar, mesmo sabendo da resposta:

- Continuo?..

- Sim...sempre...quero ser sua...agora.

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       Ela era a minha flor, passei os dedos suavemente, sentindo suas pétalas molhadas pelo orvalho que fluía da fonte do seu prazer. Intensa, me ajoelhei trazendo seu grânulo para a minha boca, era como se estivesse com toda sede do mundo após ter percorrido um deserto inteiro, e só ela teria a água própria para saciar minha sede por completo. Ela dizia palavras desconexas e quando senti que estava perto de atingir o ápice do seu prazer, subi virando Maria Rosa de costas para a parede, continuando a acariciar seu botão, suas pétalas vertiam um oceano, e enquanto lhe dava prazer rebol*va em sua bundinha deliciosamente morena para chegar junto ao mesmo lugar, quanto explodimos em luzes multicoloridas sentimos que éramos uma só como duas estrelas que se aglutinaram após o gozo...

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Pelo Amor Livre

Eu prometo não te prometer nada

Nem te amar para sempre

nem não te trair nunca

nem não te deixar jamais.

Estou aqui, te sinto agora

sem máscaras nem artifícios

e enquanto for bom para os dois que o outro fique.

Nada a te oferecer senão eu mesmo

Nada a te pedir senão que sejas quem tu és

a verdade é o que de melhor temos para compartilhar.

Fim do capítulo