Capitulo 78
A Última Rosa -- Capítulo 78
Maya olhava para o bebezinho através do vidro do berçário, com seus olhos, enevoados por lágrimas de emoção. Imaginava o que aconteceria com ela. De repente, pressentiu que não estava sozinha no corredor do hospital. Respirou fundo ao perceber que Jessica se aproximava.
-- Olha só que coisinha linda!
-- Para mim se parece com qualquer outro bebê novinho. São todos iguais -- Jessica respondeu, evitando sentimentalismos -- Cara de joelho.
-- Você está sendo indelicada com a menina, Jess.
-- Hum, é né. Desculpa garota -- disse, batendo no vidro e fazendo uma careta engraçada para o bebê, embora soubesse que ela não podia vê-la -- Você é uma gatinha linda -- comentou arrependida -- Comprei muitas roupinhas para elas -- Jessica levantou as bolsas no ar -- Uma mais bonita que a outra.
-- Jess, olha aquela mulher, acho que ela está chamando a gente -- disse, olhando sobre os ombros de Jéssica.
-- Quem?
-- A de branco sentada atrás daquela mesa.
A mulher acenou para as duas e elas se aproximaram.
-- Preciso preencher as fichas, mas não tenho nenhuma informação sobre as crianças.
-- Nós também não soubemos nada sobre elas, o máximo que sabemos é o nome da mãe por causa dos documentos que ela levava na bolsa. Não tinha nenhum documento das meninas -- respondeu Jessica.
-- Olha moça, a gente quer assumir todas as despesas -- disse Maya.
-- Vocês não precisam pagar a conta do hospital, uma criança abandonada é temporariamente responsabilidade do governo.
-- Ainda assim gostaríamos de pagar as despesas -- afirmou Jessica, com firmeza.
-- Se é isso que querem... Vou transferi-las para o setor particular -- a mulher tinha no rosto uma expressão de surpresa, enquanto preenchia o formulário -- Bem, agora precisamos de nomes provisórios.
Jessica olhou para ela surpresa. Maya também olhou, espantada.
-- Mas os bebês já devem ter um nome. Os vizinhos não sabem? E o cartório?
-- Os vizinhos não sabem e no cartório não encontramos nenhum registro. Segundo informações da polícia, provavelmente os documentos da mãe são falsos.
-- Que história estranha! -- disse Maya, admirada.
-- Então, quais os nomes vão dar? -- insistiu a mulher.
-- Maiara e Maraisa -- disse Jessica -- É isso aí, yes, perfeito.
-- Mas é uma dupla sertaneja -- interviu Maya -- Que falta de criatividade. Jamais colocarei esses nomes!
-- Então, diz você os nomes.
-- Alessia e Alexia.
-- Kkkkk.... -- Jessica deu uma gargalhada irônica -- Dupla sertaneja!
-- Não conheço nenhuma dupla sertaneja com esses nomes -- Maya fechou os punhos.
Jessica fez uma cara de paisagem que irritou Maya.
-- Vai ser Alessia e Alexia, sim! -- praticamente berrou.
-- Não precisam entrar em um impasse, não importa se é nome de dupla sertaneja! -- disse a funcionária do hospital.
O olhar de Maya foi tão congelante, que a coitada estremeceu.
-- Os nomes são provisórios -- a mulher olhou para Jessica, sacudindo a cabeça como se pedisse que aceitasse a sugestão. Mesmo achando que era nome de dupla sertaneja.
-- Tá bom, que seja Alessia e Alexia. Vai ser provisório mesmo -- resmungou Jessica, balançando os ombros.
Mais tarde...
Valquiria entrou na sala segurando uma fumegante xícara de café.
-- O pessoal está fazendo o possível para deixar a empresa pronta até amanhã. Está tudo limpo, mas falta instalar os equipamentos que foram desligados durante a enchente. Tome -- disse, enquanto entregava a xícara à Maya.
-- Obrigada -- até aquele instante, não tinha se preocupado com a empresa. De repente, teve consciência de que estava tão envolvida com os bebês, que esqueceu da destruição causada pela tempestade. Tomou, com prazer, um gole de café, antes de dizer: -- Temos tanto trabalho pela frente, o povo de Hills precisa unir-se para deixar a cidade pronta para receber os turistas no verão.
Valquíria deu um leve sorriso.
-- Ainda falta um mês. Nós vamos conseguir.
-- Sim, nós vamos -- Maya colocou a xícara sobre a mesinha e levantou-se calmamente -- Tenho que ir até a empresa.
-- Pensei que ia querer ficar com os bebês no hospital.
-- Por mim ficava o dia inteiro no hospital, mas não posso me apegar demais à elas. O sofrimento será ainda maior com a separação.
Com muito cuidado Jessica manobrou o carro e ocupou a primeira vaga livre que encontrou. Desligou o conversível e suspirou com um desgosto profundo por conta da situação terrível que se encontrava o prédio do Fórum de Hills.Tudo bem. Vamos em frente, disse a si mesmo e desceu do veículo. Apesar da lama, ela cruzou com rapidez o curto espaço até o hall da entrada principal, construído no formato de arco. Aguardou alguns segundos antes do recepcionista surgir apressado.
-- Bom dia, desculpa por não estar na recepção. Estamos muito ocupados hoje, a água entrou numa velocidade medonha, não deu tempo de salvar quase nada.
-- Bom dia, eu entendo. Estamos todos na mesma situação -- Jessica esfregou uma mão na outra, olhando ao redor -- O meritíssimo senhor juiz Everaldo Castro Gomes Filho, está?
-- Vou confirmar para a senhora -- declarou o funcionário, posicionando-se atrás do balcão de madeira polida da recepção -- Embora eu desconfie que o senhor juiz está ocupado no momento -- o recepcionista consultou a tela do computador e murmurou: -- Vou verificar num instante, senhora. Qual é mesmo o seu nome?
-- Meu nome é Jéssica. Jéssica Parker.
-- Ah! -- O rapaz ergueu a cabeça num gesto instintivo de surpresa. Jéssica acompanhou a mudança de comportamento do rapaz e não ficou surpresa. Naquela altura dos acontecimentos, toda a cidade comentava o ato de bravura da herdeira dos Parker -- Volto em um instante.
E foi como ele disse, em menos de um minuto o rapaz estava de volta.
-- O senhor juiz Everaldo Castro Gomes Filho, vai recebê-la.
-- Obrigada -- Jessica tomou a direção indicada pelo recepcionista.
Com um suspiro, parou diante da porta, girou a maçaneta e a abriu. O juiz estava atrás da enorme mesa de carvalho, apoiado para trás em sua cadeira, uma caneta em uma mão, enquanto segurava uma folha de papel com a outra. Depois de um momento, ele colocou a caneta sobre a mesa e levantou a cabeça.
-- Senhorita Parker, que honra! -- o juiz levantou-se e foi ao seu encontro com a mão estendida -- Fique à vontade, sente-se, por favor.
Jessica retribuiu o cumprimentou e depois sentou-se em uma cadeira de couro disposta em frente à mesa.
-- Desculpa atrapalhar o trabalho do senhor, mas...
-- O que é isso? Quero que saiba que a admiro demais, menina. As portas do meu gabinete e de minha casa estarão sempre abertas para você.
Jessica ficou emocionada com aquelas palavras.
-- Obrigada, senhor juiz.
-- Bem, acredito que você não veio até aqui porque está com saudades desse velho babão -- comentou o juiz dando uma gargalhada. Jessica balançou a cabeça.
-- Diga-me, Juiz, acha que o serviço social me deixaria com a guarda provisória dos bebês até que alguém da família as procure?
Ele franziu a testa e coçou o queixo, pensativo.
-- Você sabe o tamanho da tristeza que será caso alguém da família reclame os bebês, não é mesmo?
-- Eu sei -- Jessica baixou a cabeça.
Everaldo pegou o papel que estava lendo anteriormente e entregou à Jessica.
-- Leia isso. A tempestade praticamente destruiu o nosso abrigo para crianças abandonadas, os bombeiros evacuaram o imóvel que era alugado pela prefeitura. As crianças foram levadas para um abrigo improvisado em uma ala do hospital municipal. Antes de você entrar, estava justamente quebrando a cabeça pensando em que decisão tomar com relação aos dois anjinhos.
-- E?
-- Você e a Maya são as pessoas mais indicadas para ficar com a guarda provisória dos gêmeos. Mas prepare-se psicologicamente, amanhã vai sair uma matéria na televisão em rede nacional. Talvez dê resultado e apareça alguém.
-- Mesmo provisoriamente, cuidaremos delas com todo o amor possível -- ela falou num tom doce, e de repente sentiu um nó na garganta, assustada com o momento de separação que certamente acontecerá -- Pensando bem talvez não seja uma boa ideia para a Maya -- ela deu um suspiro -- A separação poderá ser muito traumática.
-- Quem sabe não teria, necessariamente, que se separar dos bebês. Talvez vocês possam adotá-las.
-- Nós? -- ela sacudiu a cabeça -- Mesmo que ninguém apareça, a fila para adoção é enorme. Não temos a mínima chance.
-- Deixe-me dizer uma coisa que talvez você não saiba -- ele sussurrou -- Eu sou o juiz da infância e adolescência dessa cidade. Não quero dizer com isso que vou passar por cima da lei e bater o martelo à seu favor. O que quero dizer é que presenciei o pedido daquela mãe moribunda: "Cuide das minhas filhas". Foi o que ela pediu a você e eu sou testemunha. Além disso, poucas pessoas adotam duas crianças. Geralmente preferem apenas uma e, eu jamais permitirei que as separem.
-- Obrigada -- a voz de Jessica soou emocionada, enquanto os olhos claros brilhavam como a água do mar sob o luar.
-- Não me agradeça, Jessica, amanhã poderei ser o portador de uma notícia que a deixe triste.
-- Não se preocupe, senhor juiz. Só quero o bem das crianças, se for o melhor para elas, que assim seja.
-- Ótimo. Então, aguarde na sala ao lado que eu vou fazer algumas ligações.
Meia hora, depois...
Quando a porta da sala se abriu, Jessica esperava ver o juiz, mas outra pessoa entrou no local. Vestia um terninho azul, era alta, magra e tinha cabelo claro. Nos braços, carregava uma pilha de papéis. Concluiu que era secretária do juiz. A jovem, com cara de brava, e um jeito de funcionária pública exemplar, passou por ela e foi direto à garrafa de café, sem notá-la. Só se deu conta de sua presença quando Jessica tossiu propositadamente, para chamar atenção. Assustada, deu um pulo e ficou olhando fixo para ela.
-- Desculpa -- ela pediu, sem jeito -- Não sabia que tinha alguém na sala.
-- Sou Jessica Parker, o senhor juiz pediu para que eu esperasse aqui. Você é a secretária dele?
A moça fez um movimento afirmativo com a cabeça e relaxou um pouco.
-- Sim, me chamo Joyce. O senhor juiz me falou sobre você e pediu para que eu cuidasse da parte burocrática. Você vai ficar com a guarda provisória dos bebês, não é mesmo?
-- Sim.
-- Mesmo provisório, há uma burocracia gigantesca que somos obrigados a cumprir. Podemos começar?
-- Com certeza -- Jessica respondeu, ajeitando-se melhor na cadeira.
Logo que Maya entrou em casa, foi direto para o banheiro, tomou um banho quente, escovou os cabelos e saiu para a sala vestindo uma confortável calça de moletom e uma camiseta. Pelo menos o estômago parecia menos agitado, o que era uma coisa boa, pensou, ao entrar na cozinha. Valquiria estava lá, à espera, com uma expressão curiosa.
-- Algum conhecido apareceu para reclamar os bebês?
Maya respirou fundo.
-- Não sei, hoje durante todo o dia me esforcei o máximo para não pensar nelas. Elas devem ter um pai, avós, tios, sei lá. Amanhã ou depois alguém vai aparecer -- ela puxou uma cadeira e sentou-se -- Estou com fome.
-- Vou preparar algo para o jantar -- disse Valquíria, abrindo a geladeira.
Não demorou muito para que ela preparasse alguns bifes, uma salada e uns pãezinhos.
-- A Jessica está agindo de forma tão estranha hoje.
-- Porque está dizendo isso? -- Valquiria estendeu um prato à Maya. Pegando o próprio prato e uma vasilha de salada, ela sentou-se à mesa.
-- Não apareceu na empresa, só respondeu os meus whatsapps com emojis e até agora, nada dela voltar para casa. Não é estranho?
-- Estranhíssimo -- Valquiria ficou pensativa -- Será que ela está te traindo?
Maya balançou a cabeça.
-- Claro que não! -- ela riu -- Ela deve estar aprontando alguma. Espero que não esteja lá no hospital infernizando a vida das enfermeiras, ou na delegacia pressionando o delegado.
Naquele instante a porta foi aberta e Jessica entrou irradiando felicidade.
-- Boa noite!
-- Posso saber por onde você andava, dona Jessica? -- Maya, empurrou o prato vazio para longe e apoiou os cotovelos na mesa.
Valquiria levantou-se, pegando os pratos vazios e carregando-os para a pia.
-- Estava fazendo compras -- disse entusiasmada, enquanto pegava um prato e servia-se com um pedaço de bife.
Maya olhou desconfiada.
-- Comprando o que?
Jessica enfiou um pedaço de carne na boca.
-- Vai ver -- ela disse, de boca cheia -- Tá lá na sala.
Maya saiu esbaforida, deixando o rastro de um sofisticado perfume atrás de si. Valquiria levantou as sobrancelhas enquanto ela saía.
-- Que curiosa, hein?
-- Ela ficará com o coração na mão -- Jessica tomou o último gole do suco que restava no copo de Maya. Valquiria ia pegar a jarra, mas Jessica sacudiu a cabeça -- Não quero mais, preciso ver o que aconteceu com a Maya, pelo jeito, desmaiou de emoção.
Ao chegar à sala, Maya paralisou. Há apenas cinco minutos, ela falava em afastar-se dos bebês para evitar sofrimentos futuros, agora, parada diante de dois berços com o coração aos pulos e sem ar, nada mais importava além das pequenas órfãs.
Maya levantou os olhos quando Jessica se aproximou e parou ao lado dela.
-- Você se importa em acolher em nossa casa, dois pequenos anjinhos?
A maneira como a olhava, com aqueles olhos verdes, esperando pacientemente pela resposta, fez Maya derreter por dentro. Mas sabia qual deveria ser a resposta.
-- Acredito que nada acontece por acaso, sabe? Que no fundo Deus tem seu plano secreto, embora nós não entendamos. Acredito que a vida foi feita para aproveitarmos cada segundo dela, sem se preocupar com o amanhã. Então, vamos aproveitar este momento, e que Deus cuide do futuro.
Jessica a abraçou por trás, mergulhando o rosto nos cabelos sedosos.
-- Maya -- chamou ela, baixinho -- Eu te amo, minha trufa de nozes.
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 09/06/2022
Torcendo para não aparecer nenhum parente, e a duplinha sertaneja fique com elas,
Como não se divertir lendo esse capítulo
Bjos Vandinha
Resposta do autor:
Olá Hel
Romance próximo do fim. Está chegando o momento de se despedir da Jessica, Maya e o resto da galera. Emoções nos próximos capítulos.
Beijos.
Marta Andrade dos Santos
Em: 07/06/2022
Jéssica conseguiu glória.
Resposta do autor:
Olá Marta.
Estamos quase lá.
Beijos.
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Mille
Em: 06/06/2022
Oi Vandinha
Jessica deve ser fã de sertanejo kkkkk
Alessia e Alexia seram muito amadas, e creio que na história terá sim elas como mães das crianças. Como o juiz falou ela tem uma chance enorme se nenhum parente aparecer.
Olha os comentários e também acho que vc deve ser muito divertida, perde o amigo maus não poder a piada.
Bjus e até o próximo capítulo uma ótima semana
Resposta do autor:
Olá Mille.
Se a gente tem que viver a vida, que seja com alegria.
Beijos querida!
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NovaAqui
Em: 06/06/2022
Ainda bem que Jéssica é uma pessoa do bem. Todos a conhecem e gostam dela. O juiz vai ajudar bastante
Abraços procê! S2
Resposta do autor:
Olá NovaAqui!
Com certeza ele fará tudo o que estiver ao seu alcance, desde que a lei permita.
Paz e Luz. Até.
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Lea
Em: 06/06/2022
"Maiara e Maraísa" ," Minha trufa de nozes" Essa Jéssica me "mata" de tanto rir.
Alessia e Alexia, vão pronunciar da mesma forma. Kkkk
Que elas consigam adotar as crianças.
Obs: Fico aqui tentando imaginar você Vandinha no dia a dia,o quão palhaça você deve ser. Não é possível que seja assim só nos seus livros.
Bom dia!!
Resposta do autor:
Olá Lea.
Sua vida pode ser uma comédia, uma aventura ou uma história de superação, sucesso e amor. Mas pode ser também um drama, uma tragédia ou a monotonia da não mudança.
Porque todos nós temos tudo isso em nossas vidas. O que muda é como editamos, em quais experiências mantemos o foco e sobre o que falamos.
Fale do drama, e sua vida será um drama. Fale da aventura e a mesma vida será deliciosa.
Beijos querida!
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