Capitulo 38
AGRESSÃO
Contem
cenas de violência
doméstica
Palavras de baixo calão
homofobia
Não sei o que se passou na cabeça da Vivian para tentar me beijar, mas com a recusa ela realmente estava envergonhada e arrependida do seu rompante.
— Me desculpe Marina, foi mais forte de que eu. Poxa vida, você é gata demais e a gente não escolhe por quem vai se apaixonar, eu estou me apaixonando por você. Não foi porque eu quis ser má, só tentei esclarecer meus sentimentos, mas foi egoísmo. Você me perdoa? ― Ela parecia estar sendo sincera, mas eu tinha me enganado outra vez mais cedo, pensando bem durante todo o passeio ela deu indiretas do que sentia eu que não quis ver.
— Sinto muito que isso esteja acontecendo com você, não acredito que esteja apaixonada por mim, você nem me conhece, não sabe nada de mim, sou alucinada pela Bia e ela por mim. Nos completamos, até quando vamos estar apaixonada eu não sei. E se você disser que eu sou muito nova para ter certeza, vou dizer que está certa, mas no momento é o que sinto. Se você quiser minha amizade, é tudo que posso oferecer. — Fui o mais clara possível.
— Vou me conformar com sua amizade e aceitar que quando encontrei a garota dos meus sonhos, ela já pertencia a outra. Mesmo assim eu não vou perder as esperanças. Sonhar não é proibido. — Enquanto ela falava nós íamos até lá fora onde ainda ficamos conversando.
— Não, sonhar não é proibido, mas não confunda as coisas. Você é uma pessoa legal e tenho certeza que quando conhecer a Bia, se entenderá rapidamente com ela e ficarão amigas.
— Caramba, tenho inveja dessa sua namorada, além de você ser linda. Me desculpe, mas você é linda, ainda é madura na relação, qualquer outra garota não pensaria da mesma forma como você pensa.
— Qualquer outra garota não tem a namorada que eu tenho.
Nós estávamos em pé no portão e quando fui dar boa noite, antes de me aproximar um vulto tomou a minha frente.
— Então agora é assim que você quer viver? Toda noite um sapatão diferente no seu portão é, Dona Marina? — Ouço a voz familiar.
Meu pai havia voltado.
Meu susto foi tão grande que eu travei nas quatro rodas igual carro, fiquei sem fala e covardemente comecei a tremer.
A Vivian também parece ter ficado apavorada, me olhava com aqueles olhos azuis que parecia querer sair da caixa, acho que se pudesse, eu teria enfiado minha cabeça no chão como as avestruzes, mas infelizmente não dava. Tive que reagir quando senti meu braço ser apertado e ser arrastada para dentro a força.
— Me solta! Está me machucando! Solta o meu braço! Mamãe! — Gritei em plenos pulmões.
— Hoje eu vou lhe ensinar a ser gente, vai receber o que eu deveria ter feito há muito tempo!
Ele me soltou e me empurrou, topei em algo e acabei caindo, tive a ousadia de levantar e gritar.
― Bate covarde. ― Foi então que senti um tapa ensurdecedor na minha orelha, que me deixou surda. ― Covarde, covarde, MAMÃE VEM CÁ...― eu não conseguia ficar calada. outro tapa de mão aberta atingiu meu rosto. Senti o gosto de sangue e não sabia de onde vinha, virei a cabeça para o lado cobrindo o rosto com meu braço foi então que ele tirou o cinto de couro da calça a cintada queimou meus braços como brasa quente em seguida eu sentia a mesma queimação nas pernas e nos braços cada vez que o cinto acertava minha pele o vergão vermelho aparecia.
Eu queria morrer, além da dor, a surpresa, o medo, o sentimento de fragilidade me acometeu. Só queria que acabasse logo.
— Solte a minha filha! Seu desgraçado! Solte ela, seu infeliz! — Minha mãe finalmente chegou gritando e tentando o tomar o cinto da mão dele, eu o vi empurrar minha mãe ela caiu rapidamente Virgínia que acabara de chegar junto com os gêmeos meus irmãos pequenos ajudaram minha mãe a se levantar.
— Solta ela, paizinho! — Virgínia implorava ao meu pai. — Pelo amor de Deus, solta ela. Tá bom, ela já te ouviu.
Virgínia falava com alguém no telefone, então Bia e a mãe dela chegaram juntas e me tirou das garras do meu pai me puxando e me abraçou dona Luíza foi ver como estava minha mãe que só chorava.
— Eu sinto tanto, meu amor, queria estar aqui do seu lado. — Bia tentava me acalmar.
― Eu não sei como ele chegou eu nem vi de repente ele estava me arrastando… ― Mais uma vez os soluços me atacaram, e uma dor infeliz no meu braço esquerdo parecia que rasgava e eu não podia esticar o braço.
— Onde está doendo? — Passava a mão ao redor dos meus machucados quando tocou no meu ombro eu gritei de dor. — Mãe vem aqui. Acho que ela quebrou o braço está muito inchado.
Dona Luíza veio e ficou agachada bem próximo examinando cada machucado e sem dizer nada foi mais uma vez até onde estava minha mãe conversaram um pouco quando minha mãe levantou todos os meus irmãos chegaram em poucos minutos minha mãe resumiu o que tinha acontecido, eu tive a ousadia de olhar para o lugar onde meu pai estava sentado com a Virgínia. E meus irmãos menores que choravam muito, assustados pelo o olhar meu pai parecia estar arrependido, mas quando percebeu que eu o estava encarando e abraçada com a Bia, o semblante de arrependido sumiu deixando ver sua verdadeira face de um homem intransigente e homofóbico.
Dona Luíza voltou e me levou até seu carro lá fora, minha mãe veio junto com uma bolsa pequena de documentos. Parou próximo ao meu pai.
― Não ouse voltar nessa casa, tire tudo seu, quando eu voltar, se encontrar algo seu eu taco fogo. ― Foi só o que ela disse.
―Pra onde você vai Fabiana? Volta aqui mulher. Deixa de besteira…
Não quis ouvir, entrei no carro e Bia veio junto quando ia passando em frente à casa ainda vi meus irmãos segurando meu pai, que estava aos gritos.
ENQUANTO ISSO NO HOSPITAL...
Já fazia duas horas que Marina tinha entrado para a sala de cirurgia com um corte no supercílio que pegaria, segundo a enfermeira, oito pontos internos e quatro externos, um corte no lábio interior, uma clavícula fraturada e hematomas nos braços, costas e pernas.
Fabiana estava uma pilha, já tinha dado aproximadamente umas vinte voltas, andava de uma ponta a outra da sala chorando, inconsolável, sem dizer uma palavra, só chorando. Dei à minha amiga todo espaço de que ela precisava enquanto consolava Bia e Virgínia, que não tinha largado a mãe um instante, eu estava de coração partido ao ver minha amiga no estado em que se encontrava.
Virgínia, como a mãe, só chorava e se assustava a cada passo pesado de alguém no piso do hospital e se encolhia toda na cadeira.
Observava em silêncio, a família que sempre considerei e amei como se fosse minha e amaldiçoei Alberto pelo estrago que havia feito na cabeça da Marina e dos filhos menores, como Virgínia, que mais parecia um coelhinho assustado e os gêmeos. Não no corpo, essa ferida cicatriza, mas as feridas que não são visíveis, as da alma, essas ele nunca saberia.
Os dois irmãos menores foram levados para minha casa por minha filha Roberta, que ligou avisando que agora estavam dormindo no quarto com Bernardo.
— Quem é a mãe de Marina Linhares de Barros? — A médica, muito ruiva e muito novinha de um sorriso acolhedor, perguntou da porta, me tirando do devaneio e acalmando por segundos minha amiga Fabiana que respondeu prontamente.
— Sou eu, Doutora, como minha filha está? — Por segundos Fabiana parou de chorar se aproximando da médica.
— Estável, foi feita uma pequena cirurgia no supercilio. Nos lábios não foi preciso, o corte foi pequeno e por dentro da boca, só com cuidados para não machucar o local na hora da mastigação e limpeza já é o bastante. Ela sofreu uma fratura transversa na clavícula, nada com que se preocupar, por isso vai estar imobilizada com uma tala no ombro direito para evitar movimentos bruscos, ficará entre 4 a 5 semanas usando e quando retirar, 20 sessões de fisioterapia. Tem também um coágulo na cabeça no lado direito, já tiramos um raio-a e esperamos que não seja nada sério, mesmo assim vamos ficar com ela em observação. — Fabiana ouvia com atenção, a doutora esperou um pouco mais para continuar com as informações. — A senhora já pode entrar, em seguida os outros podem entrar um de cada vez, pode ficar só um acompanhante e a senhora vai ter que realizar um boletim de ocorrência na polícia, já está sendo providenciado um laudo de corpo de delito feito pelo hospital, notificando o estado físico e mental no qual a jovem chegou a esse pronto-socorro, eu mesma assinei. A senhora tem que levá-la no IML para fazer um exame mais detalhado. Preciso da autorização da senhora para avisar a delegacia da Mulher e a delegacia da infância e juventude, vou deixar as senhoras com a doutora Samia nossa psicóloga com licença.
Fabiana apenas concordava com a cabeça. A psicóloga do hospital que nesse momento trazia nas mãos um punhado de papel nos quais estava anotando umas coisas, olhou para Fabiana.
— Me desculpe senhora, mas pode vir a minha sala um instante. ― Fabiana olhou assustada eu entendi.
― Doutora eu vou junto, só um instante que vou pedir a minha sobrinha para ir comer algo na cantina.
Fui até onde Virgínia estava expliquei tudo e dei-lhe algum dinheiro, ela foi direto para cantina e pedi a Bia para aguardar um pouco eu fui com Fabiana para a sala da doutora, sentamos e eu fiz questão de segurar sua mão, queria com esse gesto passar-lhe segurança e a certeza de que ela não estava só.
― Senhoras preciso que me digam quem foi o agressor? A Médica que atendeu sua filha conversou com ela enquanto faziam os procedimentos nos vergões que ela tem espalhado pelo corpo. — Novamente Fabiana começou a chorar apertei sua mão carinhosamente. ― A doutora notificou nesse laudo ― levantou uma folha de papel balançando no ar ―, não se tratar de assalto. Pode me dizer quem foi o agressor?
— O pai dela, doutora. O pai dela fez essa barbaridade. — Fabiana respondeu sem titubear com uma dose de raiva o que não passou despercebido pela psicóloga.
— O que de tão grave essa menina pode ter feito para ser agredida dessa maneira? ― A médica perguntou e escrevia no papel.
— Há pouco tempo ela se descobriu e assumiu que é lésbica, agora namora com aquela mocinha que ficou lá fora. — Apontou para o corredor atras de nós. — Ele não aceita que ela viva essa vida e hoje perdeu as estribeiras.
A doutora respirou fundo, pediu licença para as mães e foi até a porta pedindo para Bia entrar.
— Boa noite, eu sou a Doutora Samia Portela. Você também é menor?
— Sim, doutora, eu sou. Me chamo Biatriz Louise Mallet de Carvalho vou completar dezessete anos daqui a quinze dias.
— Suponho que a senhora deva ser a mãe, as semelhanças são gritantes. — Disse enquanto cumprimentava Bia e sorria. — Bem, a senhora pode entrar com um processo junto com o da família, ou em separado por injúria, homofobia e damos morais.
— Obrigada, doutora.
— Bem, Dona Fabiana, — novamente se voltou a morena — aconselho a senhora a procurar ajuda de um psicólogo para a sua filha, para ela conversar sobre tudo o que ela sentiu, ou possa estar sentido, esse tipo de violência deixa marcas profundas das quais ela vai ter que enfrentar e aprender a viver com elas da melhor forma possível. Só com a ajuda de um profissional ela pode superar estou deixando aqui os nomes de profissionais que tratam de casos parecidos, tem também o encaminhamento para o IML e a documentação do hospital confirmando o atendimento da sua filha. — Após ter certeza de que nós havíamos entendido suas instruções ela se despediu. — Agora, se me derem licença, tenho outros pacientes para cuidar. Boa noite senhoras e meus parabéns pela namorada valente que você tem. Coloque esse cretino na cadeia antes que ele faça coisa pior, animais como ele devem ser tirados do convívio com a sociedade. — Piscou o olho, ajeitou a pilha de papéis no braço e foi para outro quarto.
Fabiana foi a primeira a entrar e quando viu o estado em que sua filha estava, quase caiu, se não fosse eu segurar filme em sua cintura amparando e mantendo-a firme no chão.
— Olha o que ele fez Lu. O tanto que eu pedi para ele não encostar nos meus filhos, a bichinha parecia um animal sendo espancada, meu senhor, você precisava ver.
— Mamãe... — Marina começava a acordar.
— Sim, meu anjo, diga.
— Mamãe, ele não é mais meu pai. Eu quero uma maneira legal que impeça ele de chegar perto de mim, nunca mais eu quero olhar na cara dele. — Marina chorava.
— Eu sei meu bem. Vou fazer tudo que a justiça mandar e vou procurar um advogado para tomar tudo que ele tem. Ou eu não me chamo Fabiana. — Enquanto falava beijava a mão da filha que estava cheia de pomada devido às escoriações.
Deu uma examinada clínica de mãe que conhece cada pedacinho da sua cria, deu para notar o olho com curativo inchado no local uma faixa na cabeça e outra no ombro. Ele tinha destruído fisicamente a beleza da filha que ia demorar uns dias para voltar ao normal, já que as feridas emocionais essas talvez não voltassem mais.
— Fabiana eu vou em casa e trago tudo que você precisar. Suponho que não vá querer sair de perto dela. — Falei com a metade do corpo para dentro do quarto e outra metade do lado de fora.
— Daqui eu só saio quando ela receber alta, vou precisar de umas coisas. Vou ligar para o Marcelo e avisar o que vou precisar e dar notícias da irmã para eles.
— Enquanto isso, eu vou dar um jeito. Os gêmeos já estão dormindo com o Bernardo e a Virgínia dorme comigo, ou com uma das meninas com quem ela achar mais confortável. Não se preocupe com nada, amanhã quando for deixar Bia no local da prova eu venho para você poder descansar.
— Fala para a Bia ficar um pouco aqui, ela deve estar desesperada. — Fabiana sabia como a garota estava se sentindo, pois as duas amavam a mesma pessoa.
Fim do capítulo
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Bel Nobre Autora da história
Em: 29/05/2022
OLIVIA!
Muito me alegra saber que esta lendo e gosatando da historia das meninas, desde já afirmo que a historia da mae delas tambem é muito linda.
espero sinceramente que eu possa continuar escrevendo de um jeito que possa agradar a voces que me acompanham.
Bel Nobre
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