O farol por brinamiranda
Gente, quase um ano sem postar, pra quem não sabe minha mãe adoeceu seriamente, hoje está curada e feliz, assim consegui voltar...desculpem a demora e a falta de prática na escrita.
Capitulo 23 - O tempo corre...
Miraflor, 02 de dezembro de 1849
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O vento açoitava os cabelos de Dália e Elisa batendo de forma cadenciada em seus rostos, que alheias a tudo, aguavam as roseiras enquanto uma chuva sem importância começava a lamber a pele de ambas.
Com a doença gradativa de Afonso, embora se desdobrassem em cuidados, se sentiam mais à vontade para viver o amor puro despertado em seus corações, relaxaram inclusive em relação a Cora, já que as idas da mãe de Elisa a "igreja" multiplicavam a cada dia, dessa vez respaldada com a doença do marido, que minguava a olhos vistos, a mulher por sua vez seguia alheia aos acontecimentos de sua casa, usando a "fé" como desculpa para passar horas fora se deliciando com os amantes. Sentindo-se liberta, também havia adiado o casamento da filha com a desculpa de cuidar do marido.
Lucrécia a observava atentamente, dia após dia em suas saídas, buscando provas, não que fosse usar nada contra Cora, mas, gostava de ter cartas na manga caso precisasse um dia.
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- Boa tarde Dona Cora, a senhora está bem?.
- Estou ótima Lucrécia, estava ajudando a decorar o caramanchão. Ah, agora me atentei de algo, leve um lanche para o jovem carpinteiro que deve estar morrendo de fome, coitado.
- Faço ideia.
- O que disse menina?.
- Que o rapazinho está desde muito cedo na lida, acredito que deva estar faminto, também com o trabalho que está tendo, não é fácil.
- Está insinuando que exploro meu contratado?, não tenho culpa se ele não lixou um dos troncos.
- Explorar?, jamais, nunca, de forma alguma, a senhora mui gentilmente deixou até que ele dormisse no quartinho de traz desde o começo da semana, tenho é orgulho do coração generoso da patroa, longe de mim pensar qualquer coisa da senhora, sempre tratando muito bem os jovens que trabalham por aqui.
- Ora, assim fico com vergonha, agradecida menina, agora leve o lanche de Dorian.
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Bá estava na cozinha, os braços cruzados, com cara de poucos amigos.
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- Menina, você ainda vai se dar muito mal fazendo essas gracinhas, deixa a Dona Cora perceber que não vai sobrar um cacho nessa cabeça desmiolada.
- Cruzes Bá, escuta aqui, não sei se te contei, mas, hoje cedinho, passeando pelos fundos da casa ouvi muito bem as vozes vindo da janela, a mulher dizia, "ai Dorinho, mais forte, assim, vai meu menininho", sabe quem era?, Dona Cora...
- Fala baixo Lucrécia, quer encrenca?.
- Quero me divertir, não tenho mais nada pra fazer nessa casa, só trabalhar e rir. Agora, vou indo levar o lanche do pobre menino - Falou revirando os olhos da maneira mais debochada que conseguiu.
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O sol refletia nos cabelos loiros e cacheados de Dorian, que havia tirado a camisa, subindo as calças até os joelhos, deixando os pés balançando nas águas do pequeno riacho, o corpo bem trabalhado pelos anos de lida estava suado, descansando da maratona sexual, Cora havia exaurido suas forças de manhã cedinho, no momento, as lembranças apenas permeavam sua mente e sorria para o nada, pois estava envaidecido por ter deixado saciada uma mulher experiente, enquanto isso se refrescava, mastigando um pedacinho de capim e alheio a tudo ao seu redor.
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- ô menino, mandaram te entregar esse lanche. - Lucrécia falou entregando a bandeja com pão, bolo, café com leite e algumas frutas da estação, quando já ia saindo foi chamada pelo rapaz.
- Vem aqui, senta um pouco comigo, não gosto de comer sozinho.
- Nem perca seu tempo, saiba que não me dou ao desfrute.
- Não se preocupe, Cora me proibiu de deitar com outra em sua propriedade.
- Fale baixo, quer que alguém escute e vá contar para o Dr. Afonso?.
- Ele nem sai do quarto, se bobear não sabe mais nem quem é ele, me disseram que em menos de um mês deixou de andar, mal fala, pouco come...tem delírios.
- Verdade, é de partir o coração, quem viu aquele homem na ativa nem acredita, dizem a boca pequena que foi por conta de um ex amor.
- E você ama alguém?.
- Sim, mas, é um segredo meu.
- E ele sabe?.
- Ele?, sabe nada, nem sabe que existo, e você, ama a Dona Cora?.
- Não, mas, gosto do sex* e do que ela me presenteia, no fundo tenho pena dela.
- Mas, ela explora sexualmente jovens como você.
- E por acaso você sabe o que ela passou até ficar assim?.
- Não.
- Então, quem somos nós para julgá-la?, vamos ter piedade.
- Tem razão, agora preciso ir, escutei Bá me chamando.
- Ok, até mais. - Lucrécia saiu, no entanto as palavras de Dorian continuavam reverberando em sua mente.
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Ilha Verde, 02 de dezembro de 2020
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O velho farol iluminava discretamente a sala enquanto Amélia e Alice assistiam o reflexo das luzes batendo nas águas do mar de Ilha Verde, o cheiro da maresia entrava pelas frestas invadindo as narinas das gêmeas que tremiam devido ao vento frio que se apoderava do ambiente, as duas se abraçavam, e o corpo foi acalmando enquanto um cheiro suave de lavanda tomava conta da tudo, trazendo a calma junto com o barulho dos seres noturnos que em suave sinfonia avisavam que por ali ainda habitavam.
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- Irmã, estava pensando, se vamos fazer algo escondido de nossas mães, é porque não é certo, esperamos elas dormirem para poder sair, acho que não é uma boa a gente ir no quartinho lá de trás.
- Mas que bobagem, você está é com medo, não chamei nossas mães porque elas não escutam o choro de criança que escutamos desde que nos mudamos para casa da Mamãe Kayra, não quer descobrir o que tem lá?.
- Sim, acho que tem um espírito por lá, mas, não sabemos se é do bem, quer mesmo arriscar?.
- Claro que quero, está tudo ai?.
- Sim, lanterna, chocolate...
- Pra que chocolate, Alice?.
- Sei lá, vai que o espírito gosta.
- Tem toda razão, quem não gosta de chocolate?, vamos logo antes que desista.
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A luz da lanterna iluminava o grande jardim, o vento soprava mais forte fora da casa, de longe um choro sentido vinha do quartinho de ferramentas, as gêmeas se aproximaram devagar, abriram a porta com cuidado, ascendendo a luz, coçaram os olhos em conjunto até que viram a sombra de uma menina que soluçava abraçada as pernas, seus cabelos negros caiam nas costas em uma trança longa e desalinhada, e ao se virar os enormes olhos azuis estavam rasos de lágrimas.
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- Vocês podem me ver?, faz tempo que ninguém me enxerga.
- Sim, como é seu nome?.
- Lindalva, mas, podem me chamar de Lili, que é como me chamavam antes de morrer.
- Então Lili é você quem nos chama todas as noites?.
- Não, eu apenas choro, estou aqui presa, sem conseguir sair, nem pertenço aos de lá, e nem aos de cá, entendem?. - Ao falar isso a menina chorou novamente até se acalmar para continuar a fala. - Mas, já que estão aqui podiam me ajudar.
- Como?.
- Podiam descobrir como faço para sair daqui, estou precisando, faz tanto tempo que estou por aqui que estou esquecendo da minha história.
- Não sabemos como fazer isso, mas, vamos descobrir, pode deixar.
- Obrigada, vocês querem ser minhas amigas?.
- Sim, claro, podemos sim.
- Prometam que vão voltar todas as noites, assim não me sinto tão só.
- Pode deixar Lili, nós vamos voltar, agora não quer contar o que lembra da sua história?, assim se esquecer nós podemos te lembrar.
- Eu não lembro de muito, morava com meu pai aqui mesmo em Ilha Verde, na nossa casa não tinha uma foto da mamãe, e não lembrava dela, só dos cheiros e de uma música, um dia acordei e vi que não pertencia mais a esse mundo, queriam me levar, mas, fui ficando, esperando que meu pai viesse me buscar, talvez quem sabe a minha mãe, não sei, não me lembro, é tudo muito confuso aqui dentro - Falou apontando onde seria o coração.
- Nós vamos te ajudar, só não chore mais menininha...
- Obrigada.
- Agora precisamos ir, está tarde e amanhã temos aula, sabe como é?.
- Eu entendo, agora tenho um pedido.
- Claro, quer chocolate?.
- Não obrigada, eu não como. Hahahahah, eu queria pedir que ficasse entre nós a minha presença nesse quarto, não contem para ninguém.
- Mas minha mãe é médium, ela pode te ajudar.
- Não, isso é segredo nosso, por favor.
- Claro, se prefere assim, amanhã continuamos, a noite voltamos.
- Tudo bem, até amanhã à noite.
Fim do capítulo
Espero que tenham gostado.
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HelOliveira
Em: 28/05/2022
Amiga feliz com sua volta....
Lucrécia continua aquela figura...
Lili querendo quer sair e pede segredo da sua existência....será que tem coisa errada aí?
Já voltou com mistérios adorei....
Bjos
Resposta do autor:
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Ah, obrigada Helena, eu sinto que Lucrécia vai ajudar e muito as meninas em algum momento, ela tem informações valiosas rsrsrs.
Lili confesso, ainda não sei a que veio....rsrsrs.
bjsss
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Rosa Maria
Em: 27/05/2022
Sabrina...
Que bom que voltou, como prometeu antes de um ano e foi quase, confesso que a muito não vinha por aqui e quando recebi a notificação corri aqui, bom que esteja organizando as coisas e esteja bem, sobre o capítulo nem preciso comentar maravilhoso como sempre...
Feliz com sua volta
Beijão e se cuida
Resposta do autor:
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Bom dia Rosinha,
Fico feliz de saber que leu e gostou do capítulo, escrevi de forma despretensiosa, aliás, tive que reler todo o conto para dar continuidade a história, de qualquer forma acho que deu certo.
Beijos
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 26/05/2022
Olá! Tudo bem?
Como você, Autora, usualmente responde aos nossos comentários, aqui estou eu...
Sobre o texto não há o que dizer: divino, como sempre. A história está muito boa — suas histórias são — e este título, ''O Tempo Corre...'', dá o que pensar, não é mesmo?
Freud explica?
Fico imensamente feliz pela recuperação de sua mãe, principalmente quando ela — para nós — é muito mais que ''mãe''.
É isso!
Post Scriptum:
''O amor faz o ser humano ser capaz de superar os seus limites.
Nós somos rápidos para exigir e lentos para compreender. ''
Augusto Jorge Cury,
Psiquiatra.
Resposta do autor:
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Bom dia,
Nossa, quanto tempo, fiquei feliz de receber seu comentário depois de tanto tempo, e é verdade, o tempo correu, tanta coisa aconteceu nesse período, mas, consegui cumprir, voltei antes de 1 ano, por mero acaso da vida, acho eu rsrsrs ou não, visto que não acredito em acasos.
Obrigada por curtir, foi difícil retornar, mas, talvez seja igual andar de bicicleta, não sem alguns tombos.
Minha mãe está ótima, considerada curada, mas, as revisões são necessárias, agora só em agosto.
beijo
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Gabriella Herculano
Em: 26/05/2022
Bri,
A Thais não está conseguindo entrar com seu e-mail, mas, ela já leu pelo meu note e adorou.
Até amanhã minha amiga. bjs
Resposta do autor:
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Tudo bem, o importante é que leu e gostou rsrsrs.
bjs
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florakferraro
Em: 26/05/2022
Oi Sabrina,
Que surpresa ter você de volta, realmente quase um ano, pensei que essa história fosse fica sem final, mas, fico feliz que sua mãe esteja bem e que tenha resolvido voltar para terminar, continue Sá, você escreve bem, adoro seus textos e vou continuar vindo, tinha até esquecido desse site, mas, o aviso no e-mail me fez retornar.
abração, e me desculpe tantas besteiras que fiz.
Resposta do autor:
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Flora, está tudo esquecido, bem vinda de volta.
bjs
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Gabriella Herculano
Em: 26/05/2022
Amiga do céuuuuuuuuuuuuuuuuuu, você voltou e nem me contou que estava escrevendo novamente, que surpresa amiga, estou muito animada. Cara não abandona a Kayra, quero saber como vai terminar a história dela e das meninas.
E que bom que a tia está bem, eu nunca duvidei disso, ela merece.
Te amo mana, beijão
Resposta do autor:
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Escrever é terapia amiga, vamos ver como essa história acaba, fico feliz que tenha gostado do capítulo.
Também te amo Gaby, bjsss
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Lara Lefevre
Em: 26/05/2022
Sá, nem acreditei quando abri meu e-mail e veio o aviso de atualização. Estou muito feliz com a cura da sua mamãe, ela merece, uma mulher maravilhosa.
Quanto ao capítulo eu amei, e quem será essa menininha?, achei sinistra a participação dela, ui kkkk
Já adianto que estou torcendo para que continue nos brindar com seus textos, estamos juntas em tudo. Correr para avisar as meninas.
bjssss
Resposta do autor:
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Obrigada Lalinha, pelo carinho e palavras carinhosas. Em relação a menina, mistérioooo...rsrsrs
beijos
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