Fique por Leticia Petra
Capitulo 29 - Uma página virada.
1 ano depois.
Hoje é o último dia de julgamento do meu pai.
E nesse ano aconteceu muitas coisas e em sua maioria, coisas boas. Zoe e eu nos casamos no sitio, foi uma festa linda. Todos que amamos estavam lá, celebrando conosco. A sentença da adoção saiu e os meus filhos estão morando em definitivo com a gente no apartamento.
Quando terminasse a faculdade, iriamos nos mudar para o sitio.
João pediu a Iris em casamento, os dois estavam morando juntos, a minha irmã também estava noiva, Patrícia e ela estavam com planos de casarem no fim do ano. A minha mãe continuava namorando o Emanuel, que no ultimo ano, vem sendo um ótimo presente da vida. Ele é gentil, está sempre cuidando dela e isso ganhou a Marina e eu por completo. Eric e Roberta decidiram se dar uma nova chance, os dois estavam felizes, deixando o passado para trás. Ben e Mina começaram a namorar e posso dizer, eles faziam um casal muito fofo.
Yuna e eu nos víamos quase sempre, a amizade que tínhamos no inicio de tudo, voltou com ainda mais força. Ela estava muito dedicada ao trabalho, assim como a minha Zoe, Yu almejava chegar bem longe.
— Amor, chegamos. – Zoe pôs a mão sobre a minha.
Havia muitos repórteres e curiosos na frente do tribunal, se aglomerando para ver quem era o mais fofoqueiro.
— Não esqueça, vou estar com você o tempo todo. – Ela sorriu, tocando o meu rosto.
Os fios negros estavam enormes.
— Não vou esquecer, meu amor. – Beijei a sua mão.
E ela sempre estava, nos tornamos inseparáveis desde que aceitamos o nosso amor.
Deixamos o carro, tentando evitar o assédio da cambada de fofoqueiros e fomos auxiliados pela segurança. A minha família se encontrava ali, os meus meninos ficaram na casa do Eric. Benjamin, Mina e seu Antônio cuidavam deles.
— Vamos entrar. – Marina chamou.
Nos acomodamos na mesma fileira e do outro lado, a minha vó conversava com a advogada de defesa. O seu olhar caiu sobre nós e nele não havia nenhum pouco de ternura. Meu pai estava sentado a frente, algemado e usava o uniforme de presidiário.
Ele se mantinha imóvel, parecia encarar as próprias mãos. Não senti nenhuma emoção ao vê-lo.
— Não liga pra ela. – Minha esposa pediu. — Você nunca vai precisar dela.
— Eu tenho você e a nossa família. – Minha esposa sorriu.
Minha esposa...
— Todos de pé para receber a vossa excelência, Amara Cabral Pessoa. – Ficamos de pé e a juíza entrou, sentando imediatamente.
— Bom dia a todos. – Voltamos a sentar. — Vamos dar início ao último dia de julgamento do réu Fábio Almeida Bittencourt. Fui informada de última hora que há uma testemunha nova incluída. Rute de Almeida Bittencourt, por gentileza, venha até aqui.
A minha avó ficou de pé.
Ela sentou de frente para todos, o caso foi levado a júri popular e desde o princípio, a defesa de Fábio vem alegando insanidade mental. A todo custo, queriam fazer o júri acreditar que ele estava doente e que o hospital psiquiátrico seria o melhor.
Mas o melhor seria ele apodrecer na cadeia.
— Senhorita Rute, nos conte com foi a infância do seu filho. – A advogada perguntou.
— O Fábio sempre sofreu muita pressão por parte do pai, o meu marido era um homem muito cruel, ofendia o meu filho sempre que queria e até mesmo o agredia. – Franzi o cenho, a discrição em nada lembrava o homem que conheci. — Só tivemos um pouco de paz, depois que ele faleceu...
Houve um pequeno burburinho.
— Silencio! Continue...
— Eu percebi que o meu filho havia mudado muito, mas toda a sua mudança foi causada por meu marido. O meu filho é um bom menino, só fez algumas escolhas erradas. – A minha avó chorava. — Só está confuso, traumatizado...
Ela continuou a falar e por fim, chegou a vez do advogado de acusação.
— Senhorita Rute, seu filho disse em seu depoimento que vocês estavam falidos e por isso iniciou os delitos, pois havia muitas dividas deixadas por seu marido...
— Sim, ele nos deixou quase na ruina total...
— A senhora tem noção que ele está sendo acusado de envolvimento com o trafico de drogas, roubo ao grupo Cavalcante, assassinatos e tentativa de sequestro de duas mulheres inocentes? Nada justifica as atrocidades cometidas por ele.
— A culpa não foi dele... ele só queria fazer algo por mim. – Minha avó se alterou.
Me remexi, apertei a mão de Zoe.
— A senhora deveria também ser presa por se cumplice. – O advogado foi mais duro.
— Protesto, meritíssima. O advogado está ultrapassando os limites...
— Protesto aceito... advogado, se contenha.
— Eu já terminei por aqui, meritíssima. – Ele sentou.
Cássio, Ricardo e até mesmo o antigo porteiro do condomínio em que minha mãe morou, testemunharam. Não importava o que a advogada de defesa tentasse, ele não sairia empunhe dessa.
— O tribunal entrará em recesso por uma hora, até que o júri tenha uma decisão. – O martelo foi batido.
Deixamos a sala, ficando no corredor.
— Tá feliz? Hein? Sua bastarda, tá feliz? – Minha avó acertou o meu rosto com força.
— Tá ficando maluca, Rute? – Zoe se colocou a minha frente, empurrando a minha avó, que foi amparada pela advogada. — Nunca mais toque essa mão imunda na minha esposa.
— Esposa? Que imundice é essa? – O meu rosto ardia.
— Se afasta da Oli, vovó, antes que eu perca o ultimo resquício de respeito que tenho pela senhora. – Marina também me defendeu.
— É tudo culpa dessa garota, Marina. Se ela tivesse morrido junto com a mãe, nada disso estava acontecendo. – O meu sangue ferveu.
Um alvoroço se iniciou.
— Lave a boca pra falar da minha mãe, Rute. – Não me escondi. — Ela foi uma mulher integra, um ser humano bom e o único erro foi ter conhecido o bandido do seu filho. Vocês dois são dois monstros, a senhora é um ser amargo. Cansei de ser odiada por algo que não é culpa minha! Eu quero que vá para o inferno com suas acusações.
— Saia daqui, agora! – Minha mãe falou. — Fica longe da minha filha.
A advogada afastou a minha avó.
— Tá bem? – Zoe segurou o meu rosto com ambas as mãos, inspecionando o meu rosto. — Amor?
— Tá tudo bem, amor. Não vou dar a ela esse poder a ela. – Minha esposa me abraçou.
— Isso vai acabar hoje, depois disso, você nunca mais precisará ver essa mulher.
E dessa forma seria.
Eric e Duda se aproximaram, me entregando um copo com água. Permanecemos ali, até chegou a hora de voltar. Nos acomodamos outra vez, a juíza entrou e ficou de pé.
— O júri chegou a um consenso? – Busquei a mão de Zoe.
— Sim, meritíssima... – Naquele momento, Fábio levantou a cabeça e olhou diretamente para mim.
— Sobre a acusação de estelionato?
— O júri considera o réu culpado...
— Sobre a acusação de homicídio doloso...
— O júri considera o réu inocente, por provas insuficientes...
— Sobre a acusação de associação ao tráfico?
Não baixei a cabeça, me mantive olhando fixamente para ele.
— Culpado!
— Sequestro de Zoe Alexandra Cavalcante e Olivia Giovana Cavalcante Bittencourt?
— Culpado!
— Sendo assim, declaro o réu culpado. – A juíza demorou alguns poucos minutos. — Sentencio o réu a cinco anos pelo crime de estelionato, cinco anos por associação ao trafico e seis anos pelo crime de sequestro. Somando assim, dezesseis anos de prisão, em regime fechado. – Respirei aliviada.
— Não! Meu filho... não, não...
A minha avó desmaiou, sendo amparada pela advogada e outras pessoas. Fábio nem ao menos se moveu, parecia totalmente alheio a tudo. Finalmente, a justiça foi feita. Deixamos o tribunal com certa dificuldade. Fui o caminho inteiro no mais absoluto silencio. Zoe me deixou em casa, Marina me faria companhia, enquanto ela foi buscar as crianças.
— Esse fim de semana, eu gostaria de levar as crianças no parque. – Ela não falou sobre o julgamento e eu agradeci.
Era algo difícil para ela também.
— Eles vão adorar. – Sentei no sofá. — O Miguel queria saber se você vai ao jogo da escolinha.
— É claro que eu vou... aliás, até mandei fazer algumas camisas de torcida. Mamãe também quis uma. – Ela ficou empolgada, me fazendo sorrir.
Eles foram tão bem recebidos, ainda me recordava do dia em que recebi a notícia que podíamos leva-los para casa. Ana e Miguel se adaptaram rapidamente, o carisma dos dois era inigualável. Toda a minha família morria de amores por eles. Foi uma briga danada para decidirem quem seriam os padrinhos.
Por fim, os meus filhos decidiram por Iris, João, Caio e Marina.
— Como ela tá? – Encarei a minha irmã.
Todas as vezes que nos encontrávamos, ela perguntava sobre a Duda.
— Ela tem ido bem na faculdade, tem planos de continuar na Cavalcante. – E eu sempre dizia tudo o que podia, evitando falar de Patrícia.
Marina continuava amando a Maria, porém jamais tentou interferir em nada.
— Não a vi nos últimos meses... fico feliz que esteja levando a faculdade a sério. – O sorriso foi genuíno.
— Você vai ter que viajar outra vez? – Essa havia virado a rotina de Marina.
Estava sempre viajando a negócios. Passava até meses fora.
— Na verdade, resolvi parar por um tempo. Quero passar mais tempo com vocês, com os meus sobrinhos.
— Uma ótima notícia... tenho sentido a tua falta.
Ouvimos algumas vozes vindas da porta, até que os dois furacões entraram por ela.
— Tia Marina...
Ana e Miguel se jogaram sobre a minha irmã.
— Que saudade! Tia, vem ver o que fiz pra você... – Miguel saiu puxando Marina e Ana foi logo atrás.
— Oi... – Fui até a Zoe, a abraçando pela cintura.
— Oi, esposa... – Ela beijou rapidamente os meus lábios. — Tudo bem?
Aspirei o ar com calma, sentindo o seu perfume.
— E tem como não tá? – Sorri, presa nos olhos castanhos.
— Quer conversar? – Zoe tocou o meu rosto com o dorso.
— Quero ficar com você e os nossos meninos. É tudo o que eu quero, minha vida...
— Sua vida é? – Ela sorriu, me fazendo derreter. — Parece perfeito pra mim.
Marina almoçou conosco e depois voltou para a empresa. Depois de limparmos a cozinha, fomos para a sala, assistir a uma animação escolhida por Miguel. Passamos a tarde toda ali e quando a noite chegou, nos arrumamos para irmos a casa do meu tio.
Os meninos ficavam eufóricos quando iam até lá.
— Mãe, a Lua dormiu. – Olhei para trás e a folgada dormia nos braços de Miguel.
— Quando chegar na casa do seu avô, ela vai ficar doidinha. – A pequena cachorrinha adorava o jardim do meu tio.
— Dessa vez quem vai limpar caquinha será o Miguel. – Ana falou.
— Oh, meu Deus.
O pequeno exclamou, nos fazendo rir.
Chegamos à casa do meu tio, Ana e Miguel foram para a sala junto com a minha esposa e o meu sogro. Caio e eu subimos, ele queria conversar sobre o julgamento, pois percebeu que eu estava aérea.
— Tem certeza que tá tudo bem? Tô te sentindo um pouco triste. – Estávamos jogados no carpete.
Certas coisas nunca mudavam.
— Eu não sinto nada além de alivio, é como se aquelas duas pessoas nunca tivessem feito parte da minha vida. Às vezes é um pouco assustador pensar nisso. Pensar que consegui passar por cima de algo tão horrendo, a ponto de não sentir nada...
— Acho que é um mecanismo de defesa, Oli. Não se sinta culpada por não estar sofrendo, tudo o que o seu pai fez, é muito natural que tenha apagado do seu coração qualquer tipo de emoção sobre ele.
Pensei por um momento, as suas palavras faziam sentido.
— Você tem toda razão, Caio. – Me virei de lado para olha-lo. — Vou parar de me culpar por isso, essa página foi virada.
— É assim que se fala, Oli... foca no que é importante. Olha aonde chegamos, agro girl. – Gargalhei do apelido.
— Você é mesmo um tremendo idiota. – Deitei sobre seu braço. — Lembra do dia da festa, quando a Zoe voltou?
— Claro que lembro, aquele dia foi memorável... – Rimos. — Deixamos todos com a maior cara de bunda.
Ri alto, sentindo os meus olhos lacrimejarem.
Ficamos muito tempo ali, relembrando o passado e rindo feito dois idiotas. Me senti mais leve, o Caio tinha esse poder. Ele estava mais do que certo, era hora de virar totalmente aquela pagina e seguir adiante.
Eu merecia.
Ana e Miguel brincavam na sala, o meu pai resolveu se juntar a eles. Foi amor à primeira vista. No mesmo dia em que Anelise nos deu a notícia, os levamos para casa e os apresentamos a família.
Me arrepiava só em lembrar.
— Vô Bernardo, o senhor sabia que o meu herói favorito é o super choque? Ele tem o cabelo igual o meu. – Miguel apontou para a própria camisa.
— Eu também gosto de heróis, o meu preferido é o Thor...
— Uau! Ele é fortão...
Oli e Caio chegavam à sala.
— A gente já fofocou bastante. – Caio sorriu. — Vamos jantar? O seu pai mandou fazer um bolo de chocolate para os meus afilhados.
— Bolo de chocolate? Maninha, a gente vai comer bolo de chocolate. – Miguel largou o carrinho.
— Sossega, Miguel. – Ana ralhou com ele.
Ela era muito madura para uma menina da idade dela.
Jantamos, o meu pai estava todo atencioso com a Oli. Desde que voltou da conversa com Caio, ela parecia mais aliviada e isso me deixava aliviada também. Não suportava ver a minha esposa triste, isso me arrebentava por dentro.
— Oli e eu estávamos recordando da sua volta a Belém, Zoe. – Caio falou e recebeu um olhar de advertência de Oli.
— Aquele dia, vocês dois chocaram geral, mas não me enganaram com aquele beijo fake... – Levei uma garfada a boca.
— Como não? Eu fui um ótimo ator. – Caio se indignou.
— Você tinha muita pinta, Caio... – Ele abriu a boca.
O meu pai e a Oli passaram a rir.
— Oli, me defende...
— Amor, ele se saiu bem naquele dia. – Olivia me olhou. — Foi um tremendo hetero top.
— A mim, vocês conseguiram enganar. – O meu pai falou.
— É porque a Zoe prestou muita atenção em nós, estava vidrada na beleza desta pessoa aqui... – Oli se gabou, me fazendo sorrir.
— É não é mentira, você está extremamente linda e quando vi a tatuagem, enlouqueci. – Ela sorriu ainda mais largo.
A conversa continuou leve e entre risos e vinhos, seguimos a noite.
Alguns dias depois.
— O RH tá tão movimentado... já viu quantos candidatos foram contratados? – João entrou na minha sala.
— Sim, e acredito que teremos que encontrar novos assistentes, já que os nossos foram promovidos. – Fazia alguns meses que Caio e Duda havia mudado de cargo.
— O chefe do RH disse que a Duda tá se saindo muito bem e que ela será uma ótima substituta pra ele. – João nos serviu café. — Zoe, você acha que a Duda deixou de amar mesmo a Marina?
Pensei por um momento.
— Sinceramente, não sei responder. Foi uma pena o que aconteceu entre elas, mas a Duda ama a Patrícia, disso não tenha dúvidas. – Fechei o notebook. — Sua mãe me ligou outra vez. João, quando pretende dar aos seus pais uma nova chance?
Ouvimos duas batidas na porta.
— Com licença, senhor presidente, o seu irmão o deseja ver. Parece ser algo urgente. – A nova recepcionista, um pouco sem jeito, falou.
— Peça pra ele entrar, Elena. – A moça fechou a porta.
Poucos segundos depois, Carlos entrou.
— João, precisamos ir pro hospital agora. O papai acaba de ter um infarto...
— Que merd* tá falando? – João ficou de pé. — Qual hospital? Vamos...
— Eu vou com vocês... – Peguei o meu celular.
Deixamos a empresa às pressas, o hospital particular não era longe, fomos no carro de Carlos, que estava visivelmente nervoso. Passamos pela recepção direto para o quarto.
— Pai...
João se aproximou do leito onde o meu ex-sogro estava sendo monitorado por vários aparelhos.
— Filho, eu senti tanto medo. – João abraçou a mãe.
— Como... quando aconteceu? – Me mantive longe, vendo a agonia dos três.
— Foi há uma hora, ainda tentei te ligar, mas apenas caia na caixa postal. – Isabela falava, nervosa e tremendo.
— Me desculpa, mãe... me desculpa mesmo. – Me mantive calada.
Algum tempo passou, até que a Iris chegou. Jonathan já havia acordado.
— Pai, essa é a minha noiva... – Jonathan sorriu.
— Qual o seu nome, querida. – Ele estendeu a mão, para que ela segurasse.
— Me chamo Iris, senhor Jonathan.
— Eu lembro de você, é a moça que esteve no meu aniversário. Bem-vinda a família, querida.
— Me dê um abraço, querida. – Isabela puxou a Iris, que ficou acanhada.
— Filho, por favor, nos perdoe... – Jonathan segurou a mão do filho. — Eu quero muito me redimir de tudo. João, eu tenho muito orgulho de você, filho. Você é um ótimo menino, me desculpe se te fiz pensar o contrário.
João abraçou o pai.
— É claro que perdoou, papai... – Ele chorava como se fosse uma criança. — Eu amo o senhor...
Aquele momento me deixou com os olhos marejados.
João me olhou, sorrindo.
Chegamos à arena e o lugar estava lotado pelos pais das outras crianças. Oli e Ana ficaram na arquibancada, e eu fui para o vestiário com o Miguel, para ajudar com o uniforme. O meu pequeno jogador estava eufórico.
— Mãe, que hora os titios e os vovôs vão chegar? – Colocava o pequeno meião.
— Daqui a pouco, filho. Não se preocupa, eles vão vir ver você. – E eu não poderia estar mais orgulhosa.
— Todos vão estar de uniforme igual você, a mamãe e a maninha? – O fiz vestir o uniforme azul.
— Sim, sua tia Marina mandou fazer pra todo mundo. – Segurei o seu rosto e depositei um beijo em sua testa. — Você vai se sair muito bem.
Ajeitei a faixa azul em sua testa, presente de Eric.
— Eu tô muito feliz, mamãe... – Me derretia todas as vezes que eles me chamavam de mamãe.
Era uma sensação indescritível.
— A mamãe também tá muito feliz. Escute, vamos estar torcendo por você na arquibancada. Qual vai ser mesmo a comemoração quando você fizer gol?
Ele se afastou um pouco, mostrando a breve coreografia.
— É isso aí, filho... – Ele me abraçou.
— Vou fazer gol pra senhora e para os meus fãs. – Não pude deixar de sorrir.
Deixei o vestiário, pois o técnico havia se reunido com os seus jogadores.
— Você tá com uma cara de boba. – Oli fez um carinho breve me meu rosto.
— Amor? – A abracei. — Obrigada.
Olivia se afastou brevemente, me encarando.
— Eu te amo... – Ela falou.
— Chegamos! – Ouvi a voz de Ben.
Estavam todos ali, uniformizados e com os rostos pintados. Eric trouxe uma buzina e a minha família fazia uma grande bagunça, despertando o interesse dos outros familiares. Quando o time de Miguel entrou em campo, fomos a loucura. A primeira coisa que ele fez foi olhar em nossa direção.
— Ele tá tão fofo. – Olivia gesticulava. — Arrasa, meu filho!
— É, faz muitos gols, maninho! – Ana gritou.
Por um segundo, me permitir admirar a cena. Era a minha família ali, a mulher da minha vida, os meus filhos. Não contive a emoção.
Quando o jogo começou, a torcida ficou ainda mais barulhenta. Miguel, apesar do tamanho, era muito habilidoso. Ele recebeu uma bola na área do adversário e saiu em disparado. Passou pelo zagueiro, o deixando no chão. Quando a bola tocou o fundo da rede, a torcida foi a loucura. Ele veio próximo a grande e fez uma dancinha, jogou beijos para nós e correu para abraçar os amiguinhos.
O meu filho...
Acabava de deixar o quarto de Ana, ela estava cansada do dia agitado que tivemos e me pediu para ajuda-la com alguns deveres. A pequena dormiu durante a tarefa, então apenas a coloquei na cama, deixando o quarto.
Passei no de Miguel e ele também já dormia.
— Amor? – Chamei por Olivia.
— Aqui na sala, meu amor. – Fui até ela. — Senta aqui.
— Achei que já estava dormindo. – Sentei ao seu lado, a trazendo para mim.
— Estava te esperando pra podermos assistir um pouco de televisão. – Sobre a mesa de centro, havia alguns livros e cadernos.
— Tem certeza que não quer ir dormir? – Ela havia deixado o trabalho no restaurante.
Oli vinha se dedicando muito a nós e aos estudos.
— Quero ficar aqui, do seu ladinho. – A apertei.
— O desejo da minha esposa é uma ordem. – Beijei o topo da sua cabeça.
Esses momentos eram tão bons.
Acordei muito cedo, como de costume, deixei as crianças na escola e a minha esposa na faculdade, que ficava um pouco mais distante do centro. Resolvi fazer algo que há tempos não fazia: fui visitar a minha mãe.
Comprei umas flores no caminho.
— Oi, mamãe... vim te atualizar das coisas. – Deixei as flores no pequeno vaso. — A família cresceu bastante. Lembra de como eu era sozinha? Agora tenho até amigos. A senhora tem netos incríveis e uma nora maravilhosa. Queria muito que estivesse aqui, você estaria orgulhosa do papai e de mim... ah, eu...
Fiquei mais de meia hora ali, deixando o cemitério quando o relógio maraca 9:00hrs, chegando à empresa minutos depois. Era quase meio dia, quando fui informada que a Iris estava subindo para me ver.
— Faz tanto tempo que não nos sentamos pra conversar. – Iris tirou os óculos.
— Você está a uma semana sem ir a minha casa, os meninos vivem perguntando por você. – Deixei a minha cadeira e sentei no sofá ao seu lado.
— Desculpe, mas essa semana tive uma enxurrada de inspiração e como a próxima exibição tá próxima, resolvi aproveitar. A Violeta também terá uma exposição...
— Sendo assim está perdoada. Estou louca pra ver suas novas obras. – Iris sorriu.
— E como anda a vida de mulher de família? – Ela sempre me fazia aquela pergunta.
— Olivia está brava comigo... – Passei a mão sobre a cabeça. — Ela anda incomodada com uma vizinha nova.
— Ela acha mesmo que você teria olhos pra outra mulher? Preciso dar um puxão de orelha na sua esposa, Zoe.
— Se você conseguir, seria ótimo. Soube pelo João que você anda se dando muito bem com os seus sogros.
— Eles me tratam como uma filha, não posso reclamar de nada. Minha sogra me manda mensagem quase todos os dias perguntando como eu estou. – Iris tinha um sorriso bobo.
— O João tá muito feliz com isso tudo, até mesmo comentou sobre a mudança radical do pai e do irmão. Esse tempo que ele os manteve distante serviu e muito.
— Ele tá mesmo feliz com o reconhecimento do pai. Isso me deixa feliz, Zoe, o meu amor merece. É um homem tão bom... – Iris fez uma expressão estranha.
— O que foi?
— Nada... – Ela levou a mão a cabeça. — Faz uns dias que estou enjoada.
Ergui as sobrancelhas.
— Como assim enjoada? – Iris me encarou. — Não me diga que...
— Que o que, Zoe?
— Vamos a farmácia aqui em frente. – Fiquei de pé.
— Não, Zoe, João e eu nos cuidamos. – Peguei a minha bolsa.
— Vamos fazer o teste mesmo assim, daí descartamos essa possibilidade.
Iris continuou a me encarar.
— Vem logo...
Atravessamos a rua e entramos na farmácia. Comprei três testes de gravides e dei para ela fazer. Uma funcionária a levou até o banheiro. Trocava mensagens com a minha esposa, enquanto esperava por Iris.
Meia hora depois, ela voltou e a sua aparecia estava assustada.
— O que deu? – Iris esfregou as mãos no rosto. Olhos verdes fixaram em um ponto qualquer.
— Positivo... os três deram positivo. – Levei a mão a boca, abafando o riso.
— Vamos voltar, você precisa de um pouco de água. – Iris foi comigo, no automático.
Fazia 20 minutos que ela estava sentada, olhando para o nada. Duas batidas na porta e João entrou.
— Amor... por que não me avisou que estava aqui? – Ela pareceu despertar. — Iris, tá tudo bem?
Ele se agachou de frente para ela.
— Eu... eu tenho uma coisa pra te contar?
— Vou esperar lá fora. – Apontei para a porta.
Sai do meu escritório, sentando na recepção. Voltei a trocar mensagens com Olivia, tentando faze-la sair do modo monossílabo.
— Eu vou ser pai? – Ouvi o grito de dentro do escritório.
Alias, todos que estava ali ouviram. De repente a porta se abriu.
— Zoe, eu vou ser pai! Ei, pessoal? Eu vou ser pai!
— João, por favor! – Iris colocou as mãos no rosto, mas ainda pude ver o sorriso em seu rosto.
Era bom vê-los assim.
— Parabéns, papais...
— Eu vou ser pai!
Gargalhei, não me contendo.
Quando cheguei ao edifício que morávamos, já se passava das 19:00hrs. Entrei no hall com um buque, as crianças estavam na casa da tia Betina, então seria uma boa oportunidade de conversar com a minha esposa.
Quando sai do elevador, a vizinha nova deixava o seu apartamento.
— Olá, vizinha. Boa noite... – Ergui a sobrancelha.
— Boa noite... – Tentei ser educada.
— Vejo que a sua esposa é uma mulher de muita sorte. – Ela apontou para as flores. — Em todos os quesitos, é claro.
Ela estava mesmo dando em cima de mim?
— Com toda a certeza, de muita sorte... – Nesse momento, o elevador se abriu e Olivia saiu dele.
Ela olhou da vizinha para mim.
“Isso não vai prestar.”
— Olá, vizinha... estava aqui dizendo pra sua esposa o quanto você é sortuda. Aliás, ambas são... – Pude ver o rosto de Olivia se transformar. — Se quiserem apimentar um pouco as coisas, estou aqui do lado.
“Droga.”
Foi a gota d’água.
— Sabe o que a senhorita faz com essa sua proposta? Enfia naquele lugar. Escute bem, minha querida, se eu te ver se oferecendo pra minha esposa outra vez, eu juro que arranco cada fio de cabelo oxigenado dessa sua cabeça. Terei todo o prazer do mundo em descer o nível.
A mulher pareceu ficar com medo. Eu apenas me mantive em alerta caso saísse do controle.
— Não precisa responder nada, só saia daqui imediatamente, ou não respondo por mim. – A vizinha olhou assustada de Oli para mim.
Ela fez a escolha certa e entrou no elevador.
— Amor...
— Vamos entrar, Zoe... – Ela não me deu chance, abriu a porta e entrou furiosa.
Coloquei o buque sobre uma mesinha, fechando a porta.
— Aquela vagabunda! Eu não acredito na ousadia... – Oli respirava de forma irregular. — Por que não a colocou no lugar dela?
Eu achava tão sexy quando ela ficava nervosa daquele jeito.
— Porque você fez isso primeiro e muito melhor do que eu faria. – Me aproximei.
Ela me encarava.
— Zoe...
— O que? – Passei a tirar a minha roupa.
Oli me enlouquecia em um nível surreal.
— Desconta em mim... – Fiquei só de lingerie e vi um brilho perigoso em seus olhos. — Eu sou a tua mulher, Oli. Você é dona de todo o meu amor e desejo, é por você que o meu corpo arde.
Fiquei a centímetros dela e a reação não demorou.
Ela avançou sobre mim, me beijando com voracidade. Passamos a tropeçar nas coisas, deixando as roupas espalhadas pelo corredor, até chegarmos em nosso quarto. Os nossos corpos nus se encaixaram, ela ch*pou o meu lábio inferior com sensualidade.
— Diz que é minha... – Oli me encostou na parede.
Desceu os beijos por meu pescoço, colo, até chegar em meu seio, ch*pando cada um com vontade.
— Uhm... eu sou toda... ah! Toda sua...
Mordi o meu lábio, fechei os meus olhos quando fui invadida com ardor. As estocadas foram aumentando o ritmo, Olivia procurou a minha boca e passou a me beijar, enquanto me fazia sua.
Ela descontou toda a sua raiva e eu adorei, me entreguei ao prazer imensurável que era estar nos braços da minha mulher, minha esposa, minha eterna amante, a mulher da minha vida.
E que se existisse outras vidas, que todas fossem com ela.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 27/05/2022
Vixe! Que vizinha estaga casamento kkk boa Olívia.
[Faça o login para poder comentar]
Lea
Em: 26/05/2022
Enfim o julgamento,a sentença foi pouca,que ele apodreça na prisão,a mãe dele deveria ser presa também,velha insolente.
O tempo passou lindamente para essas duas mães de primeira viagem. Zoe e Olívia abraçaram de coração essa missão de serem mães desses dois anjos. Carinho e amor não vai faltar com essa família em peso mimando-os.
É Marina aceitou o que ela mesma provocou. E que maravilhoso a Duda e a Patrícia irão se casar.
João o mais novo pai do "pedaço",e Íris a mamãe do ano! Lindos!
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]