Fique por Leticia Petra
Capitulo 26 - Perdas e reencontros.
Recebi um novo ataque de cocegas e a minha barriga doía de tanto rir, Zoe se jogou no carpete, rindo também. Sentei em seu abdômen, tentando me vingar das cocegas. Parecíamos duas crianças e eu posso dizer, me sentia muito leve.
— Ok! Eu me rendo... – Ela respirava com dificuldade. — Você ganhou.
Sorri vitoriosa.
— Vocês acordaram. – Sai de cima da Zoe, sentando ao seu lado.
João e Iris estavam com uma cara de culpados, o cabelo desgrenhado dela e o volume nas calças dele o entregavam totalmente.
— João, será que você pode... hum... dá um jeito nisso aí? – Zoe fez um gesto com a mão.
— Oh, meu Deus. – Ele virou, colocando as mãos na região. — Me desculpem...
— Viu, Iris? Eu disse que você sempre teria o João. – A loira ficou extremamente envergonhada.
Zoe e eu nos olhamos, para em seguida cairmos na gargalhada.
— Vocês duas realmente fazem um belo de um casal. – O tom aborrecido de João só nos fez aumentar o ataque de risos.
Ficamos algum tempo “perturbando” a paciência de ambos.
Zoe e João decidiram fazer alguma coisa para comermos, então Iris e eu ficamos na mesa, observando os dois. Eles se davam bem, mexiam um com o outro a todo momento.
— Tenho uma curiosidade sobre vocês. – Ambos olharam para trás.
— Qual seria? – João perguntou.
— Por que não deram certo? Digo, não que eu esteja reclamando, afinal... – Limpei a garganta e a Zoe sorriu. — Vocês entenderam.
— Afinal, agora você tá pegando a minha ex e tá amando? – João colocou a mão na cintura.
O gesto me fez rir.
— É isso. – Confirmei. — Tô pegando mesmo.
— Também quero saber... sabe, vocês se dão tão bem. – Iris preguiçosamente colocou as pernas sobre as minhas pernas.
Zoe e João se olharam.
— João e eu não nos casamos pelos motivos certos. – Zoe limpou a mão no pano de prato. — Fomos bem egoístas...
— Quando conheci a Zoe, eu não estava com boas intenções. Marina nos apresentou, e vi nela uma oportunidade muito egoísta, sabe. – João passou sua mão sobre a nuca. — Ela descobriu, descobriu que a Marina sabia. Você sabe, Oli, elas duas sempre tiveram uma certa rivalidade, sempre disputando pra ver quem era a mais esnobe.
Zoe franziu o cenho.
— Au... – Ela levou a mão ao peito. — Mas não deixa de ser mentira. Não me orgulho de muitas coisas que fiz.
— Estão me dizendo que você casou com ela por interesse? A Zoe descobriu e ainda assim, continuaram?
— Eu tinha um objetivo, achei que ser casada me daria a dianteira e o João também tinha planos parecidos, então por isso não nos divorciamos quando eu descobri as intenções dele. Não nos orgulhamos disso, hoje posso dizer isso com toda a sinceridade. Decidimos ser amigos, nos perdoar...
— Posso dizer que esse milagre aconteceu por sua causa, Olivia. – Ergui as sobrancelhas.
— Eu? O que exatamente eu fiz? – Não estava entendendo.
João sorriu.
— A Zoe se tornou outra pessoa depois que vocês duas começaram a se pegar as escondidas. – Zoe lhe deu um empurrão de leve. — Ok, ok. Depois que vocês começaram a ter sentimentos uma pela outra. Zoe olha pra todo mundo com uma expressão de quem vai matar um a qualquer momento, mas quando você tá por perto, ela fica com essa cara... essa mesmo.
Ele apontou para o rosto de Zoe.
— Não posso dizer que ele tá errado. – Ela deu de ombros e eu fiquei a fita-la. — João jogou na minha cara inúmera vezes que eu não vivia, estava só sobrevivendo e quando percebeu que eu estava apaixonada por você, ficou ainda mais insuportável.
Os dois riram.
— Gente, desse jeito a Oli vai derreter. – Iris pegou uma bandeja e passou a me abanar.
Zoe e eu ficamos nos olhando, por infinitos segundos.
— Resumindo, agora somos bons amigos e espero que isso perdure pra toda vida. – João a abraçou de lado.
Depois do almoço, Zoe e João foram para a empresa. Ela me pediu para ficar até a noite, pois me levaria ao trabalho. Iris pintava na sacada, enquanto eu tentava me concentrar nos estudos.
O meu celular vibrava a cada segundo, pois a Zoe e eu conversávamos por WhatsApp.
— Tá tudo bem aí? – Iris perguntou da varanda.
— Sim, eu só... – Havia uma coisa me perturbando.
Me joguei para trás.
— Só o que? – Olhava para o teto.
— Eu não consigo sentir nada com isso tudo, com o meu pai preso, só sinto alivio e desejo que ele sofra. Não queria estar nutrindo esse sentimento... – O rosto de Iris surgiu em meu campo de visão.
— Acho que é normal, afinal, antes de tudo o que ele fez, vocês dois não tinham uma boa convivência. – Mordi a minha bochecha por dentro. — Tudo bem, Oli... todos nós temos sentimentos ruins dentro do coração. A vida com o meu pai também não é fácil.
Ela deitou ao meu lado.
— Como ele é? – Tombei a cabeça para o lado.
— O senhor ex-governador é um homem idiota, machista, problemático, frio, um descendente de alemão com tudo que tem direito. Violeta e eu passamos a vida na Alemanha, viemos porque queríamos passar um tempo com o Valentin...
— Ele parece ser um cara legal. – Iris sorriu.
— Ele é sim, não é por ser o meu irmão, mas ele é um bom homem. – Mas ainda continua um loiro sem graça.
— Que o seu irmão me perdoe, mas ainda bem que ele e a Zoe terminaram. – Rolei os olhos.
Iris gargalhou.
— Zoe e você realmente são almas gêmeas. – Dei de ombros. — Vem aqui, deixa eu te mostrar uma coisa.
Iris ficou de pé e me ajudou a fazer o mesmo, fomos até a varanda. Olhei para a tela e fiquei maravilhada, sem palavras até. Ela havia pintado um quadro da Zoe e eu, estávamos em um vasto jardim cercadas de flores. Eu estava sobre o seu peito, enquanto nos encarávamos.
Cada mínimo detalhe beirava a perfeição.
— Vocês se olham desse jeito. – Olhei para ela.
— Quando... quando começou? É tão lindo. Eu posso ficar com ele? – Iris sorriu. — Iris, é esplendido.
— Fiz pra vocês, então... vou esperar secar e é todo de vocês. – Fiquei boquiaberta.
Sabia do seu talento, mas não imaginava que era a esse nível.
— Obrigada, Iris. Caramba, você é muito talentosa. – Olhei com atenção. — Sim, é exatamente assim que nos olhamos.
O meu coração palpitou.
— Fiz com carinho. – Olhei para ela.
Iris sorria e me abraçou de lado.
17 de julho.
Nos vestíamos para o evento de caridade, Zoe me pegaria em breve e Duda iria com Patrícia, as duas estavam se vendo com muita frequência e pelo que parecia, a minha irmã estava realmente gostando da minha chefe, mas em contra partida, percebi que Marina andava sofrendo bastante. Ela até tentou disfarçar, mas era nítido para mim.
Voltei a trabalhar, a mídia nos deixou em paz por um momento. Iris e João, mesmo tentando esconder, andavam se pegando as escondidas.
— Você desistiu de ir vê-lo? – Duda terminava de se vestir.
— Zoe me aconselhou a não ir... – Finalizei a maquiagem. — Ela me disse que só iria me machucar com isso.
— Também acho que não é uma boa ideia. – Marina havia me contado sobre sua visita e o quanto acabou mal.
Optei por um vestido branco, de alcinhas finas e que ia até metade das canelas, um salto bege e o cabelo solto.
— Oli, me ajuda aqui... – Duda lutava com o fecho do vestido.
Subi o zíper e o tecido se moldou perfeitamente em seu corpo.
— Você tá linda, Duda. – Ela se olhou no espelho, ficando por vários segundos assim.
— Tem certeza?
— Você tá brincando? Duda, você tá maravilhosa. – E estava.
Os fios presos em um coque despojado, o vestido preto e longo se moldou com perfeição.
— Me sinto um pouco estranha... – Ela riu.
— Tá linda, joga essa insegurança pra lá. – Beijei sua bochecha.
Ouvimos uma buzina.
— Acho que a Patrícia chegou. – Duda parecia tão nervosa.
— Droga, sou tão idiota... olha o meu estado. – Ela riu de si mesma. — Te espero lá, Oli.
— Não mata a sua namorada do coração. Vai...
— Se ela não me matar primeiro... – A vi se equilibrar no salto e com maestria.
— Nasceu pra andar de salto...
— Cala a boca, Oli... pareço um boneco de posto. – Não contive o riso.
Esperei por Zoe, o que não demorou muito. Quando abri a porta, os meus olhos não acreditaram no que viam. Parei por um momento para apreciar a visão maravilhosa que é essa mulher.
Os cabelos curtos estavam penteados para trás, o vestido cor escarlate que ia até abaixo do joelho deixavam o corpo bonito ainda mais belo.
— Eu... nossa. – Foi só o que consegui dizer.
Zoe também me olhava da cabeça aos pés.
— Nossa mesmo... – Vi um fogo nos seus olhos que eu conhecia muitíssimo bem.
E como conhecia, pois provavelmente os meus deveriam estar da mesma forma.
— Você tá linda, meu amor.
Ouvimos a buzina.
— João veio conosco... – Ela tocou o meu braço. — Acho que perdi totalmente a vontade de ir.
— Zoe... – Sua mão apertou a minha cintura.
— Ei? vamos! – E ele buzinou outra vez.
— Que chato... – Dissemos juntas, rindo em seguida.
Ela abriu a porta do carro para mim, deu a volta e logo deu partida.
— Quando pretendem se mudar pro apartamento, Oli? – João me perguntou.
— Ainda vai demorar um pouco, pois ainda não estamos totalmente estabilizados. – Foi o acordo que fiz com os meus irmãos.
— Mas e as suas ações na empresa? Você deve ter uma boa quantia na conta. – Eu havia esquecido por completo desse detalhe.
— Pra ser sincera, já havia esquecido dessas ações. Sei que vai parecer orgulho e talvez seja um pouco, mas não sinto como se fossem minhas. Eu entendo que foram dadas, pois o nome Cavalcante ainda consta na minha certidão, mas ainda assim, não me parece certo...
— Amor, você ainda tem muito tempo pra decidir o que fazer com elas. Se for da sua vontade, transforme o dinheiro e doações. – Olhei para Zoe, que dirigia concentrada.
A minha mulher é sem dúvida uma pessoa incrível.
— Você tem razão, amor... eu quero conhecer o lugar que os meus irmãos foram criados, acho que seria um ótimo lugar pra começar. – Ela me olhou rapidamente e depois sorriu.
— Eu achei a ideia fantástica, meu amor...
Fomos conversado o caminho todo. Quando chegamos ao local do evento, no Hangar Centro de Convenções, notei que havia um número considerável de pessoas.
— Eles vão leiloar o que? – Perguntei quando deixamos o carro.
Zoe pousou sua mão sobra a minha cintura, próximo ao bumbum.
— Alguns objetos de artistas locais e jantares com solteirões. É um evento mais informal. – O lugar estava bonito, uma música clássica era tocada. — Iris doou um quadro também. Uma obra prima. Aliás, aquele ficou perfeito na parede do meu quarto.
Acreditem ou não, jogamos ‘pedra, papel ou tesoura’ para decidir quem ficaria com o quadro dado por Iris.
— Isso porque você me distraiu, Zoe. – Ela gargalhou baixinho.
— Meu trabalho mais bonito, sem dúvida. – A loirinha se gabou. — Só não pensei que seria tão disputado. Ah, recebi algumas encomendas por causa da pintura de vocês.
— Que o mundo conheça teu talento, Iris. – Falei e ela sorriu.
— A nossa mesa fica ali. – João apontou.
Ganhamos algumas plaquinhas com numerações. Olhei ao redor para ver se encontrava alguém conhecido, mas sem sucesso. Nos acomodamos, Zoe segurava a minha mão o tempo todo.
— Minha família tá aqui. – Iris suspirou.
Olhei para uma mesa mais a frente e a família do governador estava toda ali, assim com o ex de Zoe.
— Calma. – João colocou a mão sobre a dela, que estava na mesa. — Não vamos sair do seu lado.
Os dois se olharam.
— Quando eles vão admitir que estão juntos? – Cochichei para a minha namorada.
— Acho que nem eles se deram conta ainda. – Zoe sorriu. — Você tá tão linda.
Ela beijou o meu ombro.
— Dorme em casa hoje, por favor... – Mordi o meu lábio.
Ela poderia me pedir qualquer coisa, que eu faria sem pensar nem por um segundo.
Olivia me encarou, passou a mão sobre o meu rosto e levou a minha mão até sua boca, deixando a marca do seu batom nela. Os últimos dias tem sido os melhores da minha vida. Todo o tempo livre, passamos juntas, nos conhecendo melhor.
A minha felicidade não tinha medidas.
— Você tá uma deusa, meu amor. Uma deusa... – Suas palavras me fizeram sorrir de forma abobalhada. — É claro que durmo... estou com muita vontade de te amar a noite toda.
— Oi, casal... – Olhamos ao mesmo tempo para a pessoa que se aproximou. — Só vim dar boa noite.
Valentin olhava de Olivia para mim.
— Boa noite, Valentin. – Sorri.
— Boa noite. – A voz de Oli saiu gentil.
— E quanto a vocês dois aí? Iris, você precisa vir pra casa mais vezes. Mamãe vive reclamando. – A loira olhou novamente para a mesa.
— E onde ela está?
— Não quis vir, ela e o papai estão em processo de separação. – A expressão de Iris foi de surpresa.
— Como? – Ela ficou de pé.
— Achei que ficaria feliz com a notícia. – Valentin sorriu.
— Pessoal, eu preciso me ausentar por uns minutos. – Ela ficou visivelmente mexida com a notícia.
— Tudo bem, Iris. Estaremos aqui... – Respondi.
Ela saiu arrastando o Valentin.
— Ela vai ficar bem? – Oli me perguntou.
— Acho que ela precisa desse momento. – João fico sério.
— Zoe, eu gosto muito da Iris, queria muito poder dizer isso a ela. – Ele olhou na direção que ela foi.
— E por que não faz isso? – Perguntei.
— Ela gosta de mulher, eu não sei a forma que ela está encarando... isso da gente. Bem, vocês já notaram... – Oli apoiou a cabeça em meu ombro.
— João, a Iris gosta mesmo de você, não tenta ficar procurando motivos do porque aconteceu, só seja sincero com os seus sentimentos e diga a ela. – Olhei para a minha namorada. — Tenho certeza absoluta que ela também deve estar no mesmo dilema que você, porém é muito visível que ela quer também.
— Vocês acham mesmo que ela gosta de mim o suficiente pra começarmos algo sério? – Ri da ironia do momento.
— Tá na hora de usar os conselhos que você me dava, João. Mais claro que isso, impossível. A chame pra conversar, não espera muito. – Ele ficou de pé.
— Tem razão... eu vou atrás dela, ela precisa de apoio. Obrigada, meninas...
Sem esperar resposta, João saiu atrás de Iris.
— Operação cupido realizada com sucesso. – Nos encaramos.
— Será que podemos voltar pra casa? – Ela ergueu uma sobrancelha. — Quero muito tirar esse vestido pra você.
— Zoe, se comporta. – Olivia sorriu, olhando pra ver se alguém havia escutado. — Prometo que vai poder tirar mais tarde, mas tem que esperar.
— Sendo assim, ficarei super comportada. – Tentei a minha melhor cara de inocente, a fazendo rir.
— Eu te amo tanto, mas tanto... – Queria beija-la.
Queria muito.
— Eu te amo, amo muito... – Não cansaria de dizer nunca.
— Achamos vocês... caramba! Não imaginava que teria tanta gente aqui. – Tia Betina sentou.
— Filha, onde está a Iris e o João? – Meu pai perguntou.
— Foi resolver algumas coisas, papai. Logo ele estará de volta. – Me aconcheguei a Oli.
— Devem estar em algum amasso por aí. – Caio falou, fazendo Oli e eu rimos.
— Tá tão na cara, que chega a ser engraçado. – Marina completou.
— Boa noite, pessoal. Sejam bem-vindos ao nosso leilão... – Uma mulher falou do palco.
Ela passou a agradecer aos patrocinadores e iniciou o leilão.
— Este item é de uma artista muito talentosa, que pediu para ficar no anonimato. – Era a pintura de Iris. — O lance inicial é de cinco mil...
Alguém levantou a plaquinha, assim como o meu pai. Uma disputa acirrada se iniciou entre os dois, até o meu pai deu um lance de 20 mil, arrematando a pintura.
— Ele vai ficar divino na casa nova. – Meu pai sorriu.
O leilão de itens prosseguiu.
Olhei para todos na mesa, que conversavam animadamente. Um cenário que há uns meses jamais achei que poderia acontecer e graças a Deus, estava acontecendo. A minha tia estava muito melhor, as negociações dos imóveis estavam nas últimas etapas e em breve, eles deixariam o condomínio.
Era satisfatório, depois de tudo que passamos.
Deixei a mesa por um instante, pois queria retocar o batom. Ao me aproximar da área dos banheiros, ouvi uma voz conhecida.
— Eu quero mesmo que você seja feliz, Duda... – Era a Marina. — E sei que aquela mulher tem feito isso. Só me perdoa por ter te machucado.
— Já passou, Marina... o que sentia por você, já acabou. De agora em diante, vamos ter uma boa convivência pelo bem da Oli e da sua mãe.
— Eu... eu concordo. Só queria que soubesse de uma coisa, Duda... não há um dia em que não me arrependa de não ter sido um pouco mais corajosa. Eu... eu amo você, mas sei que não há mais a mínima chance de nós...
Eu podia sentir a dor nas palavras de Marina.
— Eu teria amado ouvir isso há um tempo, Marina... teria mesmo. Eu tô completamente apaixonada pela Patrícia. Acho que já falamos tudo o que tínhamos que falar...
Duda passou por mim, mas não me viu, pois parecia muito transtornada. Ouvi um soluço abafado, me aproximei e a Marina estava sentada no chão, escorada na parede e chorava baixinho. A cena me partiu o coração.
— Marina... – Me agachei.
— Acabou... eu estraguei tudo. Tá doendo, Zoe... – Sentei ao seu lado.
Mandei uma mensagem para Olivia, para que viesse até ali.
— Eu fiz tudo errado, Zoe. Perdi a mulher que amo, porque fui uma tremenda babaca.
A deixei desabafar.
— Agora, ela tá com outra, que segura a sua mão com orgulho e sem medo. Eu me odeio, Zoe, me odeio demais. Era pra ser eu lá, ao lado dela, sendo chamada de amor...
Suas palavras me calaram profundamente.
Quando Olivia chegou, levamos Marina para fora do evento, um lugar mais reservado. O local era rodeado por um lago artificial e atrás haviam alguns bancos de concreto.
— Eu disse a ela, mas já é tarde, Oli. Eu a perdi...
Olivia a abraçava, enquanto me olhava com uma expressão triste. Ficamos vários minutos ali, a deixando se acalmar.
— Quero ir pra casa, não vou conseguir voltar.
— Eu vou com você, não vou te deixar sozinha. Amor, tudo bem irmos?
— Não, eu não quero estragar a noite de vocês.
— Não tá estragando, Marina... vamos com você. – Coloquei a minha mão sobre seu ombro. — Vou apenas avisar ao meu pai e poderemos ir.
Mandei uma mensagem para ele, pedindo para não se preocupar.
Deixamos o Hangar, chegamos à casa da minha tia pouco depois. Oli subiu com Marina, então resolvi esperar na sala. Já se passava das 22:00hrs da noite. Recebi uma ligação de um número desconhecido.
— Alô?
— Zoe? É o Valentin...
— Valentin, nossa... estou surpresa. – Ouvi sua risada.
— Desculpe estar te ligando, mas acho que você precisa vir resolver umas coisinhas. – Franzi o cenho. — O seu ex-marido tá aqui na delegacia.
Fiquei de pé.
— Que história é essa?
— Ele e o meu irmão, bem, eles se agrediram e estão detidos. – Meu Deus, João!
— Qual delegacia? – Procurei minha chave e subi a escada.
— Na Umarizal, vou te mandar a localização.
— Tudo bem... chego em breve.
Desliguei a chamada, entrei no quarto da Marina.
— Oi, amor... – Falei baixinho, indo até ela.
Marina dormia.
— Oi, amor... o que houve?
— João se meteu em confusão, preciso ir a delegacia. Não se preocupa, eu te explico tudo depois que souber o que aconteceu. Fica com a Marina...
— Tem certeza, amor? — Beijei os seus lábios rapidamente.
— Tenho sim... te amo.
— Te amo e se precisar, me liga.
— Tá bom...
Deixei o condomínio, me perguntando onde João estava com a cabeça, aquilo seria um tremendo escândalo, o governador certamente não deixaria barato. Cheguei na delegacia, fui até a recepção e encontrei Iris, Violeta e Valentin.
Violeta e Iris estavam sentadas distantes uma da outra.
— Alguém pode me explicar o que aconteceu? Cadê o João?
— Ele tá na cela, o delegado só vai deixa-lo ir depois que pagar a fiança. – Ergui as sobrancelhas.
Não podia acreditar.
— Ele e o meu irmão se agrediram em frente ao Hangar. – Violeta falava.
— Foi pra me defender, Zoe... o meu pai e o meu irmão me disseram coisas horríveis, mas o João não deixou barato. – Sentei ao lado de Iris. — Decidi romper de uma vez por todas com a minha família, a minha mãe me chamou pra morar com ela.
A trouxe para o meu ombro.
— Eu não posso acreditar que chegou a esse ponto. Meu pai me odeia, meus irmãos me odeiam.
— Eu não odeio você, Iris. – Violeta falou. — Eu não vou te deixar sozinha nessa, também vou sair da casa do papai. Vou ficar com vocês e a mamãe...
Iris a encarou.
— Acho que vocês duas precisam acabar com isso de uma vez por todas. – Valentin falou. — Vamos deixar vocês conversarem. Zoe, vamos resolver a fiança do João.
— Farei isso... vai ficar tudo bem, ouviu? Você tem um monte de gente que te ama. – Abracei a Iris. — Não esquece disso.
— Obrigada, Zoe... obrigada mesmo.
Sorri para ela.
Levantei, indo até a recepção e fiz todos os procedimentos que me pediram, efetuei o pagamento e aguardei por João.
— Você e o amor da sua vida finalmente estão juntas. – Valentin falou.
Estávamos sentados em um banco de madeira um pouco distante de onde as meninas conversavam.
— Fico muito feliz, tive o prazer de conversar alguns segundos com ela no restaurante. Ela é gata, você tem muito bom gosto. – Ri, me recordando da conversa que tive com Oli, na qual ela disse que achava Valentin “sem sal” no início.
— Também tô feliz, nem sei mensurar o quanto. – E nem precisava, bastava olhar para mim.
Minha vida mudou completamente, tudo ganhou um novo sentido.
— Acha que ela se importaria se fossemos amigos? – Ela se importaria? Eu também não sabia dizer. Ela e eu jamais falamos sobre.
— Essa é uma ótima pergunta. – Nos encaramos.
— Espero que não, você é muito importante pra Iris, queria manter essa conexão. – Olhei para frente. — Obrigada por tudo que fez pela Iris.
— Não precisa agradecer, Valentin. Eu tenho a Iris como uma irmã e faria qualquer coisa por ela. Ela participou de todo processo depois que levei um fora da Oli. Esteve comigo, não me deixou nem por um segundo.
— A Iris é muito intensa, sempre foi assim e muitas vezes isso fez com que ela se machucasse, mas agora parece que não preciso me preocupar, você é uma mulher integra e muito bondosa. É por isso que não desejo perder tua amizade... espero que a Olivia não se oponha.
Ela já estaria dormindo?
— Zoe... – João saiu da sala do delegado.
O lábio estava inchado e a roupa rasgada.
— Prometo que vou te pagar de volta. – Eu queria rir, não estava nenhum pouco chateada com ele.
— Vou deixar passar, porque foi por uma boa causa. Olha lá... – Fiz sinal para Iris e Violeta. — A paz voltou a reinar.
As duas se aproximaram.
— Violeta...
— Não fala comigo, ainda não te perdoei. – João abriu a boca e fechou.
— Vou levar a Violeta pro apartamento, a mamãe tá lá. Vem com a gente, Iris. – Valentin chamou.
— Vou sim... – Ela olhou para João. — Obrigada por ter me defendido, João. Sobre o que você havia dito, eu quero sim tentar. Também sinto o mesmo...
O rosto de João se iluminou instantaneamente.
— Te vejo amanhã... – Iris sorriu. — Zoe, não brigue com ele.
— Não se preocupa, Iris. João fez o que a maioria dos paraenses adoraria fazer. – Eles riram. — Fica com a sua mãe...
— Obrigada. – Ela me abraçou e depois abraçou o João. — Até amanhã.
Saímos da delegacia.
— Me diga que o governador também tá com o lábio ferido. – Eles entraram no carro de Valentin.
— Acertei o nariz dele tão forte, que certamente vai precisar de cirurgia. – Abafei o riso.
— Você é maluco, João... vamos pra casa.
O caminho até o condomínio foi feito em silencio. João não tirava o sorriso bobo do rosto, mesmo machucado. Decidimos passar a noite na casa do meu pai, pois já estava muito tarde. Liguei para Olivia, explicando em detalhes o que aconteceu. Ela acabou se divertindo com o que narrei. Minha namorada ficaria com a irmã aquela noite, pois ela realmente precisava.
Aquela noite foi muito agitada, mas em pouco tempo o cansaço me permitiu dormir.
Fim do capítulo
Oficialmente, falta 4 caps
:)
Boa noite.
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HelOliveira
Em: 22/05/2022
Marina abriu mão da Duda, agora pode ser tarde demais, Patrícia chegou e parece que conquistou a gata....mas será que Duda esqueceu mesmo...
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Lea
Em: 22/05/2022
A realidade bateu fundo no coração da Marina, agora é aceitar e seguir em frente!
João todo apaixonado e defendendo seu amor,que bom que eles se aceitaram.
Estava torcendo por essa reaproximação da Íris com a irmã.
A noite de amor do nosso casal vai ter que esperar,mas foi por causas nobres!
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