Fique por Leticia Petra
Capitulo 22 - Medidas desesperadas.
Por causa de uma reunião, Yuna não pode me buscar aquela manhã, então fiquei em casa estudando. Quando chegou a hora de ir para o trabalho, Cássio outra vez me esperava. Conversamos durante o caminho todo e acabei descobrindo que ele é casado há 5 anos e tem duas filhas.
— Obrigada, Cássio.
— Disponha, senhorita Olivia. – Fechei a porta.
— Entre depois, vou pedir pra preparar um lanche. – Ele sorriu.
— Não se preocupe com isso. – Franzi o cenho.
— Sem discussão, você entra e vai comer algo sim. – Cássio balançou a cabeça em negativo, rindo.
— Então irei depois...
— Esperarei por você. – Aquela noite estava quente.
Trabalhei o meu primeiro período inteiro sem ver a minha chefe. Depois que voltei do intervalo, me pediram para ir atender a uma mesa e quando me aproximei, notei de quem se tratava e até pensei em não ir, porém era o meu trabalho.
Respirei fundo.
— Boa noite, senhores. – O loiro aguado me olhou.
Iris sorriu, ficou de pé e surpreendentemente me abraçou.
— Oi, Olivia... – Olhei rapidamente para o loiro, depois para ela. — Como você tá?
— Oi, Iris. – Sorri. — Estou bem, obrigada.
Ela é uma pessoa legal.
— Olá, Olivia, me chamo Valentin. – Ele parecia me analisar, me incomodando. — Lembra de mim?
— Me recordo de você. – Tentei ser educada. — Você é irmão da Iris. Seja bem-vindo a Lotus.
— Obrigada. – Ele continuava a me periciar.
— Bem, o que vão pedir? – Limpei a garganta.
Peguei o tablet.
— O que você sugere? – Iris me perguntou. — Tem tanta coisa aqui, ainda não pudemos provar mais que dois pratos.
— Da última vez que estivemos aqui, tivemos que sair quase que correndo. – O loiro usou um tom de deboche ou foi impressão minha?
Acho que era somente a minha implicância.
— Soube o que se passou naquele dia, desejo que tudo se resolva o mais breve possível. – Valentin completou. Assim ficava difícil odiá-lo.
Mas odiá-lo por que exatamente? Ele ficou encantado com a Zoe, não podia culpa-lo.
— Obrigada, Valentin. Também desejo que tudo se resolva o mais breve possível. – Fui mais gentil. — Posso sugerir o risoto cremoso de camarão, é delicioso, certeza de que não irão se arrepender.
— Então vamos pedir esse, o que acha, Valentin? – O loiro sorriu.
— Acho ótimo! Já vi que a Olivia tem um gosto excelente. – Pude ler pelas entrelinhas os seus dizeres.
— Obrigada pela confiança. – Tentei não transparecer que entendi sua intenção. — Quarenta minutos e será servido.
Me afastei da mesa.
“Não acredito que tô achando esse cara legal.”
— Era só o que me faltava.
Depois de servi-los, fui para a cozinha e lá encontrei Patrícia, que conversava com os chefes. Ao me ver, ela fez um gesto para que eu a esperasse e foi o que fiz. Fomos até o seu escritório.
— Desculpa te trazer aqui no meio do expediente. – Sorri.
— Não precisa se desculpar. Posso te ajudar em algo? – Ela mexia os dedos sobre mesa, inquieta.
— Na verdade, gostaria de te fazer duas perguntas. – Estranhei.
— Quais seriam? – Podia jurar que a minha chefe ficou vermelha.
— Sua irmã, ela tem namorado ou namorada? – Ergui a sobrancelha.
Ivi estava totalmente certa. Se ela estivesse aqui, certamente me olharia de forma convencida com um sonoro “eu te disse”.
— A Duda é solteira. – Me controlei para não rir.
— Me desculpe, eu sei que não é assunto para o ambiente de trabalho, mas ela me deixou tão interessada, que não pude me conter. – Gargalhei.
— Me desculpa, mas você é uma graça, chefe. Você quer o número dela? – Patrícia pareceu ficar mais relaxada.
— Sim, eu quero. – Peguei um pedaço de papel e anotei o número.
— Você é divertida, chefe. – Me levantei.
— Obrigada, Olivia. – Sorri.
— Vou voltar ao trabalho...
Sai do escritório rindo baixinho.
Meu expediente terminou as 23:00hrs, fiz a limpeza com os outros garçons e deixei o restaurante. Cássio me agradeceu outra vez pelo lanche. Segundo ele, traria a esposa e as filhas para comer ali em breve. Eu estava cansada, o meu corpo pedia por um banho e cama. Quando cheguei em casa, notei que a luz da cozinha estava ligada.
Estranhei, àquela hora eles já deveriam estar dormindo.
— Ainda bem que já chegou. Como foi no trabalho? – Meu irmão veio até a mim, beijando a minha testa.
Quando me preparava para responder, notei a presença de mais uma pessoa.
— Boa noite. – O homem disse, ficando de pé.
Quem era ele? O olhei com mais atenção.
— Boa noite. – Ele parecia muito com o meu irmão.
— Oli, esse é o nosso pai. – Abri a boca de leve, totalmente surpresa.
— Me chamo Antônio, Olivia. Que bom conhecer você. – Como assim?
— É um prazer conhece-lo também.
A minha cabeça não estava funcionando.
— Vocês querem que eu saia? Eu realmente não sei o que fazer. – Duda e Eric me olharam.
— Vai descansar, maninha, amanhã conversamos sobre isso. Você tá cansada, precisa dormir. – Resolvi não refutar a minha irmã.
— Boa noite, senhor Antônio. Lhe vejo pela manhã.
— Boa noite, Olivia.
Sai da cozinha, indo para o quarto.
Tomei banho, não estava com fome, então liguei para Marina, pois precisava saber sobre a nossa mãe. Conversamos por alguns minutos, deliguei e apenas esperei por Duda, que só entrou no quarto uma hora depois. Ela deitou ao meu lado e se aconchegou em meu peito. Ali percebi que não haveria conversa. Minha irmã precisava de um colo.
E eu só a acolhi.
No dia seguinte.
Quando acordei, os meus irmãos e o senhor da noite passada, não estavam. Fiz algo para comer, Yuna me mandou uma mensagem perguntando se eu estava em casa e que viria para conversarmos.
Me preparei mentalmente para isso.
Havia tanta bagunça para arrumar, tantos dilemas e eu nem sabia como estava sendo tão lucida para lidar com tudo. As vezes sentia falta de quando a minha vida era tão superficial.
Ouvi duas batidas na porta.
— Pode entrar, estou sozinha em casa. – Yuna olhou rapidamente para dentro e entrou.
— Desculpa não ter dado certo ontem, foi algo realmente urgente. – Limpei a garganta.
Ela estava tão diferente.
— Tá tudo bem... – Yu me encarou. — Eu entendo. Você quer comer algo? Ou beber? Fiz suco...
— Não, eu agradeço. – Seu olhar havia mudado.
Um clima pesado se espalhou pelo cômodo. Parecíamos duas estranhas.
— Eu serei direta, Oli, acho que já passou da hora de acabarmos com isso. – Sua face finalmente demonstrou alguma expressão e ela era triste. — Há uns dias, quando você esteve em casa, eu sabia que você iria me deixar e como ultimo subterfugio, falei da viagem e da minha separação. Eu não queria desistir, achei mesmo que em algum momento eu conseguiria te fazer me amar.
Um nó se formou em minha garganta.
— O que eu vi na casa da sua mãe, você e a Zoe, essa ligação que existe entre vocês é algo que não dá pra competir. Naquele exato momento a ficha caiu, pode se passar mil anos, mas ela continuará sendo a mulher por quem o seu coração anseia. Eu te amo, mas não posso amar por duas...
Fiquei alguns segundos em silencio. Sentei no sofá, vendo a minha vista embaçar pelas lágrimas.
— Eu falhei tanto com você, Yuna, tanto. Nunca vou me perdoar por ter sido tão egoísta, porque é isso que eu sou. – A encarei. — Desde que te conheci, você só me deu amor e toda a sua gentileza. Me perdoa por não ter sido mais honesta.
Apertei os meus joelhos. Eu não queria que as coisas fossem desse jeito.
— Você tem toda a razão do mundo... também achei que seria capaz de esquecer o que vivi, achei mesmo que a Zoe poderia ser tornar só uma lembrança, uma frustração, mas eu só estava me enganando e te enganando. Me perdoa, Yuna, eu não deveria ter te envolvido em nada disso... eu... eu realmente sinto muito.
Ela passou a mão sobre a cabeça.
— A culpa não foi só sua, eu já sabia que seria assim e resolvi arriscar. Vem cá... – Ela me puxou para um abraço. — Eu não odeio você, não odeio mesmo. Detesto dizer isso, mas aquela mulher é louca por você, Oli.
Fechei os meus olhos.
— Me dê um tempo e eu prometo que poderemos ser boas amigas.
— Eu não queria perder você. – A minha voz estava embargada, pois magoar a Yuna era a última coisa que desejava.
— E não vai, eu prometo que não vai. Deixa o tempo passar, logo tudo vai ser só passado. Quero ficar por perto, mesmo que o nosso relacionamento não tenha dado certo, eu quero você na minha vida.
Eu me sentia tão mal.
— Me perdoa, me perdoa...
Não sei dizer quanto tempo ficamos ali, só posso dizer que foi um rompimento doloroso. Eu tinha a consciência de que não havia sido uma pessoa decente com a Yuna. Ela merecia bem mais do que dei. Me sentia uma grande filha da puta.
Meio dia o Eric chegou em casa, ele me encontrou na cozinha. Disfarcei o meu estado, não queria preocupa-lo. Tudo o que estava acontecendo já era o suficiente.
A visita do pai dele já era problema o suficiente.
— Fiz macarrão com molho. – Duda havia me ensinado.
Ouvimos uma buzina lá fora e era a van que deixava o Ben.
— Estou mesmo faminto. – Ele sorriu. — Acho que te devo uma explicação sobre o homem que esteve aqui.
Meu irmão sentou e em questão de segundos, Benjamin entrou em casa.
— Oi pai, oi tia... vou tomar banho pra comer. – Ele foi para o quarto.
— Lava o cabelo, Benjamin. – Eric gritou.
— Tá...
— Onde está o seu pai? – Sentei de frente para ele.
— Foi pra um kitnet... ele vai morar na cidade. – O meu irmão não estava bem com isso.
— O que aconteceu com ele? – Eric ficou olhando para a própria mão e depois me encarou.
— Ele me disse que depois que foi embora, uns amigos o ajudaram a entrar em uma clínica de reabilitação, por causa do álcool. Ele disse que se arrepende de tudo, mas que passou esse tempo tentando ficar limpo pra poder nos procurar. Que se envergonha pela pessoa que foi... por ter nos deixado.
Peguei sua mão.
— E você acreditou? Acha que ele foi sincero? – Eric lacrimejava, mas logo enxugou os olhos.
— Sinceramente, eu não faço ideia... a Duda também não sabe o que fazer. Eu nem sei se consigo desenvolver qualquer tipo de laço afetivo com esse homem. – Ele levou a mão a cabeça.
Sai do meu lugar, tocando em seu rosto e fazendo ele me olhar.
— Que tal dá uma chance? Ele me pareceu ser um homem bom e tá arrependido.
— Tenho medo dele nos deixar outra vez, de ir embora e...
— Eu entendo, entendo mesmo, mas tenta... Eric, ele veio até vocês porque realmente quer uma chance. – Ele me abraçou pela cintura.
— Tenho muito o que pensar, mas prometo que pensarei com carinho.
— Já é um começo... eu fico orgulhosa de você. – Ele beijou as minhas mãos.
— Você tem um coração tão grande. Nossa mãe deve tá orgulhosa de você, Oli. – Os meus olhos se encheram de lagrimas.
Havia momentos em que me pegava pensando em como teria sido conhece-la, como seria se nada disso tivesse acontecido. Nesses momentos, o ódio por Fábio me envenenava a alma.
— Ainda bem que você tá aqui. – Ele me apertou contra si.
Depois do almoço ele voltou para o trabalho e Ben foi a minha companhia até metade da tarde, quando Lucio, segurança da minha mãe, veio para busca-lo. Quando me vi sozinha em casa, pude sentir outra vez aquele peso em meu coração. Não tinha sido uma manhã fácil, a conversa com Yuna era revivida em minha cabeça a cada segundo. A sensação de culpa não me abandonava e uma voz irritante ficava a repetir: você é uma puta.
Talvez eu fosse mesmo.
Cheguei ao trabalho, atendi algumas mesas e quando estávamos finalizando o expediente, vi Maria Eduarda surgir pela vidraça. Fui até ela, abri a porta e ela entrou, parecia um pouco aérea.
O sábado estava agitado no restaurante.
— Você tá bem? – Ela sorriu.
— Não tô conseguindo lidar com a volta do meu pai. Sai de casa, ele estava lá e... – Ela passou a mão sobre a cabeça. — Não quero te encher com isso...
— Tudo o que diz respeito a você, ao Eric e o Ben, é muito importante pra mim. Já vou finalizar aqui, a gente pode comer hamburguer naquele carrinho de lanches que você gosta, o que acha? Daí você me conta tudo o que tá sentindo.
— Eu acho bom... – Ela sorriu. — E... e a sua chefe, ela está aqui? – Duda olhou ao redor.
— Ela tá no escritório. – Ela me encarou. — Ela entrou em contato?
— Sim, ela é muito engraçada e me convidou pra sair. – Ergui as sobrancelhas.
— E então?
— Eu aceitei, vamos jantar amanhã. – Duda sorriu.
— Sabe que não precisa fazer isso se não estiver preparada. – Nesse momento, Patrícia se aproximava.
— Eu sei, mas quero mesmo fazer. – Dessa vez quem sorriu foi eu.
— Vamos em vinte minutos.
Me afastei, indo limpar as outras mesas e quando cheguei a recepção, Ivi me olhava com uma cara de quem dizia: eu te disse.
— Nunca mais duvidarei do seu radar de cupido. – Ela gargalhou com os meus dizeres.
Nos despedimos de todos, quando chegamos na rua de casa, pedi para Cássio parar no carrinho de lanches. O chamei e sentamos os três para comer. Prometi a ele que Zoe jamais saberia disso.
Eu queria tanto vê-la, mas era melhor ficar apenas distante por enquanto.
Domingo.
A sala da vice-presidência havia sido modificada, assim como a da presidência. João chegaria na segunda à noite. Ele estava empolgado, eu sabia o que aquilo significava para ele. Os meus ex-sogros me ligaram, eles me pediram para eu ser a ponte entre eles, pois desde o dia do aniversário, João não os deixou se aproximar.
O meu celular vibrou e era Iris, me lembrando da nossa ida ao estúdio de tatuagem.
— Seu chefe faz falta aqui... – Caio me encarou e depois sorriu.
Ele fez questão de vir até a empresa em pleno domingo de manhã me ajudar. Assim como Maria Eduarda, que insistiu e agora estava fazendo café na copa.
— Ele com toda certeza iria adorar saber disso. – Ele certamente diria algo convencido. — Zoe, me desculpe não ter dito a você sobre os problemas de saúde do seu pai. Ele me convenceu que iria esperar só até receber os resultados pra contar.
— Você sabia também que ele iria se afastar? — Caio deixou o tablet de lado.
— Sim, ele me pediu uma opinião, você melhor do que ninguém sabe o quanto ele ama essa empresa, mas segundo ele, estava na hora de passar a diante e os problemas renais só fortaleceram essa decisão.
Pensei por alguns segundos.
— Tá me dizendo que ele não vai voltar a presidência? – Caio sorriu.
— Exatamente, esse tempo longe servirá pra ele se acostumar. Seu pai disse que quer se dedicar a você, a mim...
— Ele planejava me dizer isso? – Franzi o cenho.
— Sim, mas acho que estraguei a conversa de vocês. – Acabei por rir. — Não queria te deixar com a cabeça cheia de dúvidas. Me importo com você, como amiga e como filha do homem que amo.
Ouvir aquilo era bom.
— Não deve tá sendo fácil lidar com o assédio. – Ele deu de ombros.
— Passei uma grande parte da vida me escondendo, até começar a me defender, essas pessoas não irão me intimidar. Seu pai é o meu suporte, ele vem sendo muito corajoso. – Mordi meu lábio. — Isso me faz ter ainda mais certeza das decisões que tomei.
Como seria se Olivia e eu... fazia alguns dias que não a via.
— Tenho muito orgulho dele e da coragem que teve. Se eu tivesse sido um pouco mais corajosa, talvez...
— Talvez você e a Oli estivessem juntas? – Ele completou o que eu iria dizer.
— Sim...
— Ainda acho que vocês irão se acertar. Ela te ama, ela não tá feliz com a Yuna. – Franzi o cenho.
— Como assim? É tão visível o quanto elas se dão bem. – Caio sorriu.
— Se dar bem não é o mesmo que estar feliz. Não desiste, eu ainda quero ser o padrinho dos filhos que virão.
— Filhos? – Ergui a sobrancelha, fazendo Caio gargalhar.
— O que? Não me diga que nunca pensou nisso? – Não estava em meus planos.
— Pra ser sincera, nunca me imaginei mãe. Não sei se seria uma boa... mãe. – O que poderia ensinar a uma criança?
— Tá brincando? Você seria uma ótima mãe, Zoe. Deveria começar a pensar sobre.
— Mas e você e o meu pai, vocês querem? – Pude ver o quanto Caio ficou vermelho com a minha pergunta. — Ei, não é pra virar um pimentão agora.
— Me desculpe, mas só não imaginei que um dia estaríamos tendo essa conversa. – Ele sorriu. — A gente queria ter um menino, mesmo sendo muito cedo para fazer planos tão audaciosos, acredito mesmo que talvez seja possível.
— Acho que ter um irmão seria maravilhoso. – Sua expressão de surpresa me fez sorrir.
— Você é realmente muito surpreendente. Obrigada por todo apoio, Zoe.
Ele ficou de pé, vindo até a mim e beijou a minha bochecha rapidamente.
— Vou arrumar o que falta na sala do meu chefe... pense no que falei.
Caio saiu do meu escritório, me deixando com mais mil indagações. Queria que o que ele disse se tornasse real. Filhos? Eu não tinha parado para pensar sobre. E ainda por cima com a Olivia. Senti vontade de rir de mim mesma por ter deixando a minha mente, mesmo que por um segundo, imaginar como seria.
— Mas seria maravilhoso. – Aspirei o ar com força.
Tirei uma pilha de papeis de uma pasta e decidi me concentrar ali, ainda havia trabalho para terminar do meu antigo cargo, então seria perfeito para espantar, por hora, os pensamentos impossíveis. Eu deveria estar em casa, entretanto, não consegui e vi até a empresa para adiantar algumas coisas.
— Zoe? Você tem uma visita. Uma visita bem inusitada. – Eduarda me tirou dos papeis que lia pela vigésima vez.
Franzi o cenho, estranhando.
— De quem se trata? Em um domingo? – Ajeitei os meus óculos de descanso.
— É a Yuna. – Ergui as sobrancelhas.
— Pode manda-la entrar, Duda. – A vi fechar a porta e em questão de segundos, a Yuna adentrou a minha sala.
Fiquei de pé.
— Bom dia, Yuna. – Estendi a minha mão, que foi aceita.
— Bom dia, Zoe. – Sua face me dizia que ela estava péssima. — Desculpa tá aqui em pleno domingo. Me informaram que você estava aqui.
Para ela ter se dado ao trabalho de vir até aqui, deveria ser algo urgente.
— Sente, por favor. – Ela fez o que pedi. — Aconteceu algo?
“Seria com a Olivia?”
Ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ela finalmente resolveu falar.
— Você parece mais magra que a última vez que te vi. – Seus dedos batiam sobre a sua coxa. Ela ignorou a minha pergunta.
— Talvez seja o boxe. – Dei de ombros.
— Me parece mais que anda se alimentando mal. – Ela estava certa, mas não diria isso a ela.
— Você não me parece bem. – Yuna jogou os fios negros para trás.
— Pra ser sincera, não estou... – Me remexi.
— Pensei que estava feliz, sendo amada por Olivia. – Os seus olhos se fixaram nos meus.
— Como se você desse tempo pra isso. – Ergui as sobrancelhas. — Não vou tomar muito do seu tempo, vou direto ao assunto. Queria ter essa conversa em outro momento, mas está me sufocando demais. Eu definitivamente odeio você, Zoe. Você não facilitou as coisas, sempre impondo a porr* da sua presença, mas..., mas finalmente consegui entender que nunca poderei apagar o que você representa pra Olivia.
Passei a brincar com a minha caneta.
— A Olivia tem uma paixão forte por mim... — Ela sorriu.
— E veio jogar isso na minha cara? – Quanta petulância.
— Não, Zoe, me deixa terminar... ela tem paixão por mim, é verdade, mas ama você. – Pressionei meu maxilar.
Meu coração acelerou em imediato.
— Por todos esses meses, achei mesmo que poderia faze-la te esquecer. Dei todo o amor que podia e além, me coloquei a inteira disposição dela, mas nada foi capaz de apagar a chama que via nos olhos dela todas as vezes que vocês duas estavam no mesmo ambiente. Ela nunca vai me olhar daquele jeito...
Yuna ficou de pé.
— Espero que a faça feliz, Zoe. Esta tá sendo a decisão mais difícil que já tomei na vida, então não desperdice essa oportunidade. Ela é uma mulher livre agora.
— Tá desistindo dela? – Eu estava muito surpresa.
— Tô deixando ela ser feliz, você sabe como é, fez o mesmo no passado. – Yuna se aproximou da porta. – Ainda continuarei cuidando dela, de longe.
E assim como entrou, Yuna se foi.
— Deus... – Levei minhas mãos a cabeça, sentindo elas tremerem.
Andei pela sala, tentando entender o que acabou de acontecer. O que eu deveria fazer? Olivia estaria em casa? Não seria rude ir até ela agora? Olhei pela janela.
— O que ela queria? – Duda perguntou assim que entrou.
— Ela me disse que a Oli está livre. – Maria Eduarda ergueu as duas sobrancelhas. — Eu nem sei o que fazer, Duda...
— Vai atrás dela, Zoe...
— Mas, elas acabaram de terminar. – Passei as mãos sobre a cabeça, agoniada.
— Não pensa muito, Zoe, só vai...
— Deus.
Peguei as minhas chaves, o celular e deixei o meu escritório. A cada cinco minutos, olhava para o celular. O trânsito estava parado, pois algumas pessoas voltam a cidade depois do fim de semana, me deixando ainda mais ansiosa. Ela deveria estar em casa, o seu expediente só começaria as 18:00hrs.
Mandei uma mensagem para Cássio, porém ele não me respondeu. Eric e Ben também não responderam.
— Merd*...
Dirigi um pouco acima do permitido, cheguei em frente ao portão e bati uma, duas, três vezes e ninguém atendeu. Tentei ligar para ela, mas a ligação caia na caixa postal. Entrei em meu carro, liguei para o Ricardo, ele me colocou em contato com Cássio.
— Desculpe, senhorita Zoe, eu estava no supermercado com a dona Olivia. Vi sua mensagem e já iria retornar.
— Ela está ao seu lado? – Tranquei a porta.
— Sim, ela está. – Deus, eu tremia.
Que ridículo... ri de nervoso.
— Passa pra ela, por favor...
— Imediatamente, senhorita.
— Alô, Zoe? – Aspirei o ar com calma.
— Estou em frente ao portão da sua casa. Preciso falar com você. – A minha voz saiu mansa.
— Aconteceu algo, Zoe? – Passei a mão sobre a cabeça.
— Quero te ver.
Só me deixei levar.
— Chego em alguns minutos...
— Não demora. – Pude ouvir a sua respiração.
— Tá bom.
A ligação foi encerrada.
Fiquei esperando, o que me pareceu uma eternidade e depois de quase 20 minutos, vi o carro de Cássio estacionando logo atrás. Pude sentir as batidas do meu coração acelerarem em imediato.
Sai do meu carro, a vendo vir em minha direção e os nossos olhos se encontraram, se conectaram.
E ela estava tão linda.
Apressei os passos, querendo correr, mas o efeito que ela causa em mim é tão forte, que fiquei com medo que os meus joelhos cedessem. Quando os nossos corpos se encaixaram em um abraço cheio de saudade, pude sentir uma emoção sem descrição. A apertei contra mim, aspirei o seu cheiro, me agarrei a ela como se a minha vida dependesse daquele momento.
E talvez dependesse.
— Não quero te largar. – Ela disse, me fazendo sorrir debilmente. — Zoe, eu não posso te largar.
Ela repetiu.
— Não me importo de ficar aqui pro resto da vida. Eu preciso disso, preciso de você...
— Eu morri de sau...
O barulho de algo se chocando contra a grade interrompeu a fala de Oli e o que se sucedeu foi tão rápido, que mal pude acompanhar. Um carro preto parou ao nosso lado, o estrondo de um tiro nos desorientou. Instintivamente, segurei a mão de Olivia.
— Entrem, caralh*...
Três homens enormes nos empurraram para dentro do carro, olhei de relance e pude ver o Cássio no chão, sua blusa branca estava manchada de vermelho. As portas foram trancadas e assim como entrou, o carro saiu em alta velocidade.
— Olá, minha filha querida. – Olhei para frente.
Fábio estava no banco do carona, nos escarava pelo retrovisor.
— Hoje é o meu dia de sorte, dois coelhos com uma cajadada só. – Olivia apertou a minha mão.
Ela tremia.
— Seu desgraçado... pare essa porcaria. – Oli se agitou.
Olivia tentou avançar sobre ele, mas um dos homens a impediu.
— Não toca nela. – Empurrei sua mão.
Ele levantou a mão em minha direção, parecia que iria me bater.
— Pedro, ainda não. – Fábio falou. — Você poderá fazer isso mais tarde. Vai poder bater nessa vagabunda até ela desmaiar...
O sorriso sádico em seu rosto me causou calafrios.
— Deixa a Zoe ir, isso é entre você e eu, Fábio. porr*, por que você não some de uma vez por todas? Seu desgraçado. Seu bandido de merd*! Deixe ela ir...
— Cala essa boca, sua bastarda dos infernos. – Ele berrou. — Isso é tudo por sua causa, Olivia. Nada disso teria acontecido se você estivesse morrido com a sua mãe naquele dia.
— Do que tá falando? Que caralh* tá falando?
Ele apontou uma arma em direção a Olivia.
— Não faz nenhuma merd*... – Por um momento, senti medo. Medo por ela. — Fábio, te dou todo o dinheiro que você quiser, mas não se atreva a...
— Você não manda em nada aqui, Zoe. – Ele me interrompeu. — E a questão não é mais dinheiro, eu quero vingança. Em poucas horas, vocês estarão mortas... as duas amantes enterradas lado a lado em uma mata qualquer. – O ódio em seu olhar era quase palpável. — Eu não matei a sua mãe, alguém chegou na frente, bastarda. Você, eu terei esse prazer. Você e a sua namoradinha...
Ele sabia... sabia de nós...
— Chefe, tem um carro nos seguindo.
— Não provoca ele... – Pedi baixinho a ela. — Tô com você... confia em mim?
Ela apertou a minha mão.
— Sim...
— Acelera essa merd*, precisamos deixar a cidade o mais rápido possível. – Olhei para trás e reconheci o carro de Ricardo.
Ele já deveria ter acionado a polícia. Cássio? Deus, eu esperava que ele estivesse bem.
— Vira nessa rua... – Impressionantemente, Olivia não chorava ou nada parecido.
Ela apenas apertava a minha mão.
— Vou virar na João Paulo, será mais fácil de chegar a Br. – Um homem careca, que dirigia, dobrou uma das ruas de forma brusca, dessa forma a Olivia veio para o meu colo.
Eu precisava pensar em algo.
Percebi que ao nosso lado um carro preto nos acompanhava, o motorista fez um gesto para Fábio. Eles passaram a frente, guiando o veículo até que chegamos a Br. Esperei alguma distração e não veio. Apertei Olivia contra mim, foi quando o motorista fez uma manobra arriscada por causa de uma moto que cortou a sua frente.
— Merd*, ele tá na nossa cola. – Olhei novamente para trás e Ricardo estava muito perto.
— Olha pra frente, porr*... ele já deve ter chamado a polícia. Acelera essa merd*...
— Cuidado!
Não tive tempo de fazer absolutamente nada, o carro que estávamos colidiu com uma carreta. A violência do impacto fez com que a porta se abrisse e o cara que estava ao nosso lado voasse por ela, assim como Olivia e eu. Abraçada a ela, saímos rolando pelo asfalto quente. Senti o meu joelho arder e em segundos, perdi a consciência.
Fim do capítulo
O nosso extra...
Domingo adianto o de segunda, pois segunda será um dia cheio.
Beijo, minhas lindas.
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 06/05/2022
Vixe! Aff Fábio se foi...
Resposta do autor:
Vamos de mais um cap?
Resposta do autor:
Vamos de mais um cap?
Lea
Em: 05/05/2022
Mais uma vez a Yuna teve uma atitude que merece meu respeito!!
Esse Fábio não desiste,espero que ele morro.
Resposta do autor:
Yuna não é uma pessoa ruim, só entrou em uma relação muito apaixonada e achou que poderia fazer com que Oli a amasse.
Amores pra vida e amores da vida, é o ditado.
Logo saberemos o que será desse canalha.
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