Capitulo 101
Capítulo 101º
Rebeca
O sumiço repentino de Alice deixou todas nós preocupadas. Não entendo o que a fez sair no meio da tarde enquanto eu dormia. Pior de tudo é que foi sem segurança. A preocupação de Isabella ficou evidente assim que Letícia nos contou que Alice saiu apressada.
Apesar de não concordar em esperar acabei cedendo a opinião de minhas sogras. Elas tinham esperanças de que Alice tivesse apenas ido à cidade fazer algo. Mas o entardecer não demorou a chegar. Ela seguia recusando nossas chamadas, até chegar um ponto que a ligação já era encaminhada direto para a caixa de mensagem.
Lógico que minha preocupação era com sua integridade física. Não posso deixar de temer que meu pai possa tentar algo contra a vida dela. Mas confesso que havia uma pulga do ciúme me enlouquecendo.
Buscava em minha mente, todo e qualquer motivo que ela pudesse ter para sair sem me avisar. Nenhuma das opções me pareciam plausíveis suficientes. A noite caiu e com ela a minha sanidade. Já não conseguia mais imaginar um cenário onde ela estivesse bem. E caso estivesse com certeza eu acabaria com aquela cara linda assim que colocasse minhas mãos nela.
Dormi pouco durante a noite. Teodoro parecia entender que algo estava errado. Chorou muitas vezes na madrugada. Até que eu o levei para deitar comigo. Acordei cedo na manhã seguinte. Bati no quarto de Amélia. Ela abriu a porta com uma cara amassada.
— O que você quer? — sua voz estava rouca.
— Preciso que fique com Teo. — não pergunto, já dando margem para ela não recusar.
— Para onde você pretende ir?
— Vou atrás de Alice. — afirmo.
— Você nem sabe onde ela está.
— Eu descubro. Só preciso do carro da mamãe e que você fique com Teodoro.
— Rebeca, você não tem condição de dirigir assim. Aposto que nem dormiu direito. Está nervosa demais.
— Amélia, eu preciso saber de Alice. Estou preocupada. Vai me ajudar ou não?
— Tudo bem. Mas você tem até meio-dia para estar de volta ou chamo a polícia.
— Pode deixar.
Pego a estrada nos minutos seguintes. Cheguei em BH em tempo recorde. Minha primeira ideia foi ir para casa. Anna estava lá, com certeza ela saberia onde Alice estava, apenas não quis me dizer quando eu liguei. Quando paro na garagem, observo o carro de Letícia.
Estou completamente cega de ciúmes, imaginando o pior. Que possivelmente Alice me largou na fazenda para vir encontrar alguma sirigaita. Afinal Virgínia está na cidade de novo. Repreendo-me do pensamento. Afinal depois que conversamos ela deixou claro que não tem interesse em Alice, o que não quer dizer que outra mulher não possa ter.
Entro em casa pelo acesso da garagem. Escuto algo cair na cozinha. Anna solta um palavrão que nem tenho tempo de entender. Paro em sua frente. Estou irritada. E se ela estiver acobertando safadeza de Alice, eu vou acabar com a raça das duas.
— Beck! Que susto. — leva a mão ao peito. — O que faz aqui?
— Pelo que me lembro eu moro aqui. Agora me diz onde está a safada da sua amiga. — Anna abre e fecha a boca tentando assimilar minhas palavras. — Ótimo, se perdeu a voz, eu mesma vou descobrir.
— Alice está dormindo. — vem dizendo no meu encalço.
— É bom mesmo que ela esteja dormindo com essa sirigaita. — estamos paradas em frente à porta do quarto.
— Beck, não é nada disso. Alice está...
— Com alguém. Só pode ser. Como ela some desse jeito? Não me avisa nada. Vou acabar com a raça dela. — espalmo a porta com força.
Alice está na nossa cama. Senta-se esfregando os olhos, abre um largo sorriso e me diz:
— Bom dia! Amor. — juro que minha vontade é destruir aquele sorriso lindo.
— Bom dia nada, quero saber onde está a mulherzinha que você veio ver. — falo começando a caminhar pelo cômodo.
— O problema agora é seu. — escuto Anna falar e sem seguida fecha a porta.
— Onde está ela? — questiono de novo.
— Amor, não tem mulher nenhuma. — diz isso e caminha para perto de mim.
— COMO NÃO TEM? VOCÊ ACHA MESMO QUE VOU ACREDITAR QUE ME LARGOU SOZINHA EM OURO PRETO E VEIO PARA CÁ POR ALGO MAIS IMPORTANTE DO QUE EU E SEU FILHO? — meu descontrole foi para o espaço. Não é como se Alice alguma vez tivesse me dado motivos para desconfiar dela, mas aquilo tudo estava estranho demais para mim.
— Rebeca, calma. Não é nada disso. — sua voz continuava tranquila, serena. O que só me irritava ainda mais
— Por que estão brigando? — então escuto a doce voz de Dominique.
A menina nos encara com olhos assustados. Ela usa um pijama velho de Alice. Os cabelos despenteados. Esfrega o dedo nos olhos. Não sei se secando alguma lágrima ou se apenas pelo sono. Olho para Alice, em seguida olho para a menina que continua parada no mesmo lugar.
— Esse foi um dos motivos pelo qual voltei. — conta tranquila. — Os outros dois devem estar dormindo.
— Dominique! Que saudades. — corro em direção à pequena.
Meu coração está saltando no peito. Dominique sorri feliz me recebendo em seus pequenos braços. Não sei explicar qual a sensação sinto neste momento. Pensei que possivelmente nunca mais a veria. A emoção me domina, fazendo lágrimas escorrerem banhando meu rosto. Só quando me afasto dela, apenas o suficiente para ter certeza de que ela está bem é que percebo a presença de Eliel.
Ele parece confuso com toda aquela comoção.
— Eliel, querido. Vem cá. — estendo a mão para o menino.
Fico surpresa com sua urgência em estar perto de mim. Corre me abraçando apertado. O abraço foi caloroso. Para mim, parecia uma eternidade sem vê-los. Eliel também não contém a emoção deixando o choro correr livre.
Só então me lembro de André.
— Onde está André? — pergunto olhando para Alice.
— Aqui. — ele surge na porta.
Sorrio fitando o garoto. Ponho-me de pé, para em seguida caminhar até ele. Ali se desenhou mais um abraço cheio de saudade. Ao menos de minha parte era saudade. André parecia se sentir envergonhado. Seu choro é dolorido. Não era de alegria.
— Sinto muito. Me desculpa. — falava em meio ao choro.
— Shiii! Não precisa se desculpar. — falei acariciando seus cabelos.
Estava tudo bem agora. Era o que importava. Os três estão seguros e conosco. Ao menos é o que eu espero que aconteça.
— Venham. — chamo os três que nos fitam emocionados.
A melhor sensação que tive na vida, tirando claro, segurar meu filho pela primeira vez, foi esse abraço grupal. Senti que ali próximo a mim, estavam pessoas que eu amo verdadeiramente. E faria tudo por qualquer um deles.
O momento é interrompido pelo ronco alto da barriga de Alice. O barulho foi tão alto que conseguiu nos separar. O choro parou e deu lugar a muitos risos. Alice tinha o rosto vermelho.
— Acho melhor irmos tomar café. — Dominique diz rindo. — Daqui a pouco minha barriga vai responder à pergunta que a de Alice fez. — isso foi o suficiente para termos mais uma crise de risos.
— Tudo bem. Vocês podem ir se arrumar. Vamos preparar algo enquanto isso. — Alice responde.
Os três se afastam caminhando em direção a porta. Antes de saírem dão mais uma olhada como se quisessem ter certeza que ainda estaríamos ali.
— Então quer dizer que você achou que eu estava com outra? — Alice questiona rindo. Suas mãos repousam em minha cintura. Sinto meu rosto corar.
— O que esperava que eu fosse pensar? Você some enquanto estou tirando uma soneca com o nosso filho. Não avisa para onde vai. Não me atende.
— Aí você pensa o pior?
— Pensar isso era melhor que imaginar que meu pai poderia ter feito algo.
— André me ligou da delegacia. Pedindo para buscar os meninos. Eles estavam sozinhos, em um lugar abandonado. Não tive como te explicar. Desculpa.
— Não precisa se desculpar. Mas o que André fez?
— Posso te contar enquanto me troco?
Concordo e vamos em direção ao banheiro. Enquanto ela faz sua higiene matinal vai me contando detalhes do que houve. Fiquei apreensiva com as coisas que escutei. Alice explicou que conversou com André sobre a nossa vontade em chama-los para morar conosco.
— O que ele disse? — questionei apreensiva.
— Ele está aqui, não está?
— Está. Mas ele vai aceitar morar conosco?
— Isso você precisa perguntar. Mas pode ser depois do café. Estou faminta. — ela ri com mais um barulho feito por sua barriga.
Descemos para preparar o café. Mas quando entro na cozinha me deparo com André arrumando a mesa com a ajuda dos meninos. Anna prepara algo que o cheiro é delicioso. Alice sorri observando o quanto os meninos estão à vontade. Tudo estava indo bem até um barulho de algo quebrando chamar nossa atenção. Nossos olhares se voltam para Dominique. Ela já está com cara de choro. Imaginando que vamos brigar.
— Desculpa. Escorregou. — falava assustada.
— Não tem problema. Só me deixa juntar os cacos, para ninguém se machucar. Pode ser? — ela acena para Alice.
Depois que tudo está organizado podemos tomar o café delicioso que Anna preparou.
— Não sabia que você cozinhava tão bem. — digo.
— Nem eu. Mas o luto me fez uma ótima cozinheira.
— O que é luto? — Dominique questiona curiosa.
— É quando você fica muito triste por perder alguém que ama. — explico. André me olha sorrindo, parece satisfeito com minha explicação.
— Então eu fiquei de luto quando estava sem ver vocês. — diz inocente mexendo no prato.
— Mas agora não precisa mais ficar triste. Não vamos a lugar nenhum. — André afirma me olhando, em seguida olha para Alice.
— Exato. Inclusive nós vamos para a fazenda. O que me diz Domi, está preparada para conhecer cavalos de verdade? — posso ver seus olhos brilharem.
— É sério? — encara Alice, esperando uma confirmação.
— Sim. Eu vim da fazenda para buscar vocês. — Alice conta. André cora.
Busco sua mão sobre a mesa. Aperto com delicadeza. Ele me sorri. É um sorriso genuíno. Sinto sua feição mudar. Parece feliz.
— Mas nossas roupas ficaram na construção. — Eliel diz pensativo.
— Podemos comprar coisas novas antes de irmos. Ou quem sabe comprarmos em Ouro Preto. — dou a solução.
— É uma ótima ideia. Então vamos terminar nossa refeição para sairmos em seguida.
— Tia Anna, você vai conosco? — Dominique indagou.
— Não posso, princesa. Preciso trabalhar. — ela força um sorriso.
— Mas vai ficar sozinha e de luto?
— Sim. Vou ficar sozinha, mas ficarei bem. Não se preocupe. Vá conhecer seus cavalos. — beija sua testa. A menina sorri dando de ombros.
Ao terminarmos o café. Ajudo Anna a recolher as coisas. Ela me parece mesmo abatida.
— Você está bem? — questiono. Ela se apoia na bancada.
— Não. Tudo parece errado para mim. Até sorrir. Ela se foi e agora nada que eu faça me parece justo com ela. — confessa com pesar.
— Exatamente por ela ter ido é que você deve continuar. — falo sem encará-la. — Você precisa ser você, fazer piadas idiotas. Falar de mulher. Beber como um carro velho. — ela dá um riso baixo. — Ela odiaria te ver triste. — ela para de enrolar o guardanapo. Fita-me curiosa. — Ela te amava. Não sei o que a levou a fazer aquilo, e agora não temos como saber. Mas, eu acredito que ela não quer te ver triste assim. Essa não era a Anna pela qual ela se apaixonou. — seus olhos estão marejados. — Você pode ser feliz de novo. Basta se sentir aberta e pronta para isso. — toco seu ombro.
Em um movimento repentino ela me abraça, tempo suficiente para me causar comoção também. Mas quando escuta passos na escada ela se separa de mim, ficando de costas, secando as lágrimas.
— Prontinho. Podemos ir.
— E a cadeirinha para o carro? — Anna questiona.
— Precisamos passar em uma loja para comprar. — digo.
— Vamos voltar em carros separados. — Alice recorda.
— Os meninos podem ir com você, eu vou com Rebeca. — André diz.
— Tudo bem.
Alice se despede de Anna com um longo abraço. Dominique faz o mesmo. A garota gostava dela. Seguimos para a loja. Quando André senta ao meu lado, afivela o cinto de segurança. Ele não diz nada, apesar de saber com que tem muito para falar. Ligo o som do carro.
Após compramos o que precisávamos seguimos para Ouro Preto. Alice ia a poucos metros a nossa frente. Não estávamos andando rápido. Por questão de segurança.
— Desculpa por fugir aquele dia. — ele fala de um fôlego só.
— Não precisa se desculpar. Eu entendo o seu medo. Você não nos conhecia, e na sua cabeça queríamos apenas a guarda dos meninos.
— Foi exatamente isso. Mas Alice me disse que eu estava errado. Vocês nos queriam, os três. É verdade? — é a primeira vez desde que ele entrou no carro que sinto seus olhos sobre mim.
— Sim. É verdade. — digo. — Você é um garoto. Merece ter uma vida diferente. Sem tantas responsabilidades. Precisa terminar os estudos, se quer mesmo se formar em medicina. Estou disposta a ajudar vocês. Não quero tirar os meninos, desejo apenas que vocês possam fazer parte da nossa família.
— Está falando sério?
— Claro. Não brincaria com isso. Mas você precisa prometer que não vai fugir de novo. Muito menos colocar os meninos em perigo. Preciso que confiem em nós. Me prometa que vai decidir isso. Não quero criar esperanças falsas. Sei que os meninos são como seus filhos. Mas só estamos te oferecendo uma vida diferente. Uma vida que você pode ser apenas o tio que senta para jogar videogame, que ajuda nas lições de casa. Não precisa ser o responsável por alimentá-los, mantê-los seguros. Alice e eu cuidaremos disso. Sua única responsabilidade vai ser estudar. Passar no vestibular e se formar. Caso não consiga na pública posso custear a particular. Mas preciso ter certeza que você está disposto a fazer isso. Você está? — questiono sem tirar os olhos da estrada.
— Sim. Eu estou. — responde empolgado. Sinto minhas mãos tremerem ao escutar sua resposta. Poderia facilmente abraçá-lo caso não estivesse dirigindo.
— Ótimo. Então esteja preparado para conhecer o restante da família. Todos estarão lá.
Sinto ele ficar inquieto no banco ao lado. Mas dando o assunto por encerrado ele aumenta o volume do som, passa então a fitar a janela. Vamos direto para a fazenda. Precisava ver Teodoro antes de irmos às compras. Afinal as crianças não tinham nenhuma troca de roupa.
— Uau! Esse lugar é lindo. — André fala olhando a fazenda.
— É sim. Dominique vai pirar quando ver os cavalos.
— Ou desmaiar de medo. — ele diz rindo. É a primeira vez que ele ri daquela forma, depois de uma piada que ele mesmo disse. — Rebeca. — me chama.
— Sim. — olho para ele parando o carro.
— Não vou mais trabalhar para você?
— Não na empresa. Mas vou pagar para você estudar. Combinado?
— Combinado. — afirma.
Nesse instante olho para as escadas que levam a casa. Todas nos esperam encarando os carros.
— Boa sorte com a mulherada.
— Só tem mulheres? — ele pergunta assustado.
— Não, tem um caseiro. — digo me divertindo da cara dele. — E os meus cunhados. — ele parece um pouco mais aliviado. — Mas o restante é apenas mulher, e só para deixar claro, todas lésbicas.
— Todas?! — ele fica surpreso.
— Todas.
Saio do carro sendo seguida por ele. Alice já saiu acompanhada de Eliel e Dominique. De onde estou posso observar Isabella dar uma bronca na filha para em seguida a abraçar. Então ela encara Dominique e Eliel.
— E quem são essas gracinhas? — minha mãe é quem tem coragem de perguntar.
— Esses são Dominique, Eliel e André. — apontei para os três. Fiquei ao lado de Alice, colocando meu braço envolta de seu ombro. — Eles agora fazem parte da nossa família. — digo isso com tanto prazer que meus olhos marejam. Alice me sorri.
— Mais netos! Isso é maravilhoso. — Isabella é a primeira a abraçar Dominique. — Pode me chamar de vó Isa, ou é melhor vovó Isa? — questiona indecisa. — Não importa como vão me chamar. Quero saber tudo sobre vocês. — ela sai puxando os dois. Larissa os segue casa adentro.
— Como vai, André? É um prazer conhecê-lo. — minha mãe sorri para ele.
— O prazer é meu, senhora. — ele retribui o gesto. — O que me diz de entrarmos?
— Claro. — concorda.
Ele some junto da minha mãe e de Lívia. Alice e eu subimos a escadaria. No topo Amélia e Letícia nos esperavam. Elas nos abraçaram calorosamente.
— Fico feliz que eles tenham voltado. — Letícia diz sorrindo para mim.
— Eu também. Mas onde está meu bebê? — questiono sentindo a falta dele.
— Dormindo com a prima. Os dois não se largam. Elisa pensa que ele é uma boneca. Tô até pensando em fazer um neném para ela. — Amélia brinca.
— EU TOPO! — Letícia pareceu empolgada demais. Nós três nos viramos para olhá-la. — Que foi? Vocês adotam três de uma vez e tudo é normal, eu só quero mais um. — ela dá de ombros.
— Deixa a gente ficar sozinha no quarto que eu vou cuidar em te dar mais um bebê. — Amélia responde a agarrando.
— Nos polpem dos detalhes. — Alice diz com falsa indignação.
Matei a saudades de Teodoro antes do almoço, quando entrei no quarto Elisa já estava acordada, a menina estava simplesmente observando-o dormir. Começo a pensar que talvez não seja má ideia dar um irmãozinho a ela. Logo chegou hora da refeição, todos estavam à mesa. André se deu super bem com Bernardo e Artur. Os três conversavam rindo sem parar. Por um segundo pareciam até ter a mesma idade. Alice tocou minha perna percebendo o que eu observava. Voltei minha atenção para a conversa.
Na parte da tarde, as três novas vovós fizeram questão de levar os meninos as compras. Com a mentira de que ainda precisavam comprar alguns presentes para a noite de Natal. Claro que sabemos que tudo não passa de uma desculpa esfarrapada para ficarem mais tempo com os novos netos.
— Já esqueci o quanto o silêncio é bom. — Alice diz aconchegando-se ao meu corpo.
Estamos deitadas na rede. A brisa gostosa do fim de tarde nos presenteia com um frescor delicioso, o que fez ou outra bagunça os fios loiros de Alice. Aproveitamos que todas haviam ido ao shopping o que nos garantiu um momento a sós.
— Penso que você precisa se acostumar ao barulho. Nossa casa agora estará sempre cheia. — respondo prendendo um fio rebelde atrás de sua orelha. Ela suspira se apertando contra meu corpo.
— Isso não é ruim. — confessa. — Por falar em crianças. Eu ainda quero ter uma. — confessa.
— Sério?
— Sim. Isso te assusta?
— Não. É que nunca imaginei que você queria engravidar.
— Não queria. Até ter te paparicado durante nove meses. Agora é a minha vez de ser paparicada. — fala em tom de brincadeira.
— Idiota! — falo rindo.
— Completamente idiota. Mas por você, meu amor. — me fita de forma intensa.
— Ainda bem que me ama, pois, eu desconheço uma vida onde não te amei. Parece que comecei a viver apenas depois que te conheci. — confesso acariciando seu rosto.
Trocamos um beijo rápido. Ficamos imersas em nosso silêncio. Ficar quieta ao lado dela não era algo incomodo. Para mim, parece algo totalmente familiar.
— Teremos muito o que resolver quando voltarmos. — diz pensativa.
— Sim. Escola para os meninos. Arrumar os quartos em casa. Muita coisa a ser comprada.
— Nosso casamento algum dia vai entrar nesta agenda? — pergunta em tom de brincadeira.
— Claro que sim. Não se preocupe. O casamento é uma das prioridades. — sorrio lhe beijando.
Teremos exatos quatro dias de folga. Aproveitarei ao máximo cada segundo dele. Afinal, quando voltarmos nossas rotinas, muito trabalho terá que ser feito. Agora tenho mais três pessoas as quais ser responsável. Isso me assusta de uma forma gritante.
Não demorou a anoitecer. O céu adquiriu um tom mais laranja, o sol se pondo atrás das montanhas. O que nos preocupava era a demora de nossos filhos.
— Conhecendo bem as minhas mães, esses meninos terão roupa para a adolescência. — Alice diz rindo.
— Então é um dinheiro que economizaremos. — respondo brincando.
— Precisamos economizar? — questiona com uma cara travessa. — Eu acabei de comprar um carro novo. Deve tá chegando.
— Carro novo? Chegando de onde?
— Sim, de navio.
— Você importou um carro? — questiono surpresa.
— Sim. — ela ri. — Mas veja bem, eu estava sem carro. Não posso ser uma empresária sem carro.
— Sua sorte é que eles chegaram. — respondo olhando os faróis se aproximarem.
Alice não mentiu sobre o exagero de Isabella. Os meninos tinham muitas sacolas nas mãos, entre roupas, calçados, brinquedos. Dominique parecia no céu mostrando tudo para nós. Seus olhos brilhavam a cada peça que nos exibia.
— Ah! Demos um celular a André. — minha mãe anunciou. Lívia sorriu sem graça.
— Ele aceitou? Da última vez que tentei fazer isso ele quase pede demissão.
André cora levemente, o que nos faz rir. Mas seu olhar é de gratidão. Acredito que não apenas pelo que foi dado-lhe, e sim por tudo que foi apresentado aos meninos. Eliel corria satisfeito com um carrinho de controle remoto com Dominique em seu encalço.
— Eles são maravilhosos. — minha mãe me diz. Nesse momento observo Alice e os dois brincando com o carrinho.
— Sim, eles são.
Não me restando mais nada a fazer apenas concordo com ela. Tenho uma sorte absurda pela família que possuo.
— A brincadeira está ótima, mas precisamos tomar banho para o jantar. — informo.
— Banho? — Eliel. — Precisa mesmo ser agora?
— Sim, senhor. Precisa. Então vamos logo. Você quer ajuda?
— Não. Posso fazer isso sozinho.
— Eu quero ajuda. — Dominique diz. — Se não tiver problema, tia Beca.
— Claro que não é um problema. Vamos? — estendo a mão para ela.
Não demoro a sentir seus pequenos dedos enroscarem nos meus. Combinei que Alice banharia Teodoro, assim as coisas fluiriam melhor. Agora temos sempre que lembrar que temos três crianças.
Dominique estava elétrica. Não parou de falar um segundo. Contava em detalhes como havia sido o passeio no shopping. Disse que gostou muito de Larissa e Isabella, mas que riu muito com a mamãe e Lívia.
— Que bom que você se divertiu. — falo enquanto estou ajeitando seus cachos. — Vira para mim. — ela segue a ordem. — Você está linda.
— Obrigada. — sorri.
Seu gesto seguinte é completamente espontâneo, ela envolve seus braços envolta do meu pescoço, me prendendo em um abraço forte.
— Por que fez isso? — questiono tentando manter minha emoção controlada.
— Não podia? Eu só me senti feliz. — afirma. — Fazia tempo que ninguém cuidava de mim assim. Sei que o tio Dré faz o que pode. Mas nunca teve tempo para ficar sozinho comigo.
— Claro que pode me abraçar, sempre que quiser, querida. — acaricio seu rosto. — Agora nós podemos fazer uma noite das meninas. Eu, você e Alice. Nós sairemos juntas. O que me diz?
— Sério?
— Sim. Mas agora vamos você precisa descer, eu tenho que tomar banho. Pois, todos estão nos esperando.
— Certo.
Observo ela agarra uma boneca velha. A única coisa que ela trouxe de sua antiga vida. Minhas pernas congelam. Não consigo me mover. Estou imersa em um mar de emoções. Dominique é uma menina linda, doce. E apesar de André ter feito tudo para mantê-los seguros, a menina sentia saudades de uma figura materna. Pensar que eu posso suprir isso, me faz perceber o tamanho da responsabilidade que eu passei a assumi.
Fim do capítulo
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Lea
Em: 02/05/2022
Ver a Anna assim,me despedaça o coração.
As famílias da Alice e Rebecca São totalmente acolhedora.
Em pensar que a Larissa sofria tanto pela perca dos pais e do irmão,apesar da saudade hoje ela tem uma família grande,que supri a saudade.
Rebecca e Alice juntas são muito lindas,agora com os novos filhos então.
Rebecca ama muito esses meninos.
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