Capitulo 74
A Última Rosa -- Capítulo 74
Jessica levantou a cabeça e atravessou o estacionamento da Del Hills com passos rápidos. Levantou a gola da jaqueta grossa de couro, a fim de se proteger do frio cortante que fazia naquele dia. Segundo a meteorologia, a baixa temperatura e os ventos fortes, estenderiam-se pelo resto da semana.
Jessica torcia para que as previsões estivessem erradas, mas, tudo indicava que não. A inauguração da empresa estava agendada para a sexta-feira e não queria que a chuva atrapalhasse a festa ao ar livre. De qualquer modo, caso a chuva continuasse, teriam que transferir a festa para o refeitório.
Passou pela porta principal e cumprimentou o segurança com um aceno. Parou na recepção e ficou ali durante alguns instantes, pensando que dentro de três dias aquele enorme prédio vazio e silencioso estaria cheio de pessoas andando apressadas de um lado para outro.
Deu um suspiro desanimado. Ainda havia tanto trabalho a ser feito e tão pouco tempo para realizá-lo. Começou a caminhar em direção ao elevador, desviando de pilhas de caixas, equipamentos variados espalhados por todos os cantos. Olhou para o elevador que ainda não estava liberado e sentiu um desânimo maior ainda. A empresa havia prometido deixar liberado na semana passada. Só que tal promessa não foi cumprida e naquele momento a única opção era a escada.
Subindo os degraus, começou a pensar no seu perfume inesquecível. Que nome daria? Balançou a cabeça e prometeu a si mesma controlar a ansiedade e não pensar mais em nome até que o perfume estivesse cem por cento pronto.
Chegou ao segundo andar, virou à esquerda e seguiu em frente. Precisava achar um gerente de estoque urgentemente. O pior de tudo era achar um profissional razoável. Os melhores já haviam sido contratados pelos hotéis da cidade. Bem, daria um jeito de encontrar alguém, nem que para isso precisasse procurar em outra cidade.
Entrou em seu laboratório, tirou a jaqueta e jogou-a sobre a cadeira. Estava preparando a bancada, quando Natália, chegou.
-- Bom dia!
-- Bom dia, Natalia! -- ela respondeu, ajeitando alguns tubos de ensaio do perfume sobre a bancada.
-- A sua encomenda chegou.
Imediatamente Jessica virou-se para olhá-la.
-- Onde está?
-- Deixei na sala ao lado.
Jessica praticamente correu até lá e cheia de ansiedade e excitação, abriu o tal pacote.
-- Finalmente posso terminar a minha amostra.
-- Você não deveria ficar tanto tempo nesse laboratório, desse jeito vai adoecer.
-- Não se preocupe comigo. Sou forte e saudável como um touro!
-- E teimosa como uma mula.
Jessica deu um sorriso.
-- Posso te garantir que vai valer a pena.
-- Quando pretende lançar o perfume?
Ela coçou a cabeça e respondeu meio que incerta:
-- Quando estiver pronto.
Maya estacionou o carro e olhou para a irmã, os olhos cheios de carinho.
-- Está pronta?
Ela balançou a cabeça positivamente.
-- Muito obrigada por tudo o que está fazendo por mim. Você nem imagina o quanto estou feliz.
Maya abriu a porta do carro e desceu. Carmem fez o mesmo.
-- Acho que não sou a única responsável pela sua felicidade -- passou o braço pelo ombro da irmã e começaram a andar -- Com certeza tem um dedinho do grandão também.
-- Só um dedinho? Acho que não!
Elas gargalharam, entraram na empresa e foram recebidas pelo segurança.
-- Bom dia, dona Maya! Desculpa a bagunça, a empresa responsável pela obra quer entregar tudo pronto na quinta-feira.
-- Mas que barulho! -- reclamou Carmem -- E que poeira!
Maya agarrou-a pelo braço imediatamente e conduziu-a até o elevador.
-- Não está funcionando?
-- O elevador ainda não está liberado, dona Maya. Infelizmente terão que ir pela escada -- avisou o segurança.
-- Tudo bem, então vamos pela escada. Fazer o que? -- disse Maya, olhando para a irmã -- Espero que liberem até sexta-feira, caso contrário, a Jess vai surtar.
Subiram a escada até o segundo andar e chegaram ao laboratório. Jessica sorriu ao vê-las.
-- Olá. Que honra recebê-las em meu humilde laboratório.
Maya abriu um sorriso maior ainda.
-- Isso aqui está uma bagunça, Jess.
-- Estamos correndo contra o tempo. Por que não se sentam e ficam à vontade? A manhã estava tão corrida, que eu até esqueci de lhe falar a respeito da festa de inauguração.
Maya sentou-se em uma pequena poltrona e fez com que Carmem se sentasse ao seu lado.
-- Qual o problema? Surgiu algum imprevisto?
-- A chuva, amor. Esqueceu que a festa será ao ar livre? Do jeito que está chovendo, os convidados terão que vir de barco!
-- Ah, Jess! Até sexta o tempo melhora, você vai ver.
-- Se você acha.
Maya levantou-se e foi até onde Jessica estava sentada.
-- Tenho um assunto importante para conversar com você.
Jessica parou o que estava fazendo para prestar atenção nela.
-- Pode falar.
-- A Carmem está precisando trabalhar -- ela fez uma pausa -- Será que não temos algo que ela possa fazer?
-- Qualquer coisa, Jéssica -- disse Carmem -- Quero fazer algo útil, não estou acostumada a ficar sem fazer nada.
Durante vinte e dois anos, havia sido a filha mimada e controlada pelos pais. Entretanto, ao se formar na faculdade de administração, conseguiu convencer o pai a permiti-la trabalhar em um escritório de advocacia. O emprego não só lhe ofereceu uma boa chance de adquirir experiência, como também lhe permitiu crescer como ser humano.
-- Nada como sentir-se útil para afastar qualquer sentimento de melancolia e tristeza -- completou Carmem.
-- Hum -- Jessica pensou por alguns instantes -- Nós temos uma vaga disponível para gerente de estoque. O que você acha? Talvez tenha problemas no começo, aquilo lá está uma bagunça.
Carmem levantou-se de súbito e deu um beijo no rosto da cunhada.
-- Não tem problema, eu vou dar o meu máximo. Obrigada Jessica. Eu adoro você.
Jessica sorriu.
-- Não precisa me agradecer, Transformer.
-- Como assim, Transformer? -- Carmem não entendeu.
-- Se "car" significa carro e "men" significa "homens", então toda Carmem é um Transformer.
-- Idiota.
Maya tinha certeza que aquele emprego fora feito para Carmem. Seria uma excelente oportunidade dela se tornar independente. E, é claro, de ganhar dinheiro. Jessica tinha um coração tão grande que mal cabia dentro do peito. Ela realmente a amava mais que tudo na vida.
Sexta-feira
Jessica parou de escovar os cabelos dourados e concluiu que aquela seria uma das melhores manhãs de sua vida. Porém, ao observar melhor o próprio reflexo no espelho, ficou descontente consigo mesma. Quase tudo normal, os expressivos olhos azuis, a pele clara e acetinada e as faces coradas, porém, tinha olheiras e o cabelo arrepiado.
Ao notar que estava perdendo tempo, prendeu os cabelos na altura da nuca.
-- Hoje o meu cabelo resolveu brigar comigo, essas olheiras resolveram aparecer...Tá tudo uma merd*! Não sei o que é mais bagunçado, meu cabelo ou minha vida.
-- Credo Jess! Você está linda, como sempre.
-- Sei, sei -- resmungou, inconformada.
O evento inaugural da Del Hill estava marcado para às 11:00. Jessica olhou, de relance, para o relógio de pulso. Ainda teriam alguns minutos antes de descer.
-- Conselho: Nunca deixe seu cabelo descobrir que você tem um compromisso importante.
-- Você não pode controlar tudo, Jess. Seu cabelo foi colocado em sua cabeça para te lembrar disso -- Maya olhou bem para ela depois, balançou a cabeça -- Só está um pouquinho bagunçado. O que aconteceu?
-- Um filme de terror chamado "lavei o cabelo e deixei secar naturalmente". Foi o que aconteceu -- fez um gesto desanimado com as mãos -- Vou tomar café que é melhor.
Impaciente consigo mesma, deixou o quarto e foi direto para a cozinha.
-- Bom dia, Valquíria -- disse, ao avistar a moça sentada à mesa.
-- Bom dia. Precisa de ajuda em alguma coisa?
-- Não, obrigada. Tô de boa.
-- Se me permite a franqueza, acho que você deveria tomar um belo café com pão francês. Está com cara de quem não teve uma noite muito agradável.
-- Você acha? -- disse, sem vontade de se alimentar -- Que tal torradas com ovos mexidos? -- sugeriu, observando o sorriso de Valquíria.
-- É pra já -- disse, a moça com ar de satisfação.
Maya pegou a bolsa e desceu para a cozinha, onde o aroma do café fresco era maravilhoso. Jessica estava sentada à mesa, e estudou-a por um longo momento.
-- Pensei que não estivesse com fome.
-- Estou empurrando -- disse Jessica, fazendo uma careta.
-- Porque isso?
-- A Valquíria disse que eu precisava comer pois estou com uma cara horrível.
-- Hei, eu não disse isso! -- Valquíria defendeu-se.
-- Na verdade não falou, mas deu a entender.
-- Não liga Val, a Jessica hoje acordou cismando com o cabelo e com as olheiras -- Maya serviu-se de torradas frescas e cereais.
-- Bom dia! -- cumprimentou Vitória calorosamente -- Está uma linda manhã. Dormiram bem?
Aquela era apenas uma pergunta educada, mas a lembrança de ter dormido aninhada contra o corpo de Jessica fez Maya sorrir.
-- Muito bem, obrigada.
Vitória serviu-se de café e adicionou açúcar.
--Teremos um dia cheio à frente -- ela selecionou torrada, frutas e iogurte.
-- Só espero que não chova -- comentou, Jessica.
-- Deixa de neura, Jess. O dia está lindo -- disse Maya -- Vai dar tudo certo.
-- Estive lá logo cedo, supervisionando os detalhes de última hora do bufê -- disse Valquíria.
-- E o que achou? -- perguntou Maya, entusiasmada.
-- Tudo perfeito. O cardápio maravilhoso e a decoração de muito bom gosto.
-- Estou tão ansiosa! -- disse Maya.
-- Interessante, a meteorologia disse que choveria hoje -- comentou Jessica, pensativa.
-- Ai, Jess! Chega! -- Maya consultou o relógio, bebeu o restante de seu café e se levantou -- Precisamos ir -- murmurou ela quando levantou a cabeça e pegou sua bolsa -- Cuidem-se, crianças.
-- Daqui a pouco estaremos lá -- disse Vitória.
Jessica pegou seus pertences, acenou para Valquíria e Vitória e foi para garagem, a fim de enfrentar o trânsito congestionado do horário em direção à zona sul.
Sob o sol forte da manhã de Hills, Jessica dirigiu depressa até a Dell Hills.
-- Nem preciso lhe dizer quanto esse evento inaugural é importante para nós -- disse Maya num tom sério, assim que entraram na avenida principal.
-- Você não espera fechar nenhum negócio hoje, não é? -- indagou Jessica, em tom incrédulo.
-- Claro, não podemos perder nenhuma oportunidade. Se houver a mínima chance de fechar qualquer negócio hoje, eu vou aproveitar.
-- Pois eu quero é me divertir.
Maya olhou para ela indignada.
-- Como assim? -- ela perguntou, encarando Jessica com cara de brava,
-- Ora -- murmurou Jessica, parecendo à vontade -- Eu sou apenas a perfumista, você que é a presidente.
-- Não é bem assim. Acho que, se tivermos a chance de falar de negócios, poderemos ser questionados quanto à qualidade dos nossos produtos e a possibilidade de bancarmos a compra de matéria-prima, para atender a algum pedido colossal. Ou qualquer outro assunto relacionado ao seu setor de criação. Neste caso, você responderia a tudo com seu grande conhecimento e experiência.
Jessica admitiu que aquela seria uma razão justa. Tinha consciência de que poderia esclarecer qualquer questão que dissesse respeito aos produtos fabricados pela Dell Hills. Isso sem falar na fama de criadora de produtos de alta qualidade que conquistou no meio comercial. Ficou conhecida pela austeridade e pela precisão com que cumpria todos os compromissos de entrega da empresa que pertencia à Marcela.
Pontualmente às 11:00 os portões foram abertos e os convidados começaram a entrar.
-- Boa sorte para nós amor -- Maya murmurou rapidamente.
Jessica olhou para o céu antes de responder.
-- Vamos precisar -- as palavras de Jessica perderam-se no falatório das pessoas que invadiam o jardim. Em menos de cinco minutos, o local estava tomado por clientes, fornecedores, personalidades do cenário político, do comércio e da indústria.
Jessica olhou ao redor e viu o delegado Nilson conversando com um senhor . Se ele estava ali, com certeza tia Inês também estava, então, caminhou até eles.
-- Bom dia, senhores.
-- Bom dia, minha filha -- disse Nilson, beijando a cabeça dela.
Ela olhou para a barriga enorme do senhor ao lado e sorriu.
-- Qual dos dois vai dar à luz primeiro?
Nilson deu um sorrisinho sem graça.
-- Jessica, esse é o Senhor Juiz Everaldo Castro Gomes Filho .
Jessica colocou a mão sobre a boca aberta sem conseguir falar de imediato, quando conseguiu, estava nervosa demais.
-- Desculpa, meritíssimo, excelentíssimo, elegantíssimo...
O juiz colocou o braço sobre o ombro de Jessica e saíram caminhando.
-- Com licença Nilson, eu e a Jessica vamos conversar um pouco.
Nilson ficou apavorado. Inês aproximou-se dele segurando um copo de refrigerante.
-- Quem é aquele senhor que está com a Jessica?
-- Everaldo Castro Gomes Filho, o novo juiz de Hills. Você acredita que ela chamou o homem de barrigudo?
-- O que?
-- É isso mesmo que você ouviu!
-- Oi, que bom que vieram... O que aconteceu? -- Maya perguntou, preocupada.
-- A Jessica chamou o juiz de barrigudo -- contou Nilson.
-- Não acredito! -- Maya respirou fundo -- Ou melhor, acredito. A Jess não tem papas na língua.
Um homem vestido elegantemente se aproximou deles.
-- Com licença, dona Maya. Sou Ezequiel, o mestre de cerimônia. Está tudo pronto, seus convidados já podem se servir. Os garçons já estão trazendo o champanhe, deixe-me oferecer-lhe um pouco -- o homem pegou uma taça de uma bandeja e entregou-a -- Espero que encontre tudo a seu gosto.
-- Certamente encontrarei, obrigada.
-- Com licença -- ele balançou a cabeça e saiu.
-- Que chique -- comentou, Inês -- Divirta-se um pouco, minha filha. Não fique só discutindo negócios.
-- Não se preocupe dona Inês. Vou me controlar -- ela olhou ao redor do amplo jardim e viu Jessica conversando com um grupo de mulheres. Mais alta do que a maioria delas, parecia bem descontraída e sorridente. Maya a examinou curiosamente -- No meio da mulherada, ela nem lembra mais do cabelo arrepiado. Safada!
-- O que foi, minha filha? -- perguntou Inês, sem entender muito bem o que acabara de ouvir.
-- Nada demais. É que a Jessica fez um drama terrível hoje de manhã, só porque o cabelo dela estava arrepiado.
-- Ah, é porque vai chover -- disse o delegado.
-- Você nem tem cabelo, Nilson! -- Inês franziu as sobrancelhas e, logo após, sorriu.
-- Minha mãe vivia falando que quando estava para chover o cabelo dela ficava todo arrepiado -- ele rebateu, irritado -- É o magnetismo.
-- Que magnetismo, nada! É a umidade -- afirmou Inês -- Se o cabelo arrepiar, com certeza vai chover!
Nilson bufou, sem paciência.
-- Sabia que eu já tive cabelo um dia?
-- Capaz! Quando?
Maya fez um gesto para que eles parassem com a discussão.
-- Proíbo vocês de falarem sobre esse assunto com a Jessica. Que saco! Não vai chover, o dia está lindo e vai continuar assim! -- Maya saiu, irritada.
Nilson e Inês se olharam, admirados.
-- O que deu nela?
Fim do capítulo
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HelOliveira
Em: 01/05/2022
Já estou acreditando que vai chover,......a Jess me mata de rir gente cada uma que ela solta..
Maya tá com ciúmes ......será?
Bjos se cuida Vandinha
Resposta do autor:
Será que vai chover, Hel?
Beijos.
Marta Andrade dos Santos
Em: 29/04/2022
Maya pegou ar kkkk
Resposta do autor:
Sim, kkk
Beijos.
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Lea
Em: 28/04/2022
E aí, será que chove???
A Jéssica às vezes parece ter a alma de uma criança grande,solta cada piadinha! Kkkkk
E o nome do novo perfume,qual será?? Será que terá algo relacionado a Maya??
Boa tarde Vandinha,tenha um ótimo dia!!!
Resposta do autor:
Olá Lea.
Ainda não sei qual será o nome do perfume. Mas acredito que seja algo que simbolize o amor delas.
Beijos. Até.
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