Capitulo 73
A Última Rosa -- Capítulo 73
Com grande cuidado para não acordar Maya, Jessica afastou-se e levantou para tomar uma ducha.
Quando Maya acordou, sentia-se completamente descansada, como se tivesse acabado de dormir o sono mais restaurador de sua vida. Espreguiçando-se sob as cobertas, sorriu para si mesma ao perceber que estava do outro lado da cama, o lado contrário ao que costumava dormir. A noite foi maravilhosa!
A porta se abriu e Jessica entrou, impecavelmente vestida.
-- Bom dia, dorminhoca -- ela colocou uma xícara de café na mesinha de cabeceira.
-- Bom dia, amor -- Maya a olhou com admiração -- Você está linda! Vai aonde?
-- Esqueceu que hoje começa o julgamento do meu irmão? Prometi a ele que estaria presente.
Maya sentou-se e abriu os braços.
-- Vem aqui.
Jessica foi até ela e refugiou-se neles.
-- Você está preparada para o pior, não é mesmo? -- perguntou Maya.
-- Sim, estou. A justiça, por mais dura que seja, tem que ser cumprida. O Fábio vai ter que pagar pelos crimes que cometeu.
-- Que bom que você pensa assim, não quero que sofra.
-- Não se preocupe, saberei lidar com a situação.
Maya lhe deu um beijo carinhoso.
-- Em breve será o julgamento da Martina, da Augusta e do Maicon. Estou nervosa desde já, nunca sequer entrei em um tribunal, imagina servir como testemunha.
-- Esses pelo jeito também vão mofar na cadeia.
-- Se Deus quiser! -- exclamou Maya.
Nunca um julgamento em Hills despertou tal grau de interesse. Embora, na realidade, quem não sentiria curiosidade por uma história tão assombrosa? O acusado, um jovem bonito e herdeiro da fortuna de seu defunto pai. De origem respeitável embora não muito conhecido na cidade. A vítima era filha de uma das maiores celebridades da região, homem amado e respeitado que praticamente colocou Hills no mapa.
A cidade estava lotada de visitantes resolvidos a presenciar o julgamento.
Quando às oito em ponto se abriram as portas da sala do tribunal, se produziu uma grande confusão porque muitos não puderam entrar. A sala estava lotada, os espectadores estavam sentados ombro a ombro.
Fábio parecia indiferente, sentado na cadeira dos acusados com dois policiais ao lado. Ele vestia um terno azul-marinho e uma camisa branca. Estava muito bonito. Infelizmente, pensou Jessica, a beleza de Fábio não abrandava a seriedade dos seus crimes.
Em seu discurso de abertura, o juiz presidente fez um breve relatório do processo e realizou a leitura de peças solicitadas pela promotoria e defesa. Ele declarou inevitável a conclusão que o acusado é culpado dos crimes que lhe imputam.
Jessica observava atentamente o homem sentado na cadeira e todos os presentes na sala sabiam que Fábio era o mandante dos crimes e queriam vê-lo pagar por eles.
Fábio jamais olhava para os espectadores, seus olhos ou olhavam para baixo ou estavam fixos na equipe de defesa formada por seus advogados.
O julgamento durou cinco dias, cinco dias penosos para Jessica que esteve presente em todas as sessões.
Fábio continuava indiferente, como se não se importasse com o resultado do julgamento.Talvez Fábio não estava indiferente; talvez estivesse seguro do veredicto.
Só uma vez viu o irmão mostrar emoção ou inquietação, e isso foi quando chamaram a mãe para testemunhar a seu favor.
Quando o jurado se retirou a considerar seu veredicto e se suspendeu a sessão, começou o murmúrio das conversações entre os espectadores.
Jessica apertou a mão de Maya e olhou para ela desanimada.
-- Agora só nos resta esperar.
-- O que você acha, Jess?
-- Que ele será condenado, isso é fato, Fábio confessou os crimes. Espero que pelo menos ele não pegue muitos anos de prisão -- ela disse, mesmo não acreditando na possibilidade -- Obrigada por ter vindo, amor. A sua presença é muito importante para mim.
Maya não disse nada, mas seu olhar cheio de carinho, aqueceu o coração de Jessica.
Meia hora depois, soou a campainha da sala do jurado e todos os espectadores voltaram a ocupar seus assentos.
Jessica estava nervosa, tinha a boca seca e o coração batia com força. Tinha suposto que o jurado demoraria mais tempo em chegar a seu veredicto, e não sabia se isso era um presságio bom ou mau. Quando todos os membros do tribunal estavam em seus postos, Jessica olhou para a cadeira vazia do irmão. Um momento depois apareceu Fábio e ocupou seu lugar.
Fábio não demonstrava nervosismo, embora soubesse a gravidade de sua situação.
Nesse momento os membros do jurado estavam entrando em fila. Os minutos seguintes transcorreram como se tivessem sido horas. O secretário do tribunal passou a lista aos membros do jurado, dizendo lentamente os nomes de cada um.
-- Senhor porta voz pode dizer o veredito -- pediu o juiz.
O silêncio tomou conta da sala.
-- Culpado. O réu foi condenado a quatorze anos de prisão.
Imediatamente um estalo de aplausos encheu a sala.
Jessica levantou e estendeu a mão para Maya.
-- Vamos embora, amor.
Maya sorriu e segurou a mão dela.
-- Vamos.
Elas entraram no carro e foram para casa.
Jessica sentia-se meio triste, meio satisfeita, ao mesmo tempo. Seu irmão escolheu o caminho do crime e deve pagar por isso.
"Devemos pagar caro pelos nossos erros se quisermos ver-nos livres deles, e depois podemos até dizer que temos sorte". Johann Goethe
Animada, Maya abriu a porta e convidou Carmem a entrar.
-- Entre, entre! -- ela puxou a irmã para dentro -- Jess, vem ver quem chegou!
Jessica foi recebê-la de braços abertos.
-- Seja bem-vinda!
-- Obrigada, Jessica.
Carmem era uma mulher bonita, dona de um rosto largo de traços marcantes.
De repente ela sentiu-se envergonhada por estar na casa de alguém que tanto maltratou.
-- Desculpa -- pediu em voz baixa -- Desculpe por tentar destruir o amor de vocês.
-- Não precisa desculpar-se, Carmem -- Maya passou um braço sobre os ombros trêmulos da irmã e levou-a para a sala de estar -- O que passou, passou.
Carmem lançou um olhar triste na direção de Maya.
-- É melhor que a minha vinda para Hills dê certo -- ela murmurou, sem desviar os olhos da irmã.
-- Vai dar. Você vai começar uma vida nova. Estou sentindo! -- sussurrou, agarrando o braço de Carmem.
-- Estou morrendo de medo, não sou corajosa como você. Enfrentou o pai e agora vai casar-se com a Jessica. Para mim isso é uma prova de grande coragem.
-- Você também é corajosa, mana, entenda isto: pelo simples fato de ter tomado a decisão de encarar o desafio de vir para Hills, você já tem muito mais coragem do que imagina! As dificuldades surgem exatamente para demonstrar para nós o quão corajosos somos; nunca para nos derrubar. Ninguém mostra sua força navegando apenas por águas calmas. Pense nisso! -- Maya respondeu, soltando gentilmente o braço da irmã.
-- Não tenha medo, Carmem. Não há razão para isso. Se quiser eu posso te emprestar o meu guarda-roupa.
Maya fitou os olhos aflitos da irmã e esclareceu:
-- O que a Jess quis dizer, é que ela pode liberar um dos seus guarda costas para acompanhá-la enquanto você se familiariza com a cidade.
-- Oh, não. Isso me parece tão estranho.
-- Vou te ceder o meu melhor homem, o Capone já cancelou o cpf de uns trinta, mas no fundo ele é um fofo, sabe até fazer crochê.
Maya empurrou Jessica.
-- Para de assustar ela! -- Maya virou-se para a irmã e amenizou a voz -- Não dê ouvidos a Jess, mana. Com o Capone você vai sentir-se segura e ainda vai ter uma ótima companhia -- Maya podia sentir que a irmã começava a ceder.
--Tem certeza de que não há nenhum problema?
-- É claro que tenho -- Maya sorriu -- Relaxa, agora, eu vou pedir para a Vitória servir um lanche para nós.
-- Vou falar com o Capone -- Jessica colocou um boné grená com um grande escudo do Fluminense e saiu cantando: Fluminense vai jogar, eu vou ficar, louca da cabeça, nada me interessa! Sou tricolor! Sou tricolor!
Maya revirou os olhos.
-- Ninguém merece.
Elas tomaram café e comeram biscoitos caseiro preparados por Valquíria na espaçosa sala de estar enquanto conversavam sobre o desejo de Maya de ser mãe.
-- Eu quero ter muitos filhos. Já disse para a Jessica, no mínimo cinco.
-- É possível duas mulheres terem filhos biológicos?
-- Além da adoção, aqui na nossa região as clínicas de fertilização oferecem duas alternativas de reprodução assistida para mulheres homoafetivas que desejam ter um filho biológico. Graças à fertilização in vitro (FIV), podemos ter uma gravidez compartilhada ou fazer uma gestação de substituição -- Maya tomou um grande gole do café preto e forte, recostou-se em sua cadeira e sorriu -- Eu e a Jessica escolhemos a Fertilização in vitro com gravidez compartilhada. Por meio desse procedimento, é possível ter um filho biológico de duas mães. Afinal, as duas participam da gestação. Primeiro uma doa o óvulo, para que seja fecundado, por meio da FIV convencional, com um espermatozóide doado, disponível no banco de sêmen. Uma vez fecundado, o embrião é implantado no útero da outra mulher.
Carmem levantou uma sobrancelha, surpresa e curiosa.
-- Meu Deus, como estou desatualizada.
-- Estou atrapalhando? -- perguntou Jessica, encostada ao batente da porta.
-- Não amor -- respondeu Maya -- Estava falando do nosso desejo de termos muitos filhos.
-- Aí sim, amor -- ela olhou para trás e fez um gesto para que Capone se aproximasse -- Esse é o Capone, Carmem.
-- Bom dia, dona Carmem! -- ele sorriu.
-- Bom dia, Capone! -- Carmem também sorriu. A irmã de Maya ficou encantada. O guarda costa era bonitão, dentes muito brancos, olhos castanhos, contrastando com o bronzeado do rosto.
-- Bem, agora que estão devidamente apresentados, quer beber café conosco, Capone? -- perguntou Maya.
-- Quero, sim, obrigado, dona Maya -- ele acomodou-se ao lado de Carmem -- Com licença.
-- Preto ou com leite?
-- Com leite, dona Maya.
Carmem não conseguia parar de olhar para o grandão. Era muito atraente. Havia qualquer coisa diferente na aparência dele, um não sei que de descontração. Ao perceber que ele a observava, Carmem sentiu uma onda de prazer.
-- Problema com o estômago? -- perguntou ela, num tom banal, referindo-se ao leite.
-- Não, de jeito nenhum, dona Carmem. Minha saúde é ótima -- ele riu e colocou um biscoito na boca -- Acho o leite uma bebida saudável.
-- Pois eu, sou intolerante à lactose -- contou Jéssica -- Quando ingiro algo com lactose, me dá uma diarréia! Às vezes fico pensando, ainda bem que a tosse não faz parte dos sintomas.
-- Porque? -- perguntou Carmem.
Porém, antes que Jessica respondesse, Maya interviu.
-- Porque tossir é muito chato! -- ela disse, depois, dirigiu-se à Capone -- Você toma vitaminas?
-- Todos os dias -- concordou Capone -- Não fumo, não bebo bebida alcoólica. Pratico exercícios, como apenas alimentos saudáveis, durmo cedo...
Jessica colocou um dos cotovelos sobre a mesa e descansou o queixo na mão, espantada com o diálogo.
-- Faz sex*?
-- Jessica!!! Que horror!!! -- Carmem ficou horrorizada.
Capone ficou roxo. Maya balançou a cabeça.
-- Isso é pergunta que se faça, Jess?
-- Porque não? O marido da dona Neide, vizinha da tia Inês, também não bebia e nem fumava. Foi ao médico e depois dos exames prontos foi descoberto que ele estava com problemas no fígado.
-- E daí? -- perguntou Carmem.
-- O médico disse que ele tinha que fazer muito, mas muito sex*. Isto iria ajudá-lo a manter o fígado saudável! Ele foi para casa e contou tudo para a dona Neide. Naquela noite a dona Neide se encheu de graça e esperança, se enfeitou, se perfumou, vestiu uma camisola especial e deitou na cama esperando pelo marido.
O sujeito saiu do banho, começou a se arrumar, se vestir, se perfumar e a dona Neide, surpresa, perguntou:
-- Onde é que você pensa que vai?
-- Não ouviu e entendeu o que o médico me disse?
-- Sim, mas, aqui estou eu prontinha ....
E o marido:
-- AAAAHHHH NEIDE!!! NEIDE, NEIDE....., LÁ VEM VOCÊ COM A SUA MANIA DE REMÉDIO CASEIRO!!!
Jessica olhou para a cara carrancuda de Maya e esboçou um sorriso angelical.
-- Caso verídico -- ela disse, sem graça -- Como sou discreta, não vou perguntar mais nada.
-- É melhor não perguntar mesmo -- disse Maya, levantando-se -- Vem comigo, Jess. Vamos até a cozinha comer doce de leite com ameixa.
Jessica fez uma careta de nojo.
-- Não quero!
-- Quer sim! -- Maya deu de dedo.
-- Quero sim, adoro doce de leite com ameixa -- Jessica se levantou e ficou emburrada esperando por ela.
Maya se virou para Carmem.
-- Converse com o Capone e combine o dia que ele começará a fazer a sua segurança.
Carmem respondeu com um movimento de cabeça e continuou a conversar com Capone.
-- Qual o seu prato preferido?
-- Sopa de soja e salada de broto de feijão.
-- Ah, pelo jeito, você é naturalista.
-- Vegetariano -- corrigiu Capone.
Maya entrou na cozinha puxando Jessica pelo braço.
-- Como você é empata foda, Jess! Não percebeu o clima que está rolando entre eles?
-- Que clima?
-- Os dois estão flertando. Ai, que fofo! O Capone é vegetariano.
-- Não quero estragar o seu momento fofura, mas, se não me engano, os vegetarianos convictos não tomam nem comem nada de origem animal, inclusive ovos, queijo e LEITE. O Capone está enrolando a sua irmã com esse papo de saúde é o que interessa o resto não tem pressa -- Jessica foi até a geladeira, pegou uma tigela e colocou sobre a mesa. Depois, pegou um prato, uma colher e cruzou os braços.
Maya observava tudo com surpresa e curiosidade.
-- O que é isso?
-- Não queria comer doce de leite com ameixa? Agora come!
Fim do capítulo
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Mille
Em: 24/04/2022
Jessica arrasou morri de rir aqui
Olha aí Carmem já começando bem a nova vida, bora ver como ela e Capone.
Fábio teve sua sensação e pagar pelos atos.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille!
Passando rápido só para desejar um dia maravilhoso.
Paz e Luz. Beijos.
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NovaAqui
Em: 23/04/2022
Rindo com a Jéssica! Ainda bem que Maya já está acostumada com as gracinhas da futura esposa.
Que bom que Carmem já chegou e já rolou um clima com o Capone
Abraços procê? S2
Resposta do autor:
Olá NovaAqui
Passando rápido para desejar um dia maravilhoso para você e para todos que te rodeiam.
Paz e Luz. Beijos.
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Marta Andrade dos Santos
Em: 23/04/2022
Essa Jéssica é muito louca kkkkkk
Resposta do autor:
Olá Marta!
Passando rápido para desejar um dia maravilhoso para você e para todos que te rodeiam.
Paz e Luz. Beijos.
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