A Última Rosa -- Capítulo 72

Elas ficaram paralisadas. Honório lançou um olhar penetrante para Jessica. 

-- Venham, entrem. Não quer preparar uns aperitivos para nós, Carmem? -- ele berrou ainda da porta -- Entrem, entrem.

Elas entraram e sentaram-se nas poltronas macias da sala. Logo depois Carmem chegou com os copos de bebidas. 

-- Carmem estava me contando que você convidou ela para ir morar na mesma cidade em que vocês moram -- Honório comentou -- Sério que vocês moram do outro lado do mundo?

-- Nem tanto, pai. De avião leva no máximo umas quatro horas -- Maya tomou um gole de sua bebida, a mente ainda presa à conversa que acabara de ter com Jessica, imaginando quando elas falariam sobre o casamento. 

Eva entrou na sala, muito sorridente.

-- Oi, minha filha -- surpreendentemente, ela se dirigiu à Jessica -- Quanto tempo! -- Eva segurou as mão dela com os olhos cheios de admiração. Jessica estava vestindo uma calça jeans justa, azul-escuro, que modelava de forma provocante e acentuava a esbelteza de suas pernas, dando-lhe um ar extremamente elegante. Os cabelos loiros estavam presos e seus olhos azuis brilhavam no rosto bonito, parecendo refletir a cor da blusa que ela usava -- Você é linda, sempre achei isso. Não é mesmo Carmem?

-- Verdade, ela vivia dizendo isso. 

Jessica e Maya entreolharam-se esperando por algum comentário de Honório, mas ele nada falou.

-- Maya querida, me ajuda a preparar a mesa? 

Lançando um olhar preocupado para Jessica, Maya levantou-se. Não sabia se era uma boa ideia deixá-la sozinha com o pai. Percebendo o olhar de indagação lançado a ela, Jessica balançou a cabeça discretamente como se dissesse: Vai tranquila.

-- Ajudo sim, mãe, vamos.

-- Eu vou colher umas laranjas para fazer um suco -- disse Carmem, saindo porta afora.

Depois que elas saíram da sala, Jessica endireitou-se no sofá e olhou séria para Honório.

-- Eu tenho algo para comunicar ao senhor.

Ele a olhou e Jessica notou sua expressão curiosa.

-- Pode falar.

-- Eu e a Maya vamos nos casar.

Honório deu um pulo no sofá, pareceu querer fulminá-la com o olhar.

-- Como pode falar uma coisa dessas? Eu nunca permitirei isso, a minha reputação será destruída. Esse casamento acarretará a mais terrível desgraça sobre meu nome e o de minha família. 

Jessica levantou uma das sobrancelhas ironicamente, antes de falar.

-- Acho que o senhor não entendeu -- ela enfrentou o olhar dele -- Nós não viemos aqui para pedir a sua permissão, nós viemos aqui para comunicá-lo. O que é bem diferente.

Honório pareceu um pouco constrangido e lançou-lhe um olhar severo.

-- Maya ainda é a minha filha.

-- Sim, ela ainda é a sua filha, mas pelo que percebo, o senhor está fazendo de tudo para perdê-la. Maya não quer magoá-lo e tampouco menosprezar sua autoridade, mas...

-- Sim? -- perguntou ele, ao vê-la parar de repente -- Mas o quê?

-- Nós nos amamos, senhor Honório, e ninguém pode evitar, muito menos impedir isso -- respondeu Jessica simplesmente -- Portanto, com sua permissão ou não, nos casaremos. Não precisamos do senhor para nada.

Ele exalou um suspiro profundo.

-- Porque casar? Estar juntas não é o suficiente? -- perguntou ele, e sua voz manifestava desgosto e censura. 

-- Porque o senhor e a senhora Eva casaram?

-- Oras... porque queríamos construir uma família juntos, vivermos sob o mesmo teto, cuidar da minha esposa e dos meus filhos.

-- Oras, o senhor acha que eu e a Maya não queremos a mesma coisa? Não dizem que o amor vem de nós e o casamento vem do alto? Vem de Deus?

-- Deus nunca aprovará um casamento entre duas mulheres.

-- Deus é amor, nosso casamento é amor, portanto, que tal parar de julgar e deixar eu e a Maya nos entendermos com Deus?

Honório franziu a testa.

-- A Maya realmente não está nem aí para a minha opinião? 

-- Entenda, seu Honório, uma vida sem família é uma vida muito mais triste! Não precisa de sangue, mas sempre será importante ter pessoas com quem você pode contar e que podem contar com você! É saber que não está sozinho. É sentir-se amado, abraçado e acolhido. Como já disse, Maya ama-o profundamente e ficará muito triste com a sua atitude. Sua opinião é importante para nós, mas não é a opinião decisiva.

Honório ficou em silêncio durante algum tempo e Jessica não ousou falar, ao vê-lo imerso em pensamentos. Estaria considerando o pedido? Sabia que Maya a amava e sentia-se atormentado com a possibilidade de nunca mais ver a filha? A esperança transpareceu nos olhos de Jessica.

Mas antes que Honório pudesse responder, a porta se abriu e Eva parou na soleira.

-- Vamos continuar a conversa na sala de jantar -- disse a mãe de Maya, com uma animação invejável.

Honório foi o primeiro a se levantar.

-- Claro, vamos. 

Maya observava Jessica e Honório com interesse, como se sentisse que havia alguma coisa estranha. 

Honório olhou para Jessica e para Maya e depois novamente para Jessica. 

-- Sente-se, Jessica -- com um gesto impaciente, ele indicou à ela a cadeira ao lado de Maya, no lugar que ficava em frente a Eva. 

Durante vários segundos ninguém falou. Todos estavam concentrados em preparar o prato.

-- A galinha caipira está divina -- comentou, Jessica.

-- Galinha caipira ao molho de vinho tinto -- completou Eva, cheia de orgulho.

-- Que delícia, mãe! -- Maya limpou os lábios com o guardanapo e o colocou ao lado do prato -- Como a senhora preparou esse molho?

-- Para preparar o molho de vinho, eu usei manteiga, cebola, alho, farinha, tomate e açúcar. Pode-se também combinar o frango com cogumelos. Fica uma delícia!

Apesar de tudo estar maravilhoso, Maya não sentia nem um pouco de fome. Seus pensamentos estavam no pedido de casamento, nas palavras que Jessica usaria e na reação do pai. Olhou para Eva, sentada à sua frente. Quando ela ouvir o pedido de casamento vai desmaiar. Assustou-se com esse pensamento e, nervosa, deixou cair a faca, Jessica olhou-a e Maya corou, o que fez Jessica sorrir, divertida. Engraçado, pensou Maya, como ela pode parecer tão calma em um momento tão estressante?

-- Maya -- a voz do pai soou carinhosa -- Não está comendo, filha. O que a preocupa? Seu casamento? 

Maya ergueu o olhar para Jessica. Desajeitadamente, ela colocou o garfo e a faca sobre o prato, sentindo-se incapaz de pensar com lógica. 

-- Casamento? -- perguntou Carmem.

-- Casamento? -- Eva, também perguntou.

Honório fez um sinal afirmativo com a cabeça.

-- Sim, a Jessica pediu a Maya em casamento e eu aceitei. 

Maya viu a felicidade estampada no rosto de Jessica quando ela examinou com os olhos verdes as pessoas sentadas em volta da mesa. 

-- Mas... -- Eva estava confusa -- Não é pecado?

Honório apontou o dedo para a esposa e disse, em tom de brincadeira: 

-- Olha mulher, eu já sei até o que eu vou dizer pra Deus quando me encontrar com ele. Vou dizer que uma filha eu entreguei para casar com um homem e olha no que deu! A coitada apanhou até no céu da boca.

-- Pai! -- Carmem reclamou. 

-- E não é verdade, filha? O que eu quero dizer é que se a Maya escolheu a Jéssica, só nos resta apoiá-la. É para isso que serve a família, não é mesmo? 

Maya sentiu uma vontade quase irresistível de correr para Jessica e abraçá-la, mas se controlou. Jessica não precisava ter enfrentado o seu pai, não precisava comunicar e muito menos pedir permissão à ele, mas fez por amor à ela. Porque quem ama de verdade não consegue ser feliz se a pessoa amada não for também!

Fim do capítulo