Capitulo 71
A Última Rosa -- Capítulo 71
Maya sentia-se como se um peso enorme tivesse sido retirado dos seus ombros.
-- Já que vocês insistem, eu vou passar essa noite aqui.
-- Ah, Maya. Você sempre será bem-vinda, esta casa é sua também.
Maya estudou as rugas profundas no rosto do pai, o castanho empalidecido do olhar. Nunca mais os abandonaria.
-- Eu sei pai -- Maya afagou-lhe os cabelos grisalhos e beijou-o em ambas as faces -- Agora, vamos conversar sobre coisas boas, como está a tia Marta?
O voo foi ótimo e após três horas e quarenta minutos o avião pousou em Verdes Mares. Qualquer cansaço que Jéssica pudesse estar sentindo foi imediatamente esquecido pelo pensamento de que Maya poderia estar sofrendo sozinha.
"Soube de gente que suicidou-se por bem menos". Ela pensava nas palavras de Natália, enquanto atravessava o saguão do aeroporto. E, carregando uma pequena mala e uma caixa de Ferrero Rocher, entrou no táxi.
-- Quero ir para São Batista -- disse Jéssica, ao motorista -- Hotel Santa Fé.
-- Ah, desculpa moça, mas à essa hora não vai dar.
Ela olhou séria para ele e falou gentilmente:
-- Dá sim, cala a boca e dirige.
Maya suspirou fundo, e jogou o celular sobre a cama.
-- Algum problema? -- perguntou Carmem, fechando a porta atrás de si.
-- A Jessica não está respondendo aos meus whatsapps, sequer visualizou.
Carmem sentou-se na cama, ao lado da irmã.
-- Acho que ela aproveitou a sua viagem para dar umas fugidas.
-- Quem? A Jess? -- Maya riu -- Eu e a Jess construímos um relacionamento baseado em confiança, amizade, respeito, carinho, companheirismo e, principalmente, em amor. Foi difícil, tem muita coisa envolvida como: autoconfiança, traumas passados, falta de diálogo. Enfim, tivemos os nossos momentos de insegurança, mas hoje, o nosso amor está em outro patamar.
-- Tenho inveja de você -- disse Carmem. Havia uma tristeza na voz dela que preocupou Maya.
-- As coisas não estão fáceis, não é mesmo? A mãe me contou sobre o seu casamento.
Carmem mantinha a cabeça baixa.
-- Felix, meu ex marido, está me ameaçando de morte. Estou pensando em me mudar para bem longe daqui.
-- Poxa, Carmem.
-- Ele vai me matar, Maya. Sinto que isso está perto de acontecer -- Carmem olhou para a irmã fixamente, com uma indisfarçável expressão de tristeza e abatimento -- Já fiz tudo o que estava ao meu alcance, mas o máximo que consegui foi uma medida protetiva de segurança. A juíza proibiu o Félix de se aproximar de mim. Ela determinou também que ele não se aproxime dos meus familiares, a menos de 20 metros de distância.
-- Ele está respeitando a ordem judicial?
-- Imagina. Não existe lei para aquele homem.
Maya segurou as mãos dela entre as suas.
-- Não fique assim, vamos pensar em algo. Estou do seu lado.
O hotel Santa Fé estava situado numa praça de São Batista. Na sua entrada havia um porteiro parado à sombra de um toldo. Jessica ergueu a cabeça e entrou no saguão. Uma mistura de perfumes e aroma de café fresco permeava o ar. Aproximou-se do recepcionista:
-- Meu nome é Jéssica! Estou procurando pela hospede Maya Simas.
O jovem olhou rapidamente para ela e consultou a tela do monitor à sua frente.
-- Sim, o nome dela está aqui, mas a senhorita Maya não está. Ela saiu ontem de manhã e ainda não retornou.
-- Entendo.
-- Ela sabe que a senhorita está aqui?
-- Não, Maya não sabe. Eu quero fazer uma surpresa a ela.
Jessica decidiu dar uma volta pelos arredores do hotel enquanto aguardava pelo retorno de Maya. Aproveitou para se sentar à sombra de uma árvore frondosa e ouvir o canto dos passarinhos. O Hotel Santa Fé não era nada parecido com os hotéis de Hills, mas o que faltava em matéria de luxo era compensado pela beleza da vegetação.
Decidiu enviar uma mensagem de áudio para Maya:
-- Bom dia amor, onde você está?
Maya respondeu imediatamente:
-- Finalmente, dona Jessica! Eu que pergunto, onde você estava que não respondeu às minhas mensagens?
-- Estava trabalhando, amor -- Jessica conteve o riso -- Ainda está na casa dos seus pais?
-- Nesse momento estou voltando ao hotel.
Jessica sorriu, satisfeita.
-- Ótimo, mais tarde me liga contando as novidades. Beijos.
-- Beijos -- Maya respondeu, sorrindo. A noite passada tinha sido incrível. Parecia que ela e a irmã haviam voltado ao passado, para as noites de conversas que passaram naquele mesmo quarto anos atrás.
-- Aqui está bom -- disse Maya, assim que o táxi parou no estacionamento do pequeno hotel -- Obrigada!
-- Ei, você!
A voz suave de Jessica soou pelo campo aberto e Maya girou a cabeça na direção de onde vinha o som. Assim que a avistou, Maya imediatamente foi ao encontro dela.
-- Eu não acredito! -- ela apressou o passo -- Você veio!
Jessica abriu os braços, num gesto mais significativo que mil palavras. Maya refugiou-se neles, recebendo todo o amor do mundo.
-- Pensou que eu fosse deixar o meu amendoinzinho sozinha?
Maya afastou-se um pouco.
-- Porque amendoinzinho?
-- Sei lá, acho que é porque eu adoro amendoim torrado.
-- Hã! -- Maya apanhou a mão de Jessica e entrelaçando os dedos nos dela, propôs um passeio pelas redondezas -- Tenho que admitir que estou surpresa por você ter decidido vir atrás de mim. Você é maravilhosa! -- ela exclamou e beijou os lábios de Jéssica. Mas antes que pudesse aprofundar o beijo, Maya se esquivou e baixou a cabeça.
-- O que houve? -- perguntou Jessica, surpresa.
Maya não tinha a intenção de continuar com as carícias antes que elas tivessem uma conversa séria.
-- Preciso te contar uma coisa.
Jessica ergueu as sobrancelhas.
-- O que você aprontou?
-- Eu convidei a Carmem para ir comigo para Hills -- ela declarou com a voz estremecida e começou a torcer a ponta do rabo de cavalo.
-- A Carmem, aquela dedo duro que ficava espionando a gente para depois contar para o seu pai?
-- Ela mesma -- Maya balançou a cabeça -- Preciso que você entenda uma coisa.
-- Entender o que? -- Jessica estava irritada -- Ela sempre me odiou e não perdia uma oportunidade para me humilhar.
-- Você tem toda a razão de não querer a Carmem por perto. Ela foi muito maldosa em nossa época de escola -- Maya baixou os olhos e ficou observando arbustos e pequenas árvores balançando nas rajadas de vento -- Mas tudo mudou, os meu pais mudaram, a Carmem mudou -- Maya sentou-se em um banco e apoiou os cotovelos nos joelhos. Jessica permaneceu em pé, atenta às palavras da noiva -- Ela está sendo ameaçada de morte pelo ex marido. Eu não posso abandoná-la, ela é a minha irmã, Jess -- ela confessou com a voz tão fraca que mais parecia um sussurro.
Jessica também sentou-se no banco, tocou no joelho dela e sorriu.
-- Você é o amor da minha vida, Maya. Não quero te ver triste e nem preocupada. Se levar a bruxa para perto de nós te deixa tranquila, quem sou eu para contestar -- Jessica levantou-se, estendeu a mão e pediu que ela também levantasse -- Mas se ela começar a infernizar a nossa vida, não vai ser preciso o ex marido para matá-la.
-- Jessica!!!
-- Só estou brincando.
-- Brincadeira sem graça.
Jessica enlaçou a cintura de Maya e aproximou o corpo dela do seu.
-- Eta, que a sua família não pode ver uma confusão que já vai se metendo. Que coisa!
Maya afundou o rosto no tecido macio de algodão da camiseta que ela usava.
-- Quem fala.
Jessica afagava as costas dela com carinho.
-- Convidou a sua família para o nosso casamento?
Maya permaneceu em silêncio. Jessica levantou-lhe o queixo com a ponta de um dedo e forçou-a a encará-la.
-- Você não contou à eles que vamos nos casar?
Maya negou com um gesto de cabeça.
-- Porque? -- perguntou Jessica.
-- Achei que seria demais para a cabeça deles.
Jessica olhou para o alto incrédula ou decepcionada, talvez um pouco dos dois.
-- Pensei que tivesse vindo para ter uma conversa franca com os seus pais. Abrir o jogo e não esconder nada.
-- Eu tive uma conversa franca com eles.
-- E não me incluiu na conversa franca?
-- Claro que sim! Contei que estamos juntas.
Jessica estreitou os olhos, como se estivesse pensando.
-- Ótimo -- ela afirmou, com voz animada -- Já é um começo. Então, pedir à sua mão em casamento será o próximo passo.
-- Pedir a minha mão em casamento? -- Maya engasgou -- Você só pode estar brincando!
-- Brincando de pedir a sua mão? De jeito nenhum.
-- Então está louca. Pedir a minha mão para os meus pais? Não há a menor condição!
-- Por acaso você tem medo dos seus pais, Maya?
-- Claro que não!
-- Pois então, eu também não tenho. Não há nada que me impeça de ir até lá e pedir a sua mão.
Maya ficou um tempo olhando para ela. O que podia fazer para tirar essa ideia maluca da cabeça dela? Quando Jessica cismava com alguma coisa, era pior que uma mula.
-- Jess, meu pai é antiquado. Pode até sofrer um infarto com a notícia.
-- Levamos um cardiologista junto, então.
Maya bufou e saiu caminhando em direção ao hotel.
-- Vou tomar um banho e descansar um pouco.
-- Eu não -- disse Jessica.
Maya se virou para ela.
-- Não me provoque, Jess.
-- Não é provocação, eu quero falar com os seus pais -- seu rosto expressivo manifestava uma vontade inflexível -- Vamos falar a verdade à eles, se o seu pai não aceitar, tudo bem. Mas pelo menos não levamos conosco o arrependimento de não termos falado.
Afastando os cabelos de seu rosto, Maya beijou-a com carinho na face e na ponta do nariz. Sua expressão suavizou-se e ela falou calmamente:
-- Você está certa. Desculpa, amor. Eu vou ligar avisando que estamos indo.
Jessica abriu a porta do carro para Maya descer, pagou o taxista e olhou para a casinha branca dos Simas. A casa era pequena, mas maravilhosa. Seu telhado bem inclinado era interrompido aqui e ali por janelas altas.
Jessica e Maya percorreram em silêncio a pequena distância que separava o portão da entrada do bangalô.
Maya suspirou, sentindo-se ligeiramente nervosa. Jessica colocou uma das mãos no ombro da noiva, fazendo-a parar.
-- Você está bem? -- perguntou, observando-a com atenção.
Maya não conseguiu disfarçar a expressão de angústia que passou por seu rosto e Jessica lançou um olhar compreensivo.
-- Oh, Jess, eu não quero que você seja magoada, sou capaz de fazer qualquer coisa para defendê-la. E se isso significa que terei que brigar com ele, não hesitarei um segundo.
-- Olhe, Maya, você não disse que ele mudou? Então... -- Jessica começou, mas, neste momento, Honório abriu a porta e ela se calou.
-- Maya? Jessica? O que é que vocês estão cochichando aí fora?
.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
NovaAqui
Em: 22/04/2022
Leva a família toda para morar em Hills. E manda prender esse ex marido da irmã
Agora é pedir a mão de sua amada e partiu casar.
Fico imaginando o pai da Maya com o Pepe. O velho vai enlouquecer com o Pepe falando pelos cotovelos kkkkk
Abraços
Resposta do autor:
Olá NovaAqui.
Honório e Pepe, esse encontro vai acontecer, pode ter certeza.
Paz e Luz.
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Lea
Em: 21/04/2022
Capítulo curto,faz tempo que não vejo um assim!!
Já falei que adoro a Jéssica? Pois é,adoro a Jéssica! Kkkkkk
Aparentemente a família da Maya a aceitou!
Veremos na hora em que a Jéssica fizer o pedido de casamento!
Só acredito vendo! Hahahaha
Boa noite Vandinha!!
Resposta do autor:
Olá Lea.
A história está chegando ao fim e os capítulos serão curtos para eu poder dar um final legal para todos os personagens.
Beijos. Até.
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