Fique por Leticia Petra
Capitulo 17 - Acabou!
O meu coração batia desesperadamente rápido, senti a minha boca secar e as mãos tremiam tanto, que tive de esconde-las. Foi como aquele clichê, sabe? Tudo ao redor pareceu desaparecer e só existia aquele ser maravilhoso a minha frente.
O cabelo curto foi uma surpresa, e eu que achava que ela não poderia ficar ainda mais bela.
Como senti saudades daquela presença, de olhar para ela e ser alvo daquele olhar tão típico e absolutamente dela. Senti uma vontade quase que incontrolável de me jogar em seus braços e dizer o quanto morri de saudades.
“Se controla, Olivia, pelo amor de Deus.”
— Boa noite, Zoe. – Somente naquele momento notei a presença do loiro sem graça e de mais duas mulheres.
Um ciúme bárbaro me assolou. Um desejo de pega-la pelo braço e leva-la para longe daquele cara. De lhe questionar quem ele era.
— Boa noite, Olivia. – Ela ficou de pé e estendeu a mão para mim. – Que bom vê-la.
Segurei sua mão rapidamente e senti a minha formigar.
— É bom te ver também, Zoe. – Forcei a mim mesma a desviar o olhar. – Boa noite a todos.
— Boa noite... – Os desconhecidos responderam.
— Olivia, Yuna, esses são Valentin, Violeta e Iris... – Valentin, então esse é o nome do loiro água com açúcar. — São meus amigos.
Amigos... sei.
— É um prazer... – Falamos todos juntos.
— Oi de novo, Zoe. – Mina foi até ela e a abraçou.
Elas pareciam bem próximas.
— Oli, vou sentar com o meu pai. – Yuna falava baixinho em meu ouvido. – Nos vemos depois?
Sorri.
— Sim, mas não demora muito. – Ela me devolveu o sorriso.
— Mina, vamos até o papai... com licença. – Ela disse a todos.
As duas se afastaram, a mesa onde o pai de Yuna estava ficava a poucos metros da nossa. Não consegui evitar e novamente meus olhos se encontraram com os de Zoe. Queria que ela visse o meu descontentamento.
Me odiava por isso, mas a razão me abandonou naquele momento.
— Encontrei esses dois perdidos na entrada. – João apareceu ao lado de Duda e Eric.
Meu irmão de terno estava uma graça. Duda também abandonou as roupas largas e estava usando um vestido que lhe deixou ainda mais linda.
— Qual chantagem a mamãe usou pra convencer vocês? – Perguntei.
— Emocional e acredite, ela é ótima nisso. – Eric respondeu, fazendo os outros rirem. – Boa noite, pessoal.
— Boa noite...
Outra vez houve apresentações, me senti mais segura com eles ali. A todo momento, Zoe e eu nos olhávamos e posso dizer, a minha paciência estava chegando ao fim, pois o loiro sem sal não parava de falar.
“Cadê o Caio?”
— Advinha quem é? – Sorri em imediato ao sentir aquelas mãos sobre os meus olhos.
— Você demorou, bobão. – Ele gargalhou.
— O trânsito tá horrível. Olá, pessoal... Zoe, que bom te ver. Você faz muita falta na empresa. – Caio foi até ela e a abraçou. — Seus amigos?
— É bom te ver também, Caio. Esses são Valentin, Iris e Violeta. – Meu amigo apertou rapidamente as mãos deles.
— Que bom, você chegou. – Meu tio se aproximou. – Já estava ficando preocupado.
A cara de toda a minha família foi impagável. Zoe foi a única não esboçar nenhuma reação, ela apenas me encarou e pela primeira vez na noite, vi um sorriso seu em minha direção.
— Não me diga que vocês dois... – Minha mãe ficou de pé.
As pessoas ao redor passaram a nos observar.
— Mamãe, tio Bernardo é adulto e faz o que quiser. – Ela me olhou. – Vamos ter uma noite sem chamar a atenção.
Ela deu uma olhada ao redor e concordou com acenar de cabeça.
— Obrigada, querida. – Meu tio me beijou a testa. – Vamos sentar aqui e como a Olivia disse, queremos uma noite tranquila.
Os dois sentaram lado a lado.
— Boa noite, pessoal. – Ouvimos aquela voz e ela vinha do palco. – Me chamo Bento Hugo e irei cantar pra vocês essa noite.
O rapaz se posicionou no meio do palco e colocou seu violão sobre a coxa.
— Essa música eu dedico a uma mulher por quem estou totalmente apaixonado, Marina Cavalcante. – Todos da mesa encararam minha irmã.
— É você, Marina? – Minha mãe perguntou. Marina olhou para Duda, aquilo não me passou despercebido.
— Eu quero te roubar pra mim, eu que não sei pedir nada...
Minha irmã sempre foi muito reservada em sua vida amorosa, teve poucos namorados e jamais foi de coisas casuais. Ela sempre foi pé no chão quando se tratava de romances, mas quando conhecia alguém sempre me contava.
Então como eu não sabia desse cara?
— Ele tem uma bela voz. – A loira baixinha, que parecia ser um caso de João, falou.
— Vou pedir uma música pra ele. – O loiro exibido levantou.
Olhei outra vez para a Zoe.
— Droga, o Valentin não cansa de passar vergonha. – A tal de Iris comentou.
A primeira música chegou ao fim e alheio ao climão na mesa, os outros aplaudiram o tal Hugo.
— A próxima música foi um pedido especial do meu amigo Valentin...
Levei a taça de vinho a boca. Estava pagando por todos os meus pecados.
— Você terminou com ele e tá chorando
Quer água com açúcar ou o meu amor?
E se eu te contar que a água acabou?
— Amiga, relaxa... – Caio cochichou em meu ouvido.
— Eu vou vomitar. – Rolei os olhos.
A loira mais alta me encarava, parecia me analisar.
Era obvio que a porcaria da música era para a Zoe e tudo aquilo já estava me dando ânsia de vomito. Precisava sair dali urgentemente, pois uma vontade gigante de arrastar ela dali, me perturbava. Me sentia uma mulher das cavernas. Eu sei que não tinha o mínimo direito de estar com ciúmes, mas porr*, era demais para mim.
Levantei, pedindo licença a todos, sem olhar para ela.
Fui para uma área mais afastada, subi uma escadaria que deu a uma sacada. Havia um sofá bege, o teto era de acrílico transparente e algumas luzes pequenas espalhadas por toda a área deixava o espaço lindo, pena que condizia com o meu estado de espirito. Puxei o ar com força, queria me embriagar e fugir da realidade um pouco.
“Zoe idiota.”
— Por que fugiu? – Aquela voz fez o meu corpo inteiro arrepiar.
Fechei os meus olhos por alguns segundos, tentei respirar com calma.
— Estava ficando enjoada com aquele negócio todo. – Eu não tinha direito algum de cobrar qualquer coisa dela, mas as palavras estavam presas em minha garganta. — Sai antes de vomitar.
— O que? – A senti mais próxima. – Tá com ciúmes, Olivia?
Trinquei meu maxilar.
— É claro que não! - Zoe me virou para si.
— Mentirosa! – Me desvencilhei.
— Quer saber? Tô! Tô morrendo de ciúmes. Aquele loiro azedo não tem nada a ver com você. – O sorriso convencido me fez avançar sobre ela, arranhando sem querer seu rosto.
Ela me abraçou.
— Calma, Olivia! – Zoe conseguiu segurar minhas mãos, me mantendo cativa contra o parapeito. – Você está com aquela mulherzinha, me mandou embora e eu fui.
— Yuna e eu, nós não estamos juntas. – Zoe mudou de expressão imediatamente.
Ela estava tão perto, a minha mente se entorpeceu.
— O que? – Podia sentir todo o meu corpo reagindo a ela, ficando febril, enfeitiçado. – Naquele dia, na fazenda, você disse que...
— Eu sei o que disse... – Minha voz mudou, os meus olhos se fixaram na boca bem desenhada. Podia sentir a minha se encher de saliva.
Sem pensar nas consequências, grudei meus lábios nos dela, em uma fúria, mesclado com tanto desejo, sem delicadezas. Zoe me envolveu pela cintura, colando ainda mais nossos corpos e eu fui ao céu quando minha língua foi ch*pada com vigor.
Nos afastamos, muito ofegantes.
— Você tá linda, ainda mais linda. – Não pude deixar de pôr em palavras o que meus olhos viam. Toquei nos fios curtos, no rosto bonito. — Eu senti tanta saudade, meu amor...
— Você é maravilhosa... – A voz dela saiu gentil, doce. — Morri todos os dias sem você, meu amor.
Zoe me puxou para outro beijo, porém esse foi mais delicado, misturado com saudade e paixão. Envolvi meus braços em seu pescoço, desejando permanecer, nunca mais viver sem aquela mulher, sem aquelas sensações.
Sem ela.
— Vamos pro meu apartamento? – Sua voz saiu abafada por nossas bocas unidas. — Preciso de você.
Eu não tinha como dizer não.
— Vamos, eu também preciso de você... eu...
— Ei, sua vagabunda. – Nos afastamos.
Ergui as sobrancelhas, achando que se tratava de uma brincadeira de mal gosto.
— Quem é você? – O cara tirou uma faca da cintura e somente nesse momento notei que não era uma brincadeira.
— Minha conversa é com essa mulherzinha aí. – As minhas pernas bambearam. – Minha mulher me deixou, perdi tudo por sua causa e da sua porcaria de família.
Zoe se colocou a minha frente.
— Não faça nenhuma bobagem. – Zoe buscou minha mão, que tremia.
— Calma, por favor... – Quem é esse homem e por que esse ódio todo contra a Zoe?
— Você vai pagar, vou tirar da bicha do seu pai o que ele ama. – Ele aproximou a faca da garganta da Zoe. – Não tô brincando, vou ter todo prazer em fazer isso.
— Você pode fazer o que quiser, só deixa ela ir embora. – Zoe levantou as mãos. – Só não faz nenhuma bobagem. Vamos conversar... Deixe-a ir.
— Eu não vou a lugar algum. – A segurei pela roupa.
— Olivia...
— Calem a porr* da boca.
Tudo o que se seguiu foi muito rápido, ele veio para cima da Zoe, um segurança apareceu na entrada, o homem que eu não fazia ideia de quem se tratava, se assustou. Quando percebi, a Zoe foi jogada ao chão e o cara saiu correndo.
O segurança foi atrás.
— Zoe, você tá bem? – Me agachei. – Deus, você tá sangrando... olha seu braço.
— Foi só um arranhão... – Ela me encarou. – Ele te machucou?
— Zoe, por Deus, não foi só um arranhão... vamos pro hospital. – A ajudei a ficar de pé.
— Oli, o que aconteceu? – Yuna apareceu e isso me deixou aliviada.
— Eu não sei o que aconteceu, o cara machucou a Zoe. Preciso leva-la pro hospital...
— Vamos no meu carro.
— Quanto exagero, é só um corte. – A olhei feio.
— Uma droga que é só um corte, vamos logo. – Zoe se calou.
Fomos pelos fundos para não chamar a atenção, pedi o celular de Yuna emprestado, pois não sabia onde estava o meu, e liguei para Caio, avisando o que aconteceu. Chegamos ao hospital particular e em imediato fomos atendidas. Fui para o banheiro me limpar, pois não me deixaram entrar na sala de forma alguma. O terninho que eu usava estava todo sujo de sangue.
O tremor em meu corpo não passava.
— O Caio ligou, ele está vindo com o Bernardo. – Yuna veio até a mim, me ajudando com a tarefa. – Você tá bem?
— Ainda sinto meu corpo tremendo. – Ela me fez olha-la e depois me abraçou.
— Tá tudo bem agora. A Zoe vai ficar bem...
— Me desculpe por isso, você tá sempre sendo levada por mim, por meus problemas. – A olhei.
— Sou sua amiga, vou estar aqui. – Mordi meu lábio.
Depois de quase 40 minutos, me informaram que ela já estava no quarto. Yuna ficou a me esperar na recepção, enquanto fui até o quarto que me indicaram. Segundo a enfermeira, a Zoe levou doze pontos e o ferimento havia sido profundo e ela perdeu bastante sangue, estava um pouco tonta. A preocupação ainda não havia me abandonado.
Quem era aquele homem?
Tentei não fazer barulho quando abri a porta, senti como se levasse um soco no estomago.
“Que porr*... porr*, porr*...”
Fechei a porta, saindo sem fazer nenhum barulho, a droga da enfermeira poderia ter dito que havia alguém com ela.
— Olivia, como ela tá? – Encontrei meu tio e Caio no corredor.
— Ela tá muito bem. – Respirei fundo. – O namorado dela tá lá.
Caio me olhou com acusação.
— Ela pode explicar o que aconteceu. – Precisava me acalmar. – Eu já vou pra casa, amanhã tenho uma entrevista de emprego.
— Obrigada, filha... – Meu tio beijou a minha testa.
— Te vejo amanhã na faculdade? – Sorri para meu amigo.
— Vou lá, conversar com a reitoria. – O abracei. – Tchau.
— Se cuida...
Pedi para Yuna me levar para casa, por mais que não quisesse pela enxurrada de perguntas que ocorreria. Já passava da meia noite, quando ela estacionou em frente à casa da minha mãe.
— Podemos nos ver amanhã? – Yuna pareceu surpresa e depois sorriu.
— Que horas? – Tirei o cinto de segurança.
— A tarde, estou louca pra dançar. – Yu franziu o cenho.
— Bem, não entendi perfeitamente o que tá se passando, mas eu aceito.
Naquele momento, eu percebi que ainda havia um longo caminho para percorrer com relação a minha maturidade.
Porque o que fiz foi puro egoísmo.
Puxei Yuna, colando os meus lábios nos dela, busquei mais contato e a princípio ela pareceu surpresa, mas logo passou a me corresponder. Subi em seu colo, senti a minha língua ser ch*pada e acabei soltando um gemido.
— Tem certeza disso? – Eu sabia que era errado, o que me motivava não era um sentimento nobre.
— Sim, podemos ir pro meu quarto? – Yuna ficou ainda mais surpresa.
Ouvimos duas batidas na janela.
— Olivia... – Duda ficou constrangida e foi quando a ficha caiu.
Sai do colo de Yuna, morrendo de vergonha.
— Conversamos sobre isso em outro momento, tudo bem? – Por que ela tinha quer tão perfeita?
— Tá bom... obrigada por tudo que fez e cuidado ao voltar. – Ela beijou demoradamente os meus lábios, foi um selinho cheio de carinho.
— Boa noite e vê se dorme bem. – Deus!
Sai do carro e esperei Yuna dar partida para poder entrar, Duda estava ao meu lado e nada falou o caminho até o nosso quarto. Tomei um banho longo e quando sai, ela parecia me esperar e o seu olhar era de tristeza.
O meu celular estava sobre a cama, a minha irmã havia encontrado na mesa em que estávamos.
— O que aconteceu? – Sentei ao seu lado.
— Eu... eu gosto da Marina. – Já suspeitava. – Hoje tentei dizer isso a ela e fui rejeitada.
— Você disse a ela? – Segurei sua face.
— Disse, mas ela falou que não gostava de mulher e que eu deveria manter distância. – Abri a minha boca em surpresa. – Você também não parece bem.
— E não estou, mas quero saber de você, me explica exatamente o que aconteceu. – Duda me abraçou de lado, escondendo sua face em meu pescoço.
— Depois que aquele bobão cantou pra ela, ele veio pra nossa mesa e eles disseram que estavam se conhecendo. – Franzi o cenho. – Em algum momento ela foi ao banheiro, eu fui até ela...
— Você apanhou de novo? – Duda soltou um riso triste.
— A beijei de surpresa e ela me bateu, falei o que estava sentindo e ela me mandou esquecer... jamais iria acontecer nada entre a gente. – A abracei mais forte quando notei que ela chorava. – Eu sou tão idiota. Vim embora, não aguentei ver mais daquilo...
— Não, não diga isso... você não é idiota. Você fez o certo, colocou pra fora e foi muito corajosa. A gente vai sair daqui em breve, não vamos ter que ver elas...
Fiquei acordada e só fui descansar quando Duda dormiu, ela estava agarrada a mim.
1 de junho.
Acordamos muito cedo, Duda e Eric também teriam uma entrevista naquela manhã, Ben teria que voltar as aulas presenciais e a minha mãe e Marina voltariam a empresa. Expliquei em detalhes o que havia se passado, minha mãe disse que só soube sobre o ocorrido horas depois. Marina explicou que o homem se tratava de um ex-gerente de uma das unidades. Ele havia sido demitido por assedio e enfrentava um processo na justiça.
Naquele dia decidi que iria seguir em frente, superar a Zoe e dar uma chance real a Yuna.
— Zoe, você tá aí? – Olhei para João.
— O que? – Ele e Caio me encaravam.
— Estávamos falando do faturamento... – Passei a mão sobre a cabeça. Olhei para os pontos em meu braço direito. – Por que tá com essa cara de enterro? Aliás, pela milésima vez, você não deveria ter vindo trabalhar.
Sentia que iria explodir a qualquer momento.
— Ontem, a Olivia... – Pressionei o maxilar, tentado me conter em não falar o que estava me atormentando.
— Ela viu você e aquele cara. – Olhei em imediato para o Caio.
— O que você disse?
— Quando seu pai e eu chegamos no hospital, encontramos a Oli na porta do seu quarto e hoje de manhã ela me contou que viu vocês se beijando. – Fechei os meus olhos, apertando as têmporas.
— Merda!
— Zoe, eu não queria me meter na vida de vocês, na sua vida, mas acho que seja melhor assim. – Sentia uma agonia, fui até a janela e puxei o ar com força. – Não há dúvidas que se gostam, mas parece que a vida conspira contra vocês.
Ele não estava errado, mas...
— E o que espera que eu faça? Não posso simplesmente arrancar o que sinto do meu peito. – Me virei.
— Eu sei que não, mas você tá com outra pessoa, deveria continuar assim e evitar ainda mais mágoas entre vocês, antes que esse amor vire ódio. – Senti meus olhos queimarem. – Confesso que incentivei, mas nunca pensei que ela sofreria tanto com isso. Olivia é a minha amiga, eu quero que ela seja feliz... e também gosto muito de você, Zoe.
Eu precisava ouvir isso dela.
O telefone tocou.
— Senhor João, a reunião, estão aguardando por vocês.
Houve uma longa reunião com todos os gerentes, uma vídeo conferência. O que aconteceu no terraço não se espalhou, e eu agradeci. Não desejava que viesse a público. A minha mente não estava naquele lugar e sim nas palavras de Caio, ele estava certo. Estava na hora de aceitar, a gente não era para ser, porém precisava pôr um fim naquilo tudo pessoalmente.
— Queríamos falar sobre algo muito grave. – Um dos acionistas disse assim que a vídeo conferência chegou ao fim.
— O que seria? – Meu pai perguntou.
Além dos membros da família, estavam presentes os 10 acionistas.
— Isso... – Um jornal foi jogado sobre a mesa. – Não ligo para os seus gostos sexuais, quando aquelas fotos sua vazaram, tentamos ser compreensivos, mas agora você vai ficar desfilando com um dos colaboradores? É demais, Bernardo.
Olhei para o Caio e podia ver o desconforto.
— Achamos que seria melhor você entregar a presidência... – Um outro completou.
— Isso é um absurdo! – Fiquei de pé e ganhei a atenção de todos. – Em pleno século vinte e um? O meu pai não vai deixar o cargo coisa alguma.
— Isso aí tá afetando a imagem do grupo Cavalcante. – Dei uma risada.
— Não me diga. – Bati palmas. – Quanta hipocrisia, não é mesmo? Até onde me recordo, sua cara estava estampada nas manchetes de fofocas ano passado, senhor Brito, aliás, o senhor também, senhor Araújo. Não foi o seu filho que atropelou dois jovens e está livre?
Eles me encaravam com surpresa, chocados.
— Ninguém aqui tem nada a falar do meu pai, vocês, seus hipócritas e essa mídia nojenta, nada tem a ver com a vida particular do meu pai. – Matinha a minha voz baixa, mas irritada o suficiente para ninguém ousar me interromper. – Se não querem seus digníssimos nomes associados ao do meu pai, um homem íntegro, sugiro que vendam suas ações. – Coloquei o meu blazer. – Se me dão licença, preciso tratar de problemas reais.
Sai da sala de reuniões e fui para a minha, tentei me concentrar no que fazia, mas minhas tentativas foram em vão.
— Caralh*! – Acabei por jogar uma pilha de documentos no chão.
Precisava ir a Afrodite.
Avisei a recepcionista que não voltaria mais aquele dia, sai da empresa com o objetivo de ir até a Afrodite, mas no meio do caminho mudei de direção e em pouco mais de meia hora, estacionei do outro lado da rua em que a minha tia mora. Peguei o celular e disquei o número que conhecia muito bem.
Olivia saia naquele exato momento, ela olhava para o celular e parecia não querer atender.
— Zoe...
— Entra no carro. – Ela olhou em minha direção.
— Zoe, não acho que...
— Entra no carro, Olivia. – Pude ouvir a sua respiração.
— Ok.
Olivia atravessou a rua e entrou em meu carro, me encarando.
— Vamos pro meu apartamento.
— Zoe, não acho uma boa ideia a gente ficar sozinhas. – Não a encarava.
— Quero falar com você, primeiro você me escuta e depois te deixarei em paz. – Dei partida, enquanto ela apenas resolveu se calar.
O caminho todo foi feito daquela forma, cada uma presa em seus próprios dilemas. Chegamos quase quarenta minutos depois, subimos em silêncio.
— Por que me deixou lá? – Eu queria ouvir da sua boca.
Sentei, enquanto ela ficou de pé, me olhando fixamente.
— Você estava ocupada demais. – Ela cruzou os braços sobre o busto. – Com aquele... cara.
— Não foi desse jeito. – Sua expressão era indecifrável. – O que você viu, ele me pegou desprevenida.
— Vocês estão juntos? – Passei a mão sobre a nuca.
— A gente ficou algumas vezes, ele é um cara legal. Eu achei que você e ela...
— Vocês... Vocês trans*ram?
Uma parte de mim me dizia para mentir, dizer que não, mas a parte que sucumbiu a ela jamais me permitiria mentir, mesmo sabendo em que resultaria.
— Sim...
Olívia finalmente esboçou alguma reação, ela passou a mão sobre a cabeça e virou de costas para mim.
— Você não esperou muito, não é? – Pressionei o maxilar.
— Você queria o que? Que eu ficasse te esperando depois que me mandou embora? Você escolheu aquela mulher!
— Você tem razão, Zoe, acho que o que sentimos não é o suficiente. Talvez a vida saiba que não seríamos certas uma pra outra e por isso coloca tantos empecilhos. – Ela se virou e os seus olhos estavam inundados.
Queria toca-la.
— Vamos seguir em frente, acho que é melhor dessa forma. – Uma fúria tentou me controlar, misturada com um choro preso.
— Se essa for realmente a sua decisão, então não há mais nada a ser feito. – Passei a mão sobre a cabeça, me controlando. – Não vou insistir em algo que você não vê futuro. Vou te levar em casa.
— Não, eu vou pra outro lugar... não precisa se incomodar.
Apenas concordei com um acenar de cabeça, fui até a janela e alguns segundos depois ouvi a porta sendo fechada.
— Acabou...
Iria arrancar aquele sentimento de mim.
Peguei meu celular, disquei o número de casa e falei com a responsável pela organização da casa, pedi que arrumasse todas as minhas coisas e que mandasse pelo segurança. De agora em diante, iria morar em meu apartamento.
Faria de tudo para ficar longe dela.
Confesso que tentei me segurar, mas durante todo o banho, chorei em desespero e desejei descontar toda aquela angustia em algo. O meu coração doía, respirar era difícil, porém decidi que não iria mais sucumbir. Liguei para Duda, combinamos de nos encontrar no shopping para a aula de boxe.
Eduarda não me deixou treinar por conta dos pontos no braço, então apenas usei a bicicleta.
— Toma, você perdeu muito liquido. – Duda me entregou uma garrafinha com água. – Então acabou?
— Ela escolheu, vou acatar a decisão. – Deitei, puxando o ar. – Soube que precisa de um emprego.
Precisava mudar de assunto. Eduarda deitou ao meu lado.
— Sim, fui para uma entrevista, mas acho que não vai rolar. – Tombei minha cabeça para o lado e a encarei.
— Por que? – Eu tinha uma proposta para fazer.
— Um dos funcionários relatou muitos abusos. – Duda me olhou.
— Vem ser a minha secretaria particular, desde que sua irmã saiu, ainda não preenchi a vaga. – Ela franziu o cenho. – O dinheiro é bom e eu queria mesmo alguém conhecido, em quem confio.
— Tá falando sério, Zoe? – Passei a mão sobre minha testa, tirando o suor.
— Muito sério. Você pode começar na segunda, mas antes vou te encaminhar pro RH e lá eles irão te liberar para o exame admissional. Está livre amanhã? – Duda sentou.
— Claro! Eu... nossa. – Não pude deixar de sorrir.
— Então vai amanhã e leva todos os seus documentos, amanhã mesmo fará os exames de admissão. Ei... – Ela se jogou sobre mim. – Duda, estamos suadas.
— Obrigada, Zoe. Você é incrível! – Aspirei o ar com força.
— Você pesa...
— Nem sei como agradecer. – Ela permaneceu deitada sobre mim.
— Nem precisa... espero que consigam um bom lugar pra morar, até que possam comprar o apartamento da tia Betina. Se quiserem alguma ajuda, não hesite em me procurar, Duda...
— Sabe, Zoe, eu gosto de você e eu nunca vou deixar de ser grata por você ter levado a Olivia a nós. – Nos olhamos. – Te vejo como uma irmã mais velha.
— Você tá ficando muito melosa, Duda. – Ela gargalhou. – Quer dormir em meu apartamento hoje? Te levo pra empresa pela manhã.
— Podemos passar na casa da sua tia? Pego umas roupas e vamos... – Pensei por um instante.
Olivia estaria lá.
— Não vai precisar entrar. – Ela pareceu ler meus pensamentos.
— Ok... então vamos. – Duda ficou de pé e me ajudou a levantar.
A noite já havia chego, estacionei do outro lado da casa da minha tia, fiquei esperando Eduarda do lado de fora. Recebi algumas ligações de Valentin, porém não atendi, a minha cabeça não estava no lugar ainda. Recebi também algumas mensagens de Iris, então a convidei para ir ao meu apartamento.
Acho que ela e a Duda se dariam bem.
Um carro se aproximou, parando do outro lado e para a minha infelicidade, se tratava de Olivia e a tal de Yuna. Abri a porta do carro assim que seu olhar caiu sobre mim, entrei e esperei por Eduarda ali.
Ouvi duas batidas na janela e destravei as portas, quando vi que se tratava de João.
— Levei suas coisas até seu apartamento. Seu pai quer conversar com você... – Ele entrou. – Como você tá?
— Me sinto uma completa idiota... – João colocou sua mão sobre a minha.
— Não se sinta assim, Zoe, você estar sentindo isso tudo é sinal que voltou a vida. – O encarei. – Faz anos que você só sobrevive, sem grandes paixões. Não fuja dos teus sentimentos, mas saiba que seja qual for o caminho que escolher, vou estar do seu lado.
— Obrigada, João. – Ele me puxou para um abraço. – Você tá cheiroso, vai encontrar a Violeta?
Ele riu.
— Sim, passei antes na casa da sua tia pra resolver algumas coisas, mas vou encontra-la daqui a pouco. – Ele sorria, estava visivelmente apaixonado.
— Tá com cara de idiota.
— Olha quem fala. E por falar em idiota, aquele homem foi preso há uma hora. O advogado vai ficar a frente do caso.
— Fico aliviada em saber disso. Não quero lidar com nada disso por agora. Obrigada mesmo, João. Você é um grande amigo.
Ele sorriu, ficando mudo.
— Voltei. – Duda entrou no carro. – Vamos?
— Te deixo na casa do papai, João. Diga a ele que amanhã irei procura-lo na empresa... – Dei partida.
Depois que deixei João, fui para o meu apartamento com Maria. Iris chegou pouco depois com algumas sacolas com comida. Comemos e depois fomos para a sala, Duda havia trago um baralho.
Maria Eduarda acabou dormindo no sofá.
— Posso perguntar uma coisa? – Iris e eu estávamos na sacada.
— Claro... o que seria?
— Você e ela estavam juntas ontem? – Tomei um gole do vinho.
— Sim, mas agora terminou em definitivo. – O vento estava frio, o tempo havia se fechado. – Hoje chegou ao fim.
— Eu sinto muito...
— Não sinta... não era para ser. – O vinho perdeu o sabor. – Seu irmão, como ele tá?
— Preocupado com você, até me perguntou se havia feito algo de errado. – Suspirei, me sentindo culpada. — Depois do que se passou, ficamos preocupados com você.
— Irei procura-lo amanhã, ele merece uma explicação. Eu estou bem, aquele homem já foi preso. E como você está? Me parece um pouco triste. Aconteceu algo?
Iris sorriu, mas foi um sorriso triste.
— Vou ter que deixar a minha casa, estou oficialmente fora da família. – Franzi o cenho.
— Do que tá falando? – Iris deixou sua taça de lado.
— Eu nem sei como te dizer isso, Zoe. – Ela passou a mão sobre os fios loiros. – Descobri que meu irmão anda desviando verbas de alguns hospitais e o confrontei. Ele me mandou ir embora, disse que vai cortar todos os meus gastos.
— Que desgraçado! – Me revoltei. – E o seu pai? O que ele disse sobre isso?
— Meu pai, aliás, a minha família inteira que vive da política, não vale absolutamente nada. Tentei fugir durante todos esses anos, trabalhei pra não ser dependente deles... – Ela passou a chorar.
— Calma... vem aqui. – A abracei. – Você pode morar aqui, até se organizar.
— Não, eu não quero incomodar... eu...
— Sem mais, Iris, você pode vir pra cá e passar o tempo que desejar.
Ela permaneceu quieta, apenas chorava baixinho.
Fim do capítulo
Obrigada, suas lindas, por comentarem e pra quem tá na moita, obrigada por lerem. Chegamos a 13 mil. :)
Acho que na sexta irei postar um extra, se a minha folga cair nesse dia, ou na quinta.
Beijos :)
Ah, agradeço muito a gentileza e leveza das que estão comentando.
Vocês são maravilhosas :)
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Tazinha
Em: 27/04/2022
Nunca fiquei tão triste lendo o cap aquii...
Me doeu muito ler elas se separando, parabéns pelo cap, foi bem real a dor delas.
Mexeu comigo, real... fiquei triste =(
Resposta do autor:
Foi um cap dificil de escrever, mas acho que teve efeito desejado: vocês emocionada.
Muito gratificante essa interação.
Um momento de escolhas para ambas. Marina, se não entender que a vida é curta demais, vai acabar perdendo uma grande mulher :/
Rosiane
Em: 27/04/2022
Quantas emoções de uma vez
Mas eu imaginei mais ou menos desse jeito
Acho Olivia até madura por não fica esperando as coisas de mãos beijadas.
Já Zoe é muito indecisa nas relações dela, mas tem um Coração enorme
Agora esse cara tinha que aparecer assim só pra atrapalhar ....rsrsrs
Achei suspeito essa rapidez dele chegar ao hospital, enfim
Sempre bate aquela apreensão de da certo. Pq é perceptível que elas se gostam de verdade
Até a próxima
Abraços
Resposta do autor:
Elas precisam encontrar um rumo, um recomeço saudavel, porque desde o inicio foi tumultuado. Acho que será bom para ambas manterem distancia, experimentar outras vivencias.
E acho maravilhoso a forma com que vocês se mostraram gentis as mundanças :)
Obrigada.
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Lea
Em: 26/04/2022
Amei a Zoe defendendo o pai!
É,acho que agora acabou mesmo.
O coração doeu por duas vezes,o ponto final entre Zoe e Olívia,e a rejeição que a Duda levou da Marina!
Resposta do autor:
554
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
Nossas meninas têm muita história pra contar.
Elas precisam amadurecer, por mais amor que exista.
Vamos de extra?
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patty-321
Em: 26/04/2022
Acabou. Por enquanto. Acho q as duas precisam amadurecer. São muitas coisas vividas e emoções não curadas.
Resposta do autor:
É muito legal ver a reação de vocês. Sério.
Elas têm que amadurecer, o momento pede isso. Um tempo distante talvez seja o melhor e mais esclarecedor.
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