Capitulo 98
Capítulo 98.º
Rebeca
De todas as possibilidades possíveis que imaginei para esse jantar, dar de cara com Virgínia não foi uma delas. Inicialmente congelei, tentando descobrir como vamos ficar algumas horas no mesmo ambiente. Ainda mais dessa forma que ela olha para Alice. Encontro-me fitando uma e em seguida a outra. Alice parece tão surpresa quanto eu.
Juro que por um segundo pensei até que era uma alucinação. Mas ela está parada no mesmo lugar, após eu ter fechado e aberto os olhos algumas vezes. Quando enfim consigo perguntar o que ela faz ali, odiei sua explicação. Ela namora a irmã de Lívia. Se existe um mundo pequeno, o mundo gay é um deles.
Minha desculpa para sair dessa situação foi o choro de fome de Teodoro. Meu nível de irritação estava muito alto. Alice fica quieta, começa a alimentar nosso filho. Eu caminho de um lado para outro, tentando encontrar uma forma de simplesmente sair dessa casa sem parecer que foi por conta de Virgínia. Não quero que pense que me abala. Apesar de fazê-lo.
Tudo piorou quando Alice começou a defender Virgínia, dizendo que fui grossa com ela. Há uma breve discussão entre nós. Lentamente caio na real que Alice não tem culpa. Ela sabe como me acalmar, diz as coisas certas. Mostrando que me ama, que estamos juntas. Percebo que todo meu descontrole é apenas medo de perdê-la.
Quando voltamos já estou um pouco mais calma. Entrego o vinho a Lívia. Minha tentativa de não dar bola para Virgínia já começa a ser testada quando minha mãe pede para ela servir uísque para Alice. A desgraçada faz questão de dizer que ainda lembra como Alice gosta de sua bebida. Respiro fundo umas mil vezes. Tentando controlar meu impulso de voar naquela safada que nem se importa por sua namorada estar presente.
Meus pensamentos assassinos são interrompidos pela campainha. Alice salta da poltrona dizendo que vai atender. Acredito que seja uma forma de fugir da situação que se instalou. Letícia é a primeira a entrar. Abraça-me dizendo estar com saudades. Mas antes que eu pudesse responder, a voz de Amélia ecoa no cômodo.
A simples menção do nome de Virgínia faz com que Letícia se vire buscando-a com o olhar.
— Como vai Amélia? — Virgínia sorri fitando minha irmã.
— Bem e você?
— Estou ótima. — seus olhares se sustentam por tempo demais, segundo meu julgamento. Com uma cara nada amigável enquanto observa a cena Letícia faz um barulho com a garganta chamando a atenção da minha irmã.
— Virgínia, deixe-me apresentar minha namorada. — vai rapidamente para o lado de Letícia. — Essa é Letícia, minha namorada e essa é a Elisa. — suas palavras saem atropeladas, ela está nervosa.
— Muito prazer. — estica a mão para ela. Letícia encara seu rosto depois sua mão, só então a segura.
— Então você é a famosa Virgínia? — a pergunta pegou todas nós de surpresa, nenhuma se atreveu a mover um único músculo.
— A Virgínia sou eu sim, quanto a famosa não tenho certeza. — responde sem se deixar abater.
— Gostei dela. Tem senso de humor. — Letícia diz olhando para mim. Vejo aquela faísca em seu olhar. A mesma que senti quando Virgínia abriu a porta para nós.
— Será que podemos largar as facas e tomarmos algo? — percebendo o caos que estava prestes a se formas, mamãe interveio.
Alice é a primeira a concordar. Ergue seu copo brindando com Amélia, sussurram algo que não consigo entender. Virgínia se oferece para ajudar com o jantar. Lis aceita, tocam os lábios levemente.
— Que tal, nós tomarmos um ar lá fora? — Letícia pergunta.
— Claro. — concordo. Caminhamos juntas, Elisa corre na nossa frente. — Não vejo a hora do Teo começar a andar.
— Não deseje isso. Nessa fase eles parecem ligados no 220. Não há coluna que aguente para tentar segurar no colo. E pernas para correr atrás para não se machucarem.
— Nem pensei por esse lado. — confesso.
Sinto a brisa leve tocar minha pele. Fecho os olhos. Penso em Tália e nas noites que jogamos conversa fora naquela varanda.
— Você está bem? — questiona tocando minha perna.
— Sim. Eu só... — sinto minha voz embargar. — ... não vim aqui ainda. Depois que tudo aconteceu.
— Entendo. Tália era uma pessoa boa, não merecia terminar daquela forma.
— Eu sei. Foi uma tragédia. — concluo. — Mas não quero pensar nisso, não agora. — seco as lágrimas.
— Tudo bem. Então que tão falarmos daquela mulher que nossas namoradas já trans*ram?
— Nossa! Obrigada pela imagem. É adorável pensar no amor da minha vida trans*ndo com outra. — Letícia dá uma gargalhada.
— Eu sei. Mas jurei que ela era mais...
— Alta?
— Não.
— Magra?
— Não. Pensei que para merecer a atenção de Alice e Amélia, ela pudesse ser mais bonita. — fala com desdém.
— Nem vem com essa. A Virgínia é muito bonita.
— Uau! Quer que eu a chame para dizer isso na frente dela? Fazer trisal tá na moda. Vai que rola, né? — prova.
— Só quis dizer que apesar de não gostar dela, não posso concordar que ela é feia.
— Só usamos bom-senso quando não se trata de criticar a beleza das ex-namoradas das nossas atuais. — ela ri. — A mulher parece uma modelo. Mas claro que para mim ela é feia. Dormiu com a minha namorada. Não posso dar moral dizendo que ela é bonita.
— Aí, Letícia. Só você. — falo balançando a cabeça.
— E o casamento? Alguma novidade?
— Amélia te contou?
— Claro. Não temos segredos. — afirma.
— Ainda não temos uma data. Nós tomamos algumas decisões, fizemos planos. Mas nada saiu como o planejado.
— Estranho seria se a vida fosse de acordo com nossas vontades. — comenta pensativa.
— Mas esse é um passo grande. Talvez tenha sido melhor assim.
— Você pode até dizer isso, mas seus olhos me mostram o contrário. Quer conversar?
Seus olhos me transmitem uma segurança que só sentia com uma pessoa. Tália. E infelizmente não posso mais contar com ela. Teo choraminga no meu colo. Letícia aproveita que a mamãe está com Elisa e a segura no colo.
— Conhecemos três garotos. Um jovem de dezoito anos, que cuida de dois sobrinhos, Eliel de nove e Dominique de cinco.
— Foi no abrigo? Sua mãe me falou que vendeu aqui para custear a construção das casas. Uma atitude muito bonita. Não esperava outra coisa de você. — eu fico constrangida.
— Sim. Convidei André para trabalhar comigo, no lugar de Tália. Durante muito tempo a ideia de ajuda-los de outra forma me fazia perder o sono. Observar o meu filho deitado todas as noites em um berço confortável, tendo tudo do bom e do melhor. Enquanto aqueles três não tinham nem aonde dormir me incomodava. Conversei com Alice e expus minha vontade.
— Ela não quis? Foi isso? — questionou preocupada.
— Não! Pelo contrário. Ela aceitou. De iniciou iriamos apenas oferecer um lugar para eles morarem. Dar amor, cuidado. Mas algo aconteceu, André pensou que queríamos a guarda dos meninos. E como ele é um adolescente que não tem como se manter, acredito que imaginou que seria uma causa ganha. Nós tomaríamos os meninos. — meus olhos estão estreitos. Sinto as lágrimas prestes a caírem.
— Sinto muito. — segura minha mão. — E agora?
— Agora. Bom, agora ele não apareceu para trabalhar. Saiu do abrigo. Desde então não temos mais notícias. — falo com pesar.
— Caramba! Ele ficou mesmo assustado. Imagino o quanto deve ser difícil para ele conseguir confiar em alguém. Esteve sozinho por muito tempo. Qualquer sinal de bondade já vai parecer interesses extras, segundas intenções.
— Não pensei dessa forma. Mas você tem razão. — ficamos em silêncio por alguns segundos. — Obrigada por me ouvir. — digo sentindo-me um pouco mais aliviada.
— Disponha. Afinal eu sou sua cunhada preferida. — pisca para mim.
— Sem dúvidas. — concordo e rimos juntas.
— Amor, vem cá. Quero te mostrar algo. — Amélia aparece na porta.
— Estou indo. — responde se virando para ela. — Bom, esse rapazinho é todo seu. — me entrega Teodoro.
Observo elas caminharem juntas para a sala. Permito-me ficar em completo silêncio por alguns segundos. Até que, percebo que alguém se aproxima.
— Se importa? — aponta para a cadeira a minha frente.
Levanto os olhos e diante de mim, está Virgínia. Ela segura um copo na mão. Aproveito a claridade para analisar bem seus traços. Linda. É a conclusão que chego. Entendo perfeitamente o que levou minha irmã e Alice a se apaixonarem por ela.
— Fique à vontade. — respondo sem alterar o tom de voz. Vou ser superior nessa situação.
Ela se senta vagarosamente. Seus olhos fitam Teodoro. Ele está adormecido em meu busto. A cabeça apoiada em meu peito, seus braços abertos, repousando um de cada lado do meu corpo.
— Ele parece muito com você. — corta o silêncio.
— Não acho, Teo tem muito do pai. — respondo.
— Por falar nele, sinto muito, por ele e Tália também. — pela primeira vez sinto verdade em suas palavras.
— Obrigada. — ficamos em silêncio alguns segundos. Percebo Alice nos observar pela janela da sala. — Você me parece bem, feliz com sua namorada. — enfatizo a namorada.
— Sim. Estou. Lis é maravilhosa. Os meses longe me fizeram ver a vida de outra forma. Inclusive queria te agradecer pela oportunidade que me deu.
— Olha, sobre isso. Eu só...
— Só me queria longe para o caminho ficar livra para você. Eu entendo. Mesmo após ter um filho com Alice, você ainda se sente ameaçada pela minha presença. — fala com tanta tranquilidade que me irrita. Eu dou apenas um sorriso de lado.
— Não me sinto ameaçada por você. Sei que Alice me ama.
— Tenho que concordar com você. Alice te ama. Muito, por sinal. Mas isso só aconteceu por que vocês deram um jeito de me mandar para longe. — seu tom não é provocativo, apesar de suas palavras serem. — Não me entenda mal, amei a experiência que tive. Amadureci muita coisa. Conheci a Lis, e eu senti que o mundo sorriu para mim de novo. — ela acena para dentro, vejo Lis conversando com Alice. — Eu só espero que vocês possam mesmo ser felizes juntas. E não precisa se sentir ameaçada por mim. Alice e eu tivemos algo, mas foi superficial, assim como foi com Amélia. O que Lis e eu temos, é algo além. — respira fundo, morde o lábio. — Acredito que teremos que nos encontrar mais vezes. Só quero que possamos manter a boa educação. Sua mãe namora minha cunhada. Não temos como mudar isso. — afirma pensativa. — E quanto a Alice, sinto um carinho enorme por ela. Mas amar, amar mesmo, amo a Lis. Agora se me dá licença preciso entrar. — força um sorriso.
Fico remoendo cada palavra que ela disse. Só então percebo que ela tem razão em todas as acusações. Ajudar Isabella foi uma forma de deixar o caminho livre para me aproximar de Alice. Apenas por me sentir ameaçada com a presença de Virgínia na vida de Alice. Nem sei porque tentei me convencer de que não sentia nada por ela. Gostei dela desde a primeira vez que nos vimos no pub. Sorrio lembrando o nosso esbarrão.
— Te dou um real pelo seu pensamento. — Amélia diz sentando-se ao meu lado.
— Meus pensamentos valem bem mais que isso. — sorrio. — Estava apenas pensando em Alice. Em como fui tonta por tentar tirar o que eu sentia por ela.
— Seu plano funcionou que foi uma maravilha. — debochou. — Vocês agora têm um filho, vão até casar.
— Quem vai casar? — Minha mãe questionou escutando a última parte. Amélia me olha. — Que maravilha! — diz me abraçando de lado.
— Mamãe, ainda é segredo. Ninguém sabe. Quer dizer não era para ninguém saber. — olho com a cara feia para a minha irmã. — As mães de Alice não sabem. Vamos fazer um jantar para anunciar. Mas tem acontecido tanta coisa que ficou impossível uma data.
— Não se preocupe. Minha boca é um túmulo. — fez como se seus lábios fossem um cadeado, trancou e jogou a suposta chave fora.
— Espero que ela consiga manter isso em completo silêncio. — Amélia a encara.
— Está querendo dizer algo? — questiona curiosa.
— Sim. — afirma.
— Ah! Não! Isso não é hora de falar sobre isso.
— Sobre o quê?
— Seus gemidos durante o sex*. Estou traumatizada, a senhora me deve uma terapia. — Carmem encarou a minha irmã e em seguida gargalhou.
— Amélia, sua mãe trans*. Que novidade. — revirou os olhos. — Seja adulta. Supere. Agora tenho minha casa. E não é como se você e Letícia fossem silenciosas. — provocou.
— Mamãe! A senhora só pode estar de brincadeira. — disse inquieta. Sentia seu rosto corar com a possibilidade de que mãe tivesse escutado.
— Não brincaria com isso, Diabinha. — Amélia corou, seguro o riso. Minha vontade era de rir sem parar. Mas Teodoro dormia tranquilo em seus braços.
— O jantar está servido. — a voz de Lívia ecoou na varanda.
— Salva pelo gongo. — mamãe provocou.
Caminhou em nossa frente com um ar de quem venceu uma batalha. Amélia ficou ao meu lado.
— Você pediu por isso. Devia ter deixado para lá. — aconselhei.
— Eu não imaginei que ela...Será que...? Não é possível. — Amélia estava tão assustada com a possibilidade de que nossa mãe tivesse mesmo escutado seus momentos íntimos que nem conseguia formular uma única frase.
Quando entramos avistei Alice e Virgínia conversando em um canto. Mantinham uma distância. De alguma forma muito estranha vê-las juntas não me incomodou, acredito que a conversa que tive com a fotógrafa serviu para tirar minha insegurança.
De onde está, Virgínia acena com a cabeça. Alice olha-me, diz algo a ela e vem em minha direção. O sorriso dela continua sendo a coisa mais linda que eu já vi na vida. Fico hipnotizada com seu andar. Ao ficar ao meu lado, toca meu braço.
— Posso ir colocá-lo na cama. — se oferece.
— Acho que ele vai dormir até irmos embora. — concordo já o entregando.
Sentei-me a mesa esperando que Alice viesse se juntar a nós. Ela deixou o celular no quarto monitorando Teodoro, enquanto o vemos do meu aparelho. Amo a modernidade, isso é fato. O clima que se instalou foi melhor que eu esperava. Consegui conversar, rir das histórias da minha mãe. Alice contou sobre como nos conhecemos e o quanto fui mal-educada.
— Ela parecia um personagem de desenho animado. Saindo fumaça pelos ouvidos enquanto gritava sobre eu ter arruinado uma blusa de seda.
— Até consigo imaginar a cara dela dizendo isso. — mamãe disse rindo.
— Mas o pior foi ela dizer que eu não teria como pagar pela blusa. — todas riram.
— Amor, para com isso. — pedi sentindo minhas bochechas corarem.
— Não vou parar, é nossa história. Fora que eu te compensei com um closet cheio de blusas do mesmo jeito da que eu arruinei, porém, em cores diferentes.
— Ela não fez isso! — Lis falou em choque.
— Fez sim. — olhei para Alice. Ela parecia ainda mais linda está noite.
— Isso é muito romântico. — Virgínia disse, todas pararam de rir e olharam para ela.
Houve um momento de silêncio. Até que, Lívia salvou o clima contando sobre como a Alice as flagrou no escritório da boate. Com certeza essa era uma história que Amélia e eu não queríamos saber. As conversas foram variando. Virgínia contou sobre sua experiência na África. Era bom ver que a viagem a ajudou de alguma forma. Tira um pouco da culpa que sinto.
— Se quiser voltar para agência sua vaga continua à disposição. — Amélia disse. Vi Letícia se segurar para não voar no pescoço da minha irmã. Provavelmente o sofá seria seu local de dormir hoje.
— Agradeço, mas estou com outro projeto em mente. — sorri.
— Você que sabe.
Logo o assunto mudou. Seguimos conversando enquanto quem não cozinhou lavava a louça. Já passava das nove quando nos despedimos na porta de saída. Agradecemos pelo jantar maravilhoso. Sério, não estou exagerando, foi a melhor comida que já provei, que Tereza não me escute. Amém!
— Próxima vez será na nossa casa. — Alice diz antes de sairmos.
— Iremos adorar. — Lívia diz enquanto abraça a cintura da minha mãe, elas estão lado a lado.
— O convite se estende a todas. — afirmo. Quero deixar claro que Virgínia é bem-vinda em nossa casa.
Ela apenas sorri me olhando. Lis a abraça e saímos nos quatro dividindo o mesmo elevador. Alice e Lis conversam sobre algo, mas eu estou tão cansada que nem ao menos me dou o trabalho de escutar o que é. Despedimo-nos delas já do lado de fora do prédio onde cada uma segue para seu carro.
O motorista nos ajuda com as coisas de Teodoro. Depois de todos acomodados rumamos para casa. Mal o carro começa a se movimentar e eu repouso minha cabeça no ombro de Alice. Ela acaricia minha mão. Fecho meus olhos curtindo o momento.
— Estava falando sério sobre o convite se estender?
— Sim. — respondo com a voz suave, em seguida bocejo.
— Fico feliz que tenha entendido que nossa história acabou. — beija o topo da minha cabeça.
— Eu te mato se me trair. — resmungo quase adormecendo. Alice apenas dá uma leve risada.
Quando chegamos a casa, minha amada noiva diz que posso ir me deitar. Garantindo que arrumaria Teodoro para dormir. Apenas agradeci. Meu cansaço era gigante. Cai na cama feito pedra. Nem ao menos vi quando ela se deitou ao meu lado.
Se existe uma mulher mais perfeita do que a minha eu desconheço. Suponho que toda lésbica deveria ter uma Alice em sua vida. Acordei com beijos em minhas costas. Sorrio já cheia de tesão. Antes que eu pudesse beijar seus lábios ela se afasta.
— Trouxe café da manhã. — aponta a bandeja. Nela havia tudo que eu gosto de comer no meu desjejum. No cantinho uma rosa-vermelha repousava. Abri um largo sorriso.
— Você é maravilhosa. Eu sou completamente louca por você. Juro. — acariciei seu rosto. Com o gesto ela fecha os olhos. Sinto meu coração cheio de amor.
— Sou uma mulher maravilhosa apenas por consequência de ter uma ao meu lado. — o clima é quebrado pelo barulho de sua barriga. Dou uma risada.
— Vamos alimentar seus monstrinhos. — sorrio para ela. — Toma banho comigo?
— Sempre.
Tomamos café em um clima gostoso. Banhado a muito romantismos e declarações de amor. Fizemos planos. Pela primeira vez conversamos sobre como desejamos que nosso casamento seja. Apesar de o pedido já ter acontecido, nunca paramos apenas para expor como sonhamos que as coisas sejam no nosso dia.
— Eu sei que tudo está maravilhoso. Mas eu preciso ir trabalhar. Você vem? — indaguei já separando a roupa que iria usar.
— Não. Vou ficar em casa hoje de manhã. Quero aproveitar um pouco meu filhote, tomar um sol. A tarde vou para a boate. A festa é hoje. Você não esqueceu, não é mesmo?
— Não. Eu não esqueci. Anna me manda um lembrete a cada meia hora.
— Ela está uma pilha de nervos. Quer que tudo saia perfeito.
— Acredito que aquilo tudo tem distraído ela. — penso em como ela deve estar se sentindo sobre a morte de Tália.
— Tem sim. Heloísa também. — Alice diz e percebo certa maldade em seu tom.
— Como assim?
— Anna está morando com ela.
— Então elas estão juntas?
— Não. Quer dizer, sim. Estão morando juntas. Mas estão em negação sobre como se sentem uma pela outra. — diz apoiando a cabeça no travesseiro.
— Não acha que é cedo para a Anna?
— É o que ela diz. Mas agora consigo ver que o namoro delas já havia acabado antes da tragédia. Anna e Tália não iriam ficar juntas.
— Talvez tenha razão. Sempre acreditei que tirar Tália de lá faria com que ela esquecesse Lívia, mas pelo visto não foi o que aconteceu. Bom! A conversa está ótima, mas alguém precisa trabalhar. — me inclino dando um beijo em seus lábios. — Tchau! — digo já saindo.
— Você fica uma delicia nessa calça. — ela grita me fazendo rir.
Dou um beijo em Teodoro em seguida já estou no carro a caminho da empresa. Tenho pensado sobre as festas do fim de ano. Sei que Isabella não iria abrir mão de nos receber em sua casa. Mas ainda tenho esperanças de que contando meu plano para ela nós possamos ir todos para a fazenda. Queria muito toda nossa família reunida. Chego à empresa e já vou honrar meus compromissos do dia. Entre reuniões e ligações quando percebo a hora do almoço já havia chegado.
Mando mensagem para Alice avisando que logo estarei em casa para o almoço. Ela me manda uma foto como resposta. Teodoro está adormecido em cima dela. Os dois estão deitados no tapete da sala. A foto me arranca um sorriso.
— Pensei que não ia te encontrar aqui. — Milena diz ao me ver sair da sala.
— Já estava de saída. Queria algo?
— Na verdade, sim, eu e sua sogra. Que tal almoçarmos juntas? Precisamos tratar alguns assuntos.
— Claro. Só preciso avisar a Alice. — já digo com o celular em mãos. Mando a mensagem.
— Ainda sem assistente? — Milena pergunta.
— Pois é. — sorrio sem graça.
— Podemos ir? — Larissa surge no elevador. Ela segura a porta para podermos entrar. Dou passagem para Milena e em seguida entro.
O restaurante escolhido foi o Santé, o que já era de se esperar. Tratamos todos os detalhes da construção, saímos de lá com uma data definida para começarmos tudo. Larissa estava mesmo empenhada nesse projeto. Eu não poderia ter feito escolha melhor.
Passava das três quando nos despedimos na saída do restaurante. Decidi que não iria mais para a empresa. Precisava dar um pouco de atenção a Alice e Teodoro como hoje é sexta, a empresa está um pouco mais calma. Fora que também preciso descansar antes de sair a noite. Sabia que aquela ocasião era muito importante para Alice e Anna. Então, não, poderia deixar de ir. Fora que sentia saudades de uma festinha.
Quando cheguei em casa tudo estava quieto. Tereza estava no jardim conversando com o jardineiro. Sei disso apenas por escutar suas vozes. Não cheguei a vê-los. Subi as escadas em direção ao segundo andar. O quarto de Teodoro estava silencioso. Acredito que Alice já tenha saído para a boate. Vou até o berço dele, acaricio seus cabelos. Ele suspira profundamente. A babá estava sentada ao lado. Sorrio-lhe e vou para o quarto.
A cama me parece muito convidativa. Tiro minhas peças de roupa, higienizo as mãos em seguida me deito. Adormecendo em seguida. Meu sono foi tranquilo. Quando abri os olhos lá fora já estava escuro. Sentei-me na cama tentando despertar.
— Você está linda dormindo, não quis te acordar. — Alice diz de onde está, sentada na poltrona próxima à janela.
— Agora percebi o quanto eu estava cansada. — respondo em meio a um bocejo.
— Você precisa descansar. Não pára desde que voltou a trabalhar. Fora que o tempo que ficou em casa não foi bem algo bom. Precisamos de férias. — afirma.
— Você só quer me convencer a viajar. — brinco.
— Seria tão ruim assim viajar comigo? — questiona arqueando a sobrancelha.
— De forma alguma. Mas agora, eu não posso. Vamos ter quatro dias de folga. Isso é tudo que consigo.
— Então se a empresa não fechasse você não iria deixar de trabalhar? — questiona.
— Não. — afirmo.
— Você é casada com o trabalho. Por isso não casa comigo. — diz rindo.
— Boba. Não é nada disso. — vou até ela. Sento-me em seu colo, com um joelho de cada lado do seu corpo.
As mãos dela repousam na minha cintura. Estou apenas de lingerie. O simples toque dela faz meu corpo reagir. Beijo seu pescoço.
— Que tal tomarmos um banho juntas?
— Um banho? — questiona.
— Sim. Mas o que acontecer durante o tempo que estivemos lá, não vai ser algo que devemos resistir. — sussurro.
— Não posso me atrasar hoje. Anna me mataria. — ela suspira quando sente minhas mãos por baixo de sua camiseta.
— Eu te ressuscito com um beijo.
— Você é tão tentadora. — me fita. Passa a ponta do dedo indicador na borda do meu sutiã. — Valeria apena morrer por você.
Diz isso já se pondo de pé. Apesar de ela ser mais baixa que eu, Alice tem uma forma três vezes maior que a minha. Ergue-me em seus braços sem parecer fazer esforço. Prendo minhas pernas em volta de sua cintura enquanto ela me sustenta segurando minhas costas com cuidado.
Não demoramos a chegar ao banheiro. Temos urgência em nós tocarmos, não em tomar banho. Essa parte fica em segundo plano. Nos entregamos ao desejo latente. Alice o tempo todo é carinhosa.
— Minha roupa está boa? — ela questiona se voltando para mim.
Sua escolha da noite havia sido um terninho na cor azul bebê. O blazer estava aberto, por baixo ela usa um croped branco. A barriga a mostra. Os cabelos caídos em seus ombros formam ondulações perfeitas. A maquiagem leve, nos pés um sapato de salto na cor preta.
— Boa, nada! Você está maravilhosa. Agora estou com medo de não ter acertado na minha escolha.
— Não seja boba, você ficaria linda até com farrapos. — ela sorri. Antes que eu possa responder o celular toca. — Anna. — mostra o aparelho. — Eu te espero lá embaixo. — diz isso e sai já com o aparelho no ouvido.
Termino de me arrumar sem pressa. Quando me olho no espelho gosto do resultado. É maravilhoso poder voltar a usar minhas roupas antigas. Meu corpo está voltando ao normal. Desço as escadas e as vozes param assim que chego no último degrau.
— Estou tão feia assim?- questionei.
— Não! Você está ...- Tereza começou a dizer.
— Sexy para um caralh*. — Alice falou empolgada. — Vou ter muito trabalho hoje. Já tô até vendo.
— Concordo. — Tereza e a babá falaram juntas.
Minha escolha para a noite foi um vestido preto, curto, com cortes laterais. As mangas longas completam o charme. Alice continua hipnotizada apenas me olhando, juro que quase vi ela babar.
— Podemos ir? — indago no mesmo lugar.
— Cla-claro. — caminha apressada até mim. Segura minha mão e nos despedimos seguindo para a boate.
Algo me diz que essa noite será bem divertida.
Fim do capítulo
Para quem estiver curiosa sobre as roupasss
A história está perto do fim. Irei até o 103 e depois disso o epílogo. E a aventura termina.
Continuo vendo todos os comentários e quero agradecer a todas que não desistiram de acompanhar. Paciência é uma virtude.
Beijos no coração e bom feriado.
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Baiana
Em: 27/04/2022
Já perto do fim? Faz isso não...
Gostei do que a Virgínia falou para a Rebeca,no início ela agiu errado para afastar a fotógrafa da Alice,o que cumlminou em benefício para todas, Virgínia encontrou alguém para amar de verdade e a Rebeca se rendeu ao que sentia por Alice,agora tem uma família linda,e essa insegurança que ela estava demonstrando não combinava com o relacionamento delas.
Quer dizer que a sapa chefe foi fisgada pela enfermeira...aí aí Carmem
A pergunta que não quer calar! Tália traiu ou não traiu a Anna? Ou vamos ficar nessa incógnita tal qual Bentinho e Capitu? Kkk
preguicella
Em: 21/04/2022
Como assim estamos perto do fim?! Não aceito! Cadê meus extras?! Só aceito o fim se os meus extras vierem em forma de terceira temporada! Te viraaaaaa!
Não tô preparada pra dizer adeus! Nãooooooooo
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Mille
Em: 21/04/2022
Oi autora
Ah já fico com saudades.
Também concordo com terceira temporada.
Virgínia nunca abaixa a cabeça, mais acho que talvez se ela tivesse ficado a Alice e Rebeca ficariam juntos.
Pelo menos serviu dela amadurecer e encontrar um novo amor.
Amélia com certeza terá uma noite no quarto de hóspede ou sofá. Kkkk
Bjus e até o próximo capítulo
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Lea
Em: 21/04/2022
A Virgínia é forte e determinada. Deixou bem claro que,se não tivesse sido "mandada" embora do país,teria lutado pelo amor da Alice. Afrontososa a garota. Kkk
Mas que bom ela ter encontrado alguém,e esse alguém é a Lis. Conseguiu se reerguer e não surtar igual fez a irmã. Tenho meu carinho pela Virgínia.
A Amélia gosta de brincar com fogo,fazendo um convite desses à Virgínia. Kkk Com certeza vai dormir no quarto de hóspede.Kkk
Estou torcendo para que esse novo futuro casal se concretize. Anna e Heloísa.
E o André, será que pensará melhor e voltará??
Obs: amaria uma terceira temporada. Quem sabe explorar mais as outras personagens!
Bjus
Bom feriado!
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