Fique por Leticia Petra
Capitulo 15 - Caminhos.
— Então vamos passar mais um mês aqui? – João parecia diferente, um pouco triste talvez.
Havia acontecido algo? Eu deveria perguntar?
— Sim, só mais um mês e vocês poderão voltar as suas rotinas. – Que rotina eu teria lá? Ainda não havia parado para pensar sobre. – O delegado acredita que seja pouco provável que o Fábio tente algo. Conversei com a sua avó e bem...
— Está se recusando a aceitar a realidade, não é? – Ele acenou em concordância. – Ela sabia de tudo?
— Acredito que ela foi enganada também. – Puxei o ar com força, passei a minha mão sobre a outra.
— E a Zoe? – Precisava saber sobre ela.
João demorou um pouco para responder.
— Nunca havia visto a Zoe assim, ela não tá nada bem. Tá por aí tentando não parecer frágil, mas a verdade é que não é bem assim. – Senti o meu coração ser esmagado.
Não consegui parar de pensar nela nem por um instante, dormir foi uma missão impossível. Nem ao menos fui capaz de permanecer no festival, inventei uma dor de cabeça e voltei para a fazenda. Os meus sentimentos estavam confusos. A minha cabeça no automático desde então.
— Queria vê-la. – Confessei, pois em meu peito não havia mais espaço para guardar nada.
Sua confissão, eu ficava a repassando de novo e de novo.
— Não quero me intrometer na relação de vocês, Oli, mas acredito que seja melhor vocês duas ficarem um tempo sem contato. Você iniciou algo com outra pessoa, então...
— A Zoe te contou sobre isso? – Perguntei surpresa.
João passou a mão sobre os seus fios curtos.
— Eu disse que ela realmente está mal. – Mordi minha bochecha por dentro. – Aproveita esse mês e coloca a sua cabeça no lugar, Oli.
— Farei isso, João...
— Não se preocupe, irei cuidar dela aqui. – A magoei.
— Obrigada...
Finalizei a vídeo chamada.
Tudo na minha vida se resumia a Zoe nesse momento, a minha cabeça não parava de repassar a cena do trailer, as palavras ditas, aquela expressão em sua face. Fui açoitada a noite inteira, desejei entrar em um carro e ir atrás dela assim que soube que ela havia ido embora.
Eu estava mesmo sofrendo de amor.
— Trouxemos um lanchinho. – Olhei para a porta e estranhei os meus três irmãos ali.
— Estamos preocupados, faz horas que você tá aqui. – Marina se aproximou.
— Tive algumas provas e muito matéria acumulada. – Tentei sorrir. – Fechem a porta e venham aqui.
Duda colocou a bandeja na mesinha.
— Desculpa a intromissão, Oli, mas notamos que você não tá bem e queríamos mesmo ajudar. – Eric se agachou ao meu lado.
— Sabe que pode contar com a gente, Oli. – Duda sentou ao lado de Marina, mas logo se afastou ao perceber.
Quando elas iriam se dar bem?
— Vocês querem saber o que aconteceu? – Eles apenas acenaram em concordância. – Ontem a Zoe foi até o trailer, ainda não havia colocado isso em palavras, mas acho que vocês já notaram que ela e eu...
— A gente sabe. – Toquei minha face, tentando disfarçar o constrangimento.
— Eu não sei quando começou, mas agora tomou conta de tudo que sou, eu tentei fugir e fingir que nada estava acontecendo, mas dai ela apareceu no trailer e disse que também estava apaixonada... – Baixei a cabeça, a apoiei em minhas mãos. – Mas tem a Yuna, daí...
— A gente já entendeu, Oli. – Duda veio até a mim, me fez olha-la. – A gente entendeu, não precisa dizer mais nada. Podemos perceber que isso tá machucando muito.
— A gente vai tá aqui, Olivia Palito, pra qualquer coisa. – A voz mansa de Eric me fez aquecer.
Fui consolada por meus irmãos, que me aconselharam a ter uma conversa com Yuna, ela não merecia ficar em meio as minhas dúvidas, tentaria pôr a minha cabeça no lugar naqueles dias que ainda ficaria na fazenda.
Precisava ser sensata e agir com a razão.
— Você tá ficando muito boa nisso, Olivia. Você seria uma ótima veterinária, deveria pensar sobre isso. – Sorri.
— Na verdade, eu estava mesmo desejando fazer isso. – Olhei para o pequeno novilho.
— Já se inscreveu no Enem? – Retirei as luvas.
— Sim, fiz há alguns dias... estou me preparando. – Olhei as horas. – Preciso ir até a cidade, amanhã virei mais cedo.
— Tudo bem, foi um dia ótimo. – Sorri, satisfeita e sim, bem orgulhosa de mim mesma.
Deixei a clínica, passei pela baia de Safira e Zoe, e entrei no casarão. Ao subir as escadas, pude ouvir a voz de Yuna, ela falava com alguém ao telefone. Tentei não ser vista, mas ela acabou por me ver.
— Não quero mais falar sobre isso, terei que desligar. – Ela finalizou a chamada e me encarava.
— Sua ex? – Cruzei os braços.
— Sim, ela acabou de chegar em Belém. - Yuna estava com uma expressão de fúria.
— Vamos até a cidade? – Ela ficou a me observar por uns segundos.
— Vamos, vou apenas trocar de roupa. – Eu queria um momento a sós com ela. – Você parece querer me dizer algo.
— Isso está certo. – Para a minha surpresa, ela sorriu e se aproximou.
— Você é linda... não vou demorar. – Yuna beijou a minha bochecha e foi para o quarto que dividia com a Mina.
Fiquei parada, apenas olhando para o nada.
“Pessoa certa em uma hora errada? Será que em uma das áreas da minha vida algo vai dar realmente certo?”
— Filha, você vai sair? – Despertei dos meus devaneios.
— Vou até a cidade, mãe. A senhora quer alguma coisa? – Ela sorriu.
— Quero conversar com você e os seus irmãos. – Eles andavam se dando bem.
No fim, viramos uma grande e estranha família. Era engraçado pensar nisso, no quanto a minha vida mudou em pouco mais de dois meses.
— Parece algo sério... – Minha mãe apenas colocou a mão sobre meu braço e fez um carinho breve.
— Só peço que escute com o coração aberto. – Sem dizer mais nada, ela desceu as escadas.
Com aquela conversa em mente, entrei no meu quarto, tomei banho e troquei de roupa rapidamente. Quando desci, encontrei Yuna pronta na porta. Ela vestia roupas casuais e estava muito bonita.
— Vamos no meu carro? Você está cheirosa. – Diferente do que pensei, Yuna não estava indiferente ou chateada pelo que aconteceu no festival.
Ela parecia sempre tão paciente.
— Você também tá cheirosa. Podemos ir no carro da fazenda? Queria sentir o vento fresco. – Ela sorriu.
— Ainda bem que amarrei o cabelo...
Deixamos o casarão.
O céu estava impecável, o vento fresco e a música no radio era agradável. Por milésimos de segundos, a minha mente tentou se direcionar para outra hora, outra pessoa, outro cheiro, mas dissipei em imediato aqueles pensamentos.
— Estive pensando seriamente em tudo o que aconteceu e tomei uma decisão. – Parei o carro na pracinha principal e a encarei. – Não tem espaço para mim como sua mulher, Olivia, esse espaço todo pertence a Zoe.
— Yuna...
— Me deixa terminar, eu preciso dizer tudo de uma vez. – Me calei. – Eu irei voltar pra cidade amanhã, mas quero que saiba que pode contar comigo. Não irei me afastar e menos ainda te tratar diferente, só não quero forçar os meus sentimentos.
— Você não está forçando nada, Yuna, eu realmente gosto de você e queria muito que nada disso estivesse acontecendo, não queria me sentir dividida desse jeito. – Passei a mão sobre a cabeça.
— Oli, você não tá dividida... – A encarei. – Você quer a Zoe, seu coração quer a Zoe, o que sente por mim talvez seja apenas um gostar.
Fui incapaz de dizer algo.
— Ei, eu vou ficar bem... – Ela segurou o meu queixo. – Não vou me afastar de você.
— Eu não quero, eu gosto de você...
— Você ama a Zoe.
Amor...
— Vem aqui.
Yuna me puxou para um abraço, onde permaneci por longos minutos.
“Quando vai ficar fácil?”
Passamos rapidamente em uma papelaria, precisaria de alguns materiais para estudo. Deixamos as coisas no carro e andamos um pouco pela cidade.
Estávamos em um silencio cômodo.
— Vamos voltar? – Nos aproximamos do carro.
— Você quer dormir comigo esta noite? – Yuna me encarou com surpresa.
— Você tá dificultando as coisas. – Ela passou a mão sobre a cabeça.
— Não vai acontecer nada, só quero passar o resto dessas horas com você. – O seu sorriso foi a confirmação que precisava.
Voltamos para a fazenda, onde me esperavam para a tal reunião no escritório. Deixei as sacolas no quarto e desci, estava curiosa para saber do que se tratava.
— Ainda bem que já chegou, Oli. Senta, preciso mesmo falar com vocês sobre isso o quanto antes. – Minha mãe ocupou a cadeira principal do escritório.
— Conversamos muito com a Zoe e o João. – O simples mencionar de seu nome me deixou inquieta. – Em um mês voltaremos as nossas rotinas.
Marina sorriu.
— A mamãe e eu queríamos falar sobre como ficarão as coisas...
— Vamos voltar pra casa, iremos fazer isso... não há muito o que se falar sobre isso. – Eric falou e havia uma linha de expressão entre suas sobrancelhas.
— Aquela casa não é mais segura, eu sei que fomos forçados pelas circunstancias a conviver, mas nós não podemos simplesmente deixar que vocês fiquem em qualquer lugar. – Minha mãe ligou o notebook.
— Senhora Betina, com todo respeito, nem a senhora e nem qualquer pessoa da sua família tem qualquer obrigação conosco, com a Oli sim, mas com a gente não. – Duda interferiu.
— Mamãe...
— Deixem-na terminar antes de recusarem. – Marina ficou séria.
— Eu só quero que fiquem seguros, faço isso por todos vocês. Ben tem apenas treze anos, ele precisa de um ambiente seguro. Olivia, não importa o quanto você seja orgulhosa ou se o meu sangue não corre nas suas veias, eu sou a sua mãe e vou sim fazer tudo o que estiver ao meu alcance pra que sua vida seja no mínimo menos complicada. – Houve um silencio por breves segundos.
Ela virou o notebook para Eric.
— Esse apartamento fica no centro, é perto de escolas, supermercados e tudo o que possam necessitar. Tem três quarto, um espaço amplo... é seguro. – Mordi a bochecha por dentro.
— Ele será de vocês, se aceitarem. Daremos algum tempo para que pensem sobre. – Eric e Maria Eduarda me encararam.
— Não vou sustentar vocês, não os controlarem e nem nada. Conhecemos a Oli o suficiente pra saber que ela não voltará a morar conosco, então decidam entre vocês três.
Um apartamento.
Deixamos o escritório, os meus irmãos se mantiveram em silencio. Eu os entendia, também não queria algo assim de novo, de mão beijada. Orgulho? Sim, mas vivi em uma bolha durante anos e agora que estava encontrando um caminho, não queria retroceder.
Teria muito o que pensar.
Eu sei que elas estavam apenas querendo ajudar, mas um apartamento daquele deveria ser muito caro e pelo pouco que conhecia do Eric, ele não aceitaria tão facilmente. Acho que esse lance de orgulho era algo de família.
— Caramba...
Depois do banho, esperei por Yuna e ela não demorou a aparecer. Não jantamos, decidimos assistir a um filme e comer algumas besteiras que havíamos trago da cidade.
Eu me sentia a vontade ao seu lado, em paz. Por que não poderia ser simples assim?
— Não acredito que estou mesmo assistindo doramas. – Yuna riu baixinho.
— São legais... você bem que poderia me ensinar coreano. – Ela me olhou e sorriu.
— É bem mais difícil do que parece, só não mais difícil que o português. – Mordi um pedaço do chocolate.
— Você fala tão perfeitamente, nem parece que teve alguma dificuldade em aprender. – Yu riu outra vez.
— São anos de pratica, então sem modéstia, sou ótima nos dois idiomas. Ah, não! Ela vai mesmo beijar ele? – Olhei para a televisão.
— Eles são o casal principal, não quer vê-los juntos? – Não pude deixar de rir.
— Mas ele nem parece tão interessado, fica falando pra outra que não tem nada a ver. – Ela ficou realmente indignada.
— Vamos esperar até o fim, sempre há alguma reviravolta. Deixa de ser impaciente... – Dei um pedaço de chocolate a ela.
Nos olhamos por uns segundos.
— Você é muito bonita, esses olhos são um verdadeiro charme. – Fui sincera.
— É bom saber disso, afinal, do país que venho...
— Com toda certeza deve se destacar igualmente. – Yuna sorriu.
Senti vontade abraça-la, de ficar ali e poder sentir sua respiração, mas não era justo me deixar levar pela atração que sentia e magoa-la no fim de tudo. Por que ela não apareceu antes?
Sábado.
— Sabia que iria te encontrar aqui. – João se aproximou, me entregou um energético. – Quantos já conseguiu?
— Sete, estão cada vez mais difíceis de pegar. – Coloquei duas moedas de um real na máquina. – Já terminou tudo?
— Sim, já coloquei tudo no porta malas... seu pai queria entender o porquê não deixamos os empregados fazer as compras. – A pequena garra segurou um dos ursos de pelúcia, mas não suportou o peso.
— Droga...
— Vamos pra casa, você não vai até aquela exposição? – Ah, eu iria à exposição.
— Você quer ir comigo? Não quero ir sozinha. – João sorriu, me fazendo rolar os olhos.
— Para! Só fiquei feliz, afinal não é todo dia que você me inclui em algo.
— Vamos pra casa, já vai anoitecer. – Entreguei os ursos a ele. – Eu dirijo.
— Elas são gatas, acha que estão comprometidas? – Entramos no carro.
João havia bisbilhotado as redes sociais das irmãs do governador.
— Não vamos até lá pra isso, você sabe que não estou com cabeça. – Mordi minha bochecha por dentro.
— Não falo pra você, falo pra mim. – Apenas liguei o som.
Tomei um banho rápido, coloquei algo fácil e desci para esperar por João, o meu pai havia saído, certamente estava com Caio. Ele havia me chamado para conversar, nada muito diferente do que eu já sabia. Nem queria imaginar o barulho que aquilo faria quando fosse descoberto, mas ele estava feliz e parecia ser reciproco.
Caio não me parecia o tipo de pessoa que se aproximaria de alguém por interesse.
Quando chegamos em frente a exposição, notei que não seria algo qualquer. Uma fileira de carros de luxo estacionados, havia fotógrafos na entrada e todo requinte que exigia. Aquilo só aumentou a minha curiosidade a respeito das irmãs desmioladas.
— Boa noite, senhorita, posso estacionar seu carro? – Um rapaz muito elegante e bonito, se aproximou.
— Boa noite. – Entreguei minhas chaves a ele e segurei no braço de João. — Muito obrigada.
— Disponha, senhorita.
Adentramos a galeria.
Logo na entrada, pude ver Iris e Violeta, as duas conversavam em uma rodinha. Desviei meu olhar para as telas e de fato, era algo formidável. Tão realistas que mais lembravam uma fotografia.
— Parece que são duas exposições. – João apontou para o outro lado da galeria.
Eram fotografias e algumas de fora do Brasil.
— Eu disse que ela viria. – Ouvi aquela voz e me virei para olha-las. – E ela trouxe um cara bem bonitão.
Violeta olhou para João.
— Vim porque acho que nós temos algo a esclarecer. – Olhei para ambas com seriedade.
— Vamos até um lugar mais reservado, prometo que explico tudo. – Iris olhou ao redor.
— Iris, posso encerrar por aqui? Já fiz tudo o que me mandaram. – Um rapaz alto, de porte atlético e de fios loiros, se dirigiu a ela. – Ah, me desculpe, eu não havia percebido que ela estava conversando. Perdoem a falta de educação.
Ele estava vestido de garçom.
— Ele é o meu irmão Valentin. – O carinha sorriu e segurou a minha mão, beijando o dorso.
Irmão? Vestido de garçom?
— Me chamo Zoe, esse é o meu amigo João. – Desfiz o contato.
— Você pode ir, Valentin, já tá liberado e da próxima vez que fizer uma besteira daquelas... – Violeta mostrou os punhos e eu estava boiando naquilo tudo.
— Eu já entendi... já estou indo. – Ele me olhou outra vez e se afastou.
— Pode nos acompanhar? – Iris tocou meu braço.
— Vou junto... – João se convidou.
Andamos com certa dificuldade pela galeria, pois todos queriam falar com as artistas, descobri assim que Iris era pintora e Violeta uma fotografa. As irmãs nos levaram até uma sala mais reservada e fecharam a porta. João sentou ao meu lado e não parava de trocar olhares com a Violeta.
Aquilo já estava me enchendo a paciência.
— Eu nem sei por onde começar. – Ela riu, passando as mãos sobre a nuca.
— Deixa que eu conto, Iris, afinal a culpa foi minha. – Franzi o cenho. – Nosso irmão e o nosso pai não são muito a favor que os membros sigam a carreira de artista, sabe, e a nossa relação não é nada fácil. Bem... naquele dia que fomos parar em frente a empresa de vocês foi porque queríamos tirar o papai do sério e fazer uma exposição onde todos pudessem ver.
— Quantos anos vocês têm? Doze? – Ambas se olharam.
— Felizmente, ele não soube do que aconteceu e queríamos que não contassem nada a ninguém, não queremos mais aborrece-lo. – Ergui a sobrancelha. — Menos ainda o todo chatão governador.
— E por que acham que eu perderia meu tempo dedurando vocês? – Fiquei de pé.
— Gostei dela, Iris... – Violeta cutucou a irmã.
— Então podemos fingir que nada daquilo aconteceu? – Me encaminhei até a porta.
— Nem sei do que estão falando. – Olhei para João. – Vamos?
— Mas já? Eu queria ficar mais um pouco. – Novamente, Violeta e ele se olharam.
— Ok, só mais meia hora... – Olhei para Iris e ela sorria.
Voltamos para a área principal, onde fomos avisadas que tudo que estava exposto foi vendido, causando um alvoroço por parte das irmãs. Fui para o terraço onde estava mais calmo, peguei uma taça de vinho e passei a admirar a noite.
— Não posso deixar de reparar que essa é a sua terceira taça. – Iris se colocou ao meu lado. – O que precisa esquecer com tanta urgência?
— De uma mulher que não posso ter. – Aquilo deveria ter ficado somente em minha cabeça, mas escapou.
— Acho que te entendo, também estou tentando fugir de alguns sentimentos. – A encarei. – Mais especificamente de um amor não correspondido.
— Não sei porque existe essa droga de amor, tudo seria mais fácil se fosse movido apenas por tesão. – Ela gargalhou.
— Não posso deixar de concordar, seria tudo muito mais simples. – Tomei mais gole. – O meu irmão ficou encantado por você.
— Ele é muito bonito, mas agora não consigo nem me imaginar com outro corpo. – A bebida estava me deixando vulnerável. — O que me faz lembrar. Por que seu irmão estava de garçom?
Ela gargalhou.
— Ele estava me devendo uma... – Franzi o cenho. — Queria mesmo conhecer essa mulher que te deixou assim, soube por aí que você não é muito fácil de agradar.
— E essa pessoa que andou fofocando está neste exato momento babando na sua irmã? – Ela riu outra vez.
— Ele é uma graça, tenho um pouco de dó por ele ter se interessado pela Violeta. – Pude sentir uma brisa fresca, me fazendo fechar os olhos.
— Não queria falar nada, mas ela parece pinscher. – A nossa gargalhada se misturou.
— Que ela não te escute falar assim, mas eu concordo. Violeta é a mais nova, mas é muito protetora e sempre me fez correr atrás das coisas que gosto. – Esse tipo de relação, como seria?
Estou mesmo ficando uma bobalhona.
— Deve ser bom ter irmãos... – Deixei escapar.
— As vezes dá vontade de matar com requintes de crueldade, mas há momentos em que eles são os únicos suportes que tenho. – Nos encaramos.
Seu sotaque era engraçado.
— Onde está a sua paixão não correspondida? – Ela deu de ombros.
— Provavelmente, em alguma viagem de luxo com o marido. E a sua? – Por uma fração de segundos, pude sentir o perfume de Olivia.
— Sendo amada por outra também. – Tomei o resto do vinho. – Minha meia hora acabou, preciso ir.
— Poderíamos sair? – Franzi o cenho. – Como amigas, eu não tenho muitos amigos aqui.
Pensei por alguns segundos.
— Podemos marcar algo, acho que também preciso de alguns amigos. – Ela sorriu.
Trocamos de números e combinamos de marcar algo os quatro, porque João estava encantado com a mini versão de Iris. Deixamos a galeria, mas decidi não ir para a mansão do meu pai, pedi a João que me deixasse em meu apartamento.
Queria ficar sozinha e encher a cara de vinho.
Domingo de manhã.
— Acorda, fiz um café forte e você precisa de um banho com urgência. – Tentei abrir os meus olhos, mas sem muito sucesso. – Zoe, levanta dessa cama.
No momento seguinte, senti o meu corpo indo ao chão.
— Que droga! – Abri meus olhos e João me olhava em reprovação. – Droga, João! Que merd* você tá fazendo?
— São quase duas da tarde, Zoe, seu pai e eu estávamos muito preocupados. – Levei a mão a cabeça.
— Como entrou aqui? – Com a ajuda dele, sentei na beirada da cama.
— Fiz o porteiro dar um jeito, agora vai tomar banho. Tem café na cozinha, te espero lá...
Ele saiu do quarto, me deixando sem reação.
Com muito custo, tomei um banho frio e fui para a cozinha. Ele havia trago comida e analgésicos. Era lamentável o estado em que me encontrava, mas era a primeira vez que estava lidando com isso. Não estava conseguindo organizar essa bagunça.
— Você não deveria estar com aquela garota? – Levei a salada a boca.
— Vamos sair mais tarde. – Ele me encarava.
— Não me olhe com pena, isso tá me deixando ainda pior. – João puxou o ar ruidosamente.
— Você não pode fazer isso, eu entendo que é difícil e que nunca passou por isso antes, mas Zoe, você tem a mim, ao seu pai... você pode e deve contar com a gente. Precisa aprender a deixar as pessoas entrarem.
Encarei o prato.
— Eu só me sinto um pouco perdida, achei que seria mais forte. – Passei a mão sobre a nuca e a apertei. – Queria poder estar com ela, não consigo segurar essa sensação de perda. Tô morrendo de ciúmes só em imaginar que a Olivia deva estar com ela agora.
— Elas não estão juntas agora, quando subi, encontrei a Yuna no hall. – O encarei. – Zoe, hoje fui comunicado que iremos pro Nordeste por um mês, duas unidades serão inauguradas e querem a presença de alguns membros da família. Acredito que vai ser ótimo pra você, talvez esse tempo longe fará sua cabeça ficar ocupada.
Aspirei o ar com calma.
— Você tem razão, acho que fará bem. Quando será a viagem?
— Amanhã à noite, passaremos quinze dias em São Luiz e mais quinze no Piaui. Já reservei as passagens, você virá comigo pra mansão. – Deixei a comida de lado.
— Obrigada por isso, João. Você é um grande amigo... – Ele sorriu.
— Gosto muito de você, Zoe, faria qualquer coisa pra te ver bem. – Minha mão foi acolhida.
— Como consegue me aturar? – Ele chegou mais perto.
— Acho que são anos de pratica, e eu sei que você gosta de mim. Do contrário, já teria me tirado da sua vida. – Ele estava certo.
— Convencido...
— Essa Zoe brincalhona é novidade. Sei que não deveria tocar no assunto por agora, mas eu espero de todo coração que você e a Oli se acertem. Ela vem fazendo uma bagunça na tua vida, eu sei, mas é a primeira vez que te vejo reagindo a vida.
Não era mentira.
— Ela me transformou em alguém que não sabe lidar com sentimentos.
— Não, ela te fez reviver...
Ficamos ali por alguns minutos, depois troquei de roupa e fui para a mansão do meu pai.
Passei a tarde toda lendo alguns documentos, adiantando algumas coisas. Quando a noite chegou, fui convidada por João para irmos até uma boate, Violeta e Iris também iriam, assim como o tal de Valentin.
Resolvi aceitar, afinal precisava de distração.
Era uma boate alternativa e diferente do que eu pensei, o publico não se resumia a burguesinhos, assim como nós, o que deixou tudo mais interessante. Decidi não beber nada alcoólico e fui para a pista de dança.
A quanto tempo não dançava?
— Por que não me disse que o João é o seu ex marido? – Iris falou perto do meu ouvido.
— Não tive a oportunidade. – Dei de ombros.
— Ele é um cara muito legal, por que terminaram? – Olhei para onde João estava com Violeta.
Ele parecia estar feliz.
— Uma longa história, mas vamos esquece-la por enquanto. – Uma garota se aproximou de Iris, envolvendo sua cintura.
Do nada, ambas passaram a se beijar.
— Posso dançar com você? – O irmão de Iris perguntou, ele estava muito próximo.
— Não posso te oferecer nada... – Ele riu.
— Não me importo em esperar, por agora, me contento com a dança e a companhia. – Ele segurou a minha cintura.
Dançar não faria mal.
— Ok...
Foi somente o que eu disse e passamos a dançar, o Dj tocou uma sequencia de música latina. Iris, que desgrudou da outra garota, se juntou a nós e eu somente me deixei levar e esquecer quem eu era e os meus dilemas.
— Essa é a minha música! – Iris berrou.
Un ratito passou a tocar, fazendo todos na boate comemorarem.
Fim do capítulo
Boa quarta :)
Obrigada a todas por lerem. Sou muito grata a vocês.
:)
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