Capitulo 15
CAPÍTULO 15
Acordei e, quando estava tentando me orientar no tempo, meu celular tremeu embaixo de algum livro, avisando a chegada de uma mensagem. Estiquei a mão até a cômoda que ficava ao lado da cama, cômoda essa que usava como mesinha para estudo ou depósito de tudo, inclusive de grampos e ligas para cabelo. Liguei e vi várias mensagens das meninas me chamando para ir à praia ou cineminha no shopping. Havia uma da Bia me chamando para fazer qualquer coisa, procurei responder essa em primeiro lugar.
Resolvi fazer uma chamada de vídeo. No segundo toque, a tela abriu e a Bia andava com um iPhone na mão indo sentar na ponta da cama muito bem arrumada. Usava uma blusa folgada que parecia um vestido.
— Bom dia. — Deixei uma risadinha escapar. — Ha! Então o BB dorme de vestido?
— Isso não é um vestido, é uma regata. Só para o seu governo, isso também não é uma calcinha, é uma cueca box — falou, levantando a camisa e mostrando uma cueca box preta com uma boca aberta desenhada em vermelho e uma língua imensa esticada e caída para fora, com os dizeres: "use a imaginação".
— Credo, isso lá é cueca que se use? O que você queria? — perguntei às gargalhadas e em seguida coloquei a mão na boca para evitar de alguém na casa ouvir.
— Não posso dizer realmente o que eu queria... Brincadeira, que tal a gente ir à praia? Aí fora está um sol maravilhoso e sou uma companhia ideal para tornar o seu dia maravilhoso. ― Ela piscava os olhos exageradamente com ares do que deveria ser sedução. Seus olhos verdes tinham um brilho que parecia uma pedra preciosa.
— Convencida — eu disse, me sentindo toda mole e manhosa. A voz dela tinha o dom de fazer isso comigo.
Comecei a me esticar na cama e, sem nem mesmo saber por que estava fazendo aquilo, me aconcheguei e continuei a falar normalmente.
— A turma mandou mensagem sugerindo a mesma coisa — falei, mas por dentro tudo estava revirando igual à menina do filme “Yes or No” disse. Eu estava com borboletas no estômago, um monte de borboletas voando e me deixando nas nuvens.
— Eu não sou convencida, eu sou consciente do que posso proporcionar à garota que estou querendo levar para sair para nos conhecermos melhor. Para ser clara, estou dizendo eu e você, só nos duas e ninguém mais, o que acha?
Será que ela estava mesmo dando em cima de mim ou será que ela estava só sendo educada? Ou era eu quem estava fantasiando tudo?
Ela havia dito aquilo enquanto me olhava com aqueles lindos olhos verde-mar e aquele sorriso de canto, o que provocou uma colisão das borboletas dentro de mim. Será que estava sendo sincera? Eu achava tudo aquilo um máximo, mas não podia e fui obrigada a dizer o que não queria.
— Não posso, de uma hora para outra, começar a sair a sós com a vizinha. Mesmo se minha mãe deixasse, meu pai com certeza não ia deixar, ele diria que não tenho idade para andar sozinha e nem você também — acabei completando para não dar a impressão de estar sendo boçal ou dando um fora.
— Eu posso, sim, sair só para alguns lugares. Não posso é beber ou fumar, ou andar em festas a partir de meia noite, mas ir à praia não faz mal. Podemos ir numa boa aqui mesmo na beira mar, é pertinho daqui. Olha, se você preferir, eu vou ai e peço pro seu pai.
― Está louca? Meu pai é muito desagradável com as pessoas quando quer. ― Fiquei apavorada com o que ele poderia dizer para a menina só por ela estar me convidando para ir à praia. Ele não gostava nem mesmo que eu falasse com a Betânia só por que ouviu uns comentários.
― Não tenho medo do seu pai, se ele fosse grosseiro, eu responderia à altura.
― É, lindona, mas ele poderia te expulsar daqui e me proibir de falar contigo. Se a gente pode evitar, por que atiçar a fera? ― Tudo que eu não queria era que meu pai dissesse qualquer coisa para ela. Nem sei o que eu faria. Ou talvez Biatriz não quisesse minha amizade se começassem a maltratá-la. Peguei uma liga e prendi meu cabelo de qualquer jeito, preocupada, e consegui disfarçar sorrindo quando ela falou:
— Me convenceu. Se não podemos ir só nos duas, como eu queria, vamos com a torcida do flamengo — ela completou e eu não pude deixar de rir de sua frustração forçada, que ela demonstrava fazendo caretas.
— Que horas você pode estar pronta?
— Agora, já estou pronta — ela respondeu na hora.
— Você vai para a praia de cuequinha? — Eu ri da situação. — Agora, falando sério, lá pelas onze, pode ser? Ainda tenho que pedir para a minha mãe.
Ela topou e conversamos por mais um tempo. Não foi difícil para minha mãe permitir. Se eu estivesse com mais pessoas, por ela, tudo bem.
[...]
Eram onze e vinte quando chegamos à praia de Beberibe, que ficava a 25 minutos de carro se fossemos pela estruturante, que era uma pista de barro usada mais para rali dos carros 4X4, como o que estávamos usando. A água era bem verdinha e quente. Chegamos em cinco carros. No do meu irmão veio eu, Matias, Margarida e Rosely; no do Bernardo ia a Bia, Betânia, Lara e Ana Clara; no outro estavam Marcos e a namorada da vez, Germano e Renato, outro garoto do colégio. Nos outros dois se encontravam as meninas do time.
Éramos quase trinta. Ficamos em uma barraca, juntamos as mesas e logo as meninas pegaram toalhas, protetor solar e correram para a areia para aproveitar o sol. Os meninos formaram um time e foram jogar.
Bia foi jogar frescobol com a Marilda, uma menina do time, e eu fui dar um mergulho. Quando voltei, me deitei na toalha, cobrindo o rosto com o braço. Algum tempo depois, eu a senti deitar do meu lado, dava pra sentir seu perfume.
— Ainda bem que não saímos juntas. Com esse corpo, eu não saberia te defender dos gaiatos. Puta que pariu, que corpo é esse! E que bunda é essa! Jesus, Maria e José — ela sussurrava perto do meu ouvido.
— E por que está falando tão baixinho? — sussurrei bem perto do seu ouvido também.
— Não quero apanhar dos seus irmãos e nem daquele babaca que não tira os olhos daqui. Parece um cachorro, querendo marcar terreno. — Ela fazia gestos com a cabeça para o lado onde Germano estava em pé olhando com cara de poucos amigos, suponho que era por Bia estar deitada a meu lado.
— Está me chamando de cadela? — perguntei, rindo, ao que ela me respondeu:
— Au, au, au... Eu sou o seu vira lata, minha princesa. — Piscou um olho e achei sensual o gesto.
— Palhaça.
— Vamos dar uma voltinha por aí, lá para frente tem umas falésias lindas com areias coloridas, acho que vai gostar de tirar umas fotos lá. Vamos? ― Antes que eu pudesse responder, ela mesma respondeu no meu lugar: ― Não, esquece... Tem muita gente, eles iam querer saber pra onde a gente iria ou, pior ainda, iam querer ir junto, o que estragaria o passeio. Você tem algo em mente? Alguma coisa que a torcida do Flamengo não queira estar junto? Ou é melhor deixar quieto?
Então o resto das meninas voltaram e... Poxa, eu queria ir ficar sozinha com ela, era tudo que eu queria, fiquei até sem voz.
— Melhor deixar quieto mesmo, vou pegar umas bolinhas de peixe para nós — foi o jeito que encontrei de mudar de assunto.
— Espera, eu vou contigo. — Levantou, tirou a areia do corpo, segurou a toalha em que antes eu estava deitada, pegou meu short e blusa que estavam ali em um canto estendidos e, enquanto eu me vestia, ela sacodia a toalha para tirar a areia e esperava pacientemente, seguindo-me lado a lado quando começamos a andar.
Na barraca, sentamos à mesa e o rapaz veio rapidamente receber os pedidos.
― Por favor, uma porção generosa de bolinha de peixe e uma água de coco. E você, Bia? ― eu perguntei, estendo para ela o cardápio. Ela olhou e pediu em seguida.
― Eu vou querer uma Coca-Cola com gelo e limão, uma porção de macaxeiras fritas e um caldo de caranguejo, por favor. ― Devolveu o cardápio ao garçom, que correu de volta para preparar os nossos pedidos.
― Antes de irmos embora, eu peço ao Matias para irmos nas falésias, então tiramos as fotos.
― Beleza, não vai ser a mesma coisa, mas é melhor do que nada.
Quando eu ia responder, o garçom voltou com as bebidas e em pouco tempo vieram as comidas. Ficamos comendo, despreocupadas. Eu queria fazer tantas perguntas, mas não sabia nem como começar. Aos poucos, todo mundo chegou e o momento passou. O Germano, como sempre, veio sentar bem perto de mim e, sem minha permissão, segurou na minha mão. Na mesma hora, notei Bia se levantando da mesa e indo para a praia dar um mergulho.
— Queria falar com você — disse Germano.
— Largue minha mão! — falei mais alto do que queria. Todos na mesa olharam para nós.
— Qual é, Marina?! Todo mundo sabe que eu gosto de você, me dá uma chance!
— Olha, Germano, você é um cara legal e tudo, mas não dá! Eu não sinto nada por ti. Para mim, você é como um irmão. Por favor, não insista mais. Não vai rolar! Agora, solta minha mão, faz favor.
Ele ainda tentou me segurar, mas eu puxei minha mão e, como todos estavam vendo e ouvindo, ele se conformou.
Saí sem rumo. Procurei pela Bia e a encontrei lá longe, jogando com os meninos. Fiquei sentada perto da água até a hora de ir embora. Meu dia tinha acabado. Os grupos foram se formando para os carros e eu pedi a minha amiga Rosely para chamar a Bia para vir no carro da gente e mandar a Margarida ir no carro do Bernardo e foi feita a troca.
Bia entrou calada, não deu uma palavra. Quando chegamos à estrada, já era noite e ela estava olhando pela janela. Falei bem baixinho no seu ouvido:
— O que foi? Por que não tá falando comigo?
— Por que não trouxe seu namorado também? Ele ia gostar de estar aqui, é tão apaixonado, não acha, Matias?
— O quê, Bia? — Matias estava confuso.
— Que o Germano é louco de amor pela sua irmã?
— Isso não é novidade pra ninguém, ela é que não quer.
— Satisfeita? — falei, ríspida. — Agora vá mais pra lá que eu vou me deitar no seu colo, quero ir dormindo.
— É melhor se ajeitar, Bia. Essa aí só volta dormindo das praias.
Fiquei entre suas pernas e ela com as costas na porta do carro. Eu a abracei pela cintura e fiquei de costas para meu irmão e Rosely de forma que ela não saberia que eu estava acordada.
Passei o braço esquerdo na cintura de Bia, com a mão direita, segurei a sua e ficamos assim até minha casa. Quando descemos, Bia ajudou meu irmão a tirar as coisas do carro e foi pegar a moto para Matias deixar a Rosely em casa.
— Vamos lá pra casa? — Bia perguntou.
— Vou trocar essa roupa e tirar a areia do corpo. Depois eu vou.
— Vou fazer uns sandubas para nós. Não demore.
Passei pela cozinha e vi minha mãe dando os últimos retoques, organizando as panelas e pratos para poder ir dormir.
— Vocês demoraram, hein! Seu pai acabou de dormir.
— Fomos para a praia de Beberibe e pegamos engarrafamento na volta.
— A sua janta e dos meninos está no fogão, não façam bagunça. Eu também já vou dormir.
— Vou me banhar e trocar de roupa, depois vou conversar um pouquinho com a Bia e esperar o Matias voltar, ele tá com a moto dela.
— Ele foi aonde? ― Minha mãe guardou tudo e ficou escorada na pia.
— Deixar a Rosely em casa. Parece que eles estão se entendendo.
— É mesmo? Esse menino não demora com uma namoradinha. Tomara que eles se acertem, a Rosely é uma boa menina e você... não fique conversando com Bia a noite toda, minha florzinha. Seu pai já andou perguntando se você estava em casa. Boa noite.
— Boa noite, mamãe. Quando eu voltar, não vou fazer barulho para ele não acordar — eu disse, abraçando minha mãe.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 17/04/2022
Germano aceita que dói menos.
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