Suíte Panoramic
Laura
Sem rumo!
Apenas um coração dilacerado, dentro de um corpo cansado, comandado por uma mente também exausta. À medida que caminhava em direção à saída do hospital, limpava as lágrimas teimosas que insistiam em rolar uma atrás da outra, como uma aposta de corrida. Tanto tempo junto da minha linda Alice, e agora, sair e deixá-la, ainda com o coração amargurado, estava sendo como sair e deixar uma parte de mim para trás.
Ao me encontrar com o sr Tony, o solicitei que me chamasse um táxi pois queria sair e vivenciar essa dor, sem companhia. Ele, assim o fez.
Pouco tempo depois o táxi chegou. Sob o comando do motorista algeriano, simpatissíssimo, embarquei, ainda sem rumo.
As ruas movimentadas da capital francesa propunham uma dicotomia com meu ser completamente vazio. Entre as belezas estonteantes dos monumentos históricos, a única beleza que me importava era a da minha amada. O ser que mais amei até agora em minha curta vida. Tamanho amor e cuidado, suficiente para sufocá-la. Tal como uma plantinha que murcha ao receber água demais, minha doce Alice murchara-se por eu tanto a cuidar. Nesse tempo, devido o medo de perdê-la, esqueci que, do mesmo modo que as plantas precisam ficarem expostas ao sol, ao vento, a chuva e demais intempéries, Alice também precisara ficar e estar a sós consigo para sentir, viver, sofrer, chorar, tentar, no entanto, o que eu fiz foi colocá-la em uma redoma e a proteger de tudo. Não existe comparação mais sensata! O que me resta agora, é torcer para que esse breve "murchar" seja reversível e nesse tempo, preciso voltar a atenção também para mim.
Enquanto ela tem recebido cuidado e atenção demais, eu estou com a parte negativa.
Bati no vidro a minha frente e o motorista prontamente baixou a mini janela que separa os passageiros do condutor e o solicitei que parasse no melhor hotel possível. Ele acenou em positivo e prontamente mudou seu trajeto. Alguns quilômetros a mais e ele estacionou em frente a uma fachada discreta e ao mesmo tempo imponente. Entre duas lojas de grife, uma porta bastante alta. com um letreiro suspenso acima de uma viga metálica: "Mandarim Oriental". Paguei a corrida e saltei do veículo, confiando no bom gosto do gentil motorista.
Me surpreendi ao entrar e, encontrar um dos hotéis mais luxuosos que já estive. Uma decoração clássica e moderna, misturada ao requinte e sofisticação que só a própria Rue St Honoré consegue proporcionar.
Enchi meus pulmões com o ar aromatizado de macarons homogeneizado a um leve toque de Chanel com pitadas frescas que vinham do jardim de inverno muito bem decorado no cerne do hotel.
Senti todos os olhares sendo direcionados a mim, da cabeça aos pés, medindo talvez até o manequim que visto. Eu, que estive por mais de quarenta dias em um hospital, vestindo roupas compradas por minha assessoria e lavadas em lavanderias rápidas, com sono atrasado e expressões faciais carregadas de exaustão, certamente não aparentava ser pertencente ao nicho de pessoas que frequentam tal ambiente.
Respondi cada olhar com um largo sorriso e continuei minha caminhada até a recepção, onde solicitei a melhor suíte, com o máximo de privacidade possível. Foi necessário usar o sorriso, dessa vez amarelo, como resposta outra vez, ao ouvir num francês nativo, sem ter perguntado:
- A melhor suíte é a Panoramic, mas, ela custa três mil e trezentos euros a diária, senhorita.
Sem desviar os olhos do francês franzino, vestido num uniforme cinza com listras bordô nas mangas e olhar arrogante, puxei a carteira da bolsa, peguei um amontoado de notas pertencentes à União Européia e estendi em sua direção. Ele arregalou os olhos, outrora carregados de arrogância e agora, surpresos e rapidamente tomou as notas, contando-as a seguir e devolvendo-me outra porção.
- Já tem o suficiente aqui, senhorita.
Estendi a mão e solicitei a chave da suíte, agora sem paciência para esperar mais algum minuto em frente desse pobre ser.
- As chaves, por favor! Faça bom uso da sua gorjeta.
Ele entregou as chaves, com as maçãs do rosto corando-se e agradeceu, baixando os olhos em seguida.
Um mordomo prontamente me acompanhou até o elevador e me deixou na porta do quarto, sorridente e gentil, em contraponto do anterior arrogante e hostil.
Abri a porta e deslumbrei-me com a beleza da suíte luxuosa. Voltei os olhos ao mordomo que aguardava no saguão minha entrada ao quarto, então o solicitei:
- Pode me trazer uma garrafa de Dom Pérignon Vintage, por favor?
Ele sorriu com gentileza e limitou-se a dizer:
- Sim, senhorita.
- Traga também um menu do chef, estou faminta - sorri e adentrei o quarto.
Corri os olhos pelo ambiente e imediatamente me lembrei da Alice, quando entra pela primeira vez em um lugar e seus olhos parecem quase saltar pela curiosidade, fotografando com a retina cada espaço que pode contemplar. Sorri com a lembrança e meneei a cabeça em negação aos meus pensamentos teimosos em não se desvincularem dela.
Uma suíte com todo o conforto possível para se estar, muito próxima da minha antiga realidade, nos tempos de outrora em que chegava em casa e enchia a banheira, ligava uma playlist, abria um vinho e ficava horas na água. Não perdi tempo!!
Corri para o banheiro, coloquei a banheira para encher, coloquei uma playlist, me despi e, enquanto aguardava a água alcançar o nível desejado, joguei-me na cama gigante, coberta com lençóis trousseau. Suspirei e agradeci por isso.
Por alguns dias enquanto cuidava da minha outra metade, quase me esqueci do quanto o conforto faz bem!
A campainha tocou e me apressei em colocar o roupão disposto aos pés da cama. Era a champagne solicitada, dentro de um balde com gelo e uma taça. Ao lado do balde, uma bomboniere com mirtilos, framboesas e amoras pretas, maduras.
Foi inevitável o misto de sensações. Ao mesmo tempo que sorri, senti meus olhos marejar. Seria um sinal do destino ou apenas uma feliz coincidência?
Lembrei do nosso casamento embaixo da amoreira e da inocência da Alice em falar dos meus olhos. A emoção do dia. Nosso reencontro. Nosso beijo. Nosso amor. Nossa força. Nossa história. Só nossa! Tão única. Tão linda.
Em meio a pensamentos e lágrimas, abri a requintada champagne, me servi e brindei na bomboniere com as frutas, entre elas, as amoras.
Levei tudo para a lateral da banheira e ainda sentindo a emoção dominar meu então frágil ser, submergi na água quente, deixando meu corpo ser envolvido pela maciez da quentura líquida.
Fiquei tempo suficiente para sentir a última camada de proteínas da epiderme inchar-se de água e tornar minha pele enrugada. Os últimos goles na champagne já foram diretamente na garrafa, finalizando também as frutas. Ao me vestir com o roupão, a alimentação chegou e solicitei que fosse servida na varanda.
O clima ameno do outono Parisiense, proporciona uma atmosfera saudosista que muito combina com meu atual estado de espírito. Me servi da deliciosa e requintada refeição. Uma das mais gostosas comidas de hotel que comi até agora.
Voltei para o quarto, me despi e deitei completamente nua. Nua! Foi assim que me joguei na minha história com a Alice. Nua na alma, totalmente despida de mim ou, do que inventei de mim mesma. Sem nenhuma barreira, me deixei sentir tudo o que pude, entregue de corpo e alma. Frente, verso e avesso. Esse amor que me transpassa, me transborda. Transcendental. Imortal. E dessa forma, adormeci. Provavelmente dormi quase vinte e quatro horas ininterruptas, pois quando acordei, o relógio marcava 16h, sendo que fui dormir às 18h do dia anterior.
Antes de levantar, ainda com preguiça e querendo continuar a curtir o momento aconchegante, coberta por um edredom grosso, de algodão egípcio, liguei a tv.
Em uma viagem pelos canais e plataformas de streaming, voltei rapidamente em um que tive a impressão de ter ouvido meu nome.
De súbito me sentei na cama, atônita, sentindo meus pés e mãos formigarem ao ler na barra de anúncio de reportagem o enunciado:
"Por onde anda a Ceo Laura Veigas após repentino sumiço"
Não bastasse a chamada, a repórter aparece, com a Torre Eiffel ao fundo e começa a reportagem na tv local:
- As especulações a respeito do repentino sumiço da CEO Laura Veigas, brasileira dona de um império empresarial, entre eles, mais da metade das empresas de torres de transmissão mundial, já podem agora serem respondidas. Nossos correspondentes foram informados que ela foi vista entrando em um luxuoso hotel aqui na capital francesa, e ainda, segundo fontes, ela está aqui para acompanhar sua namorada que passou por uma cirurgia de emergência, após ter participado da explosão misteriosa na mansão nos arredores da cidade no mês passado. As perguntas que ficam agora são: Quem seria o affair de Laura Veigas? Ela estaria planejando montar outro império empresarial, agora na França? Quais contribuições para o comércio francês esta ação poderia proporcionar? Por enquanto são apenas indagações que nossa equipe não descansará até obter todas as respostas.
Fim do capítulo
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Atrevida
Em: 13/04/2022
Mana que merda essa arrogância da francesada. Eu não dava nenhum centavo de gorjeta é ruim. Não precisabser na França geral vê uma preta já pensa logo que é pra michê, roubar ou fazer limpeza. Cabeça de senzala e casa grande até hoje. Mana agora dá o sacode e segue ladeira acima pra nós que já é!
Resposta do autor:
Já engatei a primeira aqui mana!! Bora subir essa ladeira e pegar nossa bandeira de vitória ;)
Rafaela L
Em: 12/04/2022
Enquanto a Laura Veigas ,empoderada.É barrada nos lugares.
A Ana Delvey entrava de qualquer hotel,sem um centavo.(história real! )Deu golpe e ainda ficou famosa. Sabem o nome disso né!!!?
A vida da Laura não é fácil! a imprensa não perdoa.
Problema nisso será o traste do suposto irmão dela acha-la.
Espero que a mãe dele reaja e ajude a dar um fim nesse louco.
Laura, não pode vender a Netcell.São negócios sujos! N sei o que ela vai fazer.Mas, precisa livrar-se desse veio da Havan.
Imaginei toda a cena da Laura em Paris.É triste pela situação atual.
Mas,ô mulher chique!!! Gente,sofrendo em grande estilo. E no charme absoluto,que só ela tem! Como não amar Laura Veigas?
P.s hoje tive uma grata surpresa!
Já era fã.Agora deu vontade de criar fã clube ;)
Bora,povo?
Resposta do autor:
Véio da Havan foi de doer hein!! Rsrsrs mas sim, temos aí um probleminha a resolver. Como será que nossa super Laura vai se sair dessa??
Quanto ao fã clube , sigo aguardando :) Laura e Alice merecem e agradecem ;)
Os: a surpresa foi recíproca
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