Capitulo 69
A Última Rosa -- Capítulo 69
Eram quase nove horas da manhã e o trânsito na estrada para o centro de Hills estava calmo. Enquanto dirigia o carro possante, Jessica pensava em toda angústia que tinha experimentado, no sentimento de culpa, nas dúvidas e incertezas. Fazia alguns dias que recebera alta do tratamento no Centro Espírita e sentia-se bem consigo mesma, coração leve, espírito sorrindo. Nicolas que estava sentado no banco do carona, volta e meia olhava para ela e perguntava se estava tudo bem.
-- A senhora está rindo sozinha.
-- Estou feliz, Nicolas.
-- Por causa da empresa? -- o rapaz via o brilho de felicidade nos olhos de Jessica.
-- Por vários motivos. Pelo meu casamento que está próximo, por Samuel Felipe Vaz ter deixado as fórmulas para mim e o mais importante... O Fluminense é campeão carioca de 2022! -- Jessica colocou a cabeça para fora do carro e gritou a pleno pulmões -- Nenseeeee...
Nicolas revirou os olhos.
-- Depois de dez anos...
Jessica olhou para ele com sangue nos olhos.
-- O que você falou?
No mesmo instante Nicolas se arrependeu de ter começado a falar.
-- Que depois de dez anos nós merecemos esse título.
-- Nós? Você é tricolor? Eu vi uma camisa do Flamengo no varal da sua casa.
Nicolas engoliu em seco.
-- É da minha sogra -- pensou rápido -- ela esqueceu lá em casa. Mas já disse para a Vitória dar um fim.
-- Na sua sogra?
-- Na camisa -- ele olhou para fora, apreciando a paisagem maravilhosa de Hills -- Eu, hein! Sou tricolor desde que nasci.
-- Hum -- Jessica resmungou -- Acho bom -- por fora Jessica estava séria, mas por dentro gargalhava. Sabia da paixão de Nicolas pelo Flamengo.
Quando chegaram à empresa, Jessica estacionou o carro na vaga reservada à diretoria.
Natália sorriu ao vê-la entrar.
-- Oi, Jessica! Pensei que não viesse trabalhar, hoje. Quer que eu lhe traga um café?
-- Quero, sim, Natália, por favor. Sabe se o material que eu pedi já chegou?
-- Acho que está no almoxarifado, mas posso perguntar.
-- Não, Natália, obrigada. Apenas avise o pessoal que estou esperando ansiosamente por essa encomenda.
-- Tudo bem, eu falo para eles.
-- Estarei no laboratório.
-- Também posso ir? -- pediu Nicolas -- Eu incomodo? -- perguntou ele, dirigindo-se a Jéssica.
-- De forma alguma -- na verdade, estava até contente de contar com a companhia do rapaz.
O laboratório localizava-se nos fundos da empresa. Jéssica notou que a porta estava bem trancada, conforme ela havia solicitado.
-- Ninguém mais tem permissão de entrar aqui. Vou trabalhar em uma fórmula secreta, não quero ninguém roubando informações confidenciais ou sigilosas sobre o nosso novo perfume -- Jéssica comentou.
-- Vai ser um perfume perfeito, né dona Jessica? Vai ver que é por isso que alguém pode querer roubar.
-- Exatamente -- Jessica concordou, sem modéstia -- É por isso que a fórmula, a mistura exata e a estabilização dos vários componentes serão guardados como segredos. Sou a única pessoa na companhia que conhece todas as fórmulas. Isso é imprescindível.
O laboratório estava muito bem equipado. Nicolas acompanhou com interesse a descrição do trabalho que Jessica realizava. Encaminharam-se para os fundos, onde havia um escritório, Jessica abriu uma das gavetas do arquivo e guardou uma pilha de papel.
-- Estas foram as fórmulas sugeridas por Samuel. Vou deixá-las guardadas até que cheguem os materiais. Gostaria que você abrisse aquelas caixas que estão no laboratório e colocasse na prateleira.
Nicolas concordou com a cabeça, sentia-se eufórico e fascinado pelo trabalho que ela lhe encarregava de fazer.
-- Vou analisar essas amostras, depois mostro a empresa para você.
Nicolas mal conseguiu conter um sorriso de satisfação diante da promessa de Jéssica.
-- Então, vou lá -- ele saiu, fechando a porta atrás de si.
Só então Jessica sentou-se e começou a trabalhar. Gostava do que fazia e era com satisfação que percebia que o seu sonho estava se realizando. A empresa, Maya, Deus foi muito bom com ela. Não seria capaz de enfrentar uma vida e um futuro sem Maya.
-- Você pode ir para o fim do mundo, mas nunca vai conseguir fugir da Maya -- a voz de Samantha, sua prima, ecoou dentro de sua cabeça -- A imagem dela irá atrás de você.
A prima tinha razão, estava à mercê daquele amor, um amor sem o qual ela jamais seria capaz de viver. Era tão essencial à vida quanto seu coração. Sem Maya, ela era apenas um zumbi, jamais seria verdadeiramente completa, porque a parte que precisava de seu amor estaria sempre vazia e não preenchida. Disse adeus a ela uma vez e quase morreu. Passou anos tentando viver sem ela, mas sem jamais conseguir de fato. Sua vida ao lado de Marcela foi uma grande farsa. Por causa disso, ela se atirou nos braços de Maya assim que ela reapareceu em sua vida. Ela não conseguiria passar por tudo aquilo novamente.
-- Jessica!
Quando Maya a chamou, ela quase caiu da cadeira por causa do susto.
-- O quê?
-- Não gostei! -- disse Maya, muito irritada.
-- Não gostou? Mas eu ainda nem comecei.
Reconhecendo as ondas de calor como um princípio de histeria, respirou fundo e tentou se acalmar.
-- Você sabe muito bem do que eu estou falando. Não gostei de você ter mandado um de seus guarda-roupas atrás de mim. Eu sei muito bem me cuidar sozinha.
-- Eu sei que você sabe, mas se tem algo que me irrita, é o homem babão. Eu tenho nojo, olha aqui -- Jessica mostrou os braços -- Estou ficando cheia de manchas vermelhas. Sabe o que é isso? Urticárias.
Maya olhou, mas não viu nada. Jessica continuou:
-- Eu chego a ter náuseas, dor de cabeça, dores pelo corpo...
-- Isso pode ser dengue.
-- Não. Isso é ódio -- Jessica cruzou os braços e seus olhos não escondiam que estava prestes a gargalhar -- "Fico fascinado com você, sinto-me pegando fogo" -- disse, imitando a voz de Giovanni e se abanando com a mão -- Não foi isso que ele falou à você?
-- Foi. Pelo visto o seu amiguinho grandão já passou o relatório.
Jessica fez a maior cara de deboche.
-- Sim, é para isso que eu pago ele.
Maya olhou de cara feia para ela.
-- A senhora está achando muito engraçada, não é verdade? -- ela cruzou os braços junto aos seios, uma postura que sempre repetia quando estava irritada.
Jessica sacudiu os ombros com indiferença.
-- E não foi engraçado?
-- Não, não foi -- ela respondeu, sentando-se em uma cadeira.
-- Não fica bicuda, amor -- Jessica passou o braço pelos ombros dela -- Você até conseguiu um descontinho bem generoso.
Maya a encarou, por um longo tempo, antes de falar:
-- Acho melhor mudarmos de assunto antes que eu jogue esse vaso na sua cabeça.
-- Tá certo, bebê -- Jessica deu uma olhada de canto de olho para ela e soltou um sorrisinho irritante -- Isso não é um vaso, é um frasco reagente de laboratório.
-- Hum, imagina se eu não sabia.
-- Tá certo, então, vamos conversar sobre o que?
Maya ergueu as sobrancelhas, um pouco mais tranquila.
-- Sobre os meus pais.
Jessica afastou-se um pouco e olhou para ela com expressão de surpresa.
-- O que tem os seus pais?
Maya hesitou alguns segundos.
-- Eu sei que os meus pais foram os culpados pela nossa separação, mas já se passaram tantos anos... -- lágrimas marejaram seus olhos -- Eu tenho saudade deles, preciso vê-los.
Jessica teve vontade de dizer que não, que eles não mereciam o amor dela, que eles se danassem. Mas Jessica olhou para Maya e viu que ela estava chorando. Com uma expressão preocupada no rosto, aproximou-se da cadeira e se ajoelhou na frente dela.
-- Você está pronta para fazer isso, Maya? -- perguntou, com firmeza -- O que quero dizer é que eles podem não ser tão receptivos.
-- Estou preparada para tudo -- disse ela, tentando aparentar normalidade, apesar do tremor do lábio inferior.
-- Se é isso que você deseja, eu te apoio -- Jessica a abraçou -- Eu sempre vou te apoiar -- disse ela baixinho.
Maya desatou a chorar.
No dia seguinte.
-- Já arrumou a mala?
Maya balançou a cabeça.
-- O Nicolas já levou para a sala.
-- Queria ir com você -- resmungou Jessica -- Não vou conseguir ficar tranquila.
Maya também não gostava nada daquela situação. Quando Jessica ficava preocupada, seus olhos azuis se tornavam expressivos e algo doloroso se contorcia dentro de Maya.
-- Eu sei, mas isso é algo que tenho que enfrentar sozinha. Dizem que as dificuldades da vida servem para nos mostrar como somos capazes de superá-las e eu acredito nisso.
Jessica segurou a mão de Maya, beijando-lhe a palma
-- Sentirei saudade.
-- Eu só vou ficar fora por alguns dias. Você vai estar bem ocupada na criação do seu perfume perfeito -- disse, tentando soar animada.
-- Você vai se atrasar -- disse Jessica, após alguns instantes -- Ligue para mim se precisar de alguma coisa, está bem? -- acrescentou, lançando um olhar carinhoso para Maya.
-- Pode deixar -- disse Maya baixinho -- Obrigada amor, obrigada por me apoiar.
Jessica assentiu, pôs as mãos sobre os quadris dela, e beijaram-se apaixonadamente.
A cabeça de Inês surgiu na porta do quarto.
-- O Nicolas pediu para avisá-la que o trânsito à essa hora é bem complicado.
-- Obrigada. Já estou descendo.
-- Está bem.
Um último beijo apaixonado, a bolsa ajeitada no ombro e ela estava pronta.
-- Vamos.
As duas saíram do quarto e desceram as escadas até o hall de entrada. Nicolas pegou a mala e atravessou a porta da frente, para colocá-la no porta-malas.
-- Desculpe fazê-lo esperar, Nicolas, mas Jessica e eu tínhamos uns assuntos para discutir.
Os olhos azuis de Jessica brilharam ao olhar para Maya.
Nicolas fechou o porta-malas, depois entraram no carro.
Jessica inclinou-se para dentro da janela do carona para beijar a noiva.
-- Se cuida, amor.
-- Ligarei várias vezes ao dia para saber como você está -- com os olhos cheios d'água, ela sussurrou: -- Te amo.
O avião ultrapassou as nuvens, Maya olhou pela janela, de onde viu o brilho do mar distante, enquanto sobrevoava a região litorânea e se dirigia ao aeroporto de Verdes Mares. Ali pegaria um táxi para São Batista e se hospedaria em um pequeno hotel da cidade.
Tudo tinha sido planejado cuidadosamente durante a viagem, até mesmo o que falaria quando ficasse frente a frente com o pai.
O avião aterrissou ao entardecer, mas como era verão o sol ainda não havia se posto e estava quente. O pensamento, que de início era de ansiedade para Maya, agora, depois de três horas e meia de voo, era de terror. Não duvidava de que seu reencontro com os pais seria bastante difícil.
Em menos de uma hora Maya já havia passado pelo saguão e saído do aeroporto. No lado de fora sentiu novamente o calor de um dia de verão do sul do país. Colocou a mala no chão, por um momento, para poder tirar o casaquinho. Fazia muito calor e ela sentiu-se sufocada.
Maya entrou no primeiro táxi da fila.
-- Fez boa viagem? -- indagou o motorista.
-- Uma viagem bem longa -- disse ao motorista -- Estou bem cansada -- normalmente Maya teria adorado conversar com o homem, mas o cansaço sugou-lhe as energias e ela preferiu se calar. Naquele momento, tudo o que queria era ir para o hotel e tomar um banho.
-- Já esteve aqui antes? -- perguntou o motorista.
-- Sim, meus pais moram aqui. Mas não é para a casa dos meus pais que eu vou, me leve até o hotel Santa Fé, por favor.
Jessica tentou se concentrar no trabalho, mas não conseguia pensar em mais nada além do que poderia estar acontecendo com Maya. Sentia um aperto no estômago toda vez que pensava na possibilidade dela ser escorraçada novamente. Ansiosa, foi até o freezer e pegou uma garrafinha d'água.
-- Droga, devia ter ido junto -- resmungou -- Aquele coroa é muito cruel.
Jessica retornou para a mesa e se sentiu mais capaz de se concentrar no trabalho. Contudo, sua mente não conseguia apagar a imagem de Maya entrando no carro e partindo cheia de esperanças. Baixando o olhar, ela mergulhou no trabalho, era a melhor forma de acalmar o coração.
Fim do capítulo
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patty-321
Em: 10/04/2022
Van, não demora,please volta logo com novo capítulo. Bjs. Mengoooo
Resposta do autor:
Olá patty-321
Que nesta Páscoa só exista amor e alegria, felicidade sem limitações e muitos sorrisos, doces e carinho. Esse é o desejo de Jesus que tudo fez pelo nosso bem-estar. Feliz Páscoa é que desejo a quem nunca desiste de praticar o bem!
Vandinha
Marta Andrade dos Santos
Em: 08/04/2022
Nossa o que vai acontecer nesse encontro.
Resposta do autor:
Olá Marta
Desejo uma Feliz Páscoa, para você e toda sua família! Que esta seja uma data de reunião, paz e muitos momentos de felicidade.
Vandinha
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Lea
Em: 08/04/2022
Tem como não dá umas boas gargalhadas com essa conversa entre a Jéssica com o Nicolas?? Dá-lhe Flamengo! Kkkkkkkkkk Nada contra o Fluminense. Gosto de futebol,e nada de fanatismo que possa machucar o outro!
E esse encontro da Maya com os pais,espero que não a faça sofrer! Amo esse lado todo protetor da Jéssica!!
Resposta do autor:
Olá Lea
Desejo a você uma doce Páscoa com sabor de paz, amor e fraternidade.
Beijos
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Mille
Em: 07/04/2022
Oi Vandinha
Jessica tá muito alegre kkk só espero que não venha nenhuma nuvem com de tristeza.
Maya vai rever os pais e já estou aflita aqui.
Bjus e até o próximo capítulo
Resposta do autor:
Olá Mille
Páscoa é tempo de agradecer, de plantar a paz, de orar. É tempo de abrir os braços, as mãos e o coração. É tempo de recomeço, de compromisso, de perdão e salvação. Páscoa é tempo de ressurreição!
Feliz PáscoaBeijos.
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NovaAqui
Em: 07/04/2022
Van!
Você é maravilhosa!
Sempre traz uma escrita que nos faz refletir
Obrigada pelo seu trabalho aqui
Fique bem
Que nosso Pai Maior e os amigos espirituais te tragam serenidade
Um abraço quentinho
S2
Resposta do autor:
Olá NovaAqui
Páscoa é sinônimo de paz, amor e recomeços. Tenha um domingo abençoado!
Abraços Fraternos
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