Recomendação de música: A primeira Vista- César MC
A primeira vista.
A madrugada de sábado não foi diferente das demais em que eu acabava ficando em casa, se resumiu em ficar trancada no quarto bebendo vinho barato e jogando online por horas a fio com amigos que eu sequer tinha visto alguma vez na vida. No domingo eu iria sair com um grupo de lésbicas que eu administrava juntamente com uma amiga minha, iriamos beber, dançar, conversar e se distrair, apesar do grupo ser grande tinhamos uma panelinha que chamávamos de "Banca". A banca era composta por 7 garotas no total contando comigo e quase todos os domingos nos encontrávamos para jogar bola, beber ou ir em algum lugar só pela companhia e desta vez iriamos no local que mais frequentávamos (Avenida Paulista).
Quando finalmente começou amanhecer já estava com as mãos doendo de tanto jogar e minhas amigas começando a mandar mensagem perguntando se tudo estava certo pro nosso passeio, me levantei pra ver o meu estado e depois de uma leve cambaleada rastejei até o banheiro, minha vó também tinha hábitos noturnos então estava se arrumando pra ir dormir somente naquele momento, eu olhei pro relógio perdida no tempo e tinha acabado de dar sete horas da manhã, como tinha combinado de encontrar todo mundo somente às 14 horas e todos sabiam que eu iria atrasar e chegar às 15 horas provavelmente, deicidi cochilar um pouco.
Não sonhei.
Despertei com minha vó batendo todas as portas da casa perto do meio dia, meus pensamentos de lamentação e raiva já começaram, como podia não existir um dia tranquilo dentro daquela casa? Não pensei duas vezes e comecei a me arrumar desesperadamente pra sair de lá antes que mais uma briga começasse. Liguei pra minha melhor amiga, Beky, avisei que talvez sairia mais cedo de casa e perguntei se ela me encontraria, ela topou.
Engoli um pouco de arroz com carne de soja, peguei as notas de dinheiro amassadas na minha mochila e sai.
Nosso ponto de encontro apesar de nossas casas serem a cinco minutos de distância, era um mercado no centro do nosso bairro, sempre pegávamos bebida lá para não ter que gastar o dobro onde estivéssemos. Naquele dia optamos por pegar 1 corote de cada sabor, algumas vodkas e eu peguei um energético pra perder o sono juntamente com meu cigarro preferido.
Decidimos ir caminhando até o metrô então pegamos uma cerveja e fomos aproveitando um pouco do sol que tinha aparecido e fumando nosso cigarro, gostavámos demais de caminhar pela cidade, apenas pra sentir o calor preenchendo nossos poros e dar algumas risadas frente aos besteiróis que contávamos uma pra outra e as músicas que uma sempre completava o que a outra cantava.
Quando chegamos no metrô nossa distração se baseou em dividir o fone de ouvido e observar os muros pichados passando em alta velocidade através da janela. Nossas outras amigas estavam quase chegando no ponto de encontro combinado, o famoso museu MASP que apesar de ser um museu, tinha um enorme pátio aberto na frente da estação onde podíamos ver a cidade toda de forma panorâmica, a céu aberto. E foi ali que decidimos ficar.
A tarde estava gostosa, fizemos uma roda e começamos a beber e por o papo em dia, éramos um grupo bem alternativo, cada uma de nós tinha uma idade e um estilo completamente diferente mas nos davámos muito bem. Conforme as demais meninas foram chegando, a diversão foi aumentando e começamos a fazer vários jogos pra passar o tempo, tinha um grupo perto de nós com som e decidimos ir um pouco mais perto do som pra ter ao menos uma trilha sonora para nossas maluquices e quando chegamos perto o suficiente, foi então que eu vi ela.
Dentre todo o grande grupo que estava ali com o som, apenas uma pessoa me chamou completamente a atenção e se destacou, meu coração pulou na hora que vi aquela menina e não sei por que, mas não consegui tirar mais os olhos dela. Embora estivesse sentada dava pra ver que era alta, seu cabelo parecia comprido embora estivesse preso e com uma viseiera tampando grande parte, ela estava usando um óculos rosa e me lembro até hoje da cena que fez eu esquecer tudo que estava a minha volta, ela tirando sua camisa e ficando apenas com um top preto devido uma brincadeira que o grupo estava fazendo, seu corpo tinha uma silhueta muito bem marcada e a forma que ela sorria me tirou o fôlego de uma forma que estava tudo em câmera lenta. Minha amiga me reconectou novamente ao ambiente social cochichando no meu ouvido que estava nítido meu queixo caído e brincando pra eu limpar o canto da boca, pois a baba estava escorregando. Eu fiquei sem graça e tentei parar de olhar pra ela mas a cada cinco minutos meus olhos se dirigiam automaticamente pra ela. Eu não sabia seu nome e nem o seu timbre de voz, mas sabia o quanto aquela menina tinha me impressionado sem sequer saber que eu existia.
Minha amiga falou pra eu ir até ela e puxar uma conversa mas pedi pra deixar pra lá, não via motivos pra uma mulher tão linda resolver me dar atenção e nem sabia se ela estava acompanhada.
O tempo passou tão rápido que já estava escurecendo, então decidimos descer pra outra rua que vivia lotada, um point muito específico de lgbts em São Paulo, a Peixoto Gômide; Antes de sairmos, dei uma última olhada para a mulher que roubou minha atenção o dia inteiro, e sai de lá.
O que eu não esperava é que ela também estava saindo do MASP e iria pro mesmo local que eu.
Em nenhum momento daquela noite nossos olhos se encontraram, embora os grupos estivessem interagindo entre si, não chegamos a trocar nenhuma palavra. Por um lado fiquei frustrada por não chamar a atenção dela mas também não estava surpreendida por isso, naquele local tinha muitas outras garotas bem mais interessantes e bonitas, continuei bebendo e dançando com minhas colegas.
Estava ficando entendiada de toda aquela bagunça e fumado quase um maço de cigarro, tinha bebido os 8 corotes que levamos e no dia seguinte tinha aula então puxei a Beky e pedi pra irmos embora. O grupo inteiro tinha decidido que já tinha se divertido o suficiente e então começamos a juntar nossas coisas e lixo pra retornar pro metrô.
E mais uma vez, ela também estava indo embora.
Chegando no metrô eu e minha amiga pegamos um cone de trânsito pra levar pra casa de recordação e naquele momento pra minha surpresa ela e uma amiga ajudaram a esconder dos seguranças.
Minha amiga percebeu como eu estava e quando menos esperei falou com a garota e revelou meu interesse nela.
Com um empurrão da minha amiga, e outro empurrão da amiga dela fomos pra um canto conversar, agora a garota que tinha me feito perder o ar tinha um nome, Bárbara, e sua voz era mais linda e gostosa de ouvir do que eu poderia imaginar.
E naquela estação de metrô, o que eu ansiei a noite inteira mas não imaginei que aconteceria se concretizou, nosso primeiro beijo. Quando os lábios dela envolveram os meus eu tive um mix de emoções indescritíveis, foi como sentir fogos de artíficio explodindo dentro de mim com as cores mais vibrantes que existem. O toque dela, quando em envolveu em seus braços era firme o suficiente pra me fazer desejar que o tempo parasse naquele momento.
Acabou que pegamos o mesmo sentido de metrô por um tempo e aproveitei pra pegar o contato dela, e quando nos despedimos eu soltei um suspiro e naquele exato segundo, sabia que uma longa jornada teria de ser percorrida, graças a aqueles olhos castanhos.
Naquela noite, sonhei com a Bárbara.
" Aquela marra de não sorrir, acabou ao te conhecer"
Fim do capítulo
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