Mansão
Alice
Acordei em um quarto todo branco: teto, paredes, cama, roupa de cama, chão e roupas. Me sentei na cama sem conseguir entender como fui parar ali. Levantei e fui até a porta. Tentei abrir mas estava trancada. Atrás da cortina de voal, uma janela também fechada com cadeado. Fui até a outra porta e ao abrir, deu para um banheiro, igualmente todo branco, com banheira e chuveiro, estilo europeu. Ao lado da porta do banheiro, um aparador e um bilhete:
"Aproveite a estadia... por enquanto!"
Nenhuma assinatura, nem nada além. Um silêncio desesperador e nenhum contato com o exterior. Cheguei a ter a impressão de que estava sonhando e tentei acordar do pesadelo, porém, já estava acordada e isso, era real.
Onde estou? Como vim parar aqui? Estava numa reunião e de repente, estou aqui! Preciso sair desse lugar, tenho um jantar pra ir com a Laura. Ela vai achar que dei furo com ela, e amanhã é meu pedido de namoro. Preciso sair e ir ao encontro dela.
Mais uma vez fui até a porta e tentei abrir.
- Oooii!!! Tem alguém aí? – gritei ao esmurrar a porta – Ooowwww!! Socorro!!
Gritei várias outras vezes, esmurrando a porta e tentado estourar no chute, mas o que consegui foi uma torsão do tornozelo. Gritei e tentei abrir a porta, até a exaustão me vencer e, molhada de suor, com o coração em pedacinhos, adormeci no chão, encostada na porta.
Fui despertada sendo empurrada, com a porta contra minha costa e ao abrir os olhos, uma mocinha nova, aparência de adolescente, bem bonita, segurava uma bandeja de inox. Deixou no aparador, voltou até mim, fechou a porta e me estendeu a mão.
- Oi! Quem é você? – perguntei com voz de sono, sentindo a boca amarga e o corpo dolorido.
- Oi. Meu nome é Mirela e você? – falou ao colocar meu braço em volta do seu pescoço e me levantar, segurando em minha cintura.
- Sou Alice. Onde estou? – perguntei ao sentar na cama.
- Na mansão – falou indo em direção ao aparador – Você precisa comer.
- Que mansão, Mirela? – franzi o cenho e apertei os olhos – Agora mesmo eu estava em uma reunião de negócios. Que horas são?
- Quase meio dia – respondeu pegando água e me ofereceu – Você precisa comer. O tio quer te ver no café da tarde.
- Que tio? Do que você está falando? – peguei a água.
- Apenas come, por favor! Se você não comer, eu terei problemas.
- Como que é quase meio dia se eu fiquei horas aqui dormindo? Não faz sentido – esfregava os olhos cansados pela claridade constante – Eu preciso ir embora daqui, Mirela. Tenho compromisso no jantar. Sabe onde está meu celular?
- Moça, por favor, se alimenta, preciso levar a bandeja limpa pra fora.
- Eu vou comer, estou faminta, mas você sabe onde está meu celular? Preciso dele. A Laura vai me mandar o endereço de onde vamos jantar e estou super ansiosa.
- Eu não sei onde está seu celular – respondeu suspirando profundo – Agora come, antes que o tio marque tempo extra.
- Que tio? Meu Deus!! Eu não faço ideia de onde estou e você não está me ajudando – levantei e fui em direção ao aparador, preparado com uma bandeja com tampa em inox – O que tem pra comer? – levantei a tampa.
- Croissant com ragu de pato e suco de laranja – respondeu gentilmente Mirela, colocando a mão atrás do corpo e levantando o queixo em posição de garçom – Bon appétit!
- Uau! Merci – sorri – Essa maluquice toda até parece que está sendo na França – me servi do pato – E está delicioso.
Mirela continuou na posição, parecendo uma estátua, aguardando-me me alimentar. Raramente me olhava, mexendo apenas os olhos.
- Merci mademoiselle – agradeci e sorri – Agora posso sair pra ver o tal, "tio" – fiz sinal de aspas com as mãos.
- Eu volto te buscar quando for a hora. Tome um banho e se vista. Tem roupa limpa no banheiro – pegou a bandeja e se dirigiu à porta.
Levantei e a acompanhei, com intenção de abrir a porta e sair. Ela me olhou com expressão rude, franziu o cenho e, debaixo da bandeja, me apontou um canivete.
- Não tente sair! Aqui é melhor seguir as regras.
- Nossa! Você é novinha mas já é perigosa? Preciso sair.
- Na hora certa – apontou mais uma vez o canivete - Agora vou abrir a porta e você vai continuar aí, parada.
Levantei as mãos e me mantive estática. Assim que ela saiu, tentei abrir a porta e já estava trancada.
Que maluquice é essa? A comida tem gosto e cheiro de comida francesa, a garota fala francês, o banheiro é em modelo europeu. Que bizarro! Só preciso sair logo daqui e ir encontrar a Laura. Não sei como ainda é quase meio dia, mas tenho tempo suficiente pra entender o que está acontecendo e ir jantar. Ainda preciso confirmar o horário certinho com o Guto e saber se a faixa com o pedido de namoro já chegou.
Resolvi obedecer o que a Mirela me orientou. Tomei um banho e coloquei a roupa que estava no armário: calça e camiseta brancas, iguais as que já estava. Por falta do que fazer, deitei e aguardei o momento que seria buscada pra me encontrar com o tal "tio".
Muito tempo depois, a porta se abriu novamente e Mirela surgiu. Fechou a porta sobre si e na mesma pose de garçonete, me aguardou levantar.
- Chegou a hora de conhecer o tio? – perguntei com tom de deboche.
- Oui – acenou com a cabeça, olhando fixo para a parede – Procure não ser assim debochada com ele. É melhor pra nós.
- Ok – fiz uma careta e a segui – Agora não está armada?
- Eu não – abriu a porta e contemplei dois seguranças com fuzil na porta – Eles sim.
O corredor comprido, todo branco igual o quarto, levava pra uma porta enorme de largura e altura, branca, com fechadura dourada. Mirela ia na frente, eu no meio e atrás, os dois seguranças. Ela abriu a porta e entramos em um salão imponente, com mesa de reuniões em madeira de lei, oval, dezoito cadeiras em volta e as paredes, até o teto com livros.
Mirela puxou uma cadeira pra eu sentar. Me sentei e observei tudo ao redor. O cheiro me pareceu familiar, de charuto com bebida, mas não consegui lembrar de onde conhecia.
Os seguranças continuaram parados na porta, como os guardas da rainha da Inglaterra. Mirela ficou ao meu lado, também imóvel.
- Não podemos conversar? – perguntei em sussurro pra ela que franziu o cenho com expressão séria e não me respondeu – Ok! Já entendi que não podemos conversar – comecei a balançar a perna, nervosa e ansiosa – Sabe onde está meu celular? – perguntei mais uma vez em sussurro – Preciso dele, urgentemente – sorri e ela mais uma vez franziu o cenho e nada falou – O tio vai demorar? Sou ansiosa e agitada! – mordia o lábio inferior – E tenho compromisso! – ela continuou imóvel, apenas franzindo o cenho e suspirou profundo.
De repente, a outra porta se abriu e a figura do homem mais asqueroso e nojento que já conheci, preencheu a sala. Fumando seu charuto fedorento, vestindo roupa de academia, cabelo bagunçado e barba ruiva grande, Joseph me olhou, com um sorriso malicioso nos lábios e o charuto entre os dentes, caminhou em minha direção batendo palmas.
- Mas olha só quem veio me visitar! – tragou o charuto e soltou a fumaça na minha cara – Fez boa viagem, amiga?
- Joseph! O que faz aqui? – perguntei incrédula.
Ele gargalhou e apoiou a bunda na mesa, ao meu lado.
- Eu que te pergunto – deu de ombros – O que você faz aqui, na minha casa?
- Eu não faço ideia do que estou fazendo aqui, nem como vim parar aqui, nem onde estou – sorri e dei de ombros – Só sei que preciso ir embora pois tenho compromisso.
- Compromisso? – gargalhou e tragou o charuto – Ouviu, Mirelinha? Ela tem compromisso – gargalhou mais uma vez e começou a andar por trás da minha cadeira – Eu conto, ou você conta, Mirela?
- Joseph, você não cansa de ser maluco? – perguntei e afastei a cadeira – Eu vou embora agora mesmo - me levantei e os seguranças se apressaram em me empurrar na cadeira, me fazendo sentar novamente – Qual é Joseph? Vai me prender aqui na sua casa?
- Alice – tragou o charuto e puxou uma cadeira pra perto de mim – Como eu ainda gosto de você, vou quebrar seu galho e bater um papo contigo.
- Que bom que gosta de mim – sorri com ironia – Tirando o dia que acertei suas bolas, nunca te fiz mal algum.
- Péssima hora pra me lembrar disso, Stromps – colocou o charuto entre os dentes e levantou o indicador me olhando fixamente. Um dos seguranças chegou próximo. Ele tirou o charuto do meio dos dentes, tragou e fechou a mão. O segurança voltou para a porta – Vou poupar seu rostinho bonito, pois ainda ele vai ser útil.
- Você é muito esquisito – sorri em deboche – Diga o que quer conversar? Aliás, se foi você que ofereceu a alimentação, estava maravilhosa. Parabéns! Da próxima pode mandar com um vinho merlot que vai realçar o sabor do ragu.
- Anotou, Mirela? A convidada quer vinho! – falou sem desviar os olhos de mim – Sabe onde está?
Balancei a cabeça em negação e fiz uma careta.
- Parrii, chéri! – tragou o charuto e soltou a fumaça pra cima.
- O quê? Paris? Eu? – olhei ao redor e sorri – Ok!
- Sabe por quê?
- Não – respondi sorrindo e fazendo uma careta.
- Porque a vadia que você se acostumou a chamar de Amora, tem algo meu.
Mordi o lábio e senti o sangue ferver.
- Não ouse falar assim novamente da Laura.
- Le pardon – revirou os olhos – Na verdade, eu chamo aquela lá, do que eu quiser – sorriu ironicamente – O que importa é que, ela tomou algo que é meu, e eu tomei você – sorriu sem mostrar os dentes.
- E o que ela tem que é seu? Investidores? – debochei e dei de ombros – Você não consegue uma boa carta de magnatas?
- Não preciso dos pobres que investem naquela merd* de empresa! Olhe ao redor – olhou para a sala – Parece que preciso de uma empresa com investidores?
- Talvez – dei de ombros – A riqueza nem sempre é possível ver com os olhos, no seu caso, você é tão pobre que tudo o que tem é apenas dinheiro.
- Blábláblá – revirou os olhos – Vamos falar de coisas importantes!
- Pois não! E depois estarei liberada pra meu compromisso?
- Mirela – gritou com a pobre garota – Você não a avisou que os compromissos foram cancelados?
Olhei para Mirela, que baixou a cabeça e fechou os olhos. Voltei o olhar pra ele que a fitava furioso.
- Ei, Joseph – chamei sua atenção – Pra que falar assim com a menina que foi gentil o tempo todo? Precisa aprender a tratar as mulheres com educação.
- Alice, eu já acabei com você uma vez e por pouco, não partiu dessa pra melhor – suspirou profundo – Pra eu fazer isso mais uma vez, não me custa nada.
- Vai em frente, Joseph Gordon – o desafiei – Já conheço o peso da sua mão e o formato do seu saco.
Apagou o charuto na mesa e me encarou. Chegou perto do meu rosto e o cheiro fétido da sua barba me enojou.
- Onde está a minha mãe?
- Quem? – arqueei a sobrancelha.
- Minha mãe! Onde está?
- Nem sabia que você tinha mãe – sorri em deboche – Nunca me ocorreu que o diabo engravidou alguém.
- Para de brincar, Alice - vociferou entre os dentes - Eu sei que você sabe pra onde a Laura a levou.
- Não faço ideia, Joseph, e mesmo que soubesse, não falaria.
- Tudo bem - voltou a sentar - Vou te dar mais um tempo para refletir e tentar lembrar de alguma informação.
- Não tenho nada para lembrar e quero ir embora, com licença - afastei a cadeira e me levantei.
Os seguranças chegaram perto e Joseph meneou a cabeça em negativo, então se afastaram.
Pode por favor devolver minhas roupas, documentos e celular? - pedi sem paciência.
Pra quê? - perguntou, cruzando as pernas e com expressão sarcástica - Você não vai sair daqui, querida.
Deixa de ser criança birrenta, Joseph - falei mais uma vez sem paciência - Acha que a vida real é assim? Se não sabe onde sua própria mãe está, não é a coleguinha aqui que vai saber.
Talvez - deu de ombros - Mirela, me sirva whisky - e ela prontamente se dirigiu ao aparador pegar a bebida.
Essa menina é o quê? Sua empregada? - falei empurrando a cadeira embaixo da mesa - Tem o quê? Treze, quatorze anos?
Mirela é meu anjo da guarda - respondeu com ironia - Ela me dá sorte na vida e, diferente da irmã ingrata, até agora só me deu alegrias, não é Mirela?
A menina o serviu a bebida em silêncio e voltou à posição inicial, em pé, com as mãos para trás, queixo elevado e olhando um ponto fixo.
Pelo jeito a alegria é só sua - falei com os olhos arregalados - Bom, vou embora mesmo sem meus pertences. Ficar no mesmo ambiente que você me dá urticária - cocei o braço, fazendo uma careta e sai em direção à porta que ele entrou - Au revoir chérie - acenei e abri a porta.
Um outro corredor extenso, com paredes altas na cor branco de um lado e vidro do outro, chão em porcelanato cinza, muito chique e requintado, levava até uma escada redonda para um pavimento inferior. Me apressei em descer e cheguei em uma sala imensa, com vários conjuntos de estofados e um vasto jardim. Algumas moças conversavam nos sofás, todas vestidas de branco igual a mim, e se calaram ao me ver. Acenei pra todas e cumprimentei:
Oi gente! Por favor, onde é a saída? - perguntei sorrindo.
Continuaram a me olhar com os olhos arregalados e nada diziam.
Oie! - acenei e sorri mais uma vez - Alguém por favor, pode me indicar onde é a saída?
Uma delas veio em minha direção, sorrindo de canto de boca e cochichou:
Se você descobrir, conta pra nós que vamos juntas.
Todas riram.
Não entendi - olhei para todas e dei de ombros - Como não sabem onde é a saída desse lugar? E onde que pego minhas roupas e pertences?
Riram novamente e meneavam a cabeça.
Que foi gente? - dei de ombros - Estou falando alguma coisa engraçada? Só quero pegar minhas coisas e ir embora, alguém pode me ajudar? Por favor?
Moça, como é seu nome? - a que aparentava ter a minha idade perguntou.
Alice e o seu?
Oi Alice, sou a Gisele - levantou do sofá e veio ao meu encontro - Ninguém ainda te contou onde você está e o que fará?
Não.. Sim.. Sei lá - dei de ombros - O idiota do Joseph me falou que estou em Paris - sorri - Ele é tão louco..aff.
Sim. Você está em Paris.
Isso é sério? Como isso? Está louca? Eu estava agora a pouco numa reunião e agora estou em Paris? - gargalhei - Devo ter usado drogas sem saber - olhava ao redor sem entender.
Senta aqui, vamos conversar - me falou a Gisele.
Gisele, obrigada pela gentileza mas assim, de verdade mesmo, preciso ir embora! Tenho um compromisso inadiável com minha futura namorada e, se eu faltar, ela vai achar que furei com ela e amanhã não aceitará meu pedido de namoro. Então, obrigada mesmo pela boa vontade em tentar me deixar maluca, mas - acenei para o jardim - Vou embora. Eu me acho onde estou. Obrigada e - acenei - Tchauzinho!
Saí em direção ao jardim. A visão a perder de vista do gramado, me confundiu a mente. Comecei a dar a volta pela casa, procurando o portão de saída, porém, o imenso jardim a cercava toda. Do lado oposto ao que sai, encontrei um caminho, com alguns carros de luxo estacionados e seguranças como os que estavam na porta do quarto, todos com fuzil, me olhando fixamente. Acenei e sorri para todos. O caminho, comprido, levava até um portão que na distância que estava, parecia bem pequeno.
Oi - chamei um dos seguranças - O senhor pode me levar até o portão? Está bem longe para ir a pé e estou com pressa.
Ele franziu o cenho e falou algo, que me pareceu russo e eu não entendi.
O senhor não fala português? - fiz uma careta - Ok! Speak english? Est-ce que tu parles français? ¿habla español?
Continuou falando em russo, coisas que não entendi, com o cenho franzido.
Certo! Russo eu não falo - sorri sem vontade. Apontei para o portão e fiz gesto de carro, seguido de sinal de por favor.
Ainda falou algo em russo, dessa vez com tonalidade mais rude e segurou o fuzil com força.
Tudo bem!! - levantei as mãos e sorri sem vontade - Vou a pé mesmo.
Saí andando em direção ao portão, com os pensamentos acelerados: Pelo amor de Deus, que lugar de loucos. Tudo o que tem o Joseph é esquisito, mas dessa vez está de parabéns, porque nunca vi isso. Um lugar esquisito, com pessoas esquisitas, ninguém fala coisas reais. Parece que estão todos sob efeito de drogas. Espero encontrar pelo menos minha moto estacionada do lado de fora desse portão e vou sumir desse ambiente tóxico. Laura tinha razão, Joseph é louco de pedra. Maluco total. E esse monte de mulheres nessa casa gigante? Todas vestidas com a mesma roupa, inclusive eu. Credo! Parece cena de filme. Não faço ideia como vim parar aqui, mas sei que ninguém que me chamar pra reunião em lugar que não seja a empresa, eu vou. Nunca mais.
Após andar aproximadamente quarenta minutos a passos largos, sem olhar pra trás, cheguei ao portão, digo, grande e forte portão preto, de ferro fundido, cercado por muros altos com proteção elétrica e arames retorcidos. Mais parecido com alguma penitenciária. Me senti minúscula, dada a altura da fortaleza. Procurei por algum portão social que desse acesso à rua e não encontrei. Tanto de um lado, quanto do outro, o jardim, agora cercado pelo muro, perdia-se de vista, devido aos obstáculos do terreno. O Sol, coberto por nuvens causava um mormaço, daqueles que lembra que a chuva está chegando e a garganta começou a sentir a seca causada pela sede.
Sem saída, como as moças na sala me avisaram, me vi encurralada, como um animal indefeso. E agora? Por onde que sai? Voltar? De jeito algum! Escalar o muro? Sem chance. Empurrar o portão? Menos ainda. Sentar e aguardar algum carro sair e correr quando o portão abrir? Talvez. E assim, procurei um lugar minimamente confortável encostado ao muro, próximo ao portão e me sentei, à espera de conseguir colocar meu plano em ação. Nessa espera, fiquei o tempo necessário para ansiedade tomar conta do meu ser, e os pensamentos me consumirem. Inquieta, cansada e extremamente irritada, comecei minha caminhada de volta à casa. Dessa vez, a passos curtos, porém firmes e carregados de fúria.
Quem Joseph pensa que é pra intervir em meus planos dessa maneira? Eu tenho compromissos a cumprir e ainda nem terminei de planejar todo meu dia de sábado com a Laura. Essa brincadeira de muito mal gosto dele, tem que acabar e, tem que acabar logo, pois minha paciência já se esgotou. Se por muito menos, já meti a mão naquela cara horrorosa, ele que me aguarde agora, pois estou com o sangue fervendo de ódio dele. Fomentando minha ira, o caminho se tornou mais curto e rápido, e, antes que percebesse a distância, já estava entrando de volta na sala, agora vazia. Subi direto para a sala onde conversamos e estava igualmente vazia. Peguei o corredor branco que dá acesso ao quarto onde despertei e olhei o quarto, também vazio. Rapidamente voltei para a sala no andar inferior e comecei a gritar por Joseph, andando pela casa. Seguida da sala, encontrei uma ampla cozinha e ouvi sons vindo de uma área externa.
Não foi preciso muito esforço ocular para conseguir ver todas as moças, outrora na sala, juntas, servindo bebidas e dançando aos seguranças. No meio deles, um cabelo ruivo se destacava. Tomada pela fúria e quase cega de raiva, apertei o passo em direção à diversão.
Joseph estava de costas pra mim. Cheguei por trás e apliquei uma chave de pescoço, travando meu braço em sua mandíbula. Toda a festança parou e os seguranças levantaram-se de suas poltronas, vindo em minha direção.
Me tira dessa porr* desse lugar, agora mesmo! - cochichei em seu ouvido e apertei a guarda, diminuindo a distância entre meus cotovelos. Ele segurou meu corpo com a mão que ficou solta e eu apertei a guarda até que bateu com a mão em meu braço, pedindo pra soltar pois estava sendo sufocado. Seu rosto vermelho e estufado, gotejava suor pela testa - Eu te solto se você me tirar desse lugar. Os seguranças foram chegando mais perto de mim e os encarei, enraivecida, com sede de liberdade. Ainda mantendo a guarda fechada, gritei para que todos pudessem me ouvir - Se derem um passo, eu mato esse merd* - e apertei a guarda ainda mais. Um deles falou em russo e todos se afastaram. Sentia meu coração bater no ouvido e a respiração, já cansada de tanto andar e com alto nível de adrenalina, estava ofegante. Joseph mais uma vez bateu em meu braço, mais fraco que da primeira vez. Seu rosto, tinha mudado de coloração, e estava começando a ficar roxo. Soltei a guarda e ele rapidamente levou as mãos ao pescoço, tossindo copiosamente.
Você - tossia - Ficou maluca? - tossia muito.
Eu não, mas você, não tenho dúvidas que é louco - falei enfurecida.
Todos me olhavam com os olhos arregalados, a única que se manteve de cabeça baixa, foi a jovem Mirela, recolhida em um canto, sem participar da bagunça toda.
Me devolva tudo que é meu e libere minha saída, Joseph - ordenei o encarando.
Alice - tossiu mais um pouco - Você ainda não entendeu que está na França? - falava com dificuldade - E que te sequestrei em troca da minha mãe?
Eu não acredito em uma palavra que saia dessa sua boca imunda, Joseph - cuspi na sua cara - Tenho nojo de respirar o mesmo ar que você.
Ele limpou o cuspe, suspirou profundo e com olhar demoníaco, olhou para um dos seguranças. Antes que pudesse reagir, senti uma pancada forte na nuca e vagarosamente vi as luzes do dia se apagarem.
Fim do capítulo
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