Fique por Leticia Petra
Capitulo 8 - Abismo.
Fomos a mais de vinte instituições e não conseguimos nenhuma única informação, absolutamente zero. Foi totalmente frustrante, eu estava a ponto de desabar outra vez, mas estava tirando forças de uma fonte invisível. A cada não que ouvimos, senti como se as esperanças se esvaíssem, mas e se as respostas que estou procurando, fossem me magoar ainda mais? Bem, se assim fosse, eu teria que enfrentar da mesma forma, pois não poderia voltar para aquela bolha em que vivi durante meus 22 anos.
Não saber nada é mais agoniante.
— Zoe me pediu para te dizer que entrasse em contato. – Yuna me olhou. – Havia esquecido de mencionar, me desculpe.
— A Zoe? Quando a viu? – Franzi o cenho. Falava baixo, pois Caio havia dormindo no tapete.
Estávamos na sala, comendo pizza.
— Hoje de manhã, a encontrei no condomínio que o meu pai mora. – Aspirei o ar com calma. – Você parece surpresa.
— Na verdade, estou... Zoe e eu não temos a melhor relação do mundo. – Encarei o prato vazio. — Então é estranho que ela tenha pedido pra entrar em contato.
O interfone tocou e Yuna levantou, voltando com uma expressão indefinida.
— Sua mãe e sua irmã estão pedindo pra subir, elas querem conversar com você. – Fiz pressão em meu maxilar, até sentir um pouco de dor e o aliviei.
— De novo? – Fiquei de pé, passando a mão sobre a cabeça. – Não posso recebe-las, com a fúria que sinto em meu peito, provavelmente iriei ser muito rude.
— Eu entendo, vou barrar a entrada... não se preocupe.
Sei que em algum momento teria que conversar com eles, mas não agora. Não nesse momento, pois a raiva queimava em meu interior. Eles poderiam ter dito desde a minha infância, seria tudo tão mais fácil. Por que não foi dessa forma?
— Vamos acordar o Caio? Meu tapete é macio, mas provavelmente ele acordará com dores na costa. – Yuna sorriu.
— Obrigada, Yuna. — Nos encaramos por alguns segundos. — Vamos acordar esse folgado.
E foi o que fizemos, Caio foi para o mesmo quarto em que eu estava “hospedada”. O deixei dormindo e fui até a cozinha beber um pouco de leite. Ao voltar, notei que Yuna estava na varanda conversando com alguém.
Ela falava em coreano.
— Droga... – A ouvi resmungar depois que encerrou a chamada.
O bichinho da curiosidade me mordeu.
— Tá tudo bem? – Me aproximei.
— Não havia visto você, têm pés leves. – Ela sorriu.
— Você parece um pouco irritada. – Mesmo com a escuridão do apartamento, eu podia ver suas feições tensas.
— Bem, há uma coisa que preciso te contar. – Franzi o cenho.
Segurei as suas mãos.
— Pode contar, seja o que for, sem julgamentos. – Yuna olhou para as nossas mãos e novamente para mim.
— Eu estou em um processo de separação, a minha ex-esposa quer alguns bens e não conseguimos chegar a um acordo. – Ergui as duas sobrancelhas em surpresa. – Sim, eu sou lésbica.
— Na verdade, tô surpresa que você seja casada, no seu país é permitido? Sempre achei que eles fossem um povo extremamente babaca com casamentos de pessoas do mesmo sex*. – Ela apenas me encarava.
— Você é uma caixinha de surpresas, Olivia. – Eu entendia o motivo de sua expressão de surpresa.
— Você achou que eu iria te afastar por isso? Yuna, o mundo é no mínimo bi. – Rimos da minha bobagem.
— Isso significa que você faz parte? – Não havia parado para pensar sobre, mesmo depois que Zoe e eu.
“Nos pegamos no meu quarto e no banheiro do restaurante. Eu ainda não digeri isso, meu pai.”
— Sim, posso me encaixar perfeitamente na letra B. – Sorri, disfarçando meu rubor.
Ficamos nos encarando por um tempo.
— Na Coreia não é permitido ainda, nos casamos aqui no Brasil há uns cinco anos. Estávamos apaixonadas, pelo menos era o que eu pensava. – Seu sorriso foi triste.
— O que aconteceu? – Ela aspirou o ar com força.
— Ela só queria dinheiro, apenas isso... – Sem pensar muito, a abracei.
— Desculpa te fazer falar sobre isso. – A encarei.
Yuna é uma mulher muito bonita, que ser humano seria capaz de querer apenas o dinheiro dela e não ela? Com toda certeza, essa ex-esposa é uma completa idiota.
— Vou dormir um pouco... – Ela quebrou nosso contato de forma repentina.
— Yuna... – Segurei sua mão, tentando entender o que se passava.
— Olivia, não posso ficar assim tão próxima. – Ela tocou meu rosto, depois meu lábio inferior. – Vou acabar cometendo uma loucura.
A minha mente andava um pouco confusa, assim como os meus sentimentos. Yuna me despertava uma forte atração (com toda certeza eu era bissexual), mas a minha cabeça e o meu coração, não paravam de desejar que a Zoe viesse atrás, que dissesse que sentiu a minha falta. Admitir isso é admitir que fui derrotada, eu não sabia se era paixão, mas sabia que aquela imbecil me despertava algo. Se João não houvesse interrompido daquela vez, eu teria trans*do com ela naquele banheiro e qualquer outro lugar que a Zoe desejasse, bastava apenas ela me pedir.
“Droga.”
— Minha cabeça tá um pouco confusa... – Admiti. – Eu adoraria ser beijada por você agora, Yuna, adoraria que fossemos pra cama, mas há uma maldita pessoa que se alojou em minhas emoções.
Yuna segurou a minha face com as suas duas mãos.
— E o que isso significa? – Nossos rostos estavam próximos.
— Eu também não sei... – Yuna sorriu.
Ela grudou sua boca na minha, durante vários segundos, um selinho longo, não sei quanto tempo durou, mas o achei quente, diferente. Quando na vida que eu iria supor que estaria atraída por duas mulheres?
Luciano, eu precisava conversar com ele. Droga, a minha cabeça está uma verdadeira confusão.
— Boa noite, Olivia... – Ela se afastou, com o seu sorriso tão característico. – Durma bem.
— Boa noite, Yuna... bons sonhos. – Fiquei a vendo sair da sala.
“Estou tão ferrada.”
Ri, de forma nervosa.
Fui para o quarto, onde Caio dormia tão à vontade, me deitando ao seu lado. Ele jogou os braços sobre mim. A realidade caiu sobre mim outra vez, voltei a fazer exatamente o que fiz desde que descobri sobre a minha adoção, eu chorei baixinho, com um buraco no peito que não se preenchia de forma alguma.
Um desejo de me vingar de Fábio me acertou.
— Não, eu não sou como ele... não sou.
Tratei de tirar aqueles pensamentos sombrios da minha mente e tentei dormir, pois no dia seguinte iria iniciar a minha jornada no mundo proletariado. Daria o meu melhor, faria tudo o que fosse possível para não precisar deles.
Domingo, 27 de março.
Quando o relógio marcava 16:30hrs, Yuna me deixava em frente ao bar. Luciano havia me enviado o endereço, que ficava em uma área nobre da cidade. Fiquei surpresa, pois achei que seria algo mais rustico.
— Estarei as duas pra te buscar. – Yuna me entregou uma pequena sacola. – Fiz dois sanduiches naturais, caso sinta fome.
Apenas sorri com o cuidado, era bom ter alguém cuidando de mim.
— Obrigada, Yuna. – A abracei.
Desde a noite passada, nada dissemos sobre nossa conversa e o clima continuava exatamente o mesmo.
— Bom trabalho e se precisar de algo, não hesite em me ligar. – Abri a porta.
— Cuidado ao voltar e pode deixar, eu ligarei. – Beijei sua bochecha e sai.
Yuna logo deu partida.
Entrei pela lateral do bar e me pediram para ir até a sala do dono, novamente surpreendida pela decoração. Me sentei, o esperando terminar uma ligação. Ele era barbudo, tatuado e muito elegante.
— Olá Olivia, seja bem-vinda a Paloma. Luciano me disse coisas ótimas sobre você. – Me senti mais à vontade.
— Obrigada, Ruan... também ouvi coisas ótimas a seu respeito.
Ficamos conversando por alguns minutos, ele me explicou quais seriam as minhas funções e me entregou o uniforme. Fui apresentada ao demais e logo iniciei as minhas atividades, que eram atendimento. O bar era de dois pisos, havia um pequeno palco, mesas de bilhar, uma tela enorme transmitia esportes internacionais.
A noite foi passando e quando percebi, havia chego o horário do meu intervalo. Fui para a lateral, onde estava movimentado. Passei a comer os sanduiches que Yuna preparou para mim.
— Finalmente te achei... – Aquela voz me fez gelar de imediato. – Quando vai acabar com essa palhaçada?
— Você não tem nada pra fazer aqui, vai embora. – Tentei controlar as minhas mãos que tremiam.
— Sua mãe e sua irmã estão preocupadas, sua irresponsável. – Ele falava baixo, mas daquele jeito babaca de sempre.
— Vocês não são nada meus. – Deu para ver a surpresa em sua face. – Não sou e nunca fui problema de vocês, Fábio.
— Então, você...
— Tá tudo bem por aqui? Esse cara tá te incomodando, Olivia? – O segurança se aproximou.
— Sim, ele está me incomodando. – Fábio não deixava de me encarar.
— Acho melhor o senhor ir embora e não retorne. – Ele sorriu de forma debochada.
— Deveria ter te deixado naquele lugar, pra virar uma sem teto ou viciada. — Aquelas palavras doeram no mais profundo da minha alma. – Não pense que isso acabou, eu sei onde te encontrar e sempre vou saber.
Ele afastou.
Isso significa que ele anda me seguindo ou mandou alguém o fazer.
— Preciso me acalmar. — Olhei para as minhas mãos e elas tremiam.
“Quem é esse homem?”
Voltei para dentro do bar, voltando ao trabalho, mas a preocupação não me abandonava nem por um segundo. No fim do expediente, estava exausta e com um pouco de fome. Ao sair, encontrei Yuna me esperando na porta.
— Nossa, eu tô tão cansada... – A abracei.
Física e mentalmente.
— E como foi seu primeiro dia? – Nos encaramos, o seu sorriso me fez sorrir também.
Por um momento, me vi em paz. Como alguém podia ter tais poderes sobre as emoções de outra? Yuna.
— Foi bem melhor do que imaginei, mas tive uma visita indesejada. O meu pai... o Fábio veio até aqui. Ele anda me seguindo. – Yuna mudou sua expressão imediatamente. – Ele disse algumas coisas...
Respirei fundo.
— Vamos embora, você descansa e amanhã falaremos sobre isso, tudo bem? – Concordei com um acenar de cabeça.
Tomei um banho rápido, comi algo e fui para o quarto, pois não conseguia manter meus olhos abertos. Quando acordei no dia seguinte, havia um bilhete de Yuna no criado mudo. O que faria naquele dia seria ir até a faculdade e mudar os meus horários. Faltava apenas nove meses para terminar o curso, eu podia fazer isso.
28 de março.
Cheguei à faculdade, indo para a diretoria, para explicar sem dar muitas informações o que havia acontecido, o que para o meu alivio, a reitora entendeu. Conversamos por algum tempo e ela me disse que deveria recuperar o conteúdo perdido.
— Bem-vinda de volta, minha Deusa. – Caio me abraçou. – Estou tão feliz.
— Vamos comer alguma coisa na lanchonete? – Saímos de mãos dadas.
Comemos e conversamos tudo o que aqueles dias não permitiram. Contei sobre o meu bico de fim de semana.
— Oli, eu preciso te contar uma coisa. – Franzi o cenho. – Não sei como e nem em que momento, mas eu juro que não foi de propósito.
— Contexto, Caio, não fala desse jeito... – Parecia algo sério.
— Sexta, eu estava em uma reunião na sala do meu chefe junto com a Zoe e uma bruaca da assessoria, ela disse algumas babaquices sobre você e bem, eu acabei rebatendo. – Imaginava o que pensavam a meu respeito.
Eu não estava nenhum pouco interessada.
— João me pediu pra esfriar a cabeça e eu fui pra copa, seu tio estava lá e conversamos por alguns minutos. – Ergui minha sobrancelha.
— Caio...
— Ah, amiga, eu não consigo parar de pensar nele... passei o fim de semana inteiro querendo que hoje chegasse pra ver ele e eu não sei o que fazer, o Rodrigo notou que estou estranho. – Abri a minha boca, surpreendida.
— Como é? Espera, você tá afim do meu tio? Ele deve ter o dobro da sua idade. – Caio colocou as mãos sobre o rosto. – Deus, Caio, dessa vez você se superou.
“O que essa família tem? Aaah, isso só pode ser brincadeira.”
— Ok, essa não é a parte mais complicada, você precisa conversar com o seu namorado. Não é justo com ele. – Caio colocou sua testa sobre a mesa e ficou assim por um tempo.
— Preciso pensar, talvez seja só uma atração temporária... – Ele me encarou.
O sinal tocou.
— Vamos terminar essa conversa, ouviu? – Ele ficou de pé, jogando a mochila em suas costas.
— Te ligo a noite. – Caio beijou a minha bochecha.
Fiquei de pé, também saindo da lanchonete, indo para a parte detrás da faculdade, próximo ao estacionamento. Fiquei ali por uns minutos, até decidir ir embora. Um carro parou bem a minha frente e eu o conhecia muitíssimo bem.
Senti meu coração acelerar e as minhas pernas ficarem fracas.
— Olá, Olivia...
Zoe tirou os óculos escuros e eu senti a minha respiração ir embora.
“Como senti falta de ouvir essa voz.”
Olivia me encarava, parecia assustada ou algo assim. Caio havia me mandado uma mensagem informando que ela estaria ali. Por ela, por Maria Eduarda e a família, resolvi fazer aquela ponte, mas eu precisava admitir, era bom vê-la.
— Oi, Zoe... – Me pegando totalmente desprevenida, Olivia se aproximou e me abraçou.
Fiquei sem reação, sem saber o que dizer.
— Você sabia esse tempo todo, não? – Sua pergunta me fez ter certeza que sim, ela já sabia sobre a sua adoção.
Que sentimento é esse, meu Deus? Estranhamente familiar.
— Sinto muito, não era algo que eu pudesse contar. – Fui sincera. — Não deveria ser eu.
— Eu... eu entendo, não era a sua obrigação. – Aspirei o ar com calma, pois estava me sentindo total e estranhamente confortável com aqueles braços circundando minha cintura. – Me deixa ficar aqui mais um pouco. – Sua voz saiu embargada, logo percebi que ela chorava também.
Por Deus, o que eu estava fazendo?
— Pode ficar. – A abracei de volta, aspirando o seu cheiro. – Não vou a lugar algum.
Eu faria isso por qualquer outra pessoa, não faria? Não sei. Ver essa mulher sendo tão vulnerável, me fez querer...
“Não, eu não posso me dar a esse luxo.”
— Tenho algo pra te contar, Olivia. – Ela merecia saber, talvez fosse um recomeço.
— Pelo tom de sua voz, não parece ser algo bom. – Nos encaramos.
Os olhos molhados fizeram com que o meu peito doesse, uma dor física mesmo. Segurei sua face com uma das minhas mãos, contornei as linhas femininas. Eu queria tanto beija-la, guarda-la de todo esse sofrimento.
“Só posso estar louca, me deixando ser tomada outra vez por esses... não, eu preciso, preciso resistir e lembrar do passado, de como doeu. Droga! Inferno!”
— Entre no carro, não quero que o Fábio saiba que estou com você. Ele provavelmente deve estar te seguindo. – Enxuguei seu rosto e ela apenas concordou com acenar de cabeça. – Prometo que tem uma parte boa.
Mordi meu lábio com força, puxei o ar com certa dificuldade.
— Por favor, seria ótimo uma noticia boa. – Olivia, quando na vida achei que você iria me amansar com um olhar?!
Abri a porta do carro, poderíamos conversar melhor lá, pois os vidros eram escuros.
— Vou te levar a um lugar e lá todas as suas duvidas serão esclarecidas. – Talvez você me odeie um pouco por não ter te contado algo tão importante.
Nem posso mensurar o quanto você deve estar sofrendo.
— Tudo bem, eu confio em você. – A encarei.
Controlada por fios invisíveis como se fosse uma marionete, me aproximei de Olivia, toquei sua face outra vez. Ela colocou sua mão sobre a minha, enquanto um duelo dentro de mim era travado.
”Se controla.”
— Vai ficar tudo bem. – Seus olhos fixaram nos meus. – Você é uma mulher muito forte, vai superar isso tudo.
— Obrigada, Zoe. – Mordi minha bochecha por dentro.
Me afastei, dando partida.
Sob o olhar atento de Olivia, chegamos em frente à casa de Maria Eduarda, que já estava a nos esperar no portão. Olivia me encarou, sem nada entender. Coloquei minha mão sobre a sua e sorri.
— Tá tudo bem, vamos descer. – Tirei meu cinto, dei a volta e abri a porta do carona.
— Vamos entrar. – Maria Eduarda se aproximou, olhando fixamente para Olivia.
— Não tô entendendo... Maria sabe algo? – Coloquei minha mão em seu braço, atraindo sua atenção.
— Entre, vocês têm muito pra conversar. Eu vou ficar aqui e...
— Não, entre comigo, Zoe, por favor. – Os fios invisíveis. – Eu tô com medo.
— Tudo bem...
Maria Eduarda estava emocionada.
— Vou chamar o Eric, sentem por favor. – Ela sumiu em um dos cômodos.
— Sinto que meu coração vai explodir. – Olivia segurou a minha mão e eu apenas deixei.
— Só ouça tudo até o fim e abra seu coração, sim? – Ela acenou em concordância.
— É ela? Deus, é ela. – Eric olhava para Olivia, seus olhos se encheram de lágrimas. – Você cresceu tanto, a ultima vez que te peguei nos braços, você era tão pequena.
— Como assim? A gente era do mesmo orfanato ou algo assim? – Aspirei o ar com calma.
Olhei para os outros dois.
— Olivia, eles são seus irmãos. – Ela levou a mão a cabeça, ficando de pé.
— Não acredito... Zoe, é mesmo verdade?
Maria Eduarda e Eric vieram até Olivia, a abraçando e o momento me fez ficar emocionada também. Benjamin saiu de um dos cômodos, ficou a observar aquela cena com curiosidade e sentou ao meu lado.
— Ben, essa é a sua tia... – Eric falou, entre lagrimas.
Olivia e ele se olharam por um tempo, até que ele ficou de pé e a abraçou. Ela estava visivelmente sem jeito, mas retribui o carinho. Posso confessar que eu estava muito feliz por poder presenciar tudo isso.
— Eu... Maria, quando você me viu a primeira vez... – Ela sentou, parecendo ter dificuldade com o raciocínio.
— Sim, eu... temos muito o que te explicar. – Olivia me encarou.
— Desde quando você sabe? – Olhei rapidamente para Eric e Maria Eduarda.
— Faz algum tempo. – Ela iria me odiar? – Eu não podia te contar, não deveria ser eu.
— Entendo...
— A gente vai te explicar tudo direitinho, eu prometo. – Maria segurou sua mão.
O ato acalmou Olivia.
Ainda sob o efeito dos fios invisíveis, segurei sua outra mão e não fui rejeitada.
— Nossa mãe conheceu o Fábio em um jantar beneficente, ela estava trabalhando como garçonete naquele evento. Eu deveria ter uns seis, a sete anos... a Maria tinha cinco, morávamos em outro bairro, sempre fomos muito pobres. Nossos pais brigavam bastante, então se separaram, não fazemos ideia de onde o nosso pai tá. – Senti a mão de Olivia ficar inquieta.
— Nossa mãe se apaixonou pelo seu pai, Olivia. – Apertei sua mão.
— Espera, ele é meu pai? – Maria acenou em positivo. – Meu Deus...
— Quando ele descobriu que a nossa mãe estava gravida, a abandonou. Nossa mãe disse que iria expor ele, que iria contar a esposa, então ele passou a nos ameaçar. – Eric entregou uma foto para Olivia. – Essa é a nossa mãe, Valeria.
A mulher na foto lembrava e muito Olivia. Soltei sua mão, para que ela pudesse pegar.
— Ela morreu poucos meses depois que você nasceu em um acidente de carro, fomos mandados pra um abrigo, pois não havia mais ninguém pra ser nossos tutores. Três meses depois, o seu pai foi até o abrigo junto da sua mãe, e eles levaram você. – Olivia estava aos prantos.
Minha tia estava a saber sobre isso? Ou era só mais uma vítima?
— Quando eu completei dezoito anos, consegui um emprego, pois o Ben já tinha completado três anos, fui pai muito cedo. Aluguei um canto e fiz tudo o que podia pra ter a guarda da Maria. Tentamos achar você, mas no abrigo nunca nos davam alguma informação. – Eles estavam emocionados. – E assim se passaram os anos, até que Maria conseguiu algo, soube há poucos dias que ela havia te encontrado.
— É muita coisa pra absorver... sinto que vou ter uma sincope. A minha vida deu uma tremenda virada nos últimos dias, não sei como agir ou de que forma pensar. – Podia ver a sua agonia.
— Fique conosco por um tempo, podemos ser a sua...
Alguém bateu na porta.
— Eu vou atender... – Eric ficou de pé.
Olivia apenas abaixou a cabeça.
— Olha, uma reunião familiar... – No mesmo momento, ficamos de pé.
— O que faz aqui? – Olivia tentou ir para cima dele, mas a impedi.
— Calma, calma... não vale a pena. – Segurei seus ombros.
— Bem, parece que você já sabe de toda a verdade. – Ele estava acompanhado por três caras mau encarados. – Vim deixar um aviso, espero que levem a sério.
Então os três passaram a jogar todas as coisas no chão, bagunçaram tudo e quebraram vários moveis.
— CHEGA!!! – Olivia gritou.
— Esse é o primeiro aviso, não me façam ir para o segundo. Sua mãe e nem sua irmã podem saber dessa história toda, me ouviu? Não me desafie, você tem muito a perder, querida filha. – Isso respondia a minha pergunta, a minha tia não sabia de nada.
Ele tentou se aproximar dela.
— Vai embora, Fábio... você tem muito a perder também. – Me coloquei a frente de Olivia.
— Se você imaginasse o quanto te odeio, Zoe, um dia você também perderá tudo. Espero que o meu aviso tenha sido entendido.
Ele saiu, logo atrás os três.
— Merda, quando tudo isso vai acabar? – Maria fechou a porta.
— Papai, nossa casa...
— Eu sinto muito, isso é tudo culpa minha. – Olivia tremia.
— Não, não diga isso... vamos dar um jeito. – Maria a abraçou e foi retribuída.
Passei a mão sobre a cabeça, tentando pensar no que fazer.
— Peguem suas roupas e o que forem precisar. – Uma ideia me surgiu. – Vocês vão ficar no meu apartamento.
— Não podemos aceitar, nós...
— Por favor, eu insisto. Lá terá tudo o que vocês podem precisar e depois veremos o que fazer. Por hora, é o melhor a se fazer. – Precisava conversar com meu pai sobre isso.
Eles arrumaram algumas mochilas e logo deixamos a casa. Cerca de uma hora depois, chegamos ao meu apartamento. Deixei ordens na portaria sobre os novos moradores. Eu precisaria voltar para a empresa, pois havia algumas reuniões na parte da tarde.
— O seu apartamento é bonito. – Olivia e eu estávamos na cozinha.
— Obrigada.
Nos encaramos.
— Precisarei ir, mas fica à vontade... a dispensa tá cheia e já ordenei ao porteiro que não permita a entrada de nenhum deles, a não ser a sua amiga. – Nos encarávamos.
Ela estava destruída, era perceptível.
— Sinto que há um duelo sendo travado em minha cabeça. Você tem mesmo que ir? – Aspirei o ar.
— Cadê a pirralha forte que sempre bateu de frente comigo? – Segurei seu rosto.
— Acho que ela me abandonou em algum momento. – Um sorriso fraco surgiu em sua face. – Bem, agora há três pessoas que eu não conheço em minha vida.
— Tenho certeza que essas três pessoas iram preencher esse vazio aí dentro. – Tão linda.
— Você tá tão diferente comigo, tão amorosa... – Olivia colocou sua mão sobre a minha, que ainda estava em seu rosto.
— Você desperta várias versões de mim, Olivia, umas eu nem mesmo conhecia. – Eu tinha que me controlar. – Se precisar de algo, basta me ligar.
Tentei me afastar, mas... os fios invisíveis.
— Zoe? Obrigada. – Beijei a sua testa demoradamente.
— De nada, pirralha.
Deixei a cozinha, indo até um dos quartos de hospedes, onde Maria Eduarda estava. Ela olhava para o nada, parecendo um pouco perdida. Me aproximei devagar.
— Ela não parece feliz em nos conhecer. – Maria me olhou, seus olhos estavam rasos.
— Olivia ainda tá processando tudo, vocês vão ficar juntos aqui, poderão se conhecer com calma. – A parte mais difícil já foi feita.
Ela pensou por alguns segundos.
— Você tem razão, Zoe, obrigada por ter a levado até nós. – Maria Eduarda me abraçou. – Obrigada.
— Não, eu não fiz nada...
Alguns minutos depois, deixava o edifício, rumo a empresa. Me tranquei em minha sala por algum tempo, tentando processar tudo o que aconteceu naquele dia. Algo dentro de mim, havia despertado. Como já disse, nunca fui levada por emoções, desde sempre, fui uma pessoa racional, sem tempo para emoções bobas, mas agora essa minha versão estava à deriva.
— Zoe, seu pai e eu estamos aqui. – A voz de João me tirou de minhas divagações.
Fui até a porta e a abri.
— O que há de tão urgente? – Eu havia dito que não iria dizer nada sem o aval de Olivia, mas aquele caso era de extrema importância.
— Sentem, há muita coisa que preciso explicar...
Tranquei a porta, sentando em minha cadeira e passei a narrar tudo o que aconteceu, não escondendo nenhum detalhe. Os dois ouviam tudo atentamente, apenas esboçando reações de repudio.
— Filha, isso é muito grave, precisamos fazer alguma coisa. – Meu pai passou a andar pela sala. – Como a Olivia está?
— Abatida, temo pela vida dela e dos irmãos. Precisamos denunciar o Fábio, papai, trazer Marina e a tia Betina para o nosso lado, mas para isso acontecer, Olivia e os irmãos precisam ficar seguros.
— Acho que sei o que podemos fazer, Zoe. – Olhei para João. – Há a fazenda do seu pai, podemos manda-los para lar. A fazenda é totalmente segura, e será somente até tudo isso se acalmar e o Fábio ser preso.
— É uma excelente ideia, João. Zoe, hoje à noite, diga a Olivia que irei até o seu apartamento. – Franzi o cenho.
— Papai, e sobre o que o Fábio sabe sobre você, isso poderia arruinar a sua imagem. – Ele passou a mão sobre os fios grisalhos.
— É o preço a se pagar por um pouco de paz, filha. Esse homem não pode continuar a solta, fazendo tudo o que vem a cabeça...
Pressionei meu maxilar até doer, depois aliviei a pressão.
“Inferno.”
Fim do capítulo
Dois caps pro fim de semana :)
Obrigada pelo carinho, meninas. Vocês são maravilhosas demais.
Beijos.
Comentar este capítulo:
olivia
Em: 03/04/2022
Olá autora,saudade de sua escrita. Estou amando esse novo romance ,cheio de mistério e intriga mas, Olívia está mandando ver, aliás todos os personagens me encantam!! Parabéns ??‘???‘?!!
Resposta do autor:
Olá, meu bem :)
Fico muito feliz por ter voltado, estava ansiosa.
Eu tô feliz que tenha lhe alcançado e que te envolva cada vez mais.
Ahh tô muito feliz :)
Obrigada.
Marta Andrade dos Santos
Em: 03/04/2022
Ninguém merece Fábio como pai.
Resposta do autor:
O pior é que é baseado em alguém real.
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izamoretti30
Em: 02/04/2022
Se beijem e fiquem logo, pelo amor de deus!!!!!!!!!!
eu me envolvo demais, autoras, li e reli. Vocês estão arrasando com essa história. Super concordo com as meninas, suas histórias são as melhores, Zoe e Olívia nosso casal shipper... estava com saudades demais de ler coisa boa, que prende a gente. Posta mais vai, por favor. Quero ver essas duas juntas... tão fofas nesse cap
Resposta do autor:
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Eu te entendo, sou assim também.
Ah, eu fico tão feliz quando leio essas coisas. A Tanny é nova, embarcou comigo nessa porque é uma amiga formidavel, mas está igualmente envolvida. Ela é muito maravilhosa.
Vou postar mais caps agora :)
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CatarinaAlvesP
Em: 02/04/2022
Sério, vcs não podem ficar muito tempo sem postar! Esse site voltou a ter vida, vou até voltar a doar também. A história pega a gente, to encantada!
Resposta do autor:
kkkkk bom, minha vontade era de por todos os caps, porque também sou ansiosa, mas a minha a participação especial (Tanny) quer misterio.
Vamos de caps novos?
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barbara7
Em: 02/04/2022
As duas já estão apaixonadas uma pela a outra, só não querem dar o braço a torcer. Mas certeza que a Zoe vai ficar louca de ciúme por causa da Japa, (que inclusive já pode voltar por pais dela) e deixar nosso casal em paz.
Resposta do autor:
Eu também acho que já estão muito envolvidas, a Oli deixando ainda mais em evidencia :)
Olha, tadinha da Yuna kkkkk
Vamos de cap novo?
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laisrezende
Em: 02/04/2022
Que linda a Zoe baixando a guarda e deixando de ser babaca pra cuidar um pouco da Olívia... Obrigada pelo cap extras, já pode voltar de viu meninas hahahaha
Resposta do autor:
A Zoe tem os seus momentos fofos. :)
Estamos voltando agora. Já, já vou por os novos caps.
Fico muito feli que estejam envolvidas aaaah
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