Fique por Leticia Petra
Capitulo 7 - Por que tem que ser assim?
24 de março.
Tudo fazia todo sentido agora, se encaixava ridiculamente bem. Como eu não percebi nada? Em que mundo eu vivia? Deus, isso está doendo tanto. Por que a minha vida tem de ser assim?
Meu Deus.
— Eu preciso respirar. Eu...
Na noite anterior...
— Zoe idiota... – Estava morrendo de cede e raiva.
“Preciso de um banho... a minha calcinha está. Merd*!”
Decidi ir até a cozinha, evitando fazer qualquer barulho. Todos já deveriam estar dormindo e eu não queria que ninguém me visse daquele jeito. Precisava conversar com o Caio, pôr para fora tudo o que estava sentindo.
Iria esfriar a cabeça no jardim, mas ao passar pelo escritório do meu pai, ouvi algumas vozes.
— Ela precisa saber, entender... – Era a Marina. – Isso já foi longe demais.
— Mas, e se ela nos rejeitar? – Essa era a voz da minha mãe. — Eu não vou suportar ser odiada por ela.
— Olivia não precisa saber de nada ainda. Vamos esperar mais um pouco... – Fábio. — Ela não tem maturidade alguma pra ouvir.
O que eu precisava saber? Iria bater na porta e perguntar, mas decidi esperar.
— Não acho justo, papai, se ela descobrir por outra pessoa sobre sua adoção, Olivia jamais nos perdoaria.
Um choque percorreu todo o meu corpo, as minhas pernas tremeram, minhas mãos ficaram geladas. Tive que me segurar na parede para não cair, tamanha a pressão em minha cabeça.
— Eu... eu sou... – Meus olhos se encheram de lagrimas. – Não, não, não... isso não pode estar acontecendo. Eu tenho que...
De volta ao presente...
— Como você está? – Yuna me entregou uma xicara com chá de camomila.
— Minha cabeça dói... – Olhei para o liquido, vendo a minha vista embaçar por causa das lagrimas.
— Vou ficar aqui com você... – Ela me puxou para si. — Não vou sair daqui. Eu prometo.
Eu não queria incomodar, até pensei em procurar a Zoe, mas sabia que seria uma péssima ideia. Ela me chamaria de pirralha mimada e todas essas coisas que ela adora passar em minha cara. Yuna era a única pessoa que eu sentia que podia me acolher e não errei. Ao ligar para ela, imediatamente fui atendida e ela foi me buscar em frente ao condomínio.
Essa dor estava me sufocando.
Se eu fui adotada, isso queria dizer que os meus pais biológicos não me quiseram? Minha mãe não é a minha mãe, minha irmã não é minha irmã. Vivi uma completa mentira contada por todos aqueles malditos Cavalcantes.
“Vocês não tinham esse direito.”
— Isso, coloca pra fora... – O choro me doía a garganta.
A pessoa que me confortava dizia de uma forma gentil, não me questionou nada, mesmo sem saber o porquê de eu estar aqui, Yuna me acolheu. Ela passou a madrugada inteira me abraçando sem nada dizer.
Em algum momento, eu adormeci e quando acordei parecia que já estava escuro, havia um pequeno bilhete de Yuna, ela havia ido ao mercado comprar o jantar e deixou algumas roupas separadas, assim como o seu celular. Peguei o aparelho e decidi ligar para o meu amigo. Levei uma bronca por vários minutos, mas no fim ele me confortou. Disse que havia recebido ligações o dia inteiro dos meus... daquela família, mas somente eles.
“Zoe não ligou... ela não se importa mesmo.”
— O que eu estava esperando? Aquela mulher... aaah!
Fiquei de pé, pegando as roupas que Yuna separou e fui para o banheiro. Tomei um banho longo, vesti a calcinha nova e um conjunto de moletom. Ao sai, notei que Yuna já estava de volta, pois ouvi vozes vindas da sala.
Deveria ir até lá? Não queria que ninguém me visse dessa forma.
— Tudo bem aí, gatinha?
— Caio? Como? – O abracei imediatamente.
— Yuna entrou em contato e foi me buscar em casa. – Olhei para ela, que estava logo atrás.
— Obrigada, obrigada... – Voltei a chorar sem perceber.
— Vou deixar vocês a sós. – Ela iria se afastar.
— Não, eu queria conversar com vocês... são os únicos que confio. – Ela sorriu.
Ela preparou o jantar e o serviu em sua sala, o apartamento não era tão grande, mas muito elegante. Não condizia com a fortuna que a sua família tinha e isso só reforçava aquele sentimento de afeição por ela.
Yuna é uma mulher simples e de bom coração.
— O que aconteceu, Olivia? – Fechei meus olhos por alguns segundos.
— Eu sou adotada. – A expressão de surpresa dos dois foi imediata.
— Olivia... – Caio colocou sua mão sobre a minha. – Como soube. Tem certeza disso?
— Ontem, depois que eu cheguei do jantar, ouvi minha fam... – Não eram nada meus. – Ouvi eles conversando no escritório. A Marina pedia a eles que me contassem... agora tudo faz sentido, o ódio daquele homem.
— Vem aqui, deixa eu te abraçar. – Caio me puxou para sim, enquanto Yuna me olhava com uma expressão triste.
— Você quer que eu te ajude a procurar por suas origens, Olivia? – Ela segurou a minha mão.
— Não paro de pensar nisso, Yuna, mas por enquanto, queria me esconder do mundo... – Ela sorriu.
— Você pode ficar comigo o quanto desejar e quando se sentir melhor, vamos atrás de informações. O que acha? – Alguém seria capaz de dizer não a ela?
— Eu vou com vocês, podem contar comigo. Amiga, vou estar com você pra qualquer coisa. – Caio me apertou contra si.
Jantamos e depois, Yuna saiu para levar Caio em casa. Combinamos de ir no sábado em alguns abrigos e orfanatos. A realidade das coisas aos poucos caia sobre meus ombros, ficando cada vez mais difícil segurar.
O que eu iria fazer? Não tinha mais um emprego, não tinha nada e obviamente, a faculdade seria trancada.
— Olivia, posso entrar? – Yuna estava de volta.
— Claro, pode entrar. – Me ajeitei sobre a cama.
— Passei no shopping e trouxe isso pra você. – Ela me entregou uma pequena sacola. – Por favor, aceite, será útil para você.
— Um celular? – Fiquei surpresa.
— Ele é um básico, não comprei nada muito extravagante, pois achei que não iria aceitar. – É exatamente o modelo e marca que eu usava.
Ele não era tão básico assim.
— Você... – Acabei por sorrir. – Obrigada, realmente vai ser muito útil.
Ela ficou visivelmente feliz.
— Ufa, achei que iria recusar... – Yuna tinha uma mistura interessante de personalidade. Tinha um ar tão doce e tão determinado ao mesmo tempo, tão diferente da Zoe.
Droga, novamente pensando nela. Não deve estar dando a mínima.
— Bem, eu vou deixar você descansar...
— Não, dorme comigo... por favor. – Não queria ficar sozinha de forma alguma.
— Ah, tudo bem... vou tomar banho e volto para cá. – Respirei aliviada.
Yuna passou parte da noite falando coisas engraçadas sobre sua infância, contou histórias sobre a Coreia e a família. Nem me dei conta quando adormeci, acordando no dia seguinte com a cama vazia e novamente um bilhete.
25 de março.
Tomei um banho rápido, comi e fui configurar o celular. Apaguei minhas redes socias, mas queria mesmo era apagar da minha memória o que ouvi. Um buraco havia se formado em meu coração.
— Como puderam me esconder isso?
Enxuguei as lagrimas que caíram sem permissão e decidi sair para procurar Luciano, precisava saber se ele poderia me ajudar, precisaria de um trabalho, não poderia ficar para sempre na casa de Yuna.
— Estava preocupado com você, a sua prima apareceu aqui e...
— Minha prima? De quem está falando? – Franzi o cenho.
— Sim, a Zoe. – Zoe?
Ela veio me procurar? Deus, por que meu coração acelerou?
— Ela veio até aqui, sua família está louca atrás de você, o que aprontou? – Droga.
— É uma longa história, estou na casa de uma amiga, eu te explico outra hora. Toma, esse é o meu número. – Peguei seu celular e digitei o novo número.
— Amor, você não parece nenhum pouco bem, me diga o que posso fazer por você? – Ele segurou meu rosto, tentou me dar um selinho, entretanto, não consegui.
— Sinto muito, eu não estou no clima. – Me afastei, encarando o chão e depois para ele. – Você pode conseguir um emprego?
— Mas, você não trabalha com a sua família? Olivia, o que aconteceu? – Aspirei o ar com força.
— Eles não são minha família, não são nada meus. Estou precisando de dinheiro, preciso de um emprego. – Sua expressão mudou.
— Eu vou ajudar você, um amigo abriu um bar e precisa de alguém pra trabalhar no período da noite aos fins de semana. – Luciano me abraçou. – Dorme aqui essa noite.
— Não posso, a Yuna vai ficar preocupada, preciso voltar.
Ficamos mais algum tempo conversando, depois decidi que já era hora de ir. Pegaria um ônibus, então caminhei até a parada. Olhei para as minhas mãos e tinha apenas quatro reais no bolso, o suficiente somente para chegar à casa de Yuna.
— Essa é a minha nova realidade agora. Eu posso dar conta, certo? – Olhei e ao longe, o ônibus se aproximava.
Quando cheguei ao apartamento de Yuna, percebi que havia alguém por ali. Por um breve momento, senti medo. Olhei ao redor e notei que havia um guarda-chuva na entrada, o peguei e andei nas pontas dos pés.
— O que você...
— Aaaaah! – Acertei o guarda-chuva na pessoa, fazendo ela tropeçar em um vaso e cair.
— Espera, espera... sou a irmã da Yuna. – Parei no mesmo instante.
- Meu Deus, me perdoe. – Parabéns Olivia, parabéns! – Que vergonha, eu achei que era um ladrão.
Mina passou a gargalhar, massageando a testa.
— Você bate forte. – Ela ficou de pé. – Minha irmã pediu pra te fazer companhia.
— Deus, eu nem sei onde enfi*r a cara. – Um nó passou a se forma onde acertei.
— Tá tudo bem, Olivia. É sério...
— Senta no sofá, eu vou pegar gelo. – Sai da sala apressada e quando estava voltando, Mina ria com a mão sobre a testa
— Por que tá rindo? – Ela deitou e me olhou.
— Isso foi muito engraçado, ainda bem que era um guarda-chuva. Não faça essa cara, só esqueça isso. – O seu jeito despreocupado me fez relaxar.
Entreguei o gelo e ela o colocou sobre o pequeno nó.
— Yuna pediu pra perguntar se você já comeu comida coreana. – Sorri.
— Na verdade, nunca provei na vida, irei ganhar um almoço internacional? – Ela abriu um sorriso ainda maior.
— Sim, vou cozinhar pra você e a Yu logo virá também, ela não quer que você fique muito tempo comigo. Yuna diz que sou boa em deixar as pessoas iguais a mim. – Caminhamos para a cozinha.
— E como exatamente é ser como você? – Franzi o cenho.
— Uma ótima pergunta, a Yu nunca me respondeu...
Conversamos bastante e posso dizer, Mina me fez esquecer dos problemas durante aquele tempo. Fiquei apenas a observando e percebendo que ela levava jeito com a cozinha. Ela me disse que estava cursando gastronomia e sua família iria abrir um restaurante em breve, mesmo sendo muito jovem.
— Poderíamos ser socias. Você cursa administração e seria perfeito... – Como dizer que eu odiava e que agora, não iria mais terminar por não ter condições financeiras?
— O cheiro tá incrível, Mina... – Yuna entrou na cozinha. – Olá, mocinha.
Ela veio até a mim, me abraçando e eu apenas pude sorrir.
— Olá, senhorita empresária. – Nos encaramos por alguns segundos.
— Vocês duas vão ter o prazer de comer minha alta culinária, vão tomar banho e espero vocês aqui. – Olhamos para Mina.
— Essa pirralha acha que é a irmã mais velha. – Yuna sorriu de um jeito terno, claramente encantado.
Lembrei de Marina e senti uma pequena dor no peito.
Almoçamos entre conversas e momentos divertidos, estar próxima a elas me fez perceber que eu precisava de um objetivo na vida. Não estava cursando o que queria, porém em poucos meses terminaria.
Poderia terminar o curso e depois disso...
“Sim, é exatamente o que vou fazer, vou aproveitar os meses que estão pagos e arrumar um emprego, não vai ser nada fácil, eu sei disso... mas eu consigo, não é mesmo?”
Por que não aproveitei melhor as oportunidades? Olhando para trás, Zoe tinha toda razão em me chamar de pirralha. Bem, agora ela não teria mais quem atormentar, logo vai encontrar uma outra mulher ou algum cara. Pensar nisso me deixava um pouco... enciumada?
“Era só o que me faltava.”
Estávamos em uma reunião com a assessora da empresa, que repassava a João e eu algumas informações importantes. Segundo ela, havia interesse do meu pai em patrocinar um time local e planejávamos como seria anunciado, mesmo não sendo nossa área, agora tudo passava por nós.
Um telefone passou a tocar com um volume altíssimo e olhamos para Caio, que pareceu ficar constrangido.
— Desculpem... – Ele pegou o celular.
— É a Olivia? – João perguntou.
Caio apenas detonou a ligação.
— Sim, era a Olivia... – Franzi o cenho
— E onde ela está? Por que foi embora? – João não segurou a curiosidade.
Apenas continuei a ler os documentos.
— Eu não posso dizer o motivo, somente a Oli pode fazer isso. – A lealdade dele me fez admira-lo ainda mais.
— Deve ser alguma bobagem, aquela garota é uma mimada, não quer nada com a vida. Deve tá querendo apenas chamar a atenção. Ainda bem que isso não caiu na mídia... – Larissa soltou cheia de sarcasmo. – Ter uma emissora faz milagres, não é mesmo? Brilhante ideia do fundador.
Um comentário infeliz e fora de hora.
— Me desculpe, senhorita Larissa, mas você não conhece a Oli, não faz ideia dos motivos dela, e eles não são da sua conta. – Caio disse de forma controlada. – Mas sim, eles são reais e dolorosos, ela está... destruída. Se não tem nada de inteligente pra dizer, então somente fique calada.
Não pude deixar de encara-lo. Ele até mesmo ficou de pé, olhando Larissa nos olhos.
“Será que ela descobriu sobre sua adoção?”
— Que petulância! João, você vai deixar esse seu empregadinho falar assim comigo?
— Caio, vá tomar uma água e esfrie a cabeça. – O garoto apenas saiu da sala, sem retrucar.
— Dá pra acreditar nessa gentinha? — Aquilo me irritou. – Você irá demiti-lo, não é, João?
— Larissa, peço que não faça esses tipos de comentários. – Ela me encarou surpresa. – O que acontece ou deixa de acontecer em nossa família, é de cunho particular e só diz respeito a nós. Ninguém tem que dar palpite, fui clara? E não volte a falar desta forma de algum membro da família Cavalcante. Nunca mais.
João apenas me encarava, parecendo olhar para alguma assombração.
— Fui clara?
— Irei para a minha sala. – Ela saiu com uma expressão fechada.
— Você acha que a Olivia descobriu sobre ser adotada? – Tomei um gole do meu café.
Faltava açúcar.
— É muito provável, é a única coisa que me vem a mente. – João me olhou de uma forma séria.
— Você defendendo a Olivia, isso foi muito estranho. – Ergui minhas sobrancelhas.
— Talvez eu esteja caindo de amores por ela. – Ele abriu a boca.
— Você tá falando sério, Zoe? – Dei o meu melhor sorriso.
— É claro... que não! Vamos trabalhar.
Caio voltou a sala, se desculpou e voltamos a trabalhar como se nada houvesse sido dito, achei melhor assim. Depois voltei a minha sala e preciso confessar, já estava acostumada a ver Olivia todas as tardes.
Alguém bateu na porta.
— Pode entrar...
Caio surgiu em minha frente.
— Desculpe vir até aqui, senhorita Zoe, mas eu precisava me desculpar pelo jeito rude que agi mais cedo. – Ele parecia mesmo envergonhado.
— Feche a porta e sente aqui, Caio. – Ele fez o que pedi. – Tá tudo bem, Larissa passou mesmo dos limites. Só não o faça novamente, não desperdice sua saliva.
Ele ficou visivelmente surpreso.
— Sabe, senhorita Zoe, você deveria tentar falar com a Olivia. – Franzi o cenho. – Acho que ela ficaria feliz em ver que se importa.
— Não acho que ela gostaria de ver alguém da nossa família por agora...
Ele sorriu, ficando de pé.
— Talvez ficasse surpresa. – O que ele queria dizer com isso? – Eu vou me retirar, até segunda, senhorita.
— Até segunda, Caio.
Ele deixou a minha sala, deixando também a duvida do que realmente quis dizer com esse “talvez ficasse surpresa.”
— Preciso ir a Afrodite.
Quando cheguei em casa, me arrumei rapidamente e ao sair do condomínio, encontrei Marina na portaria. Ela pedia as filmagens do dia em que Olivia havia desaparecido. Acabei por escutar, pois precisei parar para o portão ser aberto.
Ela nem se deu conta da minha presença.
“Estaria ela na casa daquela mulher?”
— Isso não é da minha conta...
Liguei o aparelho de som e uma música nacional tocava, procurei por outra estação, pois não queria ouvir algo meloso. Quando cheguei a Afrodite, era a noite de swing e todos os andares estavam lotados.
— Bem-vinda, senhorita... – Uma garçonete me abordou. – Deseja beber alguma coisa?
— Queria beber seu gozo, posso? – Não estava com paciência para rodeios.
Ela sorriu.
— Recomendo o quarto vinte e dois. – Eu o conhecia.
— Te espero lá, leve um pouco de seu vinho mais gostoso também. – Sai a frente.
Peguei a chave na recepção do terceiro andar e entrei, vendo um cômodo impecável e amplo, com uma vista interessante. Tirei meu blazer, fui até a janela gigantesca e por breves segundos, recordei de Olivia e do horror em sua face quando entrou aqui pela primeira vez.
— Pirralha... – Não pude conter o riso.
Eu queria que ela fosse a minha companhia dessa noite, queria me satisfazer com aquele corpo tão atrativo. Podia sentir a minha calcinha ficar molhada só com a simples recordação de nosso último encontro.
— Preciso saciar essa fome de você, pirralha, só assim vou tirar isso da minha cabeça.
— Demorei muito? – Virei-me para olhar a mulher que havia entrado.
— Tá perdoada...
Ficamos cerca de duas horas naquele quarto e quando o relógio marcava 23:00hrs, deixei a Afrodite, mas o destino foi outro. Desde que voltei ao Brasil, pedi a um corretor que achasse um apartamento no centro, com a venda do meu em Portugal, comprei exatamente o que queria.
Resolvi passar a noite ali. Havia uma cama e alguns outros moveis.
Sábado, 26 de março.
Decidi sair para correr um pouco, o dia estava bonito, o que significava que mais a tarde, com toda a certeza choveria. Corri cerca de uma hora e meia, quando estava no hall, encontrei um rosto conhecido.
— Zoe, que surpresa vê-la aqui. – A cidade era pequena mesmo. – Bom dia.
— Bom dia, Yuna... não sabia que morava aqui. – Ela sorriu.
Estava sempre de bom humor.
— Meu pai mora aqui, vim apenas deixar a minha irmã. – Ela olhou para o seu relógio. – Preciso ir, foi um prazer.
— Yuna, a Olivia está com você? – Droga.
— Sim, ela está em meu apartamento. Deseja ir vê-la? – Sua voz soou debochada ou estava ouvindo coisas?
— Peça a ela que entre em contato. – Yuna sorriu outra vez.
— Darei o recado... até mais.
Ela sumiu porta a fora.
Voltei para o meu apartamento e pedi algo para almoçar, recebi algumas ligações de João e recusei todas. Um habito que há um tempo não repetia me incomodou. Deixei o edifício e fui até um supermercado, comprei algumas coisas e encontrei um daqueles brinquedos de garra.
Consegui três pelúcias.
“Soube que a Olivia sumiu, sabe algo sobre ela? Estou muito preocupada.”
Recebi essa mensagem de Maria Eduarda. Respondi que iria até a sua casa e lá conversaríamos sobre. Quando cheguei em frente ao imóvel, ela me esperava na porta e veio até a mim.
— Entra, meu irmão e meu sobrinho estão aqui. – Ela me abraçou.
A casa era simples, alugada, eles viviam de forma simples.
— Então você é a Zoe, muito prazer. Sou o Eric, esse é o meu filho, Benjamin. – Eles tinham muita semelhança com Olivia.
— É um grande prazer. – Me esforcei para sorrir.
Benjamin apenas me olhava fixamente. Ele tinha um rosto feminino, à primeira vista achei ser uma garota.
— Senta, Zoe... – Maria me pediu e foi o que fiz. – Então, é verdade que ela sumiu?
— Sim, faz dois dias que a Olivia saiu de casa e não deu notícias. – A preocupação na face dos mais velhos era evidente.
— E você sabe por que, Zoe? Ou onde ela pode estar? – Eric me perguntou.
— O motivo ainda não sabemos, mas hoje descobri onde ela está e posso dizer que tá segura com uma amiga dela. – Eles pareceram aliviados.
— E quem é essa amiga?
— Filha de um dos sócios da empresa...
- Por favor, Zoe, cuida da nossa irmã. – Eric segurou a minha mão. – Foi muito difícil todos esses anos.
Se Olivia de fato descobriu sobre sua adoção, então era a hora de saber sobre os irmãos também. Droga, por que eu estava me envolvendo nisso tudo? Nada disso me dizia respeito.
Merd*!
Passei grande parte da tarde ali, ouvindo sobre o passado daquela família e mesmo não querendo, eu estava envolvida até o ultimo fio de cabelo. Olivia não merecia nada daquilo, é somente mais uma vítima daquele bastardo.
Esse maldito iria pagar cedo ou tarde.
Quando cheguei a mansão do meu pai, ele e João me esperavam na sala, parecia que iriamos ter uma reunião. Deixei minha bolsa sobre o sofá e me acomodei, esperando o que seria dito.
— Sua prima veio aqui, informar que encontraram o paradeiro da Olivia. – Franzi o cenho.
— E como descobriram? – Como?
— Marina puxou algumas imagens das câmeras e foi possível ver a placa do carro que ela entrou, é da filha do nosso socio. Eles foram até lá, mas pelo que parece, Olivia não os recebeu. – Não pude evitar o riso.
— Você sabia onde ela estava, Zoe? – João me questionou.
— Soube hoje pela manhã, pela própria amiga de Olivia. – Levantei, indo até a pequena adega.
— E não pensou em nos contar? – Servi um pouco de whisky.
Não era a minha bebida preferida, mas precisa de algo forte. O por que? Eu não sabia.
— Se ela não contou a nenhum de nós, é porque não quis que soubéssemos. Não podemos ir contra a vontade dela. – Voltei a sentar.
— Desde quando se importa com ela? – João parecia mesmo com raiva.
— Se a Olivia soube mesmo de sua adoção, a ultima cara que ela quer ver é a nossa, se não pudemos contar a ela algo tão importante, por que agora iriamos nos met*r? Seria muita hipocrisia de nossa parte.
Ele ficou calado, parecendo sentir o peso de minhas palavras.
— Pensem em uma forma de fazer o Fábio pagar por tudo que está fazendo, ele é mais perigoso do que pensamos. Papai, ele ameaçou levar a mídia o seu segredo se o denunciarmos. – Meu pai ficou surpreso.
— Esse desgraçado... – Respirei fundo.
— Ele será capaz de tudo, de tudo, fiquem preparados. – Subi os primeiros degraus. – Há muitas coisas que precisam saber, mas somente quando a pessoa adequada permitir.
Não tinha como retroceder, já estava envolvida.
Há uma voz irritante dentro da minha cabeça, berrando para que eu fizesse a coisa certa e isso estava me deixando impaciente, sem me reconhecer. Se fosse um tempo atrás, certamente não moveria um dedo.
— Merd*... - Sentei na banheira. – Viu só o que você causou, pirralha?
Eu estava ficando louca.
— Zoe, você irá procura-la? – Fechei meus olhos.
— Você deveria esperar, até que eu termine. – A espuma estavam se dissipando.
- Não há nada que eu não tenha visto. Meus pais querem vir até aqui amanhã, para almoçar. – O encarei.
— Quando planeja contar a eles sobre o nosso divórcio? – João sentou no chão.
— Só mais um pouco, eu prometo. – Aspirei o ar devagar, saindo da banheira e me cobrindo com o roupão.
— Você conseguiu o respeito do meu pai e ficara à frente dos negócios não importa qual seja nosso status civil. Tá na hora de você tomar um pouco de coragem e enfrentar de uma vez o seu pai e o babaca do seu irmão. Sua gestão está sendo impecável, levar patrocínio aos times locais foi uma ideia sua, o meu pai me contou sobre...
João ficou de pé.
— Tá faltando apenas um ato de coragem, João, você não é mais dependente dos seus pais, é um empresário de sucesso. – Não estava esperando pelo que viria.
João me abraçou forte, durante vários segundos.
— Você finge ser uma completa idiota, mas no fundo, se apegou a mim. Obrigada, Zoe, eu precisava mesmo ouvir algo assim e vindo de você, sei que é totalmente verdadeiro. – Quando eu iria aprender a lidar com demonstrações de carinhos?
— Tudo bem, agora me solte...
Ele riu, me fazendo rolar os olhos.
— Você me ama, eu sei disso.
Fim do capítulo
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Marta Andrade dos Santos
Em: 03/04/2022
Vixe Olívia tá complicado.
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