Lírios
Alice
Depois de um domingo encantador e amanhecer a semana, com a mulher da minha vida na minha cama, não tem nada que estrague meu dia. Nem mesmo a súbita invasão da Carol, que até assustou a coitada da Laura, me tirou o bom humor e a disposição.
Ouvir que a Laura me ama e conseguir declarar a ela também o meu amor, me injetou o espírito como uma injeção de ânimo e bem estar. Quero oficializar o que temos, mas quero fazer em grande estilo, à altura do que ela merece e, que seja com minha personalidade.
Após conversar um pouco com a Carol e saber que ela e o Léo estão namorando, tive algumas ideias para tentar surpreender a super Laura, que já tem de tudo e mais um pouco. Passei na banca, troquei o chip e antes de seguir para a empresa, encontrei uma floricultura aberta. Não hesitei. Parei logo a moto e adentrei ao estabelecimento, observando as flores como quem procura tesouros. Uma gentil senhora, negra que muito me lembrava a querida Didi me atendeu. Após me cumprimentar e falar sobre o tempo, lançou a pergunta que me fez pensar para responder:
- Então, procura que tipo de flor?
- Para entregar à mulher mais linda e encantadora que conheço. A dona do meu coração e sentimentos – respondi com olhos apaixonados.
- Nossa!! – exclamou com as mãos no peito – Isso é o que eu chamo de ser mulher de sorte.
- Acredite. A sortuda sou eu!
- Então a desafie te amar – sorriu e pegou um ramalhete de lírios rosa e me entregou.
- Lírios significa isso? – perguntei observando a beleza exuberante das flores, misturada a uma singeleza encantadora, tal qual minha linda Laura.
- Sim! A quem oferta os lírios, está lançando o desafio de que seja amado.
- Então, é esse que vou levar! – sorri e a entreguei as flores – Apesar de já ouvir que me ama, quero mais e mais.
- É assim que se fala! Vou fazer o enfeite.
Aguardei ansiosa o momento de chegar até a empresa e a presentear. Estar com ela, é tudo de melhor que já me aconteceu na vida. Laura me desperta todos os bons instintos e sentimentos. Ela é proprietária de grandezas e muito luxo, no entanto, a parte que me encanta é sua simplicidade, como a sutileza das flores.
Segui para a empresa, pilotando só com uma mão, pois a outra estava cheia com o ramalhete maravilhoso que D. Margot cuidadosamente preparara. Cheguei na recepção, entreguei ao concierge e pedi para que entregasse com urgência na sala da Laura e, rapidamente subi para a minha sala. A tempos não sentia essa sensação gostosa de frio na barriga e ansiedade por coisa gostosa. Mesmo tentando me concentrar nas planilhas das ações, o coração batia mais forte que o comum, atrapalhando o bom funcionamento cerebral. As mãos suavam, atrapalhando o digitar no teclado do notebook. Toda a explosão de sentimentos, concretizou-se com o tocar do telefone que eu apressadamente atendi com um "Oi". Do outro lado, um sorriso engraçado, me entregou não ser minha amada, mas sim, dona Chica que ironicamente respondeu.
- Oi, gata!
- Tinha que ser tu? – sorri – Achei que era a outra gata.
- E é! A patroa está te chamando para uma reunião – falou sorrindo e em baixo tom.
- De verdade? Tem gente na sala?
- Sim, gata. Venha logo, pois a expressão está de brava. Venha acalmar sua fera.
Gargalhei.
- Estou indo. Já chego.
Me apressei em comparecer ao andar da sua sala. Dona Chica me recebeu com aquele abraço forte e caloroso de sempre. Ao seu lado, uma moça nova que ainda não tinha visto por ali. Branca feito europeia, cabelos castanhos claros e olhos azuis que sobressaltavam a face. A cumprimentei e senti seu olhar, me medir da cabeça aos pés, antes de responder o cumprimento.
- Essa é a Duda – apresentou dona Chica – Ela fica no terceiro prédio, mas hoje a Mel não veio, então ela está a substituindo.
- Oi Duda! Prazer, Alice.
- Oi – sorriu e continuou a me olhar.
Dona Chica franziu o cenho e fechou a expressão, me pegou no cotovelo e puxou em direção a porta da sala, falando apenas um "Entre".
Na sala, já conhecida da super patroa, ela, sentada com as pernas cruzadas, com a cadeira de lado, à ponta da mesa de reuniões, cotovelo apoiado na superfície, vestindo camisa social rosa listrada com punhos largos, calça pantalona preta e scarpin Louboutin. Seus olhos, vidrados nos meus, recém chegado no ambiente me fizeram arrepiar inteira. Ao seu lado, uma cadeira vazia e do outro lado da mesa, três senhores orientais devidamente engravatados. Tom levantou-se para me receber, com um singelo sorriso.
- Senhores, essa é senhorita Alice Stromps, a consultora responsável pelo sucesso da empresa que estão interessados – falou Laura, sem desviar o olhar de mim.
Enquanto me dirigia em direção à mesa, vi atrás da Laura, na sua mesa particular o ramalhete de lírios que enviei e rapidamente olhei em seus olhos, com um leve esboço de sorriso no canto dos lábios que ela retribuiu, igualmente.
- Sente-se aqui senhorita – ela apontou a cadeira ao seu lado – Temos negócios a tratar – falou com tom sério.
Puxei a cadeira e me sentei, após cumprimentar os investidores.
- Como falávamos – continuou Laura – Nossas empresas, atualmente lideradas pela consultora Alice, tiveram uma espantosa e repentina valorização, despertando olhares de muitos investidores e hoje, esses três nobres senhores, Li, Whang e Zang – apontou respectivamente cada um deles – Vieram pessoalmente propor sua oferta de compra pela companhia NetCell. Uma proposta interessante, que, eu não poderia aceitar, antes de falar contigo.
- E qual é a proposta? – perguntei com o cenho cerrado, tentando esconder a emoção em ser consultada sobre uma ação da companhia de Veigas.
- Nossa proposta, senhorita – falou Li – É de um milhão e meio pela companhia.
Sorri com desdém e cruzei o braço à frente do corpo.
- Um milhão e meio, é menos da metade do que lucramos só nesse final de semana, senhor.
Percebi Laura segurar o riso e virar a cadeira para baixo da mesa, apoiando-se sobre os cotovelos e observando minha conduta na negociação.
- Mas deve levar em conta, senhorita, que essa era uma empresa abrindo falência. As ações são instáveis – continuou o sr Zang – Podem subir ou despencar a qualquer momento.
- E é exatamente isso, que faz a negociação ser mais interessante, senhor – enquanto me concentrava para negociar uma possível venda, senti o bico do sapato caríssimo usado por Laura, tocar minha panturrilha embaixo da mesa e subir até a altura do joelho. Engoli em seco com a súbita aceleração do coração e a fala quis titubear. Os acionistas me olhavam ansiosos pela continuação da fala e eu, com muito esforço mental, e sem olhar na direção da Laura, continuei a fala, com expressão séria – Uma empresa em ascensão, com rentabilidade em alta, ser vendida a esse valor, seria prejuízo para nossa companhia.
Laura continuou seu atentado contra minha pessoa. Peguei uma caneta que estava sob a mesa na tentativa de disfarçar o que sentia. Ela, que se manteve calada, com expressão imponente, observando a negociação, subia e descia vagarosamente o pé, tocando minha perna, embaixo da mesa. A dicotomia perfeita da seriedade aparente, com a safadeza velada – Que mulher – pensei olhando em sua direção e suspirei.
- Senhorita, mais do que isso, seria prejuízo para nós – repeliu Zang – Nossa sociedade está disposta comprar essa empresa para fundir à que já temos de telecomunicações.
- Então senhores – dei de ombros – Sugiro que encontrem alguma empresa no leilão – olhei para Laura que levantou a sobrancelha e fez um bico de espanto.
- Podemos negociar um valor que esteja dentro do esperado? – perguntou Zang.
- Compramos essa empresa por seiscentos e cinquenta mil. A prospecção desenhada a ela, é de que há 40 dias, esteja valendo aproximadamente 2 milhões. No entanto, a curva que subimos nesse final de semana, foi muito além do que imaginávamos – suspirei e olhei para Laura que acenou discretamente com o queixo em positivo - Portanto, só venderia hoje, se fosse por dois milhões e meio, pelo menos.
- Isso é muito além do que prevíamos, senhorita – falou Zang expressando incômodo – Nesse valor não venderá essa empresa.
- Então ficaremos com ela no nosso grupo, senhor – respondi, sorrindo ironicamente – Podemos dar preferência para os senhores daqui 1 mês, antes de levar para o leilão. Até lá, ela poderá estar valendo ainda mais.
- Vamos estudar a oferta, senhorita – interrompeu o sr Whang, até então calado – Voltaremos a negociar.
- Estaremos à espera! – falou Laura, levantando-se e dirigindo-se à porta.
Todos se levantaram e cumprimentaram a mim e ao Tom, em seguida de Laura na porta, que assim que todos saíram, fechou a porta sobre si e me olhou com os olhos semi cerrados.
- Tom – dirigiu a fala a ele, sem desviar o olhar dos meus – Será que temos em nossa frente outra Laura?
Senti os olhos de Tom também chegarem até a mim, carregados de um sorriso nos lábios.
- Olha, Alice! – ele fez um bico de espanto – Eu estou com a Laura desde o começo de tudo, e a primeira negociação dela, foi exatamente assim. Deixou um grupo de chineses com a pulga atrás da orelha com uma proposta que, dois dias depois, eles retornaram e fecharam.
- E foi assim, que resolvi montar o complexo – completou Laura, sentando-se novamente ao meu lado – Estou encantada, senhorita Alice.
Senti meu rosto corar e o coração que já estava acelerado, quase saiu do peito pra fora.
- Obrigada! Eu amo negociar e já te avisei antes de tudo, que não se arrependeria – olhei a ela que me sorriu, olhando meus lábios.
- Sem contar que, estão focando só na NetCell – falou Tom, olhando para o tablet em sua mão – E ainda nem viram isso – mostrou a tela do tablet com um gráfico ascendente – O pessoal da consultoria de marketing me enviou agora.
- O que é isso? – perguntou Laura.
- A quantidade de franquias da rede do pão de queijo, que foram vendidas só enquanto estávamos na reunião – respondeu Tom, sorrindo – Parabéns Alice. Parece que fez um excelente trabalho.
- Obrigada Tom. Esse é só o começo – respondi timidamente.
- Você não cansa de me surpreender, não é Alice Stromps? – falou Laura, mordendo o lábio inferior – Venda de franquias? – arqueou a sobrancelha – Como que eu não pensei nisso antes?
Dei de ombros e sorri, também arqueando a sobrancelha.
- Formamos uma bela equipe, senhorita Laura Veigas.
- Formam muito mais que uma bela equipe – falou sorrindo Tom, colocando a mão na boca e levantou-se – Desculpa falar isso, chefe.
- Formamos o que, Tom? – perguntou Laura, com expressão irônica.
- Nada, Laura – revirou os olhos – Nada!
- Agora quero saber, Tom – perguntei sorrindo – O que formamos além de uma bela equipe?
Tom segurou o tablet na frente do peito, baixou o queixo e nos olhou por cima da linha dos óculos, suspirou fundo e revirou os olhos.
- Se vocês ainda não perceberam, serei obrigado a ser o cupido.
- Cupido? – gargalhei – Além de assessor vai ocupar esse cargo?
- Só te digo uma coisa, Tom – falou Laura com expressão séria – Como cupido, você é um excelente assessor.
- Credo!! – sorriu e se dirigiu à porta – Vocês ainda vão me chamar para o casamento – saiu sorrindo e voltou-se rapidamente – Daqui 15 minutos tem a reunião da rescisão, Laura. Esteja preparada – saiu novamente, olhando fixamente para nós e sorrindo.
Olhei para Laura que se mantinha imóvel e me olhando.
- Será que precisamos de cupido, ainda? – perguntei sorrindo.
- Eu, particularmente, preciso de uma calcinha nova – respondeu me olhando com olhos lascivos – Não dou conta de trabalhar com você.
- Ah é?! – sorri e cruzei os braços – E eu dou? Negociando super séria e você me bulinando embaixo da mesa.
Gargalhou, afastou sua cadeira da mesa e rapidamente puxou a minha cadeira para o meio das suas pernas.
- Eu não resisto à inteligência – me puxou pela nuca e me beijou a boca, com vontade e sedução – Você me desestabiliza toda – falou entre o beijo quente e úmido.
Me afastei do seu aconchego e fui trancar a porta.
- Aí, não falei que você me desestabiliza? Nem lembrei de trancar a porta – falou sorrindo.
Voltei em sua direção e me sentei em seu colo, beijando-a nos lábios.
- Você é a maior de todas as minhas conquistas, sabia? – falei entre o beijo.
- Mesmo? Valho mais do que a NetCell? – perguntou sorrindo e me acariciando o rosto.
- Vale mais do que todo seu império. Você é meu tesouro e jóia rara.
Ela me abraçou e cheirou o pescoço.
- E essas flores lindas? Tem alguma relação com essa excelente consultora? – me perguntou beijando a volta do rosto.
- Não leu o cartãozinho?
- Não! Cadê? – me olhou com surpresa e entusiasmo.
Levantei do seu colo e peguei o ramalhete em sua mesa. Ajoelhei sob uma perna à sua frente e entreguei a olhando nos olhos.
- Nossa!! Nunca recebi flores assim – sorriu ao pegar – Desse jeito eu me apaixono.
- Será? – perguntei sorrindo, ao me levantar e sentar na cadeira ao seu lado.
Levou as flores ao nariz e cheirou, fechando os olhos. Olhou com atenção o buquê e encontrou o cartãozinho no meio das flores. Deixou o ramalhete no colo enquanto leu a mensagem e a emoção, sobressaiu dos seus olhos em forma de lágrima.
- Mas é claro que eu aceito o desafio de te amar! – falou segurando em meu rosto e me beijou a boca com carinho e calma – Eu amo você, Alice Stromps.
- Eu amo você, também, Laura. Minha Laura – a abracei forte e ouvimos batidas na porta.
- Deve ser o Tom. Temos outra reunião agora.
- Tudo bem! Estarei na minha sala e à tarde, tenho outras empresas para ir. A gente se fala por mensagem.
- Vou sentir saudade! – falou me segurando a mão – Quando vai largar todas as outras empresas e ser só daqui?
- Calma, senhorita possessiva – sorri e revirei os olhos – Cada coisa no tempo certo.
- Quero você só pra mim! – me beijou rapidamente – É pedir demais?
mas eu, você tem.
As batidas na porta se repetiram e sorrimos entre o beijo, sem vontade nos ausentar.
- Não esquece de mim, hein?! – me dirigi à porta e ela me sorriu com expressão apaixonada, olhando as flores.
Abri a porta e o Tom entrou, nos olhando com um sorriso no canto da boca. Balancei as sobrancelhas, sorri em resposta e me ausentei. Dona Chica, abriu um sorrisão ao me ver.
- Lice, quero te contar as novidades – falou com entusiasmo – Acho que estou apaixonada.
- Uau! – a abracei gargalhando – Então parece que os cupidos estão fazendo um ótimo trabalho por esses dias.
- O seu cupido já trabalhou a muito tempo atrás – gargalhou – Agora é a vez do meu!
- E quem é o felizardo que está causando toda essa empolgação?
- Promete que não vai contar pra ninguém, ainda? – falou baixinho.
- Prometo! – beijei os dedos cruzados em forma de jura.
- Sabe o sr Pedro? Motorista da Laura?
- Não acredito! – falei alto e coloquei a mão na boca, contendo o riso e a fala alta – Como foi isso?
- Shhiiuu!! – me deu um tapa no ombro – Ainda é segredo!
- Ok! Não vou contar pra ninguém, mas quero saber como aconteceu isso? Aliás, faz dias que não o vejo por aqui. Você já sequestrou o homem pra sua casa?
- Não! – sorriu timidamente – Sua boba! Ele está fazendo um trabalho extra pra Laura, por isso não está de motorista dela.
- Trabalho extra? – franzi o cenho – Que tipo de trabalho extra?
- Ah! Eu não sei. Ele fala que é sigilo. Só sei que não está de motorista porque está tomando conta de uma pessoa num hotel. Alguém muito importante e que precisa de atenção. Mas não sei mais nada disso.
- Entendi – arqueei a sobrancelha, ao receber a informação.
- Vai querer saber onde tudo começou, ou não? – perguntou sem paciência.
- Lógico! Conta tudo – sentei-me ao seu lado, na cadeira da outra recepcionista que não estava no momento – Só resume, pois tenho compromisso.
- Tá bom! – gargalhou e se pôs a falar – O dia que você estava internada lá na santa casa, ele me levou, a pedido da Laura. Daí, depois daquilo, nos olhávamos na entrada e na saída, até que ele pediu meu telefone e começamos a conversar.
- Então eu sou a cupida, é isso? – sorri ao perguntar.
- Mais ou menos né?! – gargalhou - Uma cupida quase morta, mas foi você a causadora de eu e ele ficarmos perto.
- Que honra! – estufei o peito com orgulho – Nunca fui cupida de ninguém.
- É porque tinha que ser a minha – sorriu gentilmente – Então, daí – o elevador apitou no andar e abriram-se as portas. Dona Chica parou de falar e ficou séria, exercendo seu trabalho de forma profissional. A admirei por isso, sentindo um imenso orgulho da mulher que praticamente me criou. O brilho nos olhos com o qual ela desempenha sua função, é encantador. A euforia, sempre presente em seus atos, agora, se mostra em quantidade aumentada ao contar de seu affair com o motorista. Tudo o que desejo é que seja muito feliz. Após receber três senhores, com expressões sisudas e os alocar para a sala da Laura, ela voltou a conversar, com a mesma empolgação inicial – Onde parei?
- Falou que eu tinha que ser a sua cupida – sorri – Mas antes, me diz quem são esses homens?
- São uns empresários nariz empinado que não querem mais serem parceiros da Laura. Pelo que entendi, das fofocas de corredor – fez uma careta engraçada – Eles desfizeram os tratos porque descobriram que ela é lésbica.
- O quê? – senti a fúria tomar meu ser – Isso a Laura não me contou! Ela falou que era sobre o Joseph, e não por ser lésbica.
- Nem sei quem é esse Joseph, mas o assunto do corredor foi sobre ser lésbica – deu de ombros – Parece que o povo rico não gosta muito dessas coisas.
- Problema de quem não gosta! Se Laura quer respeito, terá que aprender a impor – levantei-me, enfurecida, sentindo o coração pulsar no ouvido e me dirigi à porta. Dona Chica colocou-se à minha frente.
- O que pensa que está fazendo, Alice? – falou brava – Está louca?
- Vou tentar reverter isso. A Laura está toda preocupada com essa rescisão – falei também, brava.
- E acha que vai entrar lá, e fazer o quê? Componha-se – me empurrou para a cadeira novamente – Senta aí ou vá para a sua sala.
- A Laura não se impôs, é o quê? Tem vergonha de ser lésbica?
- Alice! Me ouça. Está parecendo aquela menina que eu brigava quando era criança. Pode parar! Ocupe o seu espaço de hoje, seja mulher adulta – falava muito séria – O que eu te falei, é o que ouvi pelos corredores. Não participei da reunião. Você participou?
- Não! Nem sabia dessas coisas.
- Então para de ser louca. O que sei são fofocas. Se é verdade ou não, não cabe a mim averiguar. Já que você está com a Laura, depois, com calma, você pergunta.
- Está certa – suspirei fundo – Estava agindo no impulso.
- Como sempre, Alice! Bem que eu falava pra sua mãe que tinha que tratar dessa sua impulsividade.
- Desculpa! Atrapalhei sua história. Continua o que estava contando.
- Ah, deixa pra lá! Hoje ele vai sair a tarde com a Laura e depois vai me pegar pra jantar, isso que importa.
- Vai sair pra onde com a Laura? – franzi o cenho, expressando curiosidade.
- Alice, eu estou saindo com ele porque estamos apaixonados, não sou a assessora deles que tenho que saber tudo o que vão fazer.
- Nossa! Que bicho te picou, de repente? Eu hein.
- Você. Só podia ser você. Eu estava contando numa boa, até te dar um ataque de maluquice e querer invadir uma reunião.
- Já pedi desculpas, poxa! E só queria saber pra onde vão.
- Se eu descobrir te falo. Mas eles trabalham juntos, é normal saírem. Vai ser a ciumenta do rolê?
- Não é por ciúmes – meneei a cabeça – Deixa pra lá. Vou voltar pra minha sala que hoje ainda tenho muita coisa pra resolver em outras empresas também.
A beijei carinhosamente e fui para minha sala. Os pensamentos cruzados com as recentes informações me martelavam a cabeça.
Que assunto é esse de que os acionistas desfizeram a sociedade por questões homofóbicas? Por que a Laura me disse que isso era por causa do Joseph querer destruí-la? Qual a ligação dos acionistas com o Joseph? E esse trabalho extra que ela dispensou o motorista que a vida toda vi com ela, para lhe fazer um trabalho extra? Que tipo de trabalho extra é esse? O que isso tudo tem a ver com o Joseph? Laura está me escondendo algumas coisas e eu quero saber o porquê. Se eu sou tudo o que ela diz para mim que sou, ela não irá se opor a contar o que quero saber. São muitas pontas soltas, sem a devida explicação. Ontem, me falou que Joseph quer destruí-la e está acertado com a Bia, que está a vigiando, mas tem muita coisa que não faz sentido. Como um quebra-cabeças com peças faltando, o desenho não se completa.
Terminei meus afazeres na Veigas e ao me dirigir ao estacionamento, encontrei Laura e sr Pedro saindo juntos. Se eu queria saber o que estava acontecendo, a oportunidade surgiu bem na minha frente. Nenhum dos dois me viram, então, sabendo que meus horários são flexivos e um dia ou algumas horinhas atrasadas para prestar consultoria não influenciarão no meu orçamento, resolvi os seguir. Dei um espaço para o carro ir na frente e mantive a distância, de forma segura e discreta. Pouco mais de quarenta minutos após pegar a rodovia sentido interior, chegamos em uma cidade aparentemente pequena. Continuei os seguindo de forma discreta. Pararam em frente a um hotel, provavelmente, o único na cidade. Desceram e lá permaneceram por mais de uma hora. Aguardei sentada na moto, à distância e com o coração disparado, pelos 60 ou mais minutos que se passaram arrastados. O que não esperava, era que, após eles saírem e eu esperar o tempo de segurança para voltar os seguir, quem entrou no mesmo hotel que outrora saíram, foi a Bia. Meu coração não aguenta tanta emoção e suspense. Não sabia se seguia Laura ou ficava pra esperar Bia e tentar encontrar mais uma peça desse quebra-cabeças. Olhei em volta, tentando encontrar mais alguma pessoa conhecida ou suspeita, não vi nada. Aguardei um pouco mais, e tudo se manteve da mesma forma, resolvi então ir atrás da Laura. Tive que esticar um pouco a manopla do acelerador até conseguir avistar o potente Volvo na rodovia, sentido capital. A viagem acabou, de volta ao complexo Veigas e eu, então, segui para meus afazeres, com ainda mais curiosidade do que se trata tudo isso. Laura e Bia, no mesmo local. Laura e sr Pedro em um trabalho extra. O dia se arrastou num misto de tentativa me concentrar para desempenhar meu trabalho e querer entender o que está acontecendo.
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Laura
Adoraria que o universo paralelo que vivo com a Alice fosse o real. A euforia deliciosa de estar com ela e por tudo que vivemos, assim que cheguei em frente a minha casa, acabou. Ao parar o carro na entrada do portão e aguardar que o processo do motor automático da abertura fosse concluído, tive que ver Bia e Gil correndo pelas ruas. Ver o Gil me deixou feliz, mas vê-lo ao lado da minha atual algoz, não me causou satisfação. Antes que eu pudesse acelerar e entrar sem ser vista, apressaram os passos em minha direção. Gil, abriu o sorrisão e acenou, pedindo que esperasse. Bia o acompanhou. Abaixei o vidro e sentindo a mão suar, segurando o volante com muita força, contemplei a distância entre nós se diminuir.
- Bom dia meu amor! – cumprimentou Gil – Fugiu de mim hoje né?!
Bia ficou parada ao seu lado, sem nada dizer, apenas ouvindo a conversa.
- Bom dia Gil – respondi com um sorriso amarelo – Esqueci da nossa aula, desculpa.
- Tudo bem. O porteiro me falou que você não dormiu em casa, então aproveitei a viagem e fui judiar da Bia – sorriu e olhou para ela que sorriu sem vontade.
- Sim. Tive uns compromissos a resolver, mas vamos remarcar esse horário.
- Mal posso esperar para saber o nome desse compromisso – me piscou Gil, sorrindo – Pra amanhã posso vir?
- Pergunte para outra aluna – direcionei o olhar à Bia - que ela sabe o nome e o sobrenome do meu compromisso – sorri irônica e sarcasticamente e Bia, me encarou, cruzando os braços à frente do seu corpo – Agora tenho que cumprir meus compromissos fora de casa, já que não tenho mais privacidade. Pra essa semana, as aulas estão suspensas, Gil – voltei a olhar para ele - Eu te ligo quando for retomar.
Gil olhava pra ela e para mim, sem entender nada. Eu, particularmente, continha minha vontade de sair com o carro e passar em cima daquele um metro e meio de pessoa.
- Ok cherry – respondeu Gil, com os olhos arregalados – Aguardo você me chamar.
- Combinado, Gil! Desculpa a pressa, estou atrasada para o trabalho.
- Vai lá, gata! Depois a gente se fala – me mandou um beijo com as pontas dos dedos e entrei em casa, desejando pela primeira vez, não mais morar aqui.
Meu porteiro gentilmente me entregou um jornal, desejando-me bom dia cordialmente. Entrei em casa, apressada em me arrumar e abri o jornal, com uma carta lacrada, colada nas folhas. Com o coração acelerando, rasguei o envelope e li as poucas linhas:
"Nossa amiga já se encontra em condições de conversar. Te pego hoje, às 11:30 na Veigas. Tenha cuidado"
Olhei o relógio, marcando 8h e me apressei ainda mais. O dia já estava cheio o suficiente, com reuniões importantes para ministrar, e agora mais essa intercorrência: ir ao encontro da mãe do Joseph para saber de onde vem todo esse ódio ao meu respeito.
Me vesti da forma mais rápida que já consegui, só dei uma amassada no cabelo com creme e, com a mesma pressa que saí, logo cheguei na empresa. Tom já me aguardava, expressando empolgação.
- Bom dia senhorita Veigas. Temos um longo dia pela frente, mas, inicialmente, temos uma reunião emergencial com três senhores de uma companhia chinesa que quer comprar a NetCell.
- Oi Tom. Nem precisa de reunião pra isso. Só me dê os papéis que assino. O tanto de dinheiro que vou perder hoje, não me deixa opções para negociar vendas.
- Laura, olha pra mim – pediu Tom ao entrar no elevador – Não é assim que você age. Respira fundo e não faz coisa errada. A NetCell, só nesse final de semana, lucrou 4 milhões em venda de ações.
- Como isso? – perguntei espantada – Não é possível.
- Pergunte isso à consultora que colocou à frente da empresa. Nunca vi nada igual.
- Claro! Alice Stromps – sorri ao falar seu nome e senti meu ombro relaxar – Só podia ser – continuei a sorrir e suspirei – Alice!
Tom me olhou com olhos de surpresa. Sorriu e deu de ombros. Dona Chica nos recebeu alegremente no saguão do meu andar e me informou que a Melissa teve um probleminha e não viria, por isso, Duda, a secretária lésbica e pegadora do 3º prédio a substituiria. Só consenti, sem muita energia pra gastar com o assunto. Não gosto da Duda por já ter tido problemas com ela com algumas outras funcionárias, mas nada tão extremo que chegasse ser preciso demiti-la. É novinha e está cheia de vontade mostrar ao mundo que sabe encantar uma mulher, e sabe muito bem, com seus lindos olhos azuis e expressão aparentemente inocente. Desde que não chegue perto da minha Alice, ela poderá continuar a trabalhar a vida toda aqui.
Tom me acompanhou até a sala e aguardamos a chegada dos interessados em comprar a empresa em questão. Assim que dona Chica informou que chegaram, recebi do concierge principal, um belíssimo ramalhete de lírios rosa. Tão lindo. Parecia ter sido colhida cada flor com o maior de todos os critérios. Lembrei da dona dos olhos mais lindos que já vi, e também, detentora dos meus sentimentos e agradeci a todos os santos e orixás e a Deus por ter a colocado em meu caminho. Ela consegue fazer até os momentos mais tensos, se tornarem leves como uma pluma. Só a lembrança do seu sorriso e o aroma de seu perfume, já me deixa leve e com humor gostoso. Com as flores nos braços, recebi os chineses que estranharam tal postura. Me desculpei e disse ter sido surpreendida logo pela manhã, e eles, milagrosamente, sorriram. O mais velho, Sr Whang, ainda arriscou um provérbio chinês:
- Um pouco de perfume sempre fica nas mãos de quem oferece flores, senhorita. Valorize quem o fez.
- Obrigada pelo conselho, senhor.
A reunião começou com eles ofertando um valor baixíssimo pela compra da empresa, recém lançada para ascensão no mercado. Eu, preocupada com o rombo no orçamento que teria na próxima reunião, estava quase aceitando a oferta quando o Tom me sugeriu chamar Alice para participar da negociação, já que ela, é a pessoa que está a frente da empresa. Por isso, devo tanto à perspicácia de Tom, em estar desde sempre ao meu lado. Aceitei a sugestão e, desde que pedi para que a chamassem, até a entrada dela em minha sala, não ouvi mais nada do que disseram. O coração acelerado tomou conta de todo raciocínio possível de se ter. Quando ela entrou, então, a respiração ofegante me causou até uma leve tontura. Belíssima em um dos seus conjuntos de calça e colete, com camisa social e sapato oxford. Essa mulher tem feitiço no olhar, magia no andar e poder ao falar. Ela é a mais linda visão que meus olhos já contemplaram. De uma forma inexplicável, só conseguia lembrar da calcinha minúscula que vestia na noite anterior e do jeito que me fode com gosto e me ama sem interesse. À medida que ia negociando com os chineses, minha mente ia cada vez mais longe, lembrando de cada momento que passamos juntas, do quanto ela é enigmática, demonstrando tanta inteligência e sagacidade no desempenho de sua função, mas entre quatro paredes, é uma leoa incontrolável, sedenta de mais e mais tesão e prazer. Uma explosão de luxúria, com pegada forte e um beijo arrebatador. Se naquele momento, ela tivesse negociado vender a empresa por cinquenta centavos, eu não iria me importar, tampouco, perceberia. No entanto, o que ela fez, foi uma jogada de grandes mestres financeiros. Elevou o valor de mercado da empresa no triplo do que estavam oferecendo e ainda, deu um prazo para isso. Pronto! Não bastava tudo que já estava sentindo, ainda ela propõe um jogo financeiro, com inteligência e audácia, o suficiente pra fazer minha intimidade reagir de forma inédita e desejei tê-la ali mesmo, sem pudor, sem consciência alguma dos meus atos. Por milésimos de segundos, não efetivei tal desejo. Ela, como sempre, sabe me por em suas mãos e fazer o que quer de mim. Ofereceu-me as flores, outrora enviadas, da forma mais romântica possível e ainda me enviou um bilhetinho, escrito à mão:
"Oi minha Amora.
Aceita o desafio de me amar? Não tenho nada a lhe oferecer em troca, tampouco grandezas e riquezas, mas tenho o meu amor, imensurável, para ser todo seu.
Com carinho, sua Amora"
Quem em pleno 2021, ainda escreve um bilhete à mão e entrega um ramalhete de flores frescas, ajoelhada em sua frente? Impossível não aceitar esse desafio delicioso de amar e ser amada. Alice me transborda! Me transborda literalmente, pois, meus olhos, incontrolavelmente demostraram isso. Ela é a melhor coisa que já me aconteceu na vida. Encontrá-la e me permitir viver esse encontro, está sendo a transformação que a vida me pedia. É ela, a pessoa que me faz ser melhor, que me tira a vontade de beber todos os dias até não ter mais consciência. Ela é a pessoa que eu queria que meu pai conhecesse e me falasse pra ir sem medo. É ela, que com seu jeito único, cativou Didi e tio Jorge. Ela é a minha luz e meu Sol. Meu norte e meu sul. Seu abraço é o melhor lugar do mundo. Ao beijá-la, meu ser todinho se alegra e sinto nossas almas se abraçarem. Não posso mensurar até onde sou capaz de chegar pra tê-la sempre ao meu lado.
Com muita dificuldade, o dia teve que seguir seu curso e uma outra reunião, a da rescisão de contratos, por eu ser lésbica, começou e tomada por uma emoção, junto com racionalidade, ainda não presenciada em meu ser, comecei minha fala:
- Senhores, agradeço a presença e a possibilidade de negócios que tivemos ao longo desses anos todos., no entanto, hoje, em especial, quero agradecer por terem se retirando da minha companhia – sorri ironicamente ao ver os olhos se arregalarem - Sem que eu tivesse movido um dedo, vocês demonstraram o pior lado que teem. O preconceito contra o amor.
- Senhorita, não é isso – interrompeu o sr Virgílio.
- Um minuto, senhor – o interrompi, mantendo o sorriso – Eu fiquei órfã aos 10 anos de idade. Fui adotada pela minha tia de sangue, irmã do meu pai. Minha família toda, sempre foi e sempre será negra, e temos orgulho disso. Vivi todas as faces do preconceito estrutural que temos no nosso país. Desde em ser deixada como última na fila da merenda, até desfazerem um contrato com minha empresa, por eu ser negra. Não bastasse eu ser negra, algo que não posso nem quero mudar, à medida que me tornei moça e mulher, percebi que minha orientação sexual, é lésbica. Sim! Eu me sinto atraída e amo mulheres, tal como os senhores, presumo. Isso, não me faz ser menos profissional do que qualquer outra pessoa. Minha orientação sexual, não muda meu caráter, minha personalidade, menos ainda, meu profissionalismo e capacidade. Me sinto aliviada por os senhores terem a iniciativa de se retirarem do meu grupo de acionistas. O Complexo Veigas, se sente honrado em não ter em seu núcleo, pessoas com tal baixeza em suas raízes.
- Senhorita - interrompeu mais uma vez o sr Virgílio.
- Não acabei senhor! Um minuto! Hoje, irei pagar com orgulho, os – olhei o papel em minha frente com o valor a ser pago e contei a quantidade de zeros representados – cinquenta e nove milhões, trezentos e quarenta mil, duzentos e trinta reais e quarenta centavos, com a mesma felicidade que paguei meu primeiro aluguel, do primeiro escritório que aluguei, ao lado do Tom – acenei para Tom que me ouvia com os olhos arregalados e pálido – para começar meu negócio. Os senhores não fazem ideia do quanto estou feliz e aliviada em falar isso.
-Senhorita Veigas – começou a falar o sr Virgílio – Gostaria que reconsiderasse o meu pedido, para continuar em sua companhia. Meus colegas, de fato já se aliaram ao sr Gordon, mas eu, optei por pagar a eles a diferença da nossa sociedade e permanecer como acionista das suas empresas.
- Interessante proposta senhor. Agradeço a gentileza nas palavras. Se puder, continue aqui após o término do acerto das contas e conversaremos a respeito.
- Sim senhorita, obrigada.
Continuamos a reunião e após os acertos monetários serem efetuados, os senhores Boaventura e Penhoir se ausentaram, ficando só o sr Virgílio ainda na sala.
- Então, senhor, pode me explicar a repentina mudança de opinião?
- Não é tão repentina assim, senhorita – começou a falar, e apoiou-se sobre os cotovelos na mesa – Eu tentei esconder a minha vida toda, que sou gay. Tenho um relacionamento estável com meu companheiro, há mais de vinte anos. Logo que me casei, com minha falecida esposa, percebi que o que eu gostava era de homens. Tive filhos e estes, cresceram com a presença do meu companheiro, junto com a mãe deles e a mim. Nossa família é diferente. Após o falecimento dela, meus filhos me encorajaram a assumir quem sou, mas, até então não tive coragem. A senhorita sabe muito bem como é esse mundo dos negócios, na qual vivemos. Na semana passada, quando tive a atitude de vir me retirar como acionista da suas empresas, meus filhos e meu companheiro ficaram perplexos. Tivemos uma reunião de família com tons pesadíssimos, onde fui obrigado a ouvir muita verdade dos meus filhos que tanto me amam, e amam ao Cláudio na mesma intensidade. Eu seria, no mínimo, hipócrita se continuasse com essa ideia de te punir profissionalmente, por ser lésbica.
- Senhor Virgílio – falei boquiaberta – Isso é o que eu chamo de revelação bombástica.
- Sim, senhorita! E te digo mais, se está disposta a se apresentar ao mundo, como é, tem todo o meu apoio. Conte comigo e com a minha rede de acionistas e empresas ao seu favor. Já passamos da época de nos impor com o que somos, sem amarras e medo.
- Fico emocionada com tal atitude, senhor. Se é assim, seja duplamente bem vindo.
- Obrigada, senhorita! O seu jeito de tratar é muito diferente do senhor Joseph. Tentei alertar meus colegas que não farão uma boa escolha, mas eles não me ouviram.
- Fez a sua parte, senhor Virgílio – sorri gentilmente – Logo saberão quem é Joseph Gordon.
- Já o sabem, senhorita. Ele propôs alguns esquemas ilícitos, que muito me assustou. Mais um motivo que não faria negócios com ele.
- Pode me dizer que esquemas foram esses? – perguntei, ansiosa por saber.
- Algo com investir um valor e a outra quantidade, repassar diretamente para umas contas que ele indicaria. Quando nos passou os nomes e enviei para meu jurídico pesquisar, são nomes de políticos e pessoas da polícia Federal. Alguns outros anônimos, residentes na Europa. Não achei legal isso.
- O senhor estaria disposto a passar isso para a polícia, senhor?
- Sim, com certeza! Tenho 65 anos de idade e desde os 20 tralho honestamente. Construí toda a minha vida, de forma íntegra, pagando devidamente todos meus impostos e tudo, de forma limpa. Não seria agora, que me sujaria pela bagatela de vinte e dois milhões.
- Excelente, senhor Virgílio – levantei e o cumprimentei – Seja muito bem vindo. Vamos juntos, atrás desse Joseph – sorri e pisquei e ele retribuiu – Tom, você pode por favor, o orientar nos atuais investimentos? Estamos lançando a linha de franquias e temos uma empresa, que só nesse final de semana, lucrou 4 milhões. Acredito que o senhor se interessará por uma delas. Eu terei que me ausentar para ir visitar uma – tentei encontrar uma palavra para como chamar a mãe de Joseph – tia que está acamada no interior, mas o Tom, te ajudará no melhor investimento.
- Obrigado, senhorita Veigas.
Ao sair do prédio, encontrei sr Pedro me aguardando, como sempre, elegante, ao lado da porta traseira. Tive vontade o abraçar pela saudade de vê-lo. Tantos anos trabalhando juntos todos os dias, e nessas semanas, sua ausência se fez presente. Tão logo tomamos o caminho para o interior. Entre muitas conversas e assuntos sendo colocados em dia, me surpreendeu quando, após um breve silêncio, falou:
- Senhorita Laura, tenho sua permissão para namorar uma de suas funcionárias?
- Minha permissão? – franzi o cenho ao perguntar – Não tenho nenhuma filha, sr Pedro.
- Filha eu sei que não tem – sorriu e me olhou pelo retrovisor – Mas como somos seus funcionários, acho por bem pedir sua permissão.
- Primeiro me diga quem é a sortuda que vai tirar a sorte grande em ser sua namorada.
- A senhorita, provavelmente a conhece bem – me olhou pelo retrovisor mais uma vez sorrindo – É a dona Chica.
- O quê? – sorri alegremente com a notícia – Não posso acreditar!!
- Sim, senhorita. Desde o dia que me pediu para levá-la ao hospital Santa casa e em seguida foi também, se lembra?
- Mas é claro que sim. Fomos visitar a Alice e eu nem sabia que elas eram tão próximas.
- Que mundo pequeno. Estamos envolvidos e hoje, a lavarei para jantar e pretendo a pedir em namoro.
- Nossa sr Pedro. Estou imensamente feliz com essa notícia. Dona Chica é uma querida. Um anjo alegre que surgiu em nossas vidas. Ela já te contou que é amiga da Didi?
- Sim, contou. São amigas de longa data.
- Quantas coisas acontecendo em nossas vidas. Fico feliz de verdade e desejo que sejam felizes. Ambos estão em ótimas mãos.
- Obrigado senhorita – sorriu, orgulhoso.
- Escolha o melhor lugar para a levar. É por minha conta – sorri para ele no retrovisor – Presente de namoro antecipado.
- Que isso, senhorita Laura. Já recebo o suficiente para arcar com algumas regalias.
- Não estou falando do que recebe e quais regalias pode ter, sr Pedro. É um presente, de coração. O senhor tem cuidado de mim a vida inteira. O mínimo que posso fazer é oferecer um agrado. Melhor, não vai em lugar nenhum daqui. Vou ligar já para o Tom, reservar o helicóptero e vá pra Búzios com ela. Acredito que dona Chica nunca teve isso.
- Ela terá um treco, senhorita – gargalhou.
- Tem nada! Ela aguenta e merece.
- Podemos sim ir, se ela tiver folga amanhã – sorriu – Mas pensamos nisso depois. Chegamos.
Adentramos ao hotel, simples, em uma cidade pequena. A recepcionista já conhecendo ele, permitiu que fomos ao quarto sem solicitar nenhum documento. O quarto, na parte de baixo, com uma área fechada formando um pequeno quintal com jardim, equipado com o básico necessário, tudo bem simples, mas organizado. Na poltrona, assistindo tv, uma senhora ruiva, com alguns cabelos brancos, magérrima, com expressão sofrida, nos olhou assustada, assim que entramos.
- Pedrinho, que bom que veio – falou ao ver o sr Pedro e estendeu as mãos em sua direção – Senti sua falta.
- Oi minha querida. Como está? – a cumprimentou com um beijo no rosto e um abraço apertado – Hoje trouxe uma grande amiga.
- Oi, dona Neusa – a cumprimentei apertando a mão – Prazer, sou a Laura.
Ela só apertou minha mão e olhou para Pedro, com os olhos arregalados.
- Pedro, você não fez isso comigo – balançava a cabeça em negação – Não posso acreditar que também me traiu.
- Eu não vou te fazer mal algum, Neuzinha – puxou uma cadeira e sentou-se ao seu lado, segurando em suas mãos – Pode ficar tranquila. A Laura é uma grande amiga, como sempre te disse. Ela só está aqui para ajudar.
- Mas Pedro, ela... – seus olhos se encheram de lágrimas – Não posso Pedro.
- Pode sim, querida. Você é forte! E nenhum mal te acontecerá. Te dou minha palavra.
Eu ouvia a conversa dos dois, carregada de mistério e dor na fala daquela pobre senhora, sem entender muito bem o que me aguardava.
- Senhor Pedro? Posso? – pedi para me sentar ao lado dela também. Ele acenou em positivo e puxei uma cadeira ao seu lado – Dona Neusa, eu não estou aqui para te fazer mal – ela me olhava assustada e suas mãos tremiam – Só queria conversar com a senhora.
- Eu não tenho nada a dizer, menina. Nada! Fui vítima de tudo e não tenho mais condições de falar nada.
- Eu não faço ideia do que a senhora está dizendo e só posso te garantir, que não sou do mal. Só preciso de algumas explicações.
- Não tenho como te explicar nada. É melhor ir embora.
- Dona Neusa, pedi para o senhor Pedro a encontrar e tirar da clínica que estava. Ele tem cuidado bem da senhora, pelo que posso ver e isso é para sua segurança e proteção. Só preciso saber, se a senhora sabe o motivo do Joseph, seu filho, me querer tão mal.
Tive a impressão de ter falado o nome do próprio diabo, pois ao ouvir o nome de Joseph, seus olhos se arregalaram e ela travou. Não mais falava, nem esboçava qualquer reação. Senhor Pedro saiu rapidamente do quarto e voltou, com uma enfermeira que aferiu sua pressão que estava altíssima e os sinais vitais falhos. Seus olhos não mexiam, só respirava. Outro enfermeiro entrou no quarto e colocaram uma medicação endovenosa para baixar a pressão e sair do estado de pânico que se encontrara. Me senti culpada por aquilo. Jamais imaginei que só o nome de uma pessoa, pudesse causar tanto mal a alguém. Pedi desculpas pelo ocorrido e o senhor Pedro tentou me acalmar, dizendo que isso era comum.
- Fica tranquila moça – falou a enfermeira – A dona Neusa é vítima de stress pós traumático. São várias as falas que causam isso nela. Esses dias, vendo tv, ela teve um surto desses. Três dias depois ela voltou, como se não tivesse vividos os dias. Imagine, só de assistir a uma novela antiga. Sabe, aquela novela que tinha uma delegada bonitona, que a filha da Gretchen, que agora é homem, fez? Coloquei aqui pra gente assistir e pronto, a coitada ficou assim.
- Mas ainda não entenderam o que despertou isso nela? – perguntei assustada – Não é comum.
- O psiquiatra vem aqui duas vezes na semana, junto com o psicólogo. Eles tentam de tudo pra conseguir traçar uma linha de raciocínio sobre os assuntos que a deixam assim, mas ainda não tem nada concreto. O nome do filho, é o principal.
- Sim, foi o que eu falei. Joseph. Foi a partir disso que ela ficou assim – a olhava na cama, com os olhos parados, completamente fora de si, penalizada – Que judiação.
- Acredito que por hoje, não vão conseguir conversar mais com ela – falou o outro enfermeiro – Quando ela melhorar, avisaremos novamente ao senhor. Por hoje, fiquem à vontade para ficarem aqui, mas não tem nada que podemos fazer. Só esperar a mente dela parar de colapsar e controlar os sinais vitais.
- Senhor Pedro, ela está devidamente assistida aqui? Não seria melhor leva-la para São Paulo, em algum lugar com mais recursos? – perguntei preocupada.
- Seria o ideal, Laura – falou, também preocupado – Mas estando na terra do Gordon, seria mais difícil conseguir escondê-la dele. Aqui pelo menos, estamos distantes e o pessoal, é de inteira confiança.
- Nem que fosse para outro estado. Não meço esforços nem custos para isso, senhor. Faça o que for preciso para que ela esteja no melhor lugar e em segurança.
- Estou organizando melhorias nisso, Laura – falou e a tocou nas mãos – Neusinha, estamos aqui com você – sussurrou em seu ouvido – Você está segura e entre amigos.
- Vocês são em quantos? – perguntei para a enfermeira.
- Somos uma equipe de 8 enfermeiros, mais o psiquiatra, psicólogo e uma médica clínico geral. Revezamos os turnos. O senhor Pedro tem nos pagado muito bem para que não seja preciso trabalhar em nenhum outro local.
- Ótimo. Por favor, o mantenha informado – peguei uma quantia extra na bolsa e a entreguei discretamente nas mãos, enquanto o sr Pedro falava baixinho no ouvido da dona Neusa – Isso aqui é para eventualidades, e esse é o meu cartão. Qualquer novidade, me liga urgente.
- Pode deixar. Ela vai ficar bem.
Nos despedimos de todos e voltamos para a capital. Diferente da ida, que tinha sido com notícias boas e promissoras, a volta foi em total silêncio e com sensação de ter perdido uma batalha.
- Senhor Pedro, ainda vai querer ir pra Búzios? – perguntei sem muito entusiasmo – Preciso pedir ao Tom que organize tudo.
- Estou pensando sobre isso, Laura – deu de ombros – Infelizmente não tenho muito o que fazer para resolver essa situação. Vez ou outra, a Neusa fica assim, em surto. Minha vida não pode parar junto com a dela, mesmo ela sendo uma amiga querida que a amo muito. Eu e a Chica, precisamos continuar nossa vida, ela não tem culpa disso.
- Entendi. Então vou pedir para o Tom. Prefere Búzios ou a Serra Gaúcha?
- Pode ser Búzios mesmo, Laura. É mais perto e lindíssimo. Certamente a Chica vai gostar – falou, sem muito entusiasmo.
- Tenho certeza que sim, sr Pedro – tentei o animar – E sobre a Neusa, ela ficará bem.
Enquanto a viagem corria, mandei mensagem ao Tom:
"Por favor, deixe tudo o que está fazendo para depois. Organize a viagem e estadia do sr Pedro e d. Chica para Búzios. Solicite que a equipe da cozinha esteja a postos para recebê-los com um jantar de boas vindas e tudo o que quiserem. Tratamento de luxo. Dispense a d. Chica, com folga até quinta e mande um motorista a levar para casa (Já). Na segunda gaveta da minha mesa, tem um cartão roxo – 1032 a senha. Dê a ela antes de ir embora. O combinado de horários, envie ao sr. Pedro. Já já eu chego."
Após enviar ao Tom, enviei diretamente à D. Chica:
"Oi querida. Laurinha aqui, como gosta de me chamar. Fiquei sabendo que tem um jantar hoje. Aceite meu presente! O Tom vai te entregar um cartão com senha, se arrume onde quiser. Compre o que for preciso para estar à altura do seu encontro. Te vejo só na sexta, pois quinta é minha folga. Boa sorte. Divirta-se. Um beijo"
- Prontinho, sr Pedro – falei sorrindo – Está tudo organizado. Assim que tiver o horário, Tom te informará. Só quero que se divirta, ok?
- Obrigado, Laura – respondeu gentilmente – Qualquer novidade da Neusa eu te informo.
- Não tem nada disso. Está de licença para pedido de namoro. Após sua volta, daí sim, se atualizará dos fatos – o falei sorrindo – Vá se divertir, fiel escudeiro.
- Irei sim – sorriu e me olhou pelo retrovisor – E a senhorita, enquanto isso, já decidiu onde vai morar?
- Acredito que o mais sensato é ir para algum condomínio ou hotel.
- Tanto um, quanto outro, são ótimas opções. Independente disso, não abra mão da segurança e comunique ao sr Carlos.
- Sim. Preciso falar com ele mesmo.
Chegamos de volta à empresa e ao chegar em minha sala, dona Chica já não estava mais. Liguei para Didi e contei as novidades, que ela, já sabia e só ficou mais feliz em saber a minha parte da surpresa. Tentei falar com a Alice, mas não me atendeu e a saudade gritou. Sempre tive tudo e todos sob meu controle, mas Alice não consigo ter. Não sei onde está, o que faz, qual empresa está assessorando. Nada! Só me disse que estaria trabalhando, mas não tenho ideia de onde seja e isso me causa ansiedade.
Por um momento, me peguei refletindo sobre minha ação hoje, na reunião e nem nos meus sonhos mais perturbados, imaginei um dia, assumir perante alguns acionistas, que sou lésbica. Só tenho uma explicação para isso: estou amando!
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Bia
Por alguma providência divina, se ainda tenho algum crédito com ela, encontrei com Laura antes de passar o relatório do final de semana para Joseph. Que ela estava com Alice, já suspeitava. No domingo, infelizmente perdi a hora que ela saiu da casa, por puro descuido e então, não a vi mais. Tentei contato com a Alice para tentar pegar alguma informação, em vão.
Já era esperado que me ignoraria. Ainda não sei porque me importo com isso. Joseph, viajou no final de semana para França, e é melhor nem pensar muito no que foi fazer por lá. Agora ele está se achando o invencível por ter conquistado três importantes acionistas da Laura, só com a foto que tirei delas. Me deu até um bônus por isso: deixou eu conversar com minha irmã por mais de meia hora, sem ninguém por perto.
Por Deus, tudo o que eu mais queria, era conseguir um jeito de acabar com ele. Só assim, terei a chance de chegar mais uma vez perto da minha pequena, que agora já é mocinha e eu sinto tanto, tanto, tanto a sua falta, que mal posso expressar.
O pessoal que vigia meus pais, me informou que tem visto minha mãe ir muito ao médico, e eu ainda não consegui liberação para ir visitá-la. A saudade me corrói a alma.
Encontrar a Laura pela manhã e saber que ela já sabe que fui eu a invasora de sua privacidade, me deu um certo receio. Se por isso, ela resolver se mudar daqui, estarei regredindo e ainda com menos possibilidades de ter uma vida minimamente humana. Aproveitei que estava de volta ao meu campo de visão, e sem vontade alguma, a segui e fiquei no lugar de sempre: no hotel próximo à sua empresa, só esperando ela sair e ir para onde quer que seja.
No entanto, hoje, foi diferente. Estava com sorte!!!
Após vê-la chegar, lindíssima e elegantérrima, Alice chegou com um belíssimo ramalhete de flores. O sorriso dela, estava possível de ser contemplado a quilômetros de distância. Ela é tão linda! E, estar acompanhando todo esse envolvimento das duas, apesar de dolorido, está sendo fofo.
Sim, uma parte de mim ainda pulsa como pessoa. Não sou, ainda, o monstro que tentaram me fazer. Eu acredito no amor, apesar de nunca o ter sentido. Acredito que as pessoas são capazes de serem felizes, apesar de nunca, ter sido. O que sinto pela Alice, é o mais próximo que já pude vivenciar de coisa boa. Não consigo imaginar ela sendo prejudicada, ou, eu a prejudicar. Se está feliz com a Laura, quero que continue. Elas merecem.
Laura não me fez mal algum. Mal sabe quem sou, e , pelo jeito que me olha com raiva, deve imaginar que sou tudo de pior que existe no mundo. Coitada, mal sabe ela que sou apenas uma garota, sem muitas opções, presa na mão de um psicopata que quer destruí-la a qualquer custo. Não me sinto nada bem por isso. No entanto, como todos trabalham, eu também trabalho. E hoje, meu dia de trabalho foi produtivo.
Após esperar a manhã toda, por algum acontecimento para poder passar ao Joseph e te um pouco da minha dívida, abatida, Laura saiu de carro com seu motorista que há tempos não vejo. Rapidamente peguei um táxi que passava e pedi que acompanhasse o imponente carro. Chegamos numa cidadezinha, próximo da cidade dos meus pais, e por uns minutos, me senti em casa, recordando da vida que tive antes dos dezesseis anos. Aguardei do lado oposto que a Laura ficou, em um lugar onde foi possível acompanhar a movimentação do hotel.
Assim que a Laura saiu, não perdi tempo. Logo entrei no local, e usando da cara de pau que fui obrigada a desenvolver ao longo dos anos, comecei a trabalhar:
- Boa tarde – olhei para o crachá da recepcionista – Larissa. Tudo bem?
- Olá. Boa tarde. Em que posso te ajudar? – me respondeu, gentilmente.
- Olha, poderia me ajudar em muitas coisas, no entanto, hoje estou com pressa – sorri a olhando nos lábios – Minha prima acabou de sair daqui com meu tio, a Laura e Pedro, sabe?
- Sim, eles foram ver a tia Neusa.
- Isso mesmo, a tia Neusa – meu coração disparou com o que ouvi – Mas a Laura já foi embora pois estava apressada e me pediu para deixar um recado com a tia Neusa.
- Ah, como é seu nome? – perguntou-me.
- Cris. Desculpa, nem me apresentei. Sou a Cris – estendi a mão em cumprimento – Prazer.
- A tia Neuza não se sentiu bem e voltou a dormir. Teria como falar com a enfermeira?
- Pode ser, Larissa! Sem problemas. Só me fala onde é o quarto, pois ainda não vim aqui – sorri gentilmente – Eu falo com a enfermeira.
- É o primeiro da direita, só ir lá direto.
- Obrigada – pisquei e sorri e ela retribuiu.
Não posso acreditar que a Laura, praticamente sequestrou a mãe de Joseph da clínica e está com ela nesse lugar. Ou seja, ela está muito mais adiantada do que imaginei. Bati na porta e uma gentil enfermeira me abriu a porta. Me apresentei como Cris, prima da Laura e ela me deixou entrar. Na cama, dormindo, a pobre dona Neusa, não muito diferente de como a via na clínica.
- Tadinha né?! – falei para a enfermeira ao olhá-la na cama – Ela ainda está inconsciente?
- Hoje sim né, depois da conversa com sua prima. Foi só falar o nome do filho e pronto, ficou mal de novo.
- É complicado, tadinha. Mas logo ela fica bem. Vai ficar medicada quanto tempo?
- O doutor já está vindo para examinar, mas acho que até o final da semana já vai estar bem. Tem algum recado da Laura pra mim?
- Ah, sim! Olha só, quase que me esqueço do que vim fazer aqui – sorri gentilmente – Ela pediu para te entregar o cartão para que você ligue pra ela, quando a tia Neusa estiver acordada.
- Mas ela me deu, esse aqui – me mostrou o cartão de visitas que Laura deixou em suas mãos.
- Esse está desatualizado! Ela se confundiu, por isso me pediu pra voltar aqui – entreguei a ela um cartão com meu telefone – É esse número aqui que você liga. Fala direto comigo, Cris. Daí eu passo o recado pra ela.
- E o sr Pedro? Não aviso mais também?
- Pode falar tudo pra mim, que eu passo o recado pra eles. Sabe como é esse povo rico – sorri e dei de ombros – Sou a garota dos recados.
- Ah tudo bem, Cris – olhou o cartão e me sorriu – Pode deixar. Vou passar o recado para a equipe e deixo aqui seu cartão.
- Combinado! Posso dar um beijo nela? – apontei a Neusa -Lembro dela de quando era pequena.
- Pode sim, claro! – me sorriu a gentil enfermeira – É bom ela receber carinho.
Fui em sua direção e a beijei na testa e acariciei sua mão.
- Oi tia Neusa – cochichei em seu ouvido – Sou a Bia! Estarei por perto para o que for preciso. Descansa.
Me despedi da enfermeira e me retirei do local para não ficar tempo suficiente em me comprometer. Voltei para São Paulo aliviada por ter notícias a dar ao Gordon, que, certamente, não ficará feliz em saber que sua amada mãezinha não está mais sob seus cuidados.
Fim do capítulo
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