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Amoras por Klarowsky

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Palavras: 8566
Acessos: 997   |  Postado em: 01/04/2022

Família

Alice

Domingo amanheceu típico de final de verão. Um calor terrível, com o céu trazendo algumas nuvens anunciando que a qualquer momento se derramariam. Da mesma forma que o céu, estava meu coração. Ardente por saber que veria Laura, no entanto, com algumas nuvens por derramar-se. A saudade misturada ao orgulho ferido, formam uma atmosfera dúbia e misteriosa. Por Deus, como sinto a falta daquela mulher que me domina os pensamentos. Desde sexta não nos falamos. Provavelmente tem alguém tão orgulhosa quanto eu, do lado de lá.

Antes de me arrumar liguei para minha mãe, a fim de confirmar o almoço e qual horário teria que passar para Laura. Dona Fátima já estava ligada no 220, fazendo um milhão de coisas. Me informou que chamou minha tia Cláudia, irmã mais nova dela pra ir também e que talvez dona Chica também aparecesse por lá. Me pediu pra levar as bebidas e passar comprar carnes para fazer churrasco. Como quase fui cozinheira, esses almoços de domingo, minha mãe acaba deixando algumas tarefas exclusivas para mim, como, escolher as carnes e comandar a churrasqueira, já que meu pai acha que carnes são o próprio carvão. Me apressei então em ir logo, para não ficar tudo para última hora. Ao sair de casa, enviei mensagem para a Laura:

Alice: Bom dia, sumida! 😊 Vou te mandar a localização da casa de D.Fátima. Te aguardo lá, 12h. Estou indo já, para ajudar a organizar as coisas. Bjo

Rapidamente recebi a resposta:

Laura: Bom dia! Bom saber que está viva. Quer que leve alguma coisa? Estarei lá, 11:30..estou ansiosa em te ver. Bjo

Alice: rsrs como quiser. Será bem vinda a qualquer hora. Não precisa levar nada, além de você. Bjo

Passei no mercado e peguei tudo o que precisava. Cheguei na casa da mãe quase 11h, devido ao trânsito carregado. Ela, toda contente veio me receber no portão como de costume.

- Lice, meu amor! Que saudade de você, filha - me abraçou forte ainda na calçada - O que tem pra pegar?

- O pai não está aí pra ajudar? - perguntei, incomodada com só ela ajudar.

- Está sim, mas sabe como é seu pai. Deixa ele em paz, está lendo a mensagem do dia, que o pastor enviou.

- Tomare que não seja uma mensagem sobre amar a família - revirei os olhos e falei em tom ácido.

- Alice!!! Venha, vamos arrumar as coisas.

Entramos e fomos direto para a área externa. Estava tudo muito limpo e organizado, só à espera dos convidados e do feitio da alimentação.

- A Beatrice não vem? - perguntei da minha irmã enquanto colocava as coisas em cima da mesa.

- Convidei, mas ela disse que ia ficar na casa hoje. Está indisposta.

- Entendi. Queria vê-la. Trouxe um presente para o bebê.

- Que lindo, filha! Deixa aqui que entrego pra ela.

Comecei a organizar as coisas para o churrasco e minha mãe foi atender meu pai, que a chamava incontrolavelmente.

Desde que fui morar sozinha, é assim que acontece quando venho almoçar em algum domingo aqui. Ou minha mãe chama parentes e amigos e temos um dia um pouco mais sociável, ou meus irmãos aparecem e deixam a atmosfera pesada, sem entrosamento. Meu pai, aparece só na hora de comer e no máximo, troca umas palavrinhas sem muita vontade. Cumprimentar quando chego? Jamais. Parece que é demais pra ele, ter que aturar a minha presença. Minha mãe, acaba tentando fazer a política da boa vizinhança com todos. Atende um e outro, com o mesmo carinho.

Acendi a churrasqueira e coloquei as bebidas para gelar. Apesar de meus pais não consumirem bebida alcóolica, me permitam trazer quando fazíamos almoços assim, e, churrasco sem uma cervejinha, não tem a menor graça. Coloquei a primeira remessa de carnes para assar e apertaram a campainha. Meu coração acelerou-se com a possibilidade de ser a Laura e senti a garganta secar. Gritei à minha mãe se queria que eu atendesse e ela respondeu que já estava abrindo a porta. A ansiedade me tomou. Não sabia se ia até lá para ver quem era ou se ficava onde estava. Sentei pra parecer estar descontraída, e achei muito boba. Levantei, e voltei pra churrasqueira, me achei muito desatenta. O coração acelerado e as pernas bambas, não me deixam pensar com clareza. A possibilidade de Laura estar na casa dos meus pais, me deixava afoita. Como seria a reação deles? As outras garotas que trouxe aqui, não tive a melhor experiência. Meu pai é muito bruto nas palavras e pode assustá-la. Minha mãe é muito meiga e pode cativá-la demais. Eu, estou nessa de querer, mas não querer demonstrar. Quando fico nervosa, me torno desastrada e, nessa de não saber o que fazer, derrubei um copo no chão, quando ia colocar uma cerveja para tomar. Peguei a vassoura para limpar a bagunça que causei e ouvi as vozes se aproximarem. Meu coração se disparou ainda mais, fazendo meu rosto corar. Comecei a varrer os cacos do chão, quando surge minha mãe , junto com dona Chica conversando baixinho.

- Oi meu amor! - falou dona Chica, toda sorridente - O que está aprontando aí?

- Oi dona Chica - respondi sorrindo e um certo alívio tomou conta do meu coração - Derrubei um copo e quebrei - sorri fazendo uma careta.

- Ficou nervosa? - perguntou em tom irônico.

- Olha aqui, vocês duas - falei sério para as duas, parando de varrer - Quando a Laura chegar, não quero gracinhas, ouviram?

Elas riram alto.

- Não sou de fazer gracinhas, Lice - falou dona Chica piscando - Pra mim, vocês duas já estão mais do que resolvidas.

- Fica tranquila, filha! Vou me comportar - falou minha mãe, segurando o riso - Sei que está toda caidinha pela lindona.

- Mas não é pra ficarem falando essas coisas. A Laura é tímida e séria. A intenção é ela ter um dia legal, e não inconveniente - reforcei o pedido, franzindo o cenho.

- Sim senhorita! - responderam as duas em conjunto, em tom irônico e se colocaram a sorrir.

- Vou lá no banheiro de cima, lavar a mão e limpar essa roupa - apontei para minha camiseta, suja de cerveja - Ninguém mexe na carne, ouviram bem?

- Sim, sim!! - continuaram a sorrir.

Subi para meu antigo quarto, suíte que fica na parte lateral da casa. Olhei tudo intacto como deixara a tantos anos atrás. O carinho e apego dos pais, é uma coisa surreal. Mesmo meu pai, com todo esse jeito turrão, sei que me ama. Sou apenas uma versão diferente do que ele idealizou da filha, mas o amor não se tornou escasso. Abri as portas do guarda roupas, agora ocupado por cobertas e travesseiros, mas ainda com alguns pôsteres dos Backstreet Boys e Sandy & Júnior colados quando, na adolescência era fã deles. Na escrivaninha, ainda empilhados e enfileirados livros que lia, dos romances obrigatórios na escola: Helena, Senhora, Dom Casmurro. Folheei alguns e encontrei na antecapa rabiscos de iniciais do meu nome com iniciais de nome de alguma coleguinha, paixão platônica do momento. Abri as gavetas e encontrei um certificado do primeiro boton recebido no acampamento de escoteiros, quando entrei para o grupo de lobinhos e me achava a super sobrevivente na selva, cumprindo desafios em meio a um jardim. Resquícios de uma época que por vezes, teimamos esquecer, mas para os pais, continua viva como o dia de ontem. Casa dos pais às vezes parece um túnel do tempo. Somos sugados para uma nostalgia que nos preenche a alma e passamos a entender um pouco de como funciona a mente e o coração de quem nos deu a luz. Me perdi um pouco no tempo, vendo essas lembranças e só então, fui até o banheiro me limpar da cerveja derrubada na camiseta. Saí do quarto e vi a porta do quarto dos meus pais aberta, coloquei a cabeça para dentro, espiando e vi meu pai, fazendo a leitura da Bíblia, deitado na cama.

- Oi pai - sorri, sem graça por incomodá-lo.

- Oi, filha. Está bem? - falou, levantando os olhos e me olhando.

- Sim. Vim limpar a blusa, aqui no meu quarto - apontei o sentido do quarto - Não quis te incomodar.

- Magine - me chamou com as mãos - Vem dar um beijo.

Fui até ele e o beijei o rosto.

- Mãe quis fazer churrasco, quando estiver pronto te chamo.

- Está bem. Vou ficar aqui fazendo a leitura da mensagem do dia.

- E qual é a mensagem para hoje? - perguntei curiosa.

- Hoje é o primeiro milagre de Jesus. A transformação da água em vinho.

- Interessante! Linda mensagem. Amo Jesus - sorri e me dirigi à porta - Boa leitura, pai.

Ele me olhou com o cenho franzido, sem entender nada do que dissera. Na cabeça dele, por eu ser lésbica, eu deixei de amar a Deus e a Jesus. Acredita que esqueci tudo o que aprendi sobre o amor não fazem mais parte da minha vivência e que, meus relacionamentos se resumem à promiscuidade e safadagem, sem envolvimento e amor.

Desci as escadas refletindo sobre essas coisas, passei na cozinha e peguei um copo de água e fui em direção à área externa, falando alto antes de sair na porta:

- Dona Chica, ainda não me contou como foi na fazenda depois que.. - ao passar da porta e por os pés no quintal seis olhos me olhavam animados. Dois verdes, da minha mãe, dois amendoados, da dona Chica e, dois pretos, feito amoras maduras, da minha linda menina e mulher dos olhos de amoras. O contraste com os olhos pretos e o sorriso branco, se materializou e meu coração se descompassou. Engoli em seco, ao sentir a respiração falhar e contemplá-la em um vestido curto, de tecido fino, vermelho e cabelos soltos, armados como seu lindo sorriso - Laura? Que horas chegou que não vi?

Ela me olhava profundo, dos pés à cabeça, sorrindo o sorriso mais lindo que já presenciei.

- Acabei de chegar.

Fui em sua direção e a cumprimentei com um beijo no rosto. Seu cheiro me dominou as entranhas. Minha vontade era lhe beijar a boca e todo o resto. Sua mão segurou a minha com força e maciez.

- Tudo bem? - me perguntou sorrindo.

- Tudo sim. Melhor agora - retribuí o sorriso, com respiração ofegante - E você?

- Tudo bem também - não desviava o olhar do meu e o sorriso na face.

- Fique à vontade! Fui escalada para ser a cozinheira do dia - sorri timidamente - Mas a dona Fátima é excelente anfitriã, além de ter a dona Chica que você já conhece bem.

- Sim. Estou em boas mãos. Fica tranquila. Tenho certeza que o almoço será uma delícia.

Seu olhar para a minha boca, seguida de um sorriso malicioso, me levou de volta ao nosso final de semana na ilha, onde cozinhei e em seguida, nos amamos como quem não esperava o dia de amanhã.

Me dirigi à churrasqueira, ver como estava a situação do que estava preparando. As três conversavam à minhas costas e riam, de alguma coisa que não me inteirei em saber do que era. Meus pensamentos estavam todos voltados à lembrança da ilha, e minha face corada me entregava por estar sentindo sensações inebriantes na intimidade. Laura me revira não só a cabeça, mas todos os sentidos possíveis.

Me virei para pegar outra porção de carne, e nossos olhares se encontraram. Laura disfarçou, baixando os olhos e continuou a conversar com minha mãe. Mantive o olhar nela, que mais uma vez retribuiu, rapidamente e discretamente, sorriu pelo canto dos lábios e colocou uma mexa dos cabelos atrás da orelha, graciosamente. Sorri e meneei a cabeça, sentindo minhas costas arrepiar-se. A saudade de senti-la, começara a me dominar de forma incontrolável. Suspirei com o que sentira.

Tirei uma leva de carnes no ponto, cortei e as servi. Laura, ao pegar um pedaço, me olhou profundo e como em câmera lenta, vi seu sorriso brotar nos lábios, exibindo os dentes perfeitamente enfileirados lado a lado, brancos como neve, contornados por lábios volumosos, pintados em um batom vermelho. Subi o olhar para seus olhos, que piscaram lentamente.

- Aliceee? - ouvi minha mãe ao fundo da minha visão - Ow, menina! Também quero carne.

Sorri sem graça e a servi.

- Pegue carne, dona Fátima - a olhei franzindo o cenho - Que fome é essa?

- Parece que esqueceu da vida! Eu hein - falou dona Chica, gargalhando.

A campainha tocou e minha mãe foi atender, ainda comendo.

Voltei ao meu posto, sorrindo feito boba pelo sorriso inebriante da mulher que me enfeitiça. Ela e dona Chica conversavam envolvidas. Ouvi a voz da minha tia Cláudia que chegara, avisando a vizinhança inteira que estava presente. Diferente da minha mãe, Cláudia é escandalosa, espaçosa, expansiva. Trouxe sua filha, minha prima, Mayza, jovem de 31 anos, no auge da carreira de fotógrafa, sapatão raíz, igualmente expansiva como a mãe. Morena clara, cabelos pretos lisos, repicados, olhos verdes escuros como o fundo das garrafas antigas de guaraná, sorriso largo e espontâneo. Mayza era minha prima mais chegada, até começar pegar todas as meninas que eu me apaixonava. Desde então, por ranço, me distanciei mas sempre gostei muito dela. Chegaram conversando e se mostrando felizes por estarem presentes. Meus olhos começaram a fumegar quando Mayza cumprimentou Laura, tocando-lhe a cintura e beijando o rosto com um beijo estralado e forte. Veio em minha direção de braços e sorriso aberto.

- Prima!! Quanto tempo!! Saudade de você - me abraçou forte e pegou um pedaço de carne em seguida - Hum - falou baixo enquanto mastigava e lambia a ponta dos dedos - Aquela morena ali, tá com você?

- Não. É uma amiga - respondi sem pensar direito.

Enquanto preparava outra remessa de carne, ouvi Mayza falar perto do freezer:

- Você, moça nova e linda. Aceita uma cerveja?

Laura olhou e sorriu para ela.

- Sim, aceito.

Deixei a carne na grelha, peguei um copo tulipa e fui em direção da mesa para deixar o copo a fim de Laura tomar a cerveja, no entanto, Mayza chegou primeiro e entregou a lata para Laura que abriu e brindou com ela.

Engoli em seco e voltei guardar o copo no escorredor, respirando fundo de raiva. Tirei outra remessa de carne e fui servir a todas na mesa. Minha tia me olhando encantada começou sua sessão de tortura com as palavras:

- Alice, está lindíssima hein!

- Obrigada, tia - respondi timidamente.

- Está namorando?

- Não, tia! Não estou namorando - senti o rosto queimar e olhei para Laura que sorria - Vai querer carne?

- Quero sim, mas olha, tenho certeza que não é por falta de opção, porque ô mulher gostosa que você virou hein.

- Tia! - a repeli sentindo o rosto queimar e todos os demais riam.

- Que é? Tô falando a verdade! Não é Mayza? Você que entende dessas coisas, a Lice não é gostosa?

- É sim, mas não faz meu tipo. Somos concorrentes - falou Mayza gargalhando.

- Vocês duas chegaram causando! Fala sério - sorri, com vergonha.

- Deixa de timidez, até eu se não gostasse tanto de piru, pegava você. Ia ser sua mamy sugar - gargalhou ao tomar um gole da cerveja.

Dona Chica, que poderia muito bem ficar quietinha, endossou a conversa.

- Eu já falei pra ela Claudia, que se gostasse da coisa, ia casar com ela.

- Meninas!! Parem! - pedi me corando de vergonha. Laura gargalhava com o que falavam.

- Mas não adianta Claudia, Alice é mulher romântica. Toda apaixonada. Nós não teríamos vez - falou Chica, ainda em gargalhadas.

- Huuuummmm - minha tia cerrou os olhos em minha direção - Romântica? Adoro!! Quem é a dona desse coração? Conta pra tia!?

- Não vou contar nada - sorri dando de ombros - Vou apenas entupir a boca de vocês pra comerem sem parar e não falarem mais.

- Conta pra nós, Alice - pediu Laura, sorrindo - Quem é a dona do seu coração?

A olhei com os olhos semi cerrados e meneei a cabeça, segurando o riso.

- Vocês todas estão fazendo bullyng comigo! Vou parar de servir e cortar a cerveja.

- Pode falar pra nós, filha - entrou na brincadeira, minha mãe - Ficaremos todas felizes em saber.

- Está saindo uma remessa de picanha - falei sorrindo - Vou comer tudo sozinha.

- Pô, prima, daí é sacanagem - interferiu Mayza , se levantando e vindo até onde cortava a carne - Deixem o coração da Alice em paz e vamos focar na picanha.

Todas continuaram a conversar e sorrir. Mayza, pegou um prato e colocou algumas porções da picanha e levou diretamente para Laura. Mais uma vez, senti o sangue ferver. Não era possível que ainda agora, na vida adulta, tentaria roubar mais uma de mim. Só que, com a Laura, ela que não ousasse em mexer. Observei-a conversar com minha mãe, tão carinhosa e atenciosa. Meu coração se preencheu de carinho e emoção.

Separei uma porção de carnes para meu pai e servi a todos mais uma vez. Minha mãe foi levar o que separara ao meu pai e à distância vi Mayza chegar perto da Laura. Deixei a churrasqueira fazendo seu trabalho sozinha, abri uma cerveja nova e me dirigi até elas. Ouvi Mayza perguntar:

- Então, Laura, que tipo de música gosta?

Interferi antes que Laura respondesse, me sentando ao seu lado:

- Música que você não gosta, Mayza! - sorri com sarcasmo - Ela curte música clássica.

- E você que tem que responder? - falou com expressão séria minha prima, dirigindo o olhar a mim.

- Ouvi minha mãe te chamar lá em cima - sorri ironicamente - Ela deve estar precisando de você.

Laura nos olhava conversar, atentamente, com um breve sorriso nos lábios.

- Que saco, Alice! - falou brava, Mayza - Já volto aqui, Laura.

Ela sorriu e balançou a cabeça em afirmação, dirigindo o olhar a mim.

- Ciúme da prima? - me perguntou, mordendo o canto da boca - Ouvi dizer que, quem sente ciúme é porque sente alguma coisa a mais.

- Ouviu dizer? - franzi o cenho e perguntei ironicamente - Eu nunca ouvi tão afirmação.

Sorrimos, olhando para a boca, uma da outra.

- Está satisfeita? Quer mais alguma coisa? - perguntei, apontando a churrasqueira.

- Depende - respondeu com olhar lascivo - Bem sugestivas essas perguntas - sorriu com expressão sapeca.

- Laura - a olhei profundo - Entendeu o que perguntei - e sorri.

- Quanto ao churrasco, estou satisfeita e não desejo mais nada, obrigada - tomou um gole da cerveja que segurava nas mãos, sob as pernas cruzadas - Agora, o que quero, não sei se adianta dizer - me olhou nos lábios e sorriu.

- Vocês duas aí - falou direcionando a nós, minha mãe - Venham aqui!

Nos levantamos e fomos ao seu encontro.

- Vamos lá em cima, que vou mostrar a caixa de fotos da Alice menina - falou animada dona Fátima.

- Mãe! Jura que vai me fazer passar essa vergonha?

- Deixa de ser chata, Alice - falou brava, Laura - Eu quero ver, dona Fátima - colocou as mãos nos ombros da minha mãe que a abraçou e subiram para meu quarto.

Me senti sobrando no espaço, no entanto, muito feliz com o que presenciava. Laura é muito mais do que já imaginei um dia ter em minha vida. Ela preenche todos os espaços sem fazer esforço algum, domina a arte da conquista com maestria e desenvoltura.

Minha mãe pegou uma caixa de vime, de cima do guarda roupa e sentou-se na cama, junto com Laura que começou a pegar os álbuns e olhar atentamente as fotos. Estava encostada no beiral da porta, com os braços cruzados à frente do meu corpo e observava-as, como duas moças amigas, que se conhecem a muito tempo, conversarem em perfeita sintonia e entrosamento. Riam com os causos contados em cada foto.

- Veja Laura, aqui é a Alice na festinha da escola. Aqui é quando ela caiu da bicicleta e quebrou o braço. Olha, que saudade!! Aqui fomos viajar pra praia e ela se perdeu, abriu um berreiro que a encontramos rapidinho. Que linda, aqui é quando ela ganhou o carrinho que tanto queria, veja essa cara de sapeca.

Eu sorria de ver a empolgação da minha mãe e o sorriso encantando de Laura, que frequentemente, dirigia o olhar pra mim e baixava em seguida, olhando as fotos que minha mãe lhe mostrava.

- Fatinhaaaaa - gritou minha tia no pé da escada - Vem aqui que chegou visita.

- Já volto aqui, mas, se eu não voltar, fique à vontade - falou minha mãe e desceu rapidamente.

Ocupei seu lugar na cama e peguei algumas fotos da caixa. Entre tantas opções, encontrei uma em que estava sentada embaixo da amoreira no quintal, brincando com meus brinquedos preferidos, provavelmente com 4 ou 5 anos. Laura segurou a outra ponta da foto, tocando meus dedos embaixo do retrato e me olhou com um sorriso nos lábios.

- Isso aqui eu lembro! Posso pegar essa foto pra mim? É essa menina que mora aqui - apontou a fonte e pegou uma das minhas mãos, colocou em seu peito - e aqui.

O coração que já estava acelerado, quase saltou peito a fora. Nossos olhos se encontraram e em perfeita sintonia, desceram para os lábios. Nossas respirações pesadas, começaram a serem sentidas mais de perto. Como um imã que atrai o metal, nossas bocas atraíram-se uma a outra, tomadas em um beijo quente e macio. O toque dos seus lábios, a envolver os meus, me despertou toda fluidez que habita em minha intimidade e me senti encharcada como uma chuva de verão a me molhar. Suas mãos tocaram minha nuca, me forçando ainda mais ao seu beijo intenso. Soltei as fotos que estavam em minhas mãos e a envolvi a cintura, acariciando seu corpo moldado pelos anjos - Alice - ela sussurrava entre o beijo - Que saudade de você - nossos lábios se encontravam entre sugadas e mordidas - Saudade também, minha menina - sua língua me invadia a cavidade bucal com lascívia e entrega - Volta pra mim? Te Quero - mordeu meu lábio inferior, puxando pra si com uma leve ch*pada ao final - Não sei mais, viver sem você - a envolvi em um abraço forte, cheirando seu pescoço - Como consegue me dominar assim? - perguntei a acariciando as costas e subindo a mão em direção a nuca. Entrelacei os dedos em seus cabelos e levemente puxei sua cabeça para trás, lambendo seu pescoço com desejo e paixão - Você me toma todos os sentidos, Laura - ela me segurou na cintura e me abraçou, mordiscando toda a linha do meu rosto - Vamos embora? Quero você! - sorri com seu pedido - Dona Fátima não vai gostar nada disso - respondi a beijando os lábios mais uma vez - Eu amo ela, mas quero a filha dela - me mordeu os lábios e sorriu.

Levantei e a puxei pelas mãos em direção a janela.

- Ainda existe - apontei a amoreira no quintal - Nossa testemunha.

Ela me abraçou na cintura e debruçou-se na janela, arqueando o corpo para trás.

- Podemos refazer a cena, agora adultas? - perguntou sorrindo - Eu não tenho dúvidas de que é você que quero pra sempre.

- Podemos pensar sobre isso - roubei um beijo rápido - Você é implacável quando quer algo, não é?!

- Não queira saber o quanto! - roubou um beijo de mim e me abraçou, me cheirando os cabelos.

Ouvimos alguém subir a escada e nos chamar. Reconhecemos a voz da dona Chica. Rapidamente nos afastamos e Laura voltou a se sentar na cama, com as fotos no colo.

- Aqui estão vocês - falou ao nos ver - Vim me despedir, vou pra casa.

- Mas já? Está cedo - falei a abraçando.

- Tenho um compromisso mais tarde - levantou as sobrancelhas e colocou a mão na boca, escondendo um sorriso - Preciso me arrumar.

- Olha a dona Chica - brincou Laura - Com contatinhos.

- Quero saber de tudo hein - brinquei também.

- Ah! Estou viva né?! Tenho que aproveitar enquanto posso - sorriu e se despediu de nós.

- Quem chegou aí? Minha mãe desceu receber alguém.

- Era a vizinha que veio entregar alguma coisa. Já foi embora.

- Nós também já vamos descer e ir embora - falou Laura, acompanhando dona Chica - Né, ALice? - me olhou sorrindo.

- Vamos sim, só vou arrumar a bagunça e já vamos.

Descemos e fomos para área externa, enquanto minha mãe foi levar dona Chica até a porta. Comecei a organizar os pratos para lavar e Laura me empurrou com o corpo.

- Deixa que eu lavo e você seca e guarda - falou tomando as coisas da minha mão e encostou-se mais em meu corpo, me fazendo arrepiar todos os pelos.

- Laura - falei com expressão séria, tentando a impedir - Eu lavo, sente-se ali para conversar com minha mãe.

- Alice - me olhou com os olhos cerrados que conheço muito bem - Eu lavo e você seca e guarda. Fui clara?

Sua ordem, incisiva e direta, mesmo sendo de tarefas domésticas, foi entendida pela minha intimidade como algo malicioso, pois me excitei e desejei a amar ali mesmo, na mesa da área externa da casa dos meus pais. A olhei profundo e mordi a parte interna da boca.

- Sim, senhorita! Foi clara - respondi com um breve sorriso.

Minha tia, que nos observava de longe, sem que tivéssemos visto, veio em nossa direção.

- Vocês duas estão se pegando né? - perguntou assim, diretamente - Porque se não estão, deveriam.

- Tia - olhei assustada pra ela e franzi o cenho - Que indelicadeza.

Laura sorriu e se dirigiu à pia.

- Que foi Alice? Só falei uma coisa que está na cara. Vocês ficam lindas juntas e têm alguma coisa no olhar, que não tem como esconder.

- Cadê a Mayza? - perguntei, tentando desviar o assunto.

- Tá lá fora, conversando com a vizinha.

- Caramba! Não perde tempo hein.

- Pois é. Diferente de você - sorriu e apontou pra Laura, de costas para nós, lavando os pratos - Tá, não tá? - cochichou para mim e piscou, sorrindo.

Senti meu rosto corar e sorri, juntando o restante das louças.

- Gata - falou sem voz, só mexendo os lábios olhando pra Laura e fazendo expressão de admiração - Parabéns - bateu palmas sem barulho.

Sorri timidamente e franzi o cenho, pedindo para parar.

Laura não é o tipo de mulher dada a brincadeiras assim. É toda desenvolta quando estamos a sós, mas mantém a postura de mulherão quando está com mais pessoas.

Continuamos a organizar as coisas, e a tia Cláudia a conversar com Laura que lavava as louças.

- Venha mais vezes, Laura. Adorei te conhecer.

- Obrigada. Também amei conhecer vocês. É só a Alice me convidar, que venho sim, com o maior prazer.

- Aí, Alice - chamou minha atenção - É com você, agora.

- Ela virá sim, tia - falei timidamente, guardando os copos.

- Você trabalha em que, Laura?

- Sou empresária, tia Claudia - respondeu sorrindo Laura, secando as mãos pós acabar seu serviço.

- Que chique - falou tia Cláudia - Empresária, hein, Alice?

Laura ria de ver meu mal estar com as investidas de minha tia em nos juntar.

- Sim, tia! Trabalhamos juntas - sorri sem graça.

- Alice é a melhor consultora que já encontrei - falou Laura me olhando com um sorriso largo - Quero contratá-la mas, ela não quer.

- Contrata eu então - gargalhou tia Claudia - Eu aceito.

Sorrimos. Minha mãe juntou-se a nós mais uma vez.

- Chica falou que vocês já vão embora. Espera que vou pegar a sobremesa - pegou uma luva térmica e dirigiu-se à cozinha interna. Não demorou ela apareceu com uma forma, com vários suflês de goiabada, recém tirados do forno. Laura me olhou com os olhos brilhantes e me sorriu.

- Espero que você goste, Laura. É bem simples, mas gosto muito de fazer esse doce.

- Suflê de goiabada? - perguntou Laura, com os olhos marejados.

- Sim, minha querida. Você gosta?

Laura revirou os olhos e lambeu os lábios.

- Amo! É meu preferido.

- Que bom. Fiz com muito carinho - falou docilmente minha mãe e a serviu com alegria.

Laura experimentou o doce e parecia flutuar. Levantou-se, deu a volta na mesa e abraçou minha mãe.

- Obrigada! - beijou-lhe a testa - Obrigada! Obrigada!

- Que isso, magina! - falou minha mãe, timidamente - É só um doce.

Eu as observava em puro êxtase. Só se fosse muito idiota para perder a oportunidade de ter a mulher que sempre desejei, ainda tendo um envolvimento encantador com minha mãe e com dona Chica. As duas mulheres mais importantes da minha vida, agora, unidas a mulher mais maravilhosa que já tive chance de ter. Enquanto degustava a deliciosa sobremesa que minha mãe preparara com tanto carinho, e elas conversavam alegremente, refletia sobre a postura da Laura. Multimilionária, dona de um império, almoçando na humilde casa dos meus pais, sem luxo nenhum. Comeu e se comportou como todos os demais, pobres e simples, sem se mostrar melhor que ninguém. Conversou com minha tia, sem exibir o que tem, limitou-se a dizer que é empresária, sem se vangloriar. Fez festa, por uma sobremesa simples e barata. Onde entra, trata todos igualmente, até na empresa, tem uma postura imponente, mas trata a todos com respeito. É extremamente ligada à família, ou pelo menos ao que restou dela. Não mede esforços em ajudar quem precisa. Uma mulher diferenciada, sincera, com valores em extinção, levados muito a sério em sua conduta diária. Além de ser linda, gostosa, exuberante e totalmente dona dos meus sentimentos. Errou, e assumiu seu erro. Demonstra me querer bem e não esconde que me deseja. Se eu perder essa mulher, jamais me perdoarei, preciso tomar uma atitude e ..

- Alice, está bem? - senti minha mãe tocar minha mão - Filha?

- Oi, mãe - respondi sorrindo - Que foi?

- Assustou todas nós, parada olhando pro nada, com a colher na boca. Está bem?

- Sim - dei de ombros - Dei uma viajada aqui - sorri timidamente e olhei pra Laura que me olhava sorrindo.

- Laura e a tia Cláudia estão indo embora.

- Vou também, mãe. Eu e a Laura temos um assunto para resolver.

- Tudo bem, querida. Amei nosso almoço.

- Eu também, mãe. Foi muito especial! - levantei e a abracei.

Percebi Laura nos olhar com lágrimas nos olhos e um sorriso singelo nos lábios. Minha mãe saiu do meu abraço e foi até ela.

- Você me fez muito feliz, hoje, menina linda! - a abraçou forte. Afastou-se do abraço e me chamou, segurou nossas mãos e olhando em nossos olhos falou:

- Vocês sabem que têm uma ligação além da matéria, né?! Sempre tiveram. Não percam isso. É raro encontrar.

Sorrimos e a abraçamos, ambas emocionadas. Tia Claudia que assistia a tudo, não se conteve e entrou no abraço também.

- Todo mundo aqui, eu também quero!

Nos dirigimos até a porta, e nos despedimos. Mayza que conversava com a vizinha, atravessou a rua e veio despedir de todos também. Percebi minha tia e ela olhando espantadas para a o Volvo XC 40 preto, discreto, mas impossível de ser desapercebido, que Laura entrou. Tentei chamar a atenção delas para serem discretas, em vão. Mayza soltou logo um:

- Porr*! - boquiaberta - Além de linda é rica?

Minha tia, limitou-se ao famoso e incontrolável:

- Puta que pariu.

- Tiaaa - falei ao colocar o capacete - Mayzaaa. Disfarça pelo menos.

- Vou te mandar mensagem, prima - falou Mayza com os olhos arregalados.

Laura baixou o vidro do carro, sorriu e acenou a todos.

- Alice, me acompanha. Tenho que passar na Didi - falou, dirigindo o olhar a mim.

Acenei e baixei a viseira do capacete, e segui a acompanhando.

Laura

Amanheci o domingo querendo continuar a dormir. Meu sábado foi exaustivo à procura de um lugar que me interesse e pareça seguro. Vi desde hotéis a casas em condomínios. Gostei de várias opções, no entanto, ainda não sei qual escolher. O que me alegra nesse dia, é saber que verei Alice. A saudade que estou daquela marrenta, me judia o juízo. Talvez sua presença, deixasse essa escolha de um lugar mais tranquila e prazerosa, já que tudo que tem ela, é leve e bonito. Entendo essa ausência, mas está difícil suportar. Didi me ligou cedinho convidando para o samba que vai ter a tarde no terreiro, mas falei que tenho compromisso com a família da Alice. Em seguida, a mensagem da Alice me despertou todos os músculos da face, que se abriram em um sorrisão. É inacreditável o que apenas uma mensagem dela, me causa. O coração disparou, a mão suou e até os pássaros começaram a cantar diferente. Tão logo me coloquei a arrumar-me para ir ao seu encontro. Mal podia esperar para dar o horário e sair.

Quando fui chegando na rua da casa de sua mãe, a memória foi me visitando. Me lembrei de quando vim na sua casa e nos casamos embaixo do pé de amoras, um dia tão feliz. Parei em frente a casa e me lembrei de entrar, sentada de cavalinho no cangote do meu querido pai. Um aperto de saudade e falta que ele me faz, envolveu meu coração, mas me senti agradecida por ele ter me levado, ainda menina, ao encontro do meu amor. Foi um casamento de brincadeira, sem intenção alguma, mas hoje, percebo quanto significado teve. Agora, adulta, quando for me casar, não o terei para me levar ao altar, nem sua presença para me sorrir ao dizer sim. No entanto, há 30 anos atrás, entrei aqui, nessa humilde casa, para me encontrar com a mulher da minha vida, carregada pelo meu pai, com minha mãe ao lado e num encontro mágico, ele não só conheceu Alice, como brincou com ela, abençoando nossa união. Me lembro do seu sorriso ao nos ver embaixo da amoreira, e se fecho os olhos, consigo sentir o cheiro do seu perfume usado aos domingos, com a loção pós barba. Tomada por tanto sentimentalismo, desci do carro e bati palmas. Dona Fátima, atendeu com um belíssimo sorriso, o mesmo que me lembrava do primeiro dia que a vi. Recebeu-me com um abraço gostoso, forte e macio. A casa, agora parecia menor para mim. Fomos direto para uma área externa. Uma edícula, com cobertura em uma mesa comprida de madeira com 12 lugares, e uma completa área gourmet. Diferente do que me lembrava, estava moderna e com acabamento de muito bom gosto. Dona Chica, me recebeu também com alegria e nos sentamos à mesa, conversando. Olhei em volta, e não encontrei Alice, fiquei um pouco tímida. Sabia que estava aqui pois a moto estava estacionada à frente da casa. Senti vergonha de perguntar por ela, pra não parecer que estava desesperada por vê-la, o que não era mentira, mas seria chato demonstrar. Dona Fátima falava alguma coisa sobre o que estava preparando quando ouvi, vindo de dentro da casa, a voz de Alice, em tom alto e de brincadeira. Meu coração descompassou-se e senti borboletas no estômago baterem asas em alta velocidade. Virei-me e deparei com a mais linda mulher que já pude avistar. Seus olhos verdes, com um brilho encantador, encontraram-se com os meus. Vestida em uma bermuda jeans casual com um cropedd rosa, amarrado em nó acima do umbigo, brincos longos e cabelo levemente bagunçado, minha doce e encantadora Alice, chamou meu nome. O sol passou a brilhar diferente a partir daquele momento. Todos os meus sentidos despertaram-se. Passei a enxergar melhor, ouvir com mais clareza, tatear com mais sensibilidade, cheirar com intensidade e o sabor das coisas preencher a alma. Ela veio em minha direção e me beijou o rosto. O mundo parou, com certeza! O toque suave dos seus lábios na minha face, me arrepiou a nuca. Que vontade a beijar com todo meu ser e a abraçar, torná-la mais uma vez minha mulher. Nossos olhares se conversaram durante todo o almoço. Eu não conseguia desviar de olhar pra ela, enquanto preparava o churrasco, concentrada, com o cenho franzido. Aff Maria!! Que mulher linda que me revira todos os sentidos. Como dizem por aí: "Fico toda coisada". Dona Chica e dona Fátima falavam sem parar, e eu tentava dar a atenção que merecem, mas, Alice, me roubava todo raciocínio lógico. Do nada chegou mais uma pessoa para disputar a atenção, e percebi Alice incomodada com as investidas da sua prima Mayza, que de uma hora pra outra, resolveu me servir  com prioridades e puxar assuntos em busca de me conhecer. Alice olhava de onde estava e a cada vez, franzia mais a testa, com expressão seríssima, ficando mais e mais linda.

Quando veio em minha direção e despistou a prima, foi difícil conter a vontade de agarrá-la e pedir para ser minha por toda a vida. Logo sua mãe nos chamou e visitar seu passado, me encantou ainda mais. Sempre foi linda e alegre, espírito aventureiro e brilho no olhar desde pititica. Por sorte dona Fátima nos deixou sozinhas e eu já não me aguentava de vontade beijar sua boca deliciosa e sentir seu cheiro. Minha intimidade, úmida desde que a vi chegar, pulsava de desejo por ser tomada por essa mulher que me viciou em seu corpo e jeito de me amar. A beijei com todo meu ser, querendo ardentemente me entregar ao prazer de ser tua. Alice é o amor da minha vida. Quero dizer-lhe isso, mas tenho receio de assustar, então, procuro formas de dizer, sem dizer. A cada vez que a olho profundo, digo em silêncio "AMO VOCÊ" e torço para que ela entenda. Quero ela de volta na minha vida, preenchendo todos os espaços. A quero para sempre, enquanto houver vida em mim, é com ela que quero dividir meus dias e horas e todos os sonhos. Fui impedida de quase a pedir em casamento, com a aparição da dona Chica. Sorri em silêncio com meu ávido desespero em querer Alice só pra mim. Construí a cena na minha mente, do qual hilário seria pedi-la em casamento, sem ao menos tê-la pedido em namoro. Pior, sem ela sequer ter me falado que o tempo que pediu para não estar mais chateada comigo, acabou. Me senti uma menina afoita. Ela me deixa assim, completamente irracional. Estar ao seu lado, é tudo o que desejei a vida toda e não sabia onde encontrar. Agora que encontrei, não vou desperdiçar nenhum minuto. Optei por arrumar logo a cozinha, pois queria ardentemente ir para um lugar onde só tivesse nós duas. Sinto meu corpo queimar de desejos e receio, não estar conseguindo esconder isso no olhar. Dito e feito. A tia Cláudia percebeu. Envergonhei-me por isso, mas no fundo, achei ótimo Alice saber que mais pessoas percebem o quanto já somos inseparáveis. Só na cabeça dela, eu a trocaria por alguém, ainda mais, alguém como a Tati que já teve todas as chances de fazer diferença na minha vida e foi apenas mais do mesmo. Após lavar as louças, dona Fátima me aparece com o doce encantado, igual ao feito pela minha mãe. Pronto! Não basta a filha me preencher todos os espaços, ela também, consegue, ocupar um lugar mais que especial. Seu cuidado e carinho, me lembram muito da minha mãe. Tenho a impressão de visitar vidas passadas e encontrar conforto e alento, dentro dos seus braços já conhecidos por meu espírito e a saudade, parece diminuir. Essa é parte da minha família! É isso! É aqui que quero estar e, preciso, de alguma forma, demonstrar isso pra Alice. Nos despedimos para ir embora e ao entrar no carro, recebi mensagem da Didi:

Didi: Por favor, passa aqui! Não abandona sua Didi. Estou com saudade. Traga a Alice para conhecer o tio Jorge. Venham. Amamos vocês.

Como resistir a tanto amor? Só pedi para que Alice me acompanhasse e parti, para agora, apresentar minha outra metade, à minha parte inteira.

Pouco mais de 40 minutos depois, chegamos no terreiro da Didi, hoje, aberto para uma roda de samba como alguns domingos ela gosta de fazer. Chama amigos para a roda, faz uma feijoada daquelas regadas a muita caipirinha, cerveja gelada e samba sem fim. Estacionei o carro e Alice, parou a moto logo atrás. Desci rápido do carro e a aguardei descer da moto e arrumar o capacete, como sempre faz. O som do samba ecoava pela rua e eu, já contagiada pelo ritmo, arriscava uns passos enquanto aguardava minha linda.

- Onde vamos? - perguntou dando de ombros.

- Didi nos chamou pro samba e não teve como resistir - falei sorrindo e gingando com os ombros - Espero que você goste da minha outra metade.

Ela sorriu e falou:

- Já falou o compositor que, quem não gosta do samba, bom sujeito não é.. - interrompi, completando a frase - É ruim da cabeça ou doente do pé - sorrimos e continuei o gingado que contagiava.

- Eu só não sei dançar, mas amo o ritmo.

- Como não sabe dançar? Samba a gente sente, e se solta. É só se deixar levar - peguei sua mão e andamos para o portão.

Ao abri-lo, começou o batuque e a voz forte e afinada ecoou do meio da roda:

- Yansã, cadê Ogum?

E junto com o pessoal em volta, respondi cantarolando:

- Foi pro mar - olhei sorrindo para Alice, que olhava tudo com muita surpresa - Amo essa música!!!

Puxando Alice pela mão, nos aproximamos da roda que cantava em conjunto, a belíssima canção de Clara Nunes. Contagiada pelo ritmo envolvente, o gingado tomou conta e sai dançando para o meio da roda. Cantava e sorria, rodopiando na ponta dos pés, envolta no batuque dos tambores e atabaques, acompanhado pelos violões e bandolins. A música me envolve para além do que posso me conter. Fui criada no meio do samba e dos batuques de Didi. O ritmo bate forte no meu peito e, feliz como estou hoje, meu espírito samba junto.

Uma música puxou outra, que puxou outra e o samba não parava. Ora a cuíca chorava, outra o atabaque fazia sua graça e em outra, o choro misturava-se ao samba raíz. Entre gingado e rodopios, vi Alice conversando com Didi, sorrindo e a todo momento me olhava com encanto. Jamais imaginei participar um dia de um momento como esse. Sem exceções, todas as mulheres que já fiquei, quando propunha me acompanharem em uma roda de samba, se negavam, proferiam ofensas à religião da Didi e não me acompanhavam. Essa, era minha primeira vez em meio ao samba, acompanhada por alguém, me olhando com encanto e deslumbre. Dançando, cheguei perto delas, gingando e com olhar fixo na Alice que retribuiu com olhar carregado de desejo e sorriso nos lábios. Aproveitei do momento e dancei com mais vontade, exalando sedução e alegria. Começou um samba conhecido e vi Alice arregalar os olhos com alegria e começou a cantarolar.

- Canta, canta minha gente, que a vida vai melhorar.

Cheguei mais perto e a segurei nas mãos, propondo um samba de gafieira e nos divertimos. Eu sambava completamente entregue no ritmo, no miudinho, gingando em volta da Alice e cantando. Ela mexia o corpo graciosamente, do jeito que o ritmo a envolvia, gingando os ombros e cantarolava a canção. Uma sintonia deliciosa, ainda não vivenciada com ninguém. O mundo não parou, mas pausou para contemplar nossa alegria e entrega mútua. Quando pensei que ia acabar, começou outra que nos embalou ainda mais e juntas cantarolamos:

- Quem cultiva a semente do amor, segue em frente e não se apavora..

O ritmo seguiu nos envolvendo e dançamos separadas, juntas, rodopiando, sorrindo e abraçadas. Definitivamente o momento mais delicioso que já vivi com alguém, em meio a uma roda de samba. Em cada refrão que se repetia, Alice se soltava ainda mais, cantando e sorrindo. Não tinha só nós ali, mas é como se tivesse. Nada mais importava além do samba envolvente, eu e minha amada, nos divertindo e completamente entregues a esse momento delicioso. Envolvida no momento e já não conseguindo mais conter o desejo, dançando com a Alice colada em mim, nossas pernas se roçavam e eu rebol*va com a sua mão acima da minha cintura. Minhas mãos no seu ombro e nuca, nossos olhares entrelaçados a todo momento, os sorrisos largos deram lugar a um beijo apaixonado e ardente de desejos. Nosso corpo suado, parou de dançar e se envolveu em um abraço forte e saudoso. Ouvi ao longe palmas e gritos eufóricos e novamente o sorriso tomou conta de nossos lábios e continuamos a dançar. Abri os olhos e Alice estava corada de vergonha, mas me olhava ainda com encanto, mordendo os lábios inferiores, como que saboreando ainda o sabor do nosso beijo.

Ao final dessa música, peguei sua mão e saímos da roda, indo em direção de onde estava Didi e tio Jorge.

- Está gostando? - perguntei sorrindo

- Estou amando! Por que não me trouxe antes? - respondeu em êxtase - Esse seu lado você escondeu.

- Por medo de você não gostar.

- Pois seu medo, te enganou completamente. Eu amei.

- Olha elas aí - falou Didi me abraçando, com um lindo sorriso nos lábios - E aí, Alice? Gostou do nosso fervo?

- Eu amei Didi. Até perguntei pra Laura, por que não me trouxe antes - ela respondeu, abraçando a Didi.

- Se gostou, já é das nossas - falou tio Jorge, abrindo os braços e o sorriso - Venha aqui dar um abraço que estou curioso pra saber quem é a famosa Alice.

Observei a reação da Alice, que, sorrindo e o abraçou, como se, se conhecessem a vida toda.

- Essa simpatia toda, só pode ser o tio Jorge, estou certa? - perguntou ao sair do abraço.

- Mas é claro. Sou o próprio. Em carne, unha, beleza e simpatia.

- E eu, já fui esquecida? - perguntei olhando com os olhos semi cerrados e a mão na cintura.

- Jamais, maravilhosa do tio. Venha cá - e me puxou para um abraço forte e carinhoso - Vi você arrasando na roda. Sua alegria está contagiante.

- O senhor sabe que amo tudo isso - falei, e me afastei do seu abraço - Estava apreensiva da Alice não gostar, mas pelo visto, vai fazer carteirinha.

- Com certeza! - respondeu sorrindo e eu a abracei a cintura.

- Seja bem vinda, Alice - falou tio Jorge nos olhando com encanto - Alguns passarinhos andaram me contando, que você tem feito nossa menina feliz. Se a faz feliz, você é nossa querida também.

- Poxa - deu de ombros e corou-se - Me sinto honrada com tamanha hospitalidade. Obrigada. Mas quem me faz feliz, é ela. Eu só retribuo.

Não aguentei vê-la tão linda, falando assim de nós e a beijei carinhosamente na bochecha, segurando seu rosto.

- Ah! Vocês duas fazem minha diabete subir - falou Didi, gargalhando - Eu não aguento!

- Deixa de ser invejosa, mulher - falou tio Jorge - Está é doidinha pra ficar assim comigo, venha cá - e agarrou Didi, dando-lhe um beijo estralado na boca.

Gargalhamos com os dois, fazendo graça pra nós.

- Didi e tio, nós passamos rapidinho só pra ver vocês. Já temos que ir - falei.

- Ah! Que pena. A feijoada já está sendo esquentada para a janta.

- Leva pra mim amanhã, que eu como quando voltar do trabalho. Nós - apontei para Alice e eu - Precisamos resolver uns assuntos - falei com expressão séria e Alice me olhou com dúvida.

- Está bem. Vão resolver. Fiquei feliz por terem vindo - falou Didi nos abraçando - Axé!

- Axé, meninada linda do tio - falou tio Jorge também nos abraçando.

- Obrigada pela recepção - agradeceu a Alice.

Saímos ainda de mãos dadas, em direção à saída.

- Que assunto temos a resolver? - me perguntou, franzindo o cenho.

- Logo vai saber - respondi sorrindo - Vamos para minha casa ou para a sua?

- Estamos mais perto da minha. Pode ser? - propôs Alice.

- Sim, claro! Nos encontramos lá, então.

Alice se dirigiu à moto e eu fiquei parada a olhando.

- Que foi? - me perguntou franzindo o cenho e sorrindo.

- Não está esquecendo de nada? - perguntei, cruzando o braço à minha frente.

Ela deixou o capacete no banco e sorrindo, veio ao meu encontro. Me envolveu na cintura e como num passe de dança, deitou meu corpo, segurando minha nuca e me beijou a boca.

- Um beijo, na dançarina mais linda que já vi.

Sorri com seu gesto e empolgação.

- Agora podemos ir - arqueei a sobrancelha e me dirigi ao carro e juntas, saímos em direção ao ap da Alice.

--- X ---

Alice

Nem preciso explicar como fiquei com essa roda de samba, né?!

Primeiro que foi uma das surpresas mais maravilhosas, participar de um momento tão especial.

Segundo que fiquei em choque, com a Laura sambando. Essa mulher não é normal. Ela é um espetáculo! Um monumento! Exala sedução e sexualidade. Samba com perfeição. Seu corpo, esculpido no ébano, reluz sensualidade e alegria. Todos os olhos se voltam pra ela, como um feitiço difícil de ser controlado. Simplesmente maravilhosa. A cada passe que ela efetuava com precisão, era um orgasmo dançante que sentia. O decote do vestido, mostrava os seios balançando-se com graça e o vestido semi rodado, se levantava mostrando as coxas torneadas. Quando rebol*da, a bunda perfeitamente curvada, se mexia lindamente, mostrando todo seu potencial de encantar mulheres e homens. Isso, sem mencionar o sorriso largo e contagiante. O retrato mais fiel da perfeição.

E por terceiro, mas não menos importante, a recepção maravilhosa da Didi e do tio Jorge, me tratando como se fosse da família. Se eu tinha alguma dúvida de que Laura é a mulher da minha vida (e não tinha, nem nunca tive), isso foi aniquilado nesse momento.

Quero a Laura para mim, com urgência. O tempo que pedi, já foi suficiente para deixar pra trás, qualquer ressentimento. Eu também errei, quando mandei mensagem para a Bia, e não posso ser hipócrita de ficar crucificando a Laura por ter se sentido atraída pela ex, sendo que, nem namorando estamos. Ainda não! Em breve, preciso organizar isso aí.

Laura disse que temos assuntos a resolver e eu não faço ideia do que seja. Só consigo pensar em ficar a sós com ela, e a ter como mulher deliciosa que é. O dia todo, a vendo e não a tendo, é muito pra minha cabeça. Repito! A quero com urgência e preciso dizer-lhe que o que sinto, já passou dos limites da paixão. Eu a Amo.


Fim do capítulo


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Comentários para 56 - Família:
Rafaela L
Rafaela L

Em: 01/04/2022

Fortes emoções!

Isso chega a ser bullying com as solteiras de verdade!

 


Resposta do autor:

Por isso me acha perversa??rsrs

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