À flor da pele
Alice
Parei a moto no meio fio para atender a ligação que persistia. Nem prestei atenção no remetente.
- Alice Stromps, pois não? – falei colocando uma das mãos no outro ouvido, devido ao barulho causado pelo trânsito.
- Alice, é o Tom, assessor da Laura. Tudo bem?
- Oi Tom. Tudo sim. Diga – perguntei, sentindo o coração disparar.
- Você pode por favor, me salvar? – falou com voz de desespero.
- O que aconteceu, Tom? – perguntei aflita – A Laura está bem?
Ele sorriu e continuou a falar.
- Está sim. Acho que você sabe que essa semana está sendo a Feira do Empreendedor né?! – concordei e pedi que continuasse – E hoje é o dia das palestras, mas o próximo palestrante acabou de me informar que perdeu o vôo e não conseguirá chegar a tempo. A dona Chica está aqui e me falou que você, tem uma palestra pronta. Você poderia vir pra cá e quebrar essa pra mim?
- Meu Deus, Tom. Agora? – perguntei assustada.
- Sim! Já começou a primeira palestra do período da tarde. Acabando, daqui quarenta e cinco minutos aproximadamente, teremos um break e daí, já seria a próxima. Ou seja, daqui uma hora -me explicou.
- Nossa, Tom! – falei surpresa – Eu estava indo para uma reunião com os investidores da NetCell e não estou vestida adequadamente, nem preparada para uma palestra – sorri timidamente.
- Eu ligo pro pessoal da NetCell e você vem pra cá?! Por favor!!! A Laura vai me matar se tiver esse furo no evento – implorava com voz aflita – Por favor, Alice!
Senti o coração disparar e a mão suar ao pensar na possibilidade de palestrar em frente a Laura.
- Ok, Tom! Tentarei dar o meu melhor – respondi sem refletir – Estou perto de casa. Vou passar me trocar e já compartilho o link com você dos slides.
- Estarei no aguardo. Estamos na Estação São Paulo, sabe onde é? – falou com voz aliviada.
- Sei sim, tentarei chegar a tempo!
Desliguei o celular e rapidamente peguei o caminho de casa. Sorte do Tom ter conseguido falar comigo. Parece loucura, porém, nada mais justo que eu retribuir o tratamento vip que tive graças à Laura, fazendo esse favor para o evento. Nem pensei muito sobre a vontade em vê-la, afinal, a última vez que nos vimos foi na segunda-feira à noite e, devido a correria do trabalho e organização para palestra em Maceió, não a procurei mais e nem ela, a mim. Cheguei em casa, já tirando a roupa que estava e ligando o notebook. Peguei um conjunto social que sempre deixo reservado para ocasiões mais formais e já fui preparando o banho. Enviei o link para o Tom e rapidamente me arrumei e saí para o evento.
O lugar é razoavelmente distante de casa, porém, de moto, consegui chegar rápido. Assim que estacionei, avistei o Tom, que veio ao meu encontro sorrindo amigavelmente.
- Alice, você não tem ideia de como está me salvando hoje – falou assim que me viu – Venha, o break já está acabando e vou te preparar para entrar.
- Oi Tom! – falei nervosa – Eu nem sei do que se trata o evento – sorri desconfortável e arrumando o cabelo que desarrumara devido ao uso do capacete.
- Você tira de letra – falava agitado me explicando do que se tratava a feira e me levou até uma ante sala, onde poderia aguardar o momento de entrar. Eu estava aflita e agitada. Observava o lugar luxuoso do evento, provavelmente, escolhido à dedo por Laura. A saleta que estávamos, dispunha de uma mesa redonda com quadro cadeiras, com água e suco em jarras de vidros, frutas e petiscos diversos. Uma poltrona rústica, feita de couro e um aparador também rústico, decorado com orquídeas brancas. Uma bancada com espelhos e um banheiro privativo. Era possível ouvir o som que vinha de fora, provavelmente do salão onde seria a palestra. Tom após explicar todas as nuances do evento, ausentou-se para que pudesse me concentrar no que iria palestrar e falou que viria me chamar quando fosse o momento. Tomei um pouco de água, arrumei o microfone de modo a ficar discreto na roupa e tentei me concentrar, sentindo o coração disparado, as mãos suando e aquele gelo na barriga que todo evento causa. Apesar de não ser a primeira vez, todas as vezes são como a primeira vez, no entanto, estava preparada para essa palestra, afinal, é o resultado do meu mestrado. Estudei muito para saber cada vírgula do que estaria prestes a expor, mas dessa vez, estava sendo completamente inesperada. Até a ligação do Tom, estava em uma quinta-feira qualquer, trabalhando como todos os outros dias e de repente, estava prestes a palestrar em um evento promovido por Laura Veigas. Sentada na poltrona, minhas pernas balançavam incontrolavelmente e, a boca, insistia em ficar seca. Ouvi quando o cerimonialista retomou a fala, parando a música e meu coração, disparou-se ainda mais por saber que minha hora estava chegando. O Tom bateu na porta e a abriu em seguida me chamando. Respirei e inspirei o restante de ar que se encontrara em meu peito. Liguei o microfone e fui. Entrei num grande salão, igualmente rústico como a saleta anterior, com muitas cadeiras dispostas em filas e muitas pessoas sentadas. Devido a penumbra, não era possível enxergar com nitidez as faces de quem me ouviria. Tomei lugar à frente, num tablado um pouco acima do nível das outras pessoas. Atrás de mim, um telão com o tema da minha palestra e na lateral, uma mesa alta com água em copinhos lacrados.
- Boa tarde a todas e todos! – comecei meu momento de fala – Sou Alice Stromps e é uma grande satisfação participar desse ciclo de palestras com grandes investidores, promovido pela Veigas Cia Interprise.
A ansiedade atrapalha só até começar, porque depois que inicia, a explanação do assunto, flui naturalmente. Falar do que se ama e estudou, não é difícil. A vergonha fica de escanteio, junto com a insegurança e é o momento de aproveitar a oportunidade da sua fala ser ouvida. Cinquenta minutos depois, ouço os aplausos da plateia, que gentilmente levantou-se para me aplaudir. Senti meu rosto corar de vergonha por isso. As luzes se acenderam e o cerimonialista subiu ao palco também.
- Mas que grata surpresa tivemos nesse encerramento – falava com voz grave e um sorriso nos lábios – Alice Stromps, nosso muito obrigado por essa palestra tão enriquecedora, que nos proporcionou.
Gentilmente o agradeci e recebi uma placa em acrílico gravada com o logo da empresa e nome do evento. Após agradecer mais uma vez a oportunidade de aprendizado mútuo, desci do palco e fui direto para a ante sala que ficara antes. Abri a porta e fechei-a sobre mim, expirando em alívio. A expiração foi pausada com o que visão proporcionada. De costas para a porta e de frente para o espelho, estava Laura – Meu Deus, como ela veio parar aqui? – pensei ao sentir o coração bater acelerado pela presença encontrada. Nos olhamos através do espelho. Ela esboçara um sorriso malicioso nos lábios e olhos ardentes de desejo. Fitei-a da cabeça aos pés, apreciando a beleza daquele corpo farto, cuidadosamente esculpido por mãos de fadas. Linda como de costume, em uma saia lápis preta e camisa de seda azul celeste. Os brincos na mesma cor, combinavam com uma corrente de pedras que cobria levemente o decote avantajado que sobressaía pela respiração ofegante. Virou-se sobre o calcanhar no salto agulha, sem desviar o olhar penetrante dos meus, caminhou em minha direção a passos firmes e expressão imponente.
- Oi – disse-a sorrindo e retribuindo o olhar cheio de desejo.
Laura estava de modo que nunca a vi antes. Seus olhos ardiam em vontade e sedução.
- Já te falei que pra mim, inteligência é afrodisíaco? – perguntou com voz rouca, aproximando-se.
- N-Não – meneei a cabeça, fitando-a nos olhos e prestando atenção em cada detalhe de sua atitude.
Chegou próxima a meu corpo e tentei segurar-lhe a cintura. Como em um golpe certeiro, imobilizou-me, segurando-me pelos punhos, sobre minha bunda e com sua coxa entre minhas pernas, me prendeu contra a porta. Imediatamente senti minha intimidade reagir ao seu toque forte de suas coxas, roçando em mim. O colo dos seios fartos, ficaram na altura do meu ombro e seu cheiro me embriagou de desejo. Laura debruçou sobre mim o peso do seu corpo e roçava sua bochecha sobre a minha, cheirando-me o pescoço e sussurrando em meu ouvido:
- Achou que iria vir até o meu evento, palestrar lindamente e sair impune? – sua respiração quente passeava pela linha do meu rosto, me fazendo umedecer de desejos e arrepiar-me tomada de luxúria.
Em sussurro tentei responder:
- N-Não é que..
- Shiiiuuu – interroumpeu-me fazendo bico com os lábios, passeando com a boca entreaberta perto da minha e me olhando a alma, com desejo e paixão - Você já falou demais por hoje.
Minha respiração ficara curta e meus olhos semi cerrado, na tentativa de sentir todos as sensações possíveis. Laura passava sua face encostada à minha, passeando por entre meu rosto com sua respiração ofegante e hálito quente, cheirando a goma de mascar de menta, que misturado ao seu perfume, proporcionava o melhor cheiro que pude sentir. Entreabri meus lábios à espera de provar o doce dos seus beijos e já sentia o calor da sua respiração quase em contato com a minha, quando ouvimos o Tom bater à porta e empurrá-la na tentativa de abrir, me chamando:
- Alice! – falava animado – Venha, preciso te agradecer.
Laura rapidamente soltou meus pulsos e engoliu em seco, mordendo o lábio inferior. Respirou fundo e abriu os olhos olhando profundamente os meus olhos. Ajeitou-se e conteve a respiração, saindo em direção à mesa e serviu-se de um copo de água. Abri a porta e Tom entrou, nos olhando com surpresa.
- Senhorita Laura – falou rapidamente ao vê-la – Estava te procurando, os investidores..
- Já estou indo, Tom – interrompeu-o com um sorriso irônico – Vim agradecer pessoalmente a senhorita Alice pela belíssima palestra.
Eu os olhava atônita, tentando voltar da outra dimensão que a instantes visitara. Laura dirigiu-se à porta, e antes de sair, me fitou os olhos. Olhei para Tom, que estava com expressão de incompreensão dos fatos. Deu de ombros e sorriu:
- Parabéns! Você foi maravilhosa! – segurou em minhas mãos geladas pelo recente ocorrido – Venha, vamos tomar um drink.
Não consegui falar nada, apenas o segui. Minhas pernas estavam descoordenadas e sentia minha intimidade pulsar em desejos. O ritmo cardíaco ainda estava acelerado e desejava ardentemente concluir o que Laura começara.
Adentramos ao salão, onde as pessoas estavam em pé e confraternizando-se. Vários garçons andavam por entre elas, segurando bandejas com taças de champagne e martini, decorados respectivamente com cerejas e azeitonas. Tom, falou-me para que ficasse à vontade e misturou-se entre os participantes do evento. Peguei uma taça de champagne e a sorvi toda em um gole só, na tentativa de me fazer presente no ambiente e engolir o nó na garganta, que a ausência do sabor da Laura me causou. O garçom me olhou impressionado. Sorri ironicamente e peguei outra taça, para dessa vez, tomar aos poucos. Escolhi um canto discreto, e com bom campo de visão para estar atenta a tudo e, a todos. Tomava minha champagne observando a movimentação, quando avisto dona Chica vir em minha direção, com um belo vestido, muito bem maquiada e um sorriso de nuca a nuca.
- Oi meu amor! – falou sorrindo alegremente – Você foi um espetáculo. Parabéns! – me beijou o rosto, abraçando-me em seguida.
- Obrigada – falei segurando em suas mãos e fazendo-a rodar sobre si – Espetáculo está você! Uau!
Ela sorriu timidamente e agradeceu ao elogio.
- Festa de gente bacana, tem que vir chique né?! – falou sorrindo.
- Mas você está linda demais! Desse jeito abala meu coração – respondi fazendo uma careta sapeca e colocando a mão no peito.
Ela revirou os olhos e sorriu.
- Seu coração já é abalado! Jamais teria chances com você.
Sorrimos e tomamos um gole da champagne, engatando uma conversa descontraída. Ao fundo do salão, vi Laura que cumprimentava e conversava com várias pessoas. O puro poder personificado. O jeito elegante de falar, com postura imponente, me deixa com a sensação de flutuar. A admiração que tenho pela profissional Laura, sempre foi meu norte. Estar em um evento proporcionado por ela, é o auge do auge que já pude imaginar. Quase ser beijada por ela então, num ímpeto de desejo e paixão, supera todas as expectativas. Enquanto a observo, tão bela e séria, lembro dos minutos atrás que fui completamente dominada por essa potência em forma de mulher. Sinto meu corpo inteiro arrepiar-se com a recente lembrança. Dona Chica fala alguma coisa ao meu lado, mas estou tomada pelos pensamentos e não me faço ouvi-la. A busca pelo cheiro da Laura, me angustia a alma. Preciso estar com ela novamente. Meu corpo pede pelo seu. A quero inteira para mim. Quero fazê-la minha mulher, provar do seu beijo, do seu gosto. Quero tê-la em meus braços e abraços. Preciso senti-la sobre e, em mim. Sinto meu coração acelerar só por desejar.
- Você topa? – me perguntou dona Chica batendo em meu rosto discretamente com a ponta dos dedos – Ow, Alice!
Meneio a cabeça na tentativa de me concentrar no que ela dizia.
- O quê? Não sei o que estava falando – sorrio e dou de ombros.
- É claro que não sabe! – falou brava – Está com os olhos vidrados na patroa. Nem me ouviu né?!
- Desculpa, dona Chica – pedi sorrindo e a abraçando – Estava em outra dimensão, encantada pela Laura.
- Percebi! – falou franzindo o cenho – Eu estava falando, que a Didi me chamou pra passar o final de semana na fazenda, e que, ela pediu pra chamar você.
- Eu? – estranhei o convite – Que fazenda?
- Ah! É um sítio ou fazenda, coisa assim, lá no interior – explicava animada – A Didi quer me levar pra gente ter um final de semana de comadres.
- E quer que eu vá junto, por quê? – perguntei surpresa.
Ela revirou os olhos e sorriu.
- Porque a Didi encasquetou com você! – deu de ombros – Disse que sua áurea é linda e que quer ter você por perto. Você topa né?! Eu já falei pra ela que você disse que ia – falou e tomou um gole da bebida, segurando o riso.
- Você o quê? – perguntei sorrindo.
- Isso mesmo! Já falei pra Didi que você vai e é isso. Você vai e pronto! Eu já respondi por você.
- E quando será isso? – sorria da cara de pau da dona Chica decidir as coisas por mim.
- Amanhã à noite - falou despretensiosamente.
- Então, até os combinados você já fez! E quando ia me contar? – a abracei, sem conseguir ficar brava com essa mulher que tanto amo.
- Hoje! Ia te ligar pra contar, mas você veio aqui. Então, agora está contado.
Sorri e apertei suas bochechas, certa de que não teria nada que eu pudesse fazer ou falar que desfizesse o trato feito. Voltei os olhos para o salão e meu sorriso prontamente sumiu, sem conseguir acreditar no que via. Engoli em seco e minhas mãos gelaram. Envolta nos braços de Joseph Gordon, estava Bia, tomando uma taça de champagne e conversando com Laura. Segurei o braço da dona Chica com força, tanta força que ela reclamou de dor. Sentia meu coração pulsar nos ouvidos e a boca amargar-se. Tomada de uma fúria, me dirigi até eles sem piscar. Meus passos firmes e rápidos, fizeram-se ecoar pelo salão. Dona Chica vinha logo atrás, me chamando e tentando me segurar. Laura me olhou e franziu o cenho, balançando levemente a cabeça em negação. Estranhei seu sinal. Franzi o cenho com expressão brava e continuei a caminhada. Laura franziu ainda mais e se apressou em me fazer ser presente na conversa.
- Joseph – falou Laura com um sorriso irônico nos lábios – Essa é nossa ilustre palestrante de hoje – me olhou profundamente – Alice Stromps.
Olhei para Joseph e Bia, que me olhavam ironicamente.
- Já nos conhecemos, não é, Alice Stromps – falou Joseph, estendendo a mão em cumprimento.
- Sim. Nos conhecemos, senhor Joseph Gordon – cumprimentei-o e olhei para Bia, tentando entender o que fazia ali.
- Ah! – ele colocou as mãos no ombro da Bia – Essa é minha acompanhante – olhou para seu corpo e lambeu os lábios – Beatriz Salvatore, Bia para os mais íntimos.
Bia estendeu a mão e me cumprimentou, olhando nos olhos e em seguida na boca, logo após, dirigiu o olhar para Laura e sorriu-me maliciosamente.
- Vejo que está ótima, Alice – falou Joseph – Fico feliz em te ver aqui, trabalhando.
- Estou bem, obrigada, Joseph – sorri sem vontade – E você, agora é um dos investidores das empresas da senhorita Laura? – franzi o cenho ao perguntar.
- Não, não – respondeu sorrindo ironicamente – Sou um convidado de alta classe, não é, senhorita Laura?
Laura o olhou de cima embaixo e pude perceber seu olhar de desdém, só não entendi o motivo.
- Sim, senhor Joseph – consentiu com a cabeça – O senhor é meu convidado – e sorriu ironicamente – Agora, se nos dão licença, quero apresentar a senhorita Alice a um grupo de acionistas.
- Fiquem à vontade! Já estamos de saída – respondeu Gordon, segurando Bia pela cintura – Agradeço ao convite e estendo meus parabéns ao belíssimo evento, senhorita Veigas.
Laura sorriu e acenou a cabeça em agradecimento. Pegou em meu braço e me puxou em direção a um grupo de senhores que estavam logo atrás. Olhei para Bia que me olhava com olhos lascivos e me lançou uma piscada e, Laura viu.
- Até mais, Joseph – despedi em cumprimento, acenando com a cabeça – Satisfação conhecê-la, Bia – Laura apertou forte meu braço ao me ouvir dizer isso e virou-se para as pessoas que ela queria me apresentar.
O grupo de homens e mulheres nos receberam cordialmente e me parabenizaram pela palestra. Laura me examinava com olhos de águia. Enquanto conversava sobre negócios com os acionistas, percebia os olhares de Laura, dessa vez, em mistério, com uma intensidade que me fazia arrepiar. Tive que me concentrar ao extremo, para conseguir manter o nível da conversa com os acionistas. Minha mente estava a milhão por hora. Ao mesmo tempo em que conversava de negócios com grandes acionistas das empresas da Laura, lembrava de nós na ante sala e tentava entender a ligação de Joseph com Bia. Era muita coisa pra conseguir assimilar e sentir ao mesmo tempo. Conclui o assunto sobre negócios e pedi licença. Fui até dona Chica que conversava com um grupo de funcionários da empresa, entre eles, Cris, meu secretário quando estou na Veigas Cia.
Laura, juntou-se a nós assim que conseguiu se desvencilhar dos acionistas. Agradeceu o empenho do pessoal e pediu para conversar comigo. Gelei com o pedido. Meu coração voltou a bater na garganta e a respiração, de imediato ficou curta. Peguei uma taça de martini na bandeja do garçom que passara ao lado e comecei a bebericar devagar, enquanto ela me olhava profundamente, com um breve sorriso nos lábios.
- Primeiramente, parabéns pela palestra – falou e sua expressão ficou séria.
- Obrigada – respondi sorrindo e olhando nos lábios.
- Segundo, – baixou os olhos e o tom de voz – O que aconteceu na ante sala – arqueou a sobrancelha – Fica na ante sala.
- Sim senhorita – franzi o cenho com estranheza e senti um nó na garganta – Já ficou lá.
- Ótimo! – continuou com expressão imponente – Não sei onde estava com a cabeça de fazer aquilo e todo o resto – revirou os olhos e sua expressão era de arrependimento – Espero, de verdade, que esqueça todos os ocorridos que nos fizeram chegar até aqui.
- Isso já é pedir demais, Laura – falei olhando-a profundamente, sentindo meu ego despedaçar-se – Se quer que fique só entre nós, considere feito, mas, pedir que eu esqueça – meneei a cabeça e a olhei profundamente – É impossível.
- Então, ao menos, jamais toque no assunto! – falou secamente e cruzou os braços sobre si – Nem sobre isso de hoje, nem sobre nada.
- Como quiser! – falei igualmente seca e virei todo o martini que segurava.
Ela virou-se e saiu, cumprimentando outras pessoas. Senti todo o amargor que ela quisera me causar. Como pude, por alguns minutos e até dias, ser tão iludida, a ponto de acreditar que Laura Veigas, a super Laura Veigas, esboçaria algum tipo de sentimento por alguém? Pior ainda, que esse alguém, seria eu?! Me senti ridícula por isso.
O misto de emoções que sentira, não me permitia mais ficar no lugar e ser uma presença agradável. Despedi da dona Chica, tentando não transparecer o que sentia, mas ela percebeu.
- Amanhã te ligo, vá descansar! – falou me abraçando.
Saí sentindo todo meu ego recém massageado, tornar-se pedacinhos e cair-se ao chão, à medida que ia andando sobre aquele luxuoso salão. Peguei minha moto, e desejava não mais tê-la, pois até mesmo ela, me fazia lembrar da Laura. Segunda-feira tinha sido maravilhoso senti-la grudada em mim, me envolvendo nos seus braços fortes e grandes. Me senti protegida enquanto o que pretendia, era protegê-la na recente tarefa de se aventurar pelo trânsito. O tempo que passamos juntas, voou na velocidade que se faz a luz. Nossas conversas e sorrisos, passava em minha mente como relances de um clipe de vídeo. Lembrava da dificuldade em ter que ir embora e deixa-la na sua casa, do vazio que senti quanto mais distante dela eu ficava. Os dias da semana que não a vi, nem tive notícias, foram vazios e sem cor. Como um filme rebobinando, fui me lembrando de cada encontro, planejado ou ao acaso. A intensidade do concerto, nosso quase beijo no teatro, seu olhar que me aquieta, nossa conversa quando saí do hospital, o cuidado dela em dormir de acompanhante, a alegria que senti, mesmo dopada de remédios em vê-la. Como é possível que ela agora, me peça para simplesmente esquecer? Que tipo de pessoa é capaz disso? Não faz sentido! Tentava enxergar a rua e os espaços corretos entre os carros para passar, mas as lágrimas embaçavam minha visão. Parei em um semáforo e limpei os olhos, em vão, pois até mesmo parar em um semáforo me fez lembrar do toque em suas mãos na minha cintura, enquanto íamos ao parque. Todas as sensações maravilhosas que sentira nesses últimos quinze dias, desde o surgimento dela no leilão, transformara-se em um amargor sem tamanho. Por que ela está fazendo isso comigo? Poxa, eu estava na minha, bem tranquila. Vivendo meus rolos vazios de sentimento, apenas trabalhando e deixando a vida me levar. Ela surgiu e foi tomando conta de tudo, de cada mínimo detalhe. Apoderou-se de tudo, criando oportunidades, mostrando ser uma pessoa diferente. Até a dona Chica, levou para seu lado. E agora faz isso? Me prende contra uma porta, quase me beija, toda cheia de desejo e paixão e depois, me pede para que esqueça, ou que ao menos, não toque no assunto. Isso é desumano. Surreal.
Cheguei em casa, cega de rancor e consumida de tristeza. Fui direto para meu quarto, deitar, me esconder do mundo. Na minha cabeceira, a bexiga amarela que me presentou no hospital. Chorei de raiva. A joguei para fora do quarto. Para mim foi tudo muito importante, não tenho coragem de jogar fora, como ela quer que faça com as lembranças. Tranquei a porta e me joguei na cama, chorando toda a emoção que senti por todos esses dias. A sede de amar e ser amada é tanta, que faz ver coisas onde não existem. São anos, idealizando a mulher perfeita na Laura, desejando com todas as minhas forças e crenças, que um dia, chegaria o meu momento de ser feliz. Quando acredito que chegou, é assim que a oportunidade me encara: com expressão imponente, sem o menor sentimento no olhar, me pedindo para que esqueça! Infelizmente, Laura Veigas é apenas mais uma, entre tantas. Entre soluços e fortes dores de cabeça, adormeci.
-- x –
Laura
- Tom, você por favor, tome conta de tudo! Ouviu bem? T-U-D-O! Não quero ser incomodada – falei ao telefone e desliguei ao entrar na Estação São Paulo e colocando um sorriso no rosto.
Desde o amanhecer de terça-feira, pós ter tido uma noite incrível na companhia da Alice em um passeio no parque, o sorriso sumira de meu rosto com recentes ligações de Joseph, me falando detalhes sobre nosso passeio. Praticamente não vivi esses dois dias. As horas se arrastaram enquanto eu, só pensei nas inúmeras possibilidades de atrocidades que Joseph poderia cometer contra a Alice, o que eu jamais me perdoaria caso acontecesse. O convidei para o evento na tentativa de mantê-lo por perto e sobre meu controle. Enquanto as investigações sobre ele não avançam, preciso ter cautela. Nem mensagem de texto me permiti enviar para Alice, com receio de que o celular estivesse clonado e colocasse sua vida ainda mais em risco. Ultrapassei todos os limites da noção, mandando instalar câmeras de segurança na entrada do seu apartamento, não para que eu a espie, mas que possa ficar registrado qualquer tentativa contra sua pessoa. Ela ainda não sabe do risco que correu e que o autor de tal ato, foi Joseph. Restringi minha vida a me ocupar com o trabalho e encontrar um modo de Gordon estar em minhas mãos. Participar da feira, pelo segundo dia seguido e de cabeça erguida, está sendo no momento, a maior de minhas conquistas. Hoje serão quatro palestras, sendo duas em cada período, e, preciso estar profissionalmente bem, o suficiente para recepcionar meus palestrantes e ainda fazer sala nos intervalos. Por isso, deixei tudo nas mãos do Tom, meu fiel escudeiro.
As palestras, foram todas de altíssima qualidade, deixando os convidados encantados com as propostas, mas, assim que começou a palestra do período da tarde, percebi Tom bastante afoito. Reuniu-se com o pessoal da organização e mostrava-se aparentemente nervoso. Saímos para o break e não o vi. Provavelmente estava recepcionando o palestrante que viria do Rio de Janeiro, exclusivamente para a palestra. Fiz contatos com alguns acionistas e assim que ouvimos o cerimonialista dar andamento no cronograma das palestras, me dirigi ao grande salão, porém, atrasada, e, por isso, me sentei na última fileira para não atrapalhar. A grande surpresa foi quando o cerimonialista anunciou a entrada da próxima palestrante, o que me causou estranheza, visto que seria um homem e agora, anunciaram uma mulher. No entanto, não foi uma mulher qualquer. Quando meus olhos contemplaram, subir no palco a mais linda e encantadora mulher de todos os tempos, meu coração quase saltou peito a fora. Alice, minha doce e leve Alice. Tão linda, vestida com uma calça de linho rosé, com colete e blazer bege, gravata feminina com nó Windsor na cor da calça e scarpin nude. Mulherão pra ninguém botar defeito. Dona de si, tomando conta do palco e de todo o espaço. Palestrando segura, com uma inteligência digna de cair o queixo de qualquer marmanjo. Ela dava uma verdadeira aula sobre investimentos de alto risco e complexidades da negociação. Eu não consigo precisar se o que me deixou mais imersa no "Universo Alice" foi sua beleza ou, sua inteligência. Meus olhos vibravam com cada gesto que ela fazia ao falar. Meu coração, descompassou-se por quase uma hora. Senti puro frenesi ao contemplá-la brilhando daquela maneira. Duzentas pessoas, completamente hipnotizadas por um assunto que geralmente desperta asco e desinteresse em pouquíssimo tempo, no entanto, do jeito que ela falara, encantava a todos, fazendo-nos acreditar que a arte de negociar é fácil. Sem dúvidas, tive orgasmos acadêmicos ao vivenciar toda aquela potência ocupando o espaço da forma mais inimaginável possível. E mais uma vez, mesmo evitando o máximo que pude, nosso encontro aconteceu. Ao final de sua fala, quando a plateia a aplaudiu em pé, aproveitei e sai à francesa. Precisava parabenizá-la por tal feito. A aguardei no camarim para externalizar toda minha admiração e agradecê-la pelo enriquecimento no evento ofertado pela minha empresa. Sentia todos os poros do meu corpo, se arrepiarem com a possibilidade de estar perto dela mais uma vez, mesmo com todos os riscos que nos permeiam. Meu coração, estava aceleradíssimo e até me faltava ar para conseguir manter meus pulmões trabalhando. Enquanto a aguardava, refletia, me olhando no espelho, em como esses últimos quinze dias foram intensos, o quanto a presença da Alice na minha rotina diária, elevou meu astral e ânimo. Ouvi a porta se abrir e a olhei pelo espelho, em um momento único de exaurir toda a preocupação, suspirando aliviada. A achei ainda mais linda por isso. Alice é um misto de força disfarçado de fragilidade. Seu olhar emite tranquilidade, mas suas ações são complexas e carregadas de atitude. Busco palavras para poder parabenizá-la à altura do que ofereceu, mas ao vê-la, sinto vontade em tê-la em minha vida para sempre. A admiração e gratidão, misturou-se com desejo de provar do seu sabor, me embriagar em seu cheiro. Ela me olhou e sorriu. Deve ter se assustado com a presença inesperada. Não dei muito tempo para pensar se o que estava prestes a fazer era correto ou ideal. Fui logo ao seu encontro. Meu desejo era lhe abraçar, lhe beijar todos os beijos que minha boca pudesse ofertar, entregar-lhe meu ser por inteiro, como nunca fiz antes com nenhuma outra mulher. Ela tentou me tocar a cintura, mas eu queria dominá-la e fazê-la entender, que a qualquer custo, ela será minha e tão somente, minha, em todos os sentidos. A segurei forte, porém com carinho, e seu cheiro me deixou zonza de prazer. Queria beijá-la logo, mas sentir seu cheiro, e o contato dos nossos corpos, esfregando minha coxa por entre suas pernas, me fez perder a noção do tempo. O toque de nossas peles fez meu âmago clamar por mais. Todos os pelos do meu corpo sentiram sua presença, me provocando um calafrio delicioso de sentir. Sua respiração cheira a algodão doce, o doce mais doce e delicado que existe, igualmente a ela. Seu hálito quente, à espera do contato com o meu, me provocou umidade em minhas entranhas. Senti meu corpo se melar como um caramelo a derreter-se. Fechei meus olhos para sentir com mais intensidade seu toque, seu cheiro, seu sabo...Toooooommm!!!! Que vontade te mataaaarrrr!!!! – foi tudo o que consegui pensar e me contive em meus desejos não concluídos. Tom batera à porta e chamava por Alice, me fazendo soltá-la imediatamente. Suspirei profundo, engolindo em seco todo o desejo que tenho por Alice. Preciso de água para voltar à realidade de que estou em um evento profissional. Se começasse a fazer o que desejo, viraria a noite matando minha sede dessa mulher.
- Senhorita Laura – ouvi o Tom dirigir a voz a minha pessoa e minha vontade foi demiti-lo da minha companhia – Estava te procurando, os investidores..
Sua voz me irritou! O interrompi com um sorriso irônico, me contendo para não o xingar:
- Já estou indo, Tom. Vim agradecer pessoalmente a senhorita Alice pela belíssima palestra.
Me retirei, olhando para Alice e tentando mostrar-lhe todo meu descontentamento por esse momento não concluído.
Saí pisando firme e com o coração acelerado. Sentia minha intimidade completamente molhada e meu sex* contrair-se em desejos. Que momento! – suspiro na tentativa de me recompor – Encontro um garçom antes de entrar no salão e, pego uma taça de martini, tomo-a toda de uma só vez. Busco ar e conto até três antes de entrar entre os convidados e voltar com minha máscara de profissional bem sucedida, estampando sorriso nos lábios com alto poder de persuasão. Entre os convidados, encontro o próprio demônio em pessoa. A pessoa responsável pela minha atual infelicidade: Joseph Gordon. Ao virar-se de frente para mim, dei de cara com outra demônia. A mulher recentemente ligada à Alice, e que, diferente de mim, já teve a oportunidade de provar de seus beijos, do seu sex*, do seu corpo inteiro: Bia. Mas que ótimo! Os dois, em um só lugar, em um só momento, em um só casal. A mais pura estampa do fracasso e fiasco da minha vida.
- Olá, senhorita Laura – falou-me Joseph com olhar perverso – Bom te ver!
- Olá, Joseph – respondi a contra gosto – Que bom que veio prestigiar nosso evento.
- Sim, e vim no dia certo, não é?! – sorriu ironicamente – Essa aqui é a Bia, minha dama de companhia - direcionou o olhar para a moça.
- Olá, Bia – a examinei da cabeça aos pés – Fique à vontade – falei cordialmente, contendo minha vontade em chamar os seguranças e colocá-la para fora, antes que ela tivesse a chance de olhar para Alice.
- Fiquei impressionado com o potencial da palestrante Alice – falou Joseph, arqueando a sobrancelha – Recuperou-se rápido do acidente que sofreu, não acha?! – falou debochado, me despertando fúria.
- Certamente que sim, Joseph – respondi o olhando nos olhos – Ela teve o melhor tratamento que foi possível.
- E a sua memória, voltou intacta? – perguntou com expressão insolente.
- Infelizmente não, Joseph – o respondi com um sorriso irônico – Apenas a memória da câmera do hotel se manteve intacta – arqueei a sobrancelha e fitei-o nos olhos.
- Ah, mas isso é fácil de se resolver! – falou levando a mão ao peito e franzindo o cenho – Não é nada que outro acidentezinho não resolva, não é?! - sorriu com os dentes amarelo pelo charuto - Sabe como são as coisas – deu de ombros e continuou a vomitar palavras - De repente, um pneu dianteiro que estoure ou uma poça de óleo no meio das chuvas de verão que estão por chegar – continua a sorrir ironicamente com as mãos no peito – Seria terrível perder um talento como esse.
- Joseph.. – procurava palavras para lhe responder quando a vejo vir em nossa direção, com os olhos fixos em Gordon e Bia, pálida e com expressão nada amigável. Tentei a conter com o olhar e implorar para que ficasse onde estava. Ela chegar nesse momento da conversa, não seria uma boa ideia. Minha tentativa falhou e Alice chegou até nós. Me adiantei em apresentá-la, de forma que não percebesse do que falávamos.
Não consigo precisar quem foi mais irônico. Eu, Joseph, Alice ou Bia. Um breve diálogo, carregado muita subjetividade nas ações, exceto, Bia, que fez questão de manter o olhar lascivo pra cima de Alice e ainda, piscar-lhe. Céus! Que menina atrevida. Abusa da sua dose extra de beleza e olhar persuasivo para conseguir atingir Alice, que corou-se ao perceber as investidas. Precisava tirá-la dessas companhias tóxicas e nocivas à sua vida, literalmente.
Apresentei Alice a um grupo de acionistas e ela, lógico, envolveu a todos em sua doçura e inteligência. Eu a olhava e sentia um misto de emoções. Nunca desejei tanto em minha vida, e nunca me senti tão impotente na capacidade de poder tê-la. Olhava ao redor e tudo que conquistei, desde amigos, funcionários, reconhecimento, poderia se perder pelo simples desejo de tê-la. Desde a sua própria vida, já que Joseph mostrou-se capaz de fazer coisas horríveis, até minha tão estimada carreira. Não poderia jamais permitir isso. Só eu sei das lutas e batalhas que travei para chegar até aqui, e não posso perder tudo por entre os vãos dos meus dedos. Minha carreira e a vida da Alice estão nas palmas das minhas mãos. Estar com ela, e preencher o vazio que me falta, custa meu império. Estar sem ela, e arcar com a solidão, mantém sua vida e minhas conquistas. Por mais que me doa a alma, preciso tomar uma decisão. Não me perdoaria se outro atentado acontecesse com ela. A olhava sorrir e meus olhos marejavam-se de cuidado e tristeza ao mesmo tempo. O tempo que estive ao seu lado, foi o melhor que já vivi. Perdê-la, seria tão difícil quanto perder os meus pais, e essa perda, posso evitar. Prefiro ter a chance de poder contar com sua amizade, distante, tem que ser distante e profissional, do que carregar nas costas a dor por perdê-la para um monstro como Joseph. Entre conversas profissionais e leves sorrisos, ela me olhou com tanto carinho e seu olhar me preencheu. O breve momento de desejo que tivemos, é o que vou guardar no mais íntimo do meu ser. Estou decidida a poupar-lhe a vida e a integridade física e psiquíca. Será doloroso, mas preciso tomar essa atitude. Ela foi em direção aos nossos amigos e colaboradores e tomei coragem de falar-lhe. Tinha que ser agora, pois depois, se ficasse sozinha novamente com ela, não conseguiria. A agradeci pela contribuição inestimável em nosso evento e com muita dor, a pedi que o que aconteceu, ficasse só entre nós. Ela me desmontou com um sorriso singelo e olhar sapeca, ardente de desejo. Tentei me justificar que o que fizera, foi impensado e que todas nossas atitudes, intencionais ou não, que nos trouxeram até esse momento, não poderiam ter acontecido. Ver seu olhar apagar-se aos poucos, foi a pior imagem que já contemplei, pós capotamento que tirou a vida dos meus pais. Mais uma vez, minha vida estava sendo marcada pela dor de perder alguém especial para mim, só que dessa vez, alguém que eu poderia viver uma incrível história de amor e crescimento pessoal e profissional. Percebi o nó na garganta que se formou, e ela não conseguiu esconder, tomando a bebida que estava em suas mãos de uma só vez. Seu olhar de forma certeira, atingiu como uma flechada meu peito. Me ausentei da sua presença, antes que voltasse atrás de tudo.
Tentei permanecer no ambiente do mesmo jeito que estava, mas as coisas já não tinham o mesmo brilho. As pessoas me irritavam e eu desejava sumir de mim mesma. Procurei Alice por entre as pessoas, mas não a encontrei mais. Desejei que o tempo voltasse atrás e que minhas palavras não tivessem saído da boca. Eu sei que a machuquei, na tentativa de poupar-lhe de ser machucada. O olhar que ela dirigiu a mim, não me saia mais da mente. Pedi para que Tom tomasse conta do encerramento, pois não estava me sentindo bem e iria para casa.
Peguei meu carro e saí por entre as ruas de São Paulo, cega de amargor. Dirigi no automático até minha casa. Entrei, abri uma vodka e comecei a tomar gole a gole, diretamente da garrafa, ciente de que estava me maltratando. E era exatamente isso que queria sentir. Me maltratar. A cada gole daquela bebida que me queimava a garganta e o esôfago, lembrava da face da Alice me olhando com olhos vorazes de que, o que eu fazia, a destruía. Acabara de machucar, ciente de que o fazia, a pessoa que mais me deu motivos para sorrir e acreditar. Lembrava do quão valente ela foi no shopping ao me proteger daquele segurança que era o triplo de sua estatura. Defendeu-me como uma leoa, disposta a enfrentá-lo na força física. A imagem dela na cama de hospital, machucada, com sua mente brilhante afetada devido a um atentado contra a sua vida, apenas por ter cruzado o meu caminho, me fez sentir raiva de mim. As lágrimas rolavam em meu rosto e misturavam-se com o resto de bebida que limpava com a costa das mãos. Certamente alguma coisa fiz para meus antepassados, para estar pagando tão caro dessa forma. Eu só desejava mais um dia com ela. Só mais um minuto na sua presença. Desejava voltar o tempo e aproveitar mais cada olhar, cada sorriso. Queria saber mais da sua vida, nos joguinhos adolescentes que me propunha e diálogos de duplo sentido. Desejava ardentemente tocar mais uma vez sua mão macia e quente e sentir o cheiro de sua respiração doce que me inebriou. Lembrava dela no concerto, sentindo a emoção da música penetrar sua alma e o quanto isso foi maravilhoso de presenciar. A ausência do sorriso em seus lábios, ao ouvir eu dizer para que esquecesse de tudo que aconteceu, e a sinceridade em dizer que era impossível, me machucaram o espírito e quero apagar da minha mente. Por isso me embebedo, para que não mais sinta, não mais lembre. Jogada no tapete da sala, encostada no sofá e com uma garrafa quase inteira de vodka acabada, em meio a lágrimas e dor na alma,apaguei.
Fim do capítulo
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amoler
Em: 10/04/2022
Esse casal (Joseph e Bia) é muito vilãozinho de Malhação...
Eu tô pulando vários parágrafos...
Com certeza é a pior parte da história porque o fim é previsível, tudo que eles fizerem dará errado. Então é chatíssimo de ler.
Bora para o próximo cap pulando vários parágrafos também...
Rafaela L
Em: 28/03/2022
Que maldade autora!!!
Tadinha da Alice.Totalmente alheia,por não lembrar de como ocorrerá os machucados, coração partido sem entender de nada.
Laura,deveria contar-lhe.Em prol da segurança de ambas.
Depois de orgasmos acadêmicos,não ter tido beijo! Sa-ca-na-gem
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Rafaela L
Em: 28/03/2022
Que maldade autora!!!
Tadinha da Alice.Totalmente alheia,por não lembrar de como ocorrerá os machucados, coração partido sem entender de nada.
Laura,deveria contar-lhe.Em prol da segurança de ambas.
Depois de orgasmos acadêmicos,não ter tido beijo! Sa-ca-na-gem
Resposta do autor:
É só pra dar um friozinho na barriga rsrs
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