Fique por Leticia Petra
Capitulo 3 - Soberba, luxúria e poder.
— Empresa idiota, vida idiota, pai idiota. – Meu celular tocou. – Alô?
— Minha amiga, você está falando com o mais novo contratado da sua família. – Ergui as sobrancelhas.
— Você conseguiu? Deus, que alivio. – Ouvi a risada dele.
— Vou fazer os exames de admissão e começo na segunda-feira. – Estava muito feliz e aliviada.
— Onde você tá? Vamos comer alguma coisa antes que a bruxa da Zoe volte. – Bem, ela fez o que pedi.
Talvez não fosse assim tão bruxa.
— Tô no hall, não demora... – Finalizei a chamada e sai da sala às pressas.
Encarei a Val e arrumei a minha roupa.
— Vou tomar um café e já volto, Val. – Falei como se tivesse a maior intimidade com ela.
Dei o meu melhor sorriso.
— Mas temos café aqui, senhorita Olivia. – Suspirei.
Ela me olhava, desconfiada.
— Valentina, você já provou o café daqui? – Ela riu.
Era uma moça muito simpática.
— É horrível, eu sei. Só não demora muito, a senhorita Cavalcante me mandou uma mensagem mais cedo e me pediu pra ficar de olho em você. – Rolei os olhos.
— Ela é um saco. – Fiz um gesto que iria vomitar, fazendo Valentina rir outra vez. – Volto em vinte minutos. Ela ainda vai demorar a voltar.
— Ok, vou confiar em você.
— Você é maravilhosa, Valentina. – Pisquei para ela.
— Vocês Cavalcante são...
— Charmosos e lindos? — Brinquei.
— Ia dizer terríveis, mas isso também. Vai logo, Olivia...
— Obrigada!
Cheguei ao hall e Caio estava sentado na recepção, ao me ver, levantou e correu até mim sem se importar com as pessoas que nos olhavam com curiosidade, comemoramos com pulinhos e risadas. Em frente a empresa, havia uma lanchonete. Sentamos na mesa dos fundos. Ele falava com Rodrigo no celular.
— Te amo... te ligo depois. – A chamada foi encerrada. – Você fez isso, não é?
— Eu só fiz um pedido a minha nova chefinha. – Caio sorriu.
— Minha mãe vai pirar quando souber, Olivia. Meu Deus, nem sei como te agradecer. – Ele segurou a minha mão. — Obrigada, obrigada, obrigada.
— Tenho que confessar uma coisa. – Ele franziu o cenho. Os olhos castanhos me analisaram.
— Transou com a Zoe na mesa dela?
— O que? Seu idiota. — Dei um tapa em sua testa, o fazendo rir. — Não!
Caio abafou a risada com a mão.
— O que então?
– Não fiz isso só por você, fiz também porque não suportaria aquele lugar sem você.
Caio gargalhou baixinho.
— Amiga, se quiser me usar mais vezes, fique à vontade. – Respirei aliviada. — Agora tenho um emprego e um chefe gato. E você também, hein?!
— Eu o que? — Ele voltou a rir. — Olha, vamos comer.
— Chata!
Tomamos café e depois voltei para a sala da minha priminha. Organizei algumas coisas e pouco tempo depois, a Zoe chegou. Mal educada como sempre, sentou na sua cadeira e passou a trabalhar como se eu não existisse.
— Já são seis horas, eu terminei tudo o que você me pediu. Posso ir embora? – A babaca nem me olhou.
— Já está dispensada, Olivia. – Rolei os olhos.
Peguei a minha bolsa e quando estava na porta, ela me chamou.
— Amanhã à noite tenho uma reunião, será um jantar e você irá comigo. Mandarei tudo o que você precisará saber e vá bem arrumada. – Ergui a sobrancelha.
Pressionei o meu maxilar e depois aliviei.
— Meu bem, você já olhou pra mim? – Finalmente obtive sua atenção. Ela empurrou a sua cadeira para trás, erguendo a sobrancelha bem desenhada. – Mesmo sendo uma babaca, você não é cega.
Fechei a porta, antes de escutar qualquer coisa.
Deixei a empresa, o meu corpo estava um caco e o cansaço batia forte. Chamei um carrinho por aplicativo e fui para casa. Meus pais estavam jantando, então subi de mansinho e me tranquei no quarto. Tomei um longo banho e relaxei totalmente.
— Como foi o primeiro dia? – Caio me perguntou assim que atendeu a minha ligação.
— Um saco, que largar. – Ele gargalhou. – Acredita que aquela idiota teve a ousadia de me dizer que eu deveria me arrumar pra um jantar de negócios?
— E o que você respondeu? – Me enrolei na toalha.
— Mandei ela dar uma bela olhada pra mim. – Caio gargalhou outra vez.
— Queria ser uma mosquinha pra ver essa cena. Amiga, não seja demitida antes que eu comece, por favor. – Me joguei na cama.
Olhei para o tablet e havia algumas mensagens no aplicativo.
— Bem, amanhã iremos jantar na estação das docas, pois os empresários que virão de Minas Gerais, estão loucos pra conhecer. – Li todo o conteúdo. – Roupas discretas? Ora, essa...
— Olivia, respira e pensa em mim... logo iremos trabalhar juntos e vai ser tudo de maravilhoso. Ok? – Fechei meus olhos, deixando o tablet de lado.
— Ok...
Ficamos conversando por mais algum tempo e depois decidi ir dormir, pois estava muito cansada e não daria conta de continuar acordada. O dia seguinte seria longo e eu precisava de uma ótima noite de sono.
9 de março.
— Não acredito que matou aula pra vir me ver. – Luciano riu.
— Precisava de altas doses de dopamina pra encarar esse dia. – Havíamos feito sex* e agora eu o observava cozinhar.
— Eu conheço a sua prima, estudamos juntos ou algo assim. – Franzi o cenho.
— Não me diga que já ficaram? – Era só o que faltava.
— Uma ou duas vezes, na época era só sex*... nada de muito memorável. – Não soube o que senti, mas arriscaria dizer que era ciúmes.
— Eu preciso ir, tenho que estar na empresa em meia hora. – Levantei, pegando a minha bolsa. – Até amanhã.
— Ficou chateada? – Ele veio até a mim, tocando a minha face.
— Falamos disso outra hora. – Beijei a sua bochecha. – Tchau.
Deixei a casa de Luciano com um leve incomodo e quando cheguei a empresa, soube que a Zoe não estava e isso me deixou aliviada. Estudei para poder participar da reunião a noite e basicamente, minha função seria apenas repassar informações e fazer anotações.
— Toc, toc... – Levantei a cabeça e lá estava o João. – Trouxe chocolate com chantili.
Ergui a sobrancelha.
— Você realmente não desistiu de me levar pra cama, não é mesmo? – João gargalhou, se aproximando e colocou o copo com chocolate em cima da minha humilde mesinha.
— Bem, não, mas se você me der um fora, eu paro de te incomodar. – O olhei de cima a baixo.
— Você é um homem lindíssimo, mas é casado e com a minha prima insuportável. – Ele sentou a minha frente, abrindo o terno.
— Zoe e eu não somos um casal há muito tempo. Temos um acordo e é apenas isso que nos prende. – Um acordo? Então aquilo de casalzinho modelo era pura faixada?
Que interessante.
— E por que eu acreditaria em você? – João sorriu e colocou sua mão sobre a minha, fazendo carinho no dorso.
— Você pode perguntar a ela, se quiser. – Nesse momento, o próprio diabo, ou melhor, a diaba, entrou na sala e ficou parada, nos encarando.
Tirei a minha mão que estava embaixo da dele.
— João, se você não tem nada relacionado a empresa pra me dizer, peço que saia da minha sala. – Sua face estava ainda mais séria do que o normal.
João ficou de pé e ignorando o que ela disse, beijou a minha mão e saiu da sala.
— Escuta, não me importo com sua vida pessoal, mas que ela fique fora minha sala. Eu não quero mais me deparar com essas ceninhas, fui clara? – Mordi minha língua e me mantive calada.
Ela estava no direito, afinal João é o seu marido.
Continuei organizando a papelada, enquanto a Zoe trabalhava em seu notebook. Me perguntava o que se passava naquela cabeça. Por que diabos ela é tão babaca? Tio Bernardo era um cara legal e a Marcela, mãe da Zoe, foi uma mulher tão gentil.
“Acho que essa daí veio estragada, deveria ser filha do Fábio. Os dois se dariam super bem.”
Não pude conter o riso do meu próprio pensamento.
— Qual a piada? – Me assustei com a voz firme.
— Que? Não posso mais rir? – Ela tirou os óculos de leitura.
— O que você quer ser da vida, Olivia? Não acha que tá na hora de crescer, mostrar que há alguma coisa dentro dessa cabeça? – Já ouvi a mesma coisa, repetidas vezes. Por mais que fingisse, ouvir aquilo sempre me arrebentava por dentro. — Você tem tudo o que qualquer pessoa gostaria de ter, então honre isso. Leve a sério.
O meu pé passou a bater freneticamente contra o chão.
Havia uma parte de mim que nunca se encaixou naquela família. Nessas horas, eu adoraria descobrir que sou adotada. Seria um grande alivio saber que não possuo o sangue dos Cavalcante.
— Já deu a minha hora, vou pra casa... – Fiquei de pé.
Ela não me veria triste. NUNCA!
— Passo pra te pegar as sete e meia, esteja pronta. – Peguei a minha bolsa.
— Pode deixar, eu estarei. – Sai da sua sala.
Eu odiava aquelas pessoas.
Desde ontem, eu fugia incansavelmente das perguntas dos meus pais sobre o trabalho, mas dessa vez não consegui, Fábio me esperava no estacionamento para a minha derrota total, pois seria mais uma sessão de “massacre a Olivia”. Senti vontade de dar meia volta, porém era tarde demais.
— Te levo pra casa. – Não respondi absolutamente nada, apenas entrei no carro.
Durante o trajeto, ele tentou puxar conversa, obviamente sobre o meu trabalho, mas me mantive em silencio. Chegamos em casa e fui para o meu quarto, tinha pouco tempo para me arrumar.
Fiz uma maquiagem leve, optei por uma saia preta com uma pequena fenda, uma blusa de botões cor de vinho, cabelos soltos e um salto. Diria que estava discreta e apresentável para um jantar de negócios.
Ouvi batidas na porta.
— A Zoe está te esperando na sala. – Fábio.
Olhei as horas.
— Claro, pontual... – Aspirei o ar com força, abri a porta.
— Espero que você faça tudo certo, Olivia, se não sabe muito bem o que vai acontecer. – Sua mão foi até o meu rosto, dando dois tapinhas. — Honre o sangue que corre nas suas veias.
— Eu odeio você. – Me afastei.
Olhei do topo da escada e quase engasguei quando vi a Zoe. Ela estava esplendida, isso eu tinha que admitir. Não sei ao certo o motivo, mas lembrei da nossa noite de bebedeira, no que resultou. Uma imagem nítida dela ch*pando o me sex* me atingiu, assim como um calor em toda a minha face.
“Que merd* eu tô pensando? Qual é a porr* do meu problema?”
Desci as escadas e logo atrás, meu pai.
— Vamos? – Tentei soar indiferente.
Zoe me olhou da cabeça aos pés, mas não demonstrou nada em sua face.
— Vamos, precisamos chegar no horário. – Ela desviou o olhar.
— Espero que ocorra tudo bem, filha. – Meu pai falou, me fazendo querer vomitar.
Deixamos a mansão dos meus pais, entrando no carro da Zoe. O veículo importado nem ao menos fez barulho quando o motor foi ligado. Olhei para a janela e mantive minha atenção do lado de fora.
Em minha mente, eu me recriminava pelos pensamentos infelizes de há pouco.
— Você está muito linda, Olivia. – A minha boca quase foi ao chão. Olhei para a mulher ao meu lado, totalmente espantada.
Zoe olhava para frente.
— Por que tá sendo gentil? – Não queria ter dito nada, mas a minha boca me traiu.
— Não tô sendo, apenas dizendo o obvio. – E lá estava a senhorita babaca.
Virei para o lado outra vez e fiquei assim até chegarmos ao local do jantar. Dois homens bonitos e engomadinhos nos esperavam. Fomos apresentados e logo pedimos pratos típicos da nossa região. Liguei o meu tablet e passamos a falar sobre negócios.
— Então vocês querem levar a nossa rede de supermercados para Minas? – Ela perguntou. – Não me disseram nada disso antes.
— Nossa primeira proposta era comprar todos os dez por cento que irão pôr à venda, mas não é a principal. Fizemos uma extensa varredura no mundo empresarial pra poder saber no que investir e a parte alimentícia foi o que mais chamou a nossa atenção. A rede de supermercados Cavalcante está na primeira colocação do ranking. – Que papo chato.
“Será que vou morrer de tédio? Quando forem escrever algo em minha lapide, estaria escrito: morreu de tédio.”
Abafei o riso, tendo um olhar de Zoe no mesmo instante. Respirei fundo e voltei a assumir uma expressão séria.
— O presidente me encarregou de fazer as apresentações, de falar um pouco sobre nosso negócio, mas acho que isso está além da minha alçada. Teremos que marcar uma nova reunião e dessa vez, na empresa. O presidente e o vice irão se reunir com os demais, mas adianto que é uma proposta tentadora. – Eles sorriram.
— Ele nos comunicou que brevemente você será a presidente e obviamente, quem tomara as decisões e por isso te mandou até aqui. Pelo que vejo, já começamos muito bem. – Tomei um gole do vinho.
Marquei e desmarquei várias vezes a bendita reunião, até que chegamos a um acordo sobre o dia e hora.
— Senhorita, me desculpe a ousadia, mas é casada? – Antony, aparentemente o mais novo dos dois, me perguntou.
— Não senhor, sou solteira. – Sorri.
— Ficarei alguns dias na cidade, gostaria de me acompanhar a um passeio? – Olhei para a Zoe e a mesma encarava o celular.
— Não acho prudente da nossa parte misturarmos as coisas. – Ela respondeu, sem tirar a atenção do aparelho. O tom de voz era baixo, mas firme e faria qualquer um tremer na base. – Vamos manter tudo a nível profissional, sim? Não acho que seja certo o senhor ter um caso com a minha assistente.
Olhei para ela sem acreditar.
— Sim, a senhorita tem razão. Me desculpe, senhorita Olivia. – O carinha ficou visivelmente sem graça.
Eu apenas dei um sorriso, tentando amenizar o clima.
Alguns minutos depois, deixamos o local e eu sentia a minha língua coçando para perguntar quem ela pensava ser para responder por mim, mas decidi ficar calada. Entramos no carro e ela finalmente largou o celular.
— Não quero voltar pra casa agora, me acompanha a um lugar? – Mas logo eu?
— Como sua assistente? – Ergui a sobrancelha e ela riu.
— Exatamente... – Minha vontade era dizer NÃO, mas eu não queria voltar para casa também.
Pensei por alguns segundos.
— Por que não?!
A mulher ao meu lado estava a ponto de explodir e isso me divertia. Liguei o carro, colocando o endereço no GPS. O lugar era um clube fechado, no qual acontecia coisas que a alta sociedade paraense jamais deixaria que alguém descobrisse.
Eu o frequentei ainda na adolescência, tudo de forma discreta é claro.
O lugar estava ainda mais luxuoso, a faixada do prédio havia mudado. Depois de me identificar, entrei no estacionamento, parei o carro e passei um batom mais forte. Olivia se mantinha calada.
— Espero que não fuja. – Ela me encarou sem entender.
— Do que eu fugiria? – Abri o carro. – Zoe, do que eu fugiria?
Não respondi e apenas segui até o painel digital, passei a minha identificação e paguei um valor a mais por causa da minha acompanhante. Entramos no elevador e quando as portas se abriram no último andar, olhei para Olivia e a sua expressão me fez ter vontade de gargalhar. Dei os primeiros passos para fora do elevador, mas fui parada por ela, que se colocou à minha frente.
— Que lugar é esse, Zoe? Existe motel pra isso. – Ela olhou ao redor. – Deus, aquela mulher tá com três caras... Zoe, eu quero ir embora.
— Não seja puritana, Olivia. Me recordo que você não é nenhum pouco tímida. – Me afastei.
— Isso não é nenhum pouco parecido com aquilo e não me faz lembrar daquilo. Que merd* de lugar pervertido é esse? – Olhei ao redor e vi um cara conversando com uma mulher lindíssima.
Os dois estavam em uma mesa mais afastada, bonitos e interessantes.
— Fica um pouco, não faça julgamentos precipitados. – Segurei seu pulso e a puxei até a mesa. – Não precisa fazer nada, pode apenas observar tudo.
Olivia me encarava sem acreditar.
Sentei com os dois e passei a ser acariciada por ambos, sentindo a minha excitação crescer. Olhei para a minha priminha e a mesma estava chocada. Mordi meu lábio quando a mulher ao meu lado passou a língua em meu pescoço, tudo sem deixar de olhar para Olivia. Ela saiu quase que correndo, me fazendo rir.
— Já volto... – Disse a eles.
Consegui alcançar Olivia no elevador e antes que as portas se fechassem, eu entrei a assustando.
— Eu vou embora dessa merd* de lugar. – Ela me segurou pelo vestido de forma bruta, me fazendo sentir um tesão absurdo. – Por que me trouxe aqui?
Analisei toda a face bonita, a boca era um espetáculo. Uma vontade absurda de morder aqueles lábios apoderou-se de mim.
— Bem, teria que te levar em casa e se te vissem chegar e eu não aparecer, teria que dar explicações ao João. – Dei de ombros, com a maior cara de inocente.
— Ora, sua...
Olivia ficou ainda mais puta e isso só aumentava a minha excitação. Talvez a minha libido estivesse acima do normal, afinal, em poucos dias ficar ocorreria a visita de todo mês. Essa era a única explicação plausível, então me afastei, tirando sua mão do meu vestido.
— Vou te levar pra casa. – Sorri. – Relaxa um pouco.
— Sem desvios, Zoe.
Rolei os olhos.
Olivia estava olhando pela janela, evitando me encarar. A mimadinha parecia muito zangada. Talvez tenha sido demais para a coitada. Bem, não tão coitada assim, ela é uma mulher completa agora e certamente já deve ter tido muitas aventuras, e aquela vez não foi tão ruim assim. Na verdade, Olivia sabia muito bem dar prazer a uma mulher. Apesar de sermos na época apenas duas adolescentes inexperientes, posso dizer que foi bom.
Mordi meu lábio.
E se...
— Desde quando frequenta esse lugar? – Sem ainda me olhar, ela perguntou.
— Desde os dezoito. – Ela me olhou com indignação. – É só sex*, Olivia... descompromissado, com pessoas que jamais vou me relacionar.
— Você e o João, que tipo de casamento vocês tem? Deus... – Fui obrigada a rir.
— É complicado, mas olha, se você quiser ficar com ele... – Não terminei a frase.
— João não me interessa, Zoe. – Entramos no condomínio.
— E eu? – Parei o carro embaixo de uma enorme mangueira, que deixava a rua um pouco mais escura.
Virei-me para ela, colocando a minha mão sobre sua coxa. Esperei pela rejeição e não veio.
“Por que não? Será só sex* com uma mulher gostosa. Já fizemos antes.”
— Como é? – Olivia franziu o cenho, parecendo atordoada.
— A gente já transou... por que não? – Me mantive séria, embora quisesse gargalhar até lacrimejar. Movimentei meus dedos sobre a pele que a saia não cobria.
— Aquilo foi... foi... – Ela fechou os olhos, aspirando o ar de forma ruidosa.
— Foi gostoso, você tem que admitir. – Apoiei minha cabeça no banco do carro, a olhando de lado.
— Você só pode estar maluca. – Olivia deu um tapa em minha mão, me fazendo retira-la de sua coxa.
Ela ficava cada vez mais atrativa.
— Pense nisso, irei àquele lugar no sábado à noite e se quiser, está convidada. – Liguei o carro, dando partida.
Olivia ficou petrificada, na certa estava se controlando para não xingar até a minha decima geração. Parei o carro em frente a mansão da minha tia e como um raio, ela saiu do meu carro, fechando a porta com certa força.
Esperei ela entrar em casa e dei partida.
— Vamos nos divertir bastante, priminha. — Sorri.
Cheguei em casa e fui até o escritório, meu pai estava lendo algum livro. Conversamos sobre o interesse dos empresários em levar a nossa franquia para Minas Gerais. A reunião aconteceria na segunda de tarde.
— Papai, tenho que te mostrar umas coisas. – Abri meu notebook. – É algo de uma gravidade que não poderia esperar mais.
— Deixe-me ver. – Sentei no pequeno sofá.
Suas expressões foram mudando conforme lia o conteúdo.
— Não é possível. – Meu pai ficou de pé, indo até a janela. – Mais de um milhão. Um rombo de um milhão? Você conseguiu chegar ao culpado?
— Sim, papai e infelizmente, será algo que vai dividir a nossa família. – Fui até o notebook e abri uma outra pasta. – Veja.
— Não pode ser, aquele desgraçado. – Sim, aquilo iria deixar todos os Cavalcante em crise.
— Preciso que continue o tratando como se não soubesse de nada, papai.
— Como pode me pedir isso? – Fui até ele.
— É necessário, até conseguir todas as provas, provas essas que sejam irrefutáveis. – Meu pai estava puto e isso não podia negar a ele.
— Tudo bem, minha filha, eu vou confiar isso a você. – Peguei o notebook.
— Vou descansar e você, vá fazer o mesmo. – Sai de seu escritório.
João certamente deveria estar em alguma balada.
De repente, me recordei de Olivia e de suas expressões ao longo da noite. Certamente, amanhã, ela estaria cheia de olhares mortais e respostas cheias de sarcasmo. Não havia imaginado que ela poderia ser uma diversão.
E por que não? Não tenho nada a perder.
“João certamente irá ficar puto.”
— Do que tá rindo? – Por falar no diabo.
— Achei que estaria em alguma balada. – Ele estava de roupão.
— Decidi ficar em casa. Como foi o jantar? – Passei a tirar a minha roupa.
— Quer saber como a sua amada foi? – Ergui a sobrancelha.
— Nossa, você não consegue ter uma conversa sem estar na defensiva. – Entrei no banheiro.
— Se quiser, podemos assinar o divórcio. Você já e vice presidente e o seu pai, que nem ao menos veio nos ver, já deve tá satisfeito. – João pareceu ser atingido por minhas palavras. – Que foi, João? Falei alguma mentira? Você me usou, já chegou ao seu objetivo e agora, podemos nos separar.
— Às vezes acho que você não tem coração, Alexandra.
— Não me chama assim e você tá dando uma de coitado agora por quê? Ah, para... – Ele me encava pelo espelho do banheiro.
— Eu mudei, Zoe, mudei... – Só poderia ser uma piada.
— Muito conveniente, não é? – Já estava de saco cheio daquela conversa. – Me deixa tomar banho.
— Vou dormir.
— Excelente ideia...
João deixou o banheiro e o quarto.
Tirei minhas roupas intimas e me coloquei embaixo do chuveiro, deixando a água fria relaxar a minha nuca. Fechei os meus olhos e permaneci assim por longos minutos. Ele merecia ouvir aquelas coisas e muito mais. Não me interessava à sua mudança, João me humilhou da pior forma possível e enquanto estivéssemos casados, o lembraria disso.
10 de março.
No dia seguinte, iriamos a um almoço na casa dos pais de João. Não estava na minha agenda da semana ir até lá, pois faltaria a um dia de trabalho. Eles moravam em um sitio, coisa de 1 hora e meia de distância da capital. Quando chegamos, fomos recepcionados por Isabela, a mãe de meu marido. Almoçamos e depois Jonathan, meu sogro, me chamou para conversar em seu escritório.
— Não sei o que você fez, Zoe, mas o João é outro homem. – Meu sogro tomava licor. – Devo confessar, achei que ele seria um inútil e jamais chegaria a lugar algum. Obviamente, isso deve ser coisa sua. Até os dezessete anos, ele não queria nada com a vida. Ele sempre foi tão diferente do irmão dele. Carlos desde cedo já sabia o que queria e com apenas onze anos, já tinha interesse nos nossos negócios.
Daí vinha a pressão.
— Pra ser sincera, Jonathan, eu não tenho nada a ver com o sucesso dele. João estudou e se dedicou pela própria vontade de vencer. – E me usou no processo. – Tudo é mérito dele. Ele não deve em nada ao Carlos, acredite.
Não acredito que estou defendendo esse idiota.
— Meu pai o colocou na vice-presidência por ter visto nele um diferencial. Nós, os Cavalcantes, somos bons em enxergar talentos. – Ele sorriu.
— É uma mulher como você que desejo que tome conta dos meus negócios e se meu filho está sendo ensinado por vocês, então acredito que será um bom sucessor. – Meu sogro me entregou uma caixinha de veludo. – Isabela e eu escolhemos pra você. Veio diretamente da África.
Abri a caixinha e era um par de brincos de diamantes.
— Espero que goste. – Eram bonitos e pareciam caros.
— Obrigada, meu sogro. – Tirei os meus e coloquei.
— Do jeito que imaginei, minha querida. Vou chamar o João, tenho um presente pra ele também.
Poucos minutos depois, João entrou no escritório.
— Pois não, papai... – Ele me olhou rapidamente.
— Tenho um presente pra você. – Jonathan pegou uma caixa preta, um pouco maior que a minha.
— Papai, não me diga que...
— Sim, é o relógio do seu avô e como você sabe, ele é passado a cada homem bem sucedido da nossa família. Agora é seu e você dará somente a um filho seu que também siga seu caminho.
João abriu a caixa e se tratava de um relógio enorme e pelo que parecia, em ouro puro e diamantes. O que não esperava era vê-lo lacrimejar com o ato. Ele abraçou o pai e eu percebi que aquele momento não era meu, então deixei o escritório.
Ficamos até depois das 17 horas, pois eu não desejava passar a noite ali. Quando chegamos a BR, João desligou o rádio. Ele estava muito sério e certamente iria me perguntar sobre o que conversei com o pai dele.
— Meu pai não esconde a preferência por você, pelo idiota do meu irmão. – Seu tom saiu entristecido, magoado. – O que você disse a ele, que o fez me dar o relógio? Eu estava certo que ele daria a você, quebrando a tradição da família. Até o Carlos ficaria atrás nessa disputa.
— Não disse nada de extraordinário, não se preocupe. – Olhei para a janela. – Pensei que ficaria feliz. Você não queria o reconhecimento dele?
— Zoe, eu ouvi a merd* da conversa e até aquele momento, meu pai me achava um inútil. Eu me dediquei tanto, entrei no mundo dos negócios de cabeça, doei a porr* do meu tempo pra ter resultados e ele só me reconheceu, porque você disse aquelas coisas. – Aspirei o ar com força. – ATÉ QUANDO AQUELE VELHO IDIOTA VAI ME SUBESTIMAR?
João explodiu, dando um soco no volante, torcendo o seu pulso e pela primeira vez, eu o vi chorar. Definitivamente, jamais aprenderia a lidar com aquele tipo de situação.
— Para o carro... – Ele fez o que pedi.
Estávamos no meio do nada.
Trocamos de lugar, pois ele estava fora de si e não poderia dirigir sob aquelas condições. Eu apenas o deixei exorcizar aquelas tormentas. Me mantive calada até chegarmos em casa. João foi para o quarto de hospedes e eu pedi a um dos empregados para levar gelo e um analgésico para ele.
Não conseguia lidar com situações como aquela, então decidi relaxar da única maneira que eu sabia. Tomei um banho rápido, me arrumei e deixei a minha casa. Quando estava chegando na portaria, vi Olivia e o amigo.
Parei ao lado deles.
— Vão para o centro? – Os dois me encararam.
Olivia com raiva e seu amigo com um sorriso. Ela estava linda, uma perdição.
— Vamos sim, senhorita Zoe. – O rapaz respondeu.
— Só Zoe, por favor. Querem uma carona? Eu levo vocês. – Olivia ergueu as duas sobrancelhas.
— Ah, eu aceito... não queria pagar Uber mesmo. – O garoto entrou. – Entra, Olivia.
Visivelmente contrariada, Olivia entrou e sentou no banco da frente. Liguei o rádio e assim foi até metade do caminho. O rapaz me deu as coordenadas e o destino era uma boate.
— Eu queria agradecer pela força, Zoe. – O carinha falou. – Olivia me contou que você foi a responsável.
Só nesse momento notei que ele era gay e toda aquela encenação na festa não passou disso, encenação.
— Na verdade, o mérito é todo seu. Como é mesmo o seu nome? – Olhei pelo retrovisor.
— Caio, me chamo Caio. – Ele sorriu.
— Caio, o mérito é todo seu. Olivia me entregou seu currículo e você tem grandes qualificações. Então, não ache que foi um favor... – Devolvi o sorriso. – Espero que você cresça muito em nossa empresa.
— Muito obrigada, senho... Zoe, muito obrigada, Zoe.
— Você vai para aquele lugar? – Finalmente, ela decidiu falar.
— Oi? Desculpe, pode repetir? – Ela rolou os olhos.
— Perguntei se irá para aquele lugar. – Olhei para a via movimentada.
— Vou sim, preciso relaxar. – Sorri, imaginando o que se passava na cabeça oca.
— Pensei que fosse só no sábado. – Baixei o volume do rádio.
— Por que o interesse? Decidiu aceitar meu convite?
— O que? Você tá maluca? É claro que não. – Estacionei.
— A proposta ainda está de pé. Divirtam-se, crianças. – Olivia me fuzilou com o olhar.
— Obrigada, Zoe, e se divirta também. – Caio falou.
Apenas ri da reação da mimada. Era extremamente satisfatório.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 26/03/2022
Zoe é uma figura kkkk
Resposta do autor:
Ela é sim.
Um humor duvidoso kk
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