Amizade Sincera
Alice
Ouço vozes a uma distância que não sei mensurar. Tento, mas não consigo abrir meus olhos. Tenho a impressão de estar em alta velocidade, porém, estou deitada. Sinto abrirem minhas pálpebras e vejo uma luz forte. Tem alguém segurando minha mão. Minha cabeça dói muito.
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- Tesoura! – ouço alguém dizer.
Abro os olhos e tem um pano azul cobrindo meu rosto. Algo aperta meu dedo do meio e ouço apitos sequenciados. Não sinto dor, mas tem alguma coisa acontecendo na minha cabeça. Meus olhos se fecham.
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Acordo e percebo que estou deitada. Olho ao redor e contemplo uma sala branca. Ouço apitos sequenciados. Não faço ideia de onde estou, mas é frio e silencioso. Levanto a cabeça e sinto doer. Estou em uma cama de hospital? Como vim parar aqui? A última lembrança que tenho é de estar andando de moto a noite, tentando me livrar de uma perseguição. O que aconteceu que estou aqui? Em minha mão tem um aparelho com fios ligados a um monitor de frequência. No outro braço tem um soro sendo aplicado na veia. O que está acontecendo? Minha cabeça dói muito.
- Olá! – uma mulher morena fala comigo, ao lado da minha cama – Como se sente?
- Olá! – franzo o cenho ao respondê-la – Acho que estou bem, mas não faço ideia de onde estou.
Ela sorri e mexe no soro que está ligado no meu braço.
- Você está na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – me responde amigavelmente – Eu sou a enfermeira Andressa.
- Oi, Andressa – sorri, apesar da dor que sinto na cabeça – Eu sou Alice.
- Oi, Alice – ela colocou a mão na minha mão e apertou levemente – Vou chamar o doutor.
Acompanhei com o olhar ela sair da sala. Estou muito confusa. Já é dia e eu não entendo como que, da moto, vim parar direto aqui.
Um homem baixo e moreno entra na sala, vestido com jaleco branco e camisa social verde por baixo, com o estetoscópio pendurado no pescoço. Usa óculos e fala grosso.
- Bom dia, Alice! É uma alegria te ver acordada. Eu sou o Dr Bruno e, no momento, sou o médico responsável por você – sorria-me gentilmente
- Oi doutor – sorri em resposta – Pode me ajudar a lembrar como vim parar aqui?
- Posso sim. Primeiro vou te fazer algumas perguntas e você me responde o que souber, ok? – ele segurava uma prancheta e falava muito gentilmente
- Ok, doutor! – o respondi achando estranho aqueles procedimentos.
- Qual seu nome completo e data de nascimento?
- Alice Stromps. Nasci em três de janeiro de mil novecentos e oitenta e cinco.
- Ótimo, Alice – ele anotava minhas respostas – E qual a sua profissão?
- Sou consultora de negócios e finanças.
- Olha, que legal! – sorria-me – É boa com números, então?
- Um pouco – ri em resposta
- Muito bem, Alice. Você é casada? Tem filhos?
- Não e não. Solteira e sem filhos – ri timidamente
- Um problema a menos, então – revirou os olhos e fez careta sorrindo – E qual a última lembrança que você tem, Alice?
- Eu estava pilotando minha moto pela marginal, domingo à noite – franzi a testa – E agora estou aqui.
- Ok – ele me olhava e anotava no prontuário – E antes de estar pilotando, sabe me dizer onde estava e o que fazia?
- Sim. Eu passei o domingo em casa estudando para meu artigo do mestrado. A noite saí, passei em uma farmácia comprar analgésico e depois fui jantar em um restaurante italiano. Após o jantar, peguei a moto e me lembro de achar que estava sendo perseguida. Então desviei meu caminho e acessei o retorno. Isso é tudo que me lembro, doutor.
- Muito bem, Alice – falou enquanto ainda preenchia os papéis – Sente dor?
- Sim. Na cabeça! – respondi fazendo careta
- Certo! – ele baixou a prancheta e me olhou nos olhos – Alice, você teve uma concussão cerebral. Segundo a moça que te acompanhava quando deu entrada no hospital, você foi vítima de violência e ao cair, bateu a cabeça em um móvel.
Ouvia atentamente aquele médico me explicar o que aconteceu, mas não conseguia elencar a sequência dos fatos. Não faço ideia de quem é essa moça que ele se refere, e menos ainda, o que diz sobre violência.
- Lembra de alguma coisa, referente a isso? – perguntou-me prestando atenção em meu rosto
- Absolutamente não, doutor! – balancei a cabeça em negação – Não tenho a mínima ideia do que está me contando – e sorri timidamente
- Certo, Alice – me falou gentilmente -Isso é normal. Com o tempo, você se lembrará. No momento, seu cérebro está bastante inchado. Fizemos uma sutura no corte e será necessário você passar por exames – a expressão dele se transformou em bastante séria – No entanto, aqui no serviço público, demorará. Você tem convênio ou condições de pagar?
- Quais tipos de exame, doutor? – perguntei preocupada com minha situação – Não tenho convênio. Sou autônoma, nunca me ocorreu de fazer um convênio.
- Entendo! – ele continuava com expressão séria – É realmente algo que nos pega de surpresa, não é?! – suspirou – Mas tudo será resolvido. Os exames que serão necessários, são tomografia, ressonância, eletro e alguns outros.
- Eu posso pagar por isso, doutor – respondi aliviada – Só preciso de alguém que cuide disso por mim.
- Ok. Então já temos meio caminho andado – sorriu-me gentilmente – Agora descanse. Vou liberar a entrada da sua amiga que está ansiosa aguardando você acordar, mas é bem rápido. Estamos com o hospital lotado, e o horário de visitas, é mais tarde.
- Obrigada! – sorri em agradecimento
Ele saiu e eu me percebi bastante aflita. O que aconteceu? Do nada, estou em uma cama de hospital, recebendo diagnóstico de concussão cerebral? Com quem que eu briguei? E que briga foi essa, que me causou tudo isso? Fecho os olhos e sinto minha cabeça latejar. A luz do sol que entra pela janela, parece holofotes de estádio de futebol. Agradeço por estar viva, mas preciso entender o que está acontecendo.
Ouço leves batidas na porta. Ao ser aberta, surge Carol! Ela está com expressão de choro e o rosto machucado. Me olhou sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Correu e deitou a cabeça em meu peito, na tentativa de um abraço.
- Graças a Deus você está viva – me falava ainda com a cabeça sob meu peito – Eu te mataria mais uma vez, se você morresse!
Sorri com seu exagero, sem entender o que me falava.
- O que aconteceu, Carol? – perguntei-lhe
Ela se levantou, olhou em meus olhos e me acariciou o rosto. Escorriam lágrimas de seus olhos, mas seus lábios sorriam.
- Fomos metidas em uma encrenca. Mas já passou! – me falava sorrindo – Tudo o que você precisa saber é que vai ficar bem e eu te amo – acariciava meu rosto.
- Eu também te amo, Carol – sorri emocionada – Mas queria muito entender como vim parar aqui e por que você também está machucada?
Ela continuava a chorar e sorrir, me olhando emocionada e acariciando meu rosto e cabelo.
- Miga, vou te contar tudo – limpou as lágrimas do rosto com as duas mãos – Mas só quando você sair desse lugar feio – olhou ao redor fazendo careta.
- Depois dessa – me ajeitei na cama – Já sarei! – sorri para ela – Já posso ir embora!
Ela sorriu me acariciando.
- Isso mesmo! Faça o favor de sarar logo para eu poder fazer fofoca.
- Fala logo, Carol – pedi fazendo bico – Não tenho noção de como vim parar aqui – arregalei os olhos e dei de ombros.
- Acredite, miga – falou com expressão séria – Está bem melhor assim, sem saber – seus olhos marejaram novamente – Basta saber que caímos numa cilada e você, como sempre, foi valente em nos proteger.
- Nossa!! – respondi com os olhos arregalados - Mas você está bem? – segurei em suas mãos
- Estou bem, miga – me fez carinho no rosto – Por um momento achei que fosse perder minha alma gêmea – sorria e chorava – Mas Graças a Deus, minha gem*lar é a mais cabeça dura que tem, e está aqui, viva!!!
- Ah, Carol!! – respondi emocionada – Desse jeito você me faz chorar.
Ela deitou novamente a cabeça em meu peito e em seguida me olhou nos olhos.
- Saia logo dessa! – me ordenou apontando o dedo quase encostando no meu nariz – Você tem uma vida linda pra viver e eu quero você comigo.
Sorri com seu jeito de demonstrar preocupação e afeto. Ela me falou que já tinha comunicado meus pais e que, minha mãe estava esperando meu pai chegar do banco para poder vir ao hospital. Me explicou que o horário de visitas era no fim da tarde e que iria para casa, se trocar, e depois voltaria. Ainda me pediu para descansar e que tomaria conta das papeladas para me tirar logo dali e me colocar em um lugar melhor.
A agradeci por todo cuidado e ela, então, teve que se ausentar.
Apesar do ambiente frio e da solidão obrigatória, senti meu coração quentinho por ter uma amiga tão incrível como a Carol. Minha irmã de alma que a vida me presenteou. As informações ainda estavam confusas, mas agora já sabia o motivo de estar ali. Relaxei e fechei os olhos para descansar e adormeci.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
amoler
Em: 10/04/2022
É como a Cinara Martins comentou...
A história estava legal, aí foi ladeia a baixo.
Eu entendo que tem que haver conlito e drama. Mas a forma que foi feita aqui não faz sentido.
Enfim... ninguém lê esses comentários, não vou perder mais tempo...
Resposta do autor:
Poxa!!! Eu leio todos os comentários e procuro responder a todos
Sinto muito se não correspondi à expectativa do enredo. Ainda está no começinho, tem bastante história para continuar. Mesmo assim, agradeço a Cia.
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