Ligação
Laura
No caminho para o escritório, o senhor Pedro, quis saber detalhes do encontro. Estranhei, pois ele não tem esse hábito. Contei meio por cima sobre o ocorrido e surpreendeu-me sua reação ao ouvir o nome da figura.
- Joseph Gordon? – perguntou-me como que precisando ouvir novamente para poder acreditar
- Sim, senhor Pedro, Joseph Gordon. O novo empresário herdeiro da grande São Paulo – o respondi irritada – Por que a surpresa?
- Uma longa história, senhorita Laura – falou dirigindo seu olhar pelo retrovisor – Mas em resumo, esse garoto é perigoso.
- Ah é?! Perigoso como? – interessei-me pelo que ele sabia
- Até onde sei, é metido com uma máfia. É daquele tipo de menino, que de repente vira homem e quer mostrar o poder que tem, através da força – falava enquanto dirigia – A polícia já tentou pegá-lo várias vezes, mas ele acaba se safando por ter bastante influência com pessoas do alto escalão.
Ouvi atentamente as palavras do senhor Pedro e, lembrava de Gordon falando que estava me perseguindo a um certo tempo. Senti um certo medo.
- E o senhor acha que quando ele quer uma coisa, consegue? – o perguntei, sondando o terreno que estava sendo obrigada a pisar.
- Ah, senhorita Laura – olhou-me pelo retrovisor – Ele costuma usar meios nada convencionais para conseguir o que quer. Se seu caminho está se cruzando com o de Joseph, só te oriento a ter cuidado. Não o subestime!
- Obrigada pela dica! Serei cautelosa.
Chegamos ao complexo Veigas e antes de sair do carro, ele olhou-me nos olhos e falou carinhosamente:
- Estou com você! O que for preciso para te proteger, farei.
Adentrei meu empreendimento, sem muita cordialidade com os colaboradores. No caminho para o décimo andar, após mostrar-se preocupado com o assunto da manhã, Tom me atualizou dos acontecimentos enquanto estava ausente:
- Sinto lhe dizer que ainda não temos informações sobre a senhorita Alice. O inspetor Carlos estará aqui para conversar daqui quarenta minutos. Saiu a lista das empresas que estarão para arremate amanhã no leilão – ele falava quase sem respirar enquanto lia as atualizações em seu tablet - Sobre a feira de empreendedores, deixei sobre sua mesa a lista de possíveis locações e, chegou e-mail te convidando para um evento que discutirá temas relacionados a Negócios, Carreira e Gestão. Na verdade, fazem questão da sua presença, só que será em Maceió e é só para mulheres, o que me impossibilita de acompanhá-la – sorriu gentilmente baixando o tablet.
- Ufa! – revirei os olhos e sorri – Que bom que me ausentei apenas por uma hora.
A porta do elevador se abriu e fui recebida com os sorrisos gentis da Mirela e dona Chica. Retribuí sem muita vontade. A preocupação comigo e com Alice, no momento, está maior do que qualquer cordialidade.
Antes de entrar no escritório, dona Chica dirigiu-se até mim e pude ver em seus olhos uma certa preocupação.
- Senhorita Laura, sei que não teve um bom dia, até agora – baixou os olhos ao falar – Mas gostaria de pedir, se for possível, para que eu saia um pouco mais cedo.
- Aconteceu alguma coisa?
- É que eu tenho uma filha de coração, que sofreu um ataque e está no hospital – falou com os olhos marejados – Queria muito poder ir vê-la, mas para isso tenho que sair mais cedo para pegar o metrô e ônibus.
- Mas é claro que pode, dona Chica – a respondi gentilmente – Vá o quanto antes, e peça para o senhor Pedro, meu motorista levá-la. Eu ficarei aqui até tarde.
Ela me agradeceu bastante emocionada e foi logo arrumando suas coisas.
Entrei no escritório com a companhia do Tom, que imediatamente fechou a porta e quis saber todos os detalhes do almoço.
- Não sei o que fazer, Tom – falei a ele sentando-me em minha cadeira – Não sei até onde Joseph está blefando ou falando sério.
- De qualquer modo, Laura – alertou-me Tom – É bom tomar cuidado.
Continuamos a conversar e à medida que falávamos, meu coração se apertava. Estava com uma sensação esquisita, no entanto, concentramos nossas ações no trabalho. Tomei algumas decisões referente à feira de empreendedores e pedi para que o Tom pesquisasse um pouco mais sobre o evento que fui convidada. Após as declarações de Joseph, estou com receio dos meus próximos passos.
Assim que fiquei sozinha, a Mirela me informou que o inspetor Carlos me aguardava. Pedi para que entrasse e, tão logo, estava a minha frente.
- Meu pessoal me informou os detalhes, senhorita Veigas. Agora preciso saber de sua parte, o que deseja fazer? – perguntou-me gentilmente.
- Inspetor Carlos, para ser bem sincera – olhava fixamente em seus olhos – Estou muito assustada e temerosa.
- É compreensível, senhorita.
- Mas eu não sou o tipo de mulher que aceita ameaças e não toma atitudes – falei enquanto andava até o frigobar e me servia de uma dose de uísque.
- Certamente que sim, senhorita Veigas.
Apoiei-me na mesa ao lado do inspetor, e categoricamente o disse:
- O que desejo é que monte uma equipe. Discreta, porém eficaz – arqueei a sobrancelha e o olhei fixamente – Quero estar um passo à frente de todas suas ações.
- Sim, senhorita.
- Até ontem à noite, eu era uma mulher forte e destemida. Dona de um império, conquistado com meu esforço e dedicação – tomei um gole da bebida que segurava nas mãos – A partir do momento que ouvi aquele moleque me falar que tem observado cada passo que dou, que sabe de tudo o que faço e que, praticamente estou em suas mãos, titubeei.
- Mas ele te perseguir, não anula quem você é, senhorita Veigas – me falou o inspetor – Pelo contrário! Se ele te observa, é porque tem o que oferecer.
- Exatamente! – olhei em seus olhos – E se ele quer saber o que tenho a oferecer – levantei o copo em brinde – Voilá! – virei todo o restante da dose – Que assim seja.
Ele sorriu com minha atitude e eu prossegui.
- Reúna seus melhores. Se Joseph me observa, eu serei seus próprios olhos.
- Como quiser, senhorita – respondeu me acenando com a cabeça.
- E quanto a senhorita Alice? – o perguntei tentando esconder minha ansiedade por respostas
- Ainda não tenho notícias, mas meu pessoal certamente a encontrará – tentou me tranquilizar aquele competente policial.
Mesmo tendo uma porção de afazeres a concluir, e saber que estava com várias pessoas envolvidas no caso que surgira pela manhã, meu coração está ansioso por saber de Alice. A lembrança de seu olhar profundo e feliz, ao deixar a farmácia na noite anterior, divide meus sentimentos em um misto de alegria e desespero por desejar notícias e torcer para que sejam positivas. Não me convenci com as falas do Joseph, de que não sabe de seu paradeiro. Aquele inescrupuloso ser, conseguiu despertar em mim um sentimento, que até então, era apenas querer bem. Agora, sinto como que precisasse saber dela, para poder respirar aliviada.
Em meio a esses pensamentos e planos com o inspetor, o telefone dele toca e observo atentamente a conversa.
- Ah, que ótimo! – ele pegou uma caneta junto de um bloquinho de anotações do bolso e começou escrever – Sim, pode falar.. ok....ok...certo....obrigado.
Virou-se para minha pessoa, com um sorriso aliviado e as anotações nas mãos.
- Notícias da senhorita Alice.
- Por favor, me diga – coloquei o copo na mesa e virei-me atentamente a ele – Ela está bem?
- Deu entrada em um hospital público, por volta das dez horas da manhã – me falava olhando nos olhos - Não tivemos acesso ao prontuário, mas tem um pessoal da delegacia esperando no local para conversar com ela.
- Qual endereço? – de imediato peguei minha bolsa – Vou pra lá agora!
- É melhor aguardar, senhorita Laura – levantou-se também – Ainda não temos um parecer sobre seu estado de saúde.
- Só preciso do endereço, senhor Carlos – já estava com as mãos na maçaneta da porta.
Ele me estendeu suas anotações e saí a passos largos.
Nada, nem ninguém, me impedirá de ir até Alice.
Meu coração bate à mesma velocidade que minhas pernas se movem. Minha vontade é correr. Ter notícias de Alice me alivia e ao mesmo tempo, impulsiona. Poder ir ao seu encontro é como retribuir todo o cuidado que já teve comigo, e isso, é o mínimo que posso fazer.
Fim do capítulo
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