Bar 507
Alice
Enquanto eu percorria entre os carros que estavam parados ou, em baixíssima velocidade no trânsito caótico de São Paulo, as palavras de Joseph latej*v*m em minha mente.
Não conseguia assimilar a ideia de um jovem bonito e com inúmeras possibilidades e privilégios, pedir a minha ajuda pra conquistar uma mulher. Seria trágico se não fosse tão cômico.
Me perguntava incrédula o por que isso mexeu tanto comigo?! Será que era pelo fato da Laura ser de longe a mulher mais intrigante e misteriosa que já tinha ouvido falar e por eu já ter tentado tantas vezes negociar com os assessores dela uma oportunidade para, a partir do meu trabalho, me mostrar a ela?! – sorri sentindo o vento acariciar meu rosto e constatar que Joseph estava tentando fazer o mesmo que eu já tentara tantas vezes.
Mas o que mais me incomodava era o fato de ele ser homem e certamente teria sucesso em seu plano com mais facilidade. Afinal, até onde eu sei, a tão poderosa Laura Veiga é hétero, e o que adiantaria meus mirabolantes planos na tentativa de me fazer ser conhecida a ela, se eu, mulher, lésbica, jamais teria chances.
Cheguei ao imponente edifício Dallas para a reunião que tinha marcado. O assunto de Joseph tinha me deixado tão encabulada que nem parei para almoçar. Segui direto rumo ao meu compromisso.
A reunião foi tudo dentro do esperado. Consegui fechar um contrato de grande importância e dessa forma, estava com mais uma empresa em ascensão na minha carta de clientes. Finalizei meu compromisso muito feliz e queria comemorar com minhas amigas. Ao entrar no elevador, liguei para a Carol, minha amiga confidente e a convidei para sairmos a noite pois tinha novidades a contar. Ela aceitou o convite e disse que levaria um casal de amigos, aceitei tranquilamente.
Antes de ir ao nosso encontro, descansei um pouco do dia corrido e organizei meus horários do dia seguinte.
--x--
Fui a primeira a chegar ao Bar 507, onde marcamos nosso encontro.
Escolhi uma mesa na varanda para poder ver o movimento da avenida. Pedi um chopp claro e enquanto estava à espera do pessoal resolvi marcar as aventuras para o final de semana.
Agendei meu salto de paraquedas numa cidade a 150km da capital para o sábado de manhã.
Carol chegou como de costume, toda alegre, falando alto e rindo com dois novos amigos. Um moço alto, negro, cabelo black power lindíssimo, vestia uma calça jeans bem apertada e jaqueta igualmente jeans porém larga que completava o visual com uma camiseta ostentado as cores do arco íris, e uma moça linda, com cabelos curtos , pele morena clara, brincos grandes e roupa casual. Usava um delineador perfeito, fazendo realçar os olhos negros como jabuticabas que faziam contraste com batom carmin e um sorriso encantador.
- Oi "miga"! Saudade de você – Carol me cumprimentou com um beijo no rosto – esses são meus novos amigos. Gil e Bia.
- Prazer! Alice! – cumprimentei ambos com dois beijinhos no rosto para não perder o costume.
Gil já foi logo puxando uma cadeira e sentou-se ao meu lado chamando o garçom. Carol ficou a minha frente e Bia a frente de Gil. Bia se mostrou tímida. Conversamos e nos divertimos ao longo da noite, enquanto por inúmeras vezes troquei olhares com a Bia que sempre que eu a olhava e nossos olhares se encontravam, ela desviava baixando o olhar e esboçando um leve sorriso no canto da boca, o que fazia aparecer uma linda covinha.
Acredito que eu não estava conseguindo esconder minha admiração por aquela garota que surgiu inesperadamente naquele encontro.
Gil nos contou que trabalhava como personal e que se soubesse de algum colega que estava a procura de um amor, era para disponibilizar o telefone dele, pois tinha certeza que logo encontraria algum homem bom igual a ele para viverem uma linda história.
Bia estava estudando para ser comissária de bordo, e nos contou que o curso intenso consumia muito seus dias devido os treinamentos que são obrigados a concluir antes de poderem ingressar no mercado de trabalho.
Carol, minha amiga de adolescência, alma gêmea fraterna é bióloga e muito tagarela. Estava animadíssima com a possibilidade de seu livro ser publicado, já que tinha passado os últimos seis meses praticamente enclausurada escrevendo sobre as minuciosidades biológicas das frutas – e nos contava os detalhes das floradas frutíferas e seus benefícios para nossa espécie.
Eu me mantive mais participante das conversas e acabei não contando as novidades do meu dia. Me concentrei então na troca de olhares com a Bia que foi ficando mais intensa a medida que a pilha de copos de bebidas ia se aumentando em nossa mesa.
- Que comecem os joguinhos - refleti tomando um gole de cerveja e encarando Bia que retribuiu o olhar igualmente em um gole da caipirinha de limão que havia pedido.
Carol percebeu a troca de olhares e sorriu discretamente, me lançando uma piscadela como que aprovando o possível envolvimento.
- E vocês, Bia e Carol, se conheceram onde? - perguntei na intenção de saber quais seriam as possibilidades para a noite.
Carol já tomou a frente e foi logo respondendo :
- Miga, lembra que te chamei pra ir no Pub na sexta mas como você ia fazer trilha no sábado e não foi?! Então, conheci a Bia e umas amigas que estavam passeando por aqui e trocamos "zap". Por fim, nos falamos a semana toda - e riram.
- Entendi! E você, Gil? - perguntei apoiando meus cotovelos na mesa e a mão no queixo.
- Eu sou personal e confidente da Bia, né Bia?! - e estendeu as mãos para alcançar as mãos dela que retribuiu o gesto.
- Sim! Gil é um querido e amo estar com ele, apesar de ele sempre me trocar pela queridinha dele - e revirou os olhos - quase todos os dias. Mas ainda assim o amo e fico o aguardando incessantemente na academia - concluiu a frase lançado uma piscada para ele e um sorriso pra mim que fiquei sem graça.
- Você sabe que não é isso né?! A Laurinha tem horários restritos e eu tento adaptar os treinos de acordo à disponibilidade dela - explicou-se Gil.
- Ah! Gil! Fica tranquilo que de clientes complicados eu entendo - sorri ao falar e tomar mais um pouco do chopp, aproveitando para direcionar novamente o olhar pra Bia que retribuiu, sorrindo.
Ficamos mais um tempo conversando e então nos apressamos em ir embora. Os relógios já apontavam quase 21h e o próximo dia era cheio de compromissos para todos. Pedimos a conta da mesa e saímos para nos despedirmos na calçada.
Gil e Carol iriam no mesmo carro de motorista por aplicativo, dividindo a corrida por fazerem trajetos próximos, e a Bia começou a solicitar uma corrida a ela, quando perguntei pra onde iria e ela me respondeu que seria por caminhos semelhantes.
Então, a ofereci carona. Todas as vezes que saia com a Carol a levava embora de moto, portanto, já estava com um capacete reserva na moto. Bia aceitou.
Carol me olhou e fez sinal com os dois dedos direcionando aos seus próprios olhos e a mim, como quem diz: "estou de olho" - sorri e acenei em despedida.
Nos direcionamos até onde minha moto estava estacionada, ofereci a ela o capacete, vesti o meu e me ofereci a ajudar prender o dela. Arrumei a frente do capacete, vesti sobre sua cabeça e ao prender a presilha de proteção no queixo, ela segurou em minhas mãos, me olhando profundamente nos olhos.
Senti um arrepio na espinha que subia para o meio das costas. Retribui o olhar com um sorriso.
Subimos na moto e seguimos nosso trajeto. Minha surpresa foi quando ao acessar a marginal, senti suas mãos entrelaçarem minha cintura, apoiando seu corpo em minhas costas e a cabeça no ombro. Mantive a direção firme e sorri com o afago. Seguimos assim por todo o caminho, até que chegamos em frente a um prédio residencial, daqueles com portaria e estacionamento subterrâneo.
Estacionei, desliguei a moto. Ela desceu, tirou o capacete, chacoalhou os curtos fios de cabelo pretos como a noite, me olhou com sorriso nos olhos :
- Obrigada pela carona, moça bonita! Foi um prazer te conhecer - me falou deitando um pouco a cabeça sob os próprios ombros, esticando os braços para me entregar o capacete.
- Por nada, moça bonita! O prazer foi todinho meu! - e sorri pegando o capacete de suas mãos e encaixando no meu antebraço, de modo que ficou pendurado perto do cotovelo.
Ela então se aproximou para me dar um beijo de despedida e senti quando seus lábios, pintados com irretocável batom carmin e quentes como o sangue, encostaram no canto dos meus lábios e com uma das mãos me tocou a face com a mão gelada pelo trajeto na moto.
Na realidade o beijo durou segundos, mas para mim foi em câmera lenta e durou uma eternidade.
Pude sentir o cheiro de seu perfume, com notas doces e amadeiradas e o toque dos seus lábios em minha pele, aceleraram meus batimentos cardíacos. Fechei os olhos enquanto ela direcionava aquele singelo, porém surpreso beijo e sorri ao mesmo tempo em que sentia minha garganta secar.
Suspirei profundamente, no que ela me perguntou:
- Está tudo bem, moça bonita? - e me lançou um sorriso travesso. Apenas balancei a cabeça, em sinal positivo a olhando fixamente.
- Agora já sabe onde moro! Venha sempre que quiser. Moro sozinha aqui em Sampa. Minha família é do interior.
- Jura?? Eu vou para o interior no sábado, saltar de paraquedas. Quer ir? - perguntei empolgada a ela.
- Nossa!! Então além de linda, também é aventureira? - me perguntou lançando um sorriso faceiro.
Corei de vergonha
- Sim! Sou aventureira. E você? O que esconde esses lindos olhos?? - a indaguei olhando para sua boca.
- Se quer saber dos olhos, olhe para eles e verá, mas se quiser saber da boca - ela parou e fez um bico - pode descobrir também - me respondeu baixinho e chegando mais perto.
Sorri e a encarei nos olhos. Ficamos em silêncio apenas nos olhando. Eu estava completamente encantada com a beleza daquela mulher que estava ali toda jogando charme pra mim.
- Aceito!! Quero ver se é aventureira mesmo ou é só da boca pra fora - ela me respondeu quebrando o silêncio que estava entre nós. Me deu um beijo rápido no rosto - Vou pra cama que amanhã tenho treino pesado!! Obrigada mais uma vez, moça bonita.
E se afastou subindo na calçada antes que eu pudesse retribuir o beijo. Baixei a viseira do meu capacete, liguei a moto, lancei um último olhar e parti rumo a minha casa com um sorriso nos lábios e a espinha ainda arrepiada.
Fim do capítulo
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