Sayruci e Vera estavam na sede da ONG LGBT para a qual a caipira vinha trabalhando com certa frequência. As duas atuavam nos preparativos para um festival gastronômico.

 

--Essa sua ideia de festival foi muito massa, Sayzinha. – Vera comentou enquanto limpava uma mesa – Teu chefe bancou, Natasha conseguiu umas dançarina, Veruska arrumou o espaço e eu tô confiante de que vai dar ibope! – estava animada – E ainda com direito a vender chocolate pornô na saída! – sorria

 

Achou graça. – Eu adoro organizar festivais gastronômicos, amor. – respondeu enquanto conferia os adereços das dançarinas guardados em uma caixa. – E embora meu chefe esteja nem aí pras pautas LGBT, ele quer dinheiro e gostou da ideia de um evento que o permitisse mostrar a cultura e a culinária árabes pra esse público. – marcava a quantidade dos itens em uma lista presa a uma prancheta – E uma vez que ele concordou em participar, foi fácil encontrar um restaurante de comida italiana, um francês e um japonês dispostos a participar também. – continuava conferindo os itens – Até aquele grego entrou no jogo, né? – sorriu – Todo mundo querendo lucrar com a gente!

 

--Isso tudo foi a sua inteligência e o seu charme! – continuava limpando a mesa -- O poder desses olhos verdes... impossível te dizer não! – olhou para a morena rapidamente e soprou um beijo

 

Gostou do que ouviu. -- O espaço que Veruska arrumou já tá todo decorado. – conferia os chocolates nas caixas – Mas ainda assim vai ser uma trabalheira, porque depois do árabe muda tudo pro italiano e por aí vai.

 

--E esses outro não se anima de levar show, minha linda? – Vera ajeitava as pernas da mesa – Se só o árabe tiver dança, vai nadar de braçada na frente dos outros!

 

--O grego e o italiano vão fazer seus shows de dança também. – conferia os CDs – O japonês quer mostrar arte samurai e o francês até agora falou nada.

 

--De tudo o que eu mais gosto é do árabe! – passou para debaixo da mesa para apertar os parafusos das pernas – E acho bonito que chega dói aquelas dança com véu e os trem tudo!

 

--Acha? – segurou um dos adereços das dançarinas e ficou pensando – Hum... – sorriu e mordeu o lábio inferior

 

--Eu acho. – permanecia embaixo da mesa – É sensual, diferente... – aparafusava com a chave de fenda – “Minha Sayzinha dançando um trem desse deve ser um espetáculo!” -- pensou

 

Após terminar o conserto da mesa, Vera se levantou e fez força sobre ela para testar. – Pronto! Agora esse trem tá firme e deixou de bambear. – estava satisfeita com o resultado – Sayzinha, você... – virou-se de frente para a outra e interrompeu a fala – Misericórdia... – babou

 

--A roupa ficou bem em mim, habibi? – pôs as mãos na cintura e sorriu

 

--Ô... – reparou de cima a baixo com desejo

 

Sayruci usava um bustiê verde ornado com pedrinhas brancas e bem decotado. A saia abaixo do umbigo consistia de um conjunto de véus verdes em tonalidades distintas presos por uma espécie de cinto bordado da mesma cor.

 

--Faz tempo que eu não danço assim. – ergueu as mãos acima da cabeça fazendo uma pose e destacou uma perna, que ficou bastante exposta – Será que ainda sei? – perguntou provocante

 

--Ah, sabe... – o coração batia acelerado – Eu que sei nem mais meu nome... – engoliu em seco

 

Achou graça da reação e começou a dançar mesmo sem música. Requebrava a cintura, movimentando os braços com delicadeza e fazendo movimentos com o pescoço.

 

--Sayzinha... – aproximava-se devagar – Assim a caipira pira... – olhava para a amada com desejo

 

--E por que? – perguntou provocante – É só uma dança... – virou-se de costas para a parceira – Cultura, habibi. – reclinou o tronco para trás, olhou para a outra e piscou – Você não disse que gostava? – virou-se de frente novamente e se aproximou dançando – Danço pra você...

 

--Ave Maria... – sentia-se cada vez mais excitada

 

Virou-se de costas novamente e encaixou seu corpo no da parceira. – Não tá gostando, habibi? – perguntou com voz hipnótica – Hein? – roçava na outra enquanto dançava

 

Vera se controlava para não agarrar a morena. – Você quer endoidar a caipira, não é? – sussurrou no ouvido dela

 

Virou-se de frente novamente – Sabe o que eu quero? -- tirou um dos véus da saia e laçou o pescoço da outra – Você! – puxou-a pelo véu e a beijou com desejo

 

--Vem agora! – Vera puxou a amante de encontro a si e rapidamente a ergueu do chão – Agora! – deitou-a sobre a mesa – Linda... – beijava, mordia e lambia pescoço e colo da morena – Deliciosa... – despia a outra com pressa – Hum... – desatou o cinto da saia como pôde e mergulhou entre as penas dela com volúpia

 

--AH!... – gem*u excitada e a segurou pelos cabelos – AH! – fechou os olhos e reclinou o corpo sobre a mesa – “Eu fico louca quando ela vem assim desse jeito...” -- pensou

 

Vera explorou o sex* da parceira até deixá-la bem excitada. Apertou com força as nádegas da amante e seguiu beijando, mordendo e lambendo o abdomên dela até chegar nos seios.

 

--Ai, amor! – sentia a parceira sugando e mordiscando seus seios alternadamente – AH! – reclinou a cabeça quando foi puxada pelos cabelos da nuca – Me faz goz*r, vem! – segurou o rosto dela com as duas mãos e a beijou

 

A caipira introduziu dois dedos e começou a penetrar aceleradamente, mas com cuidado.

 

--Ah! – Sayruci abraçou-a com força e remexia o corpo excitada – AH!! – gem*u alto ao atingir o clímax

 

Vera manteve a penetração enquanto a morena ainda tremia sob suas mãos. – Linda... – beijou-a – Te amo... muito... – falava entre beijos

 

Sayruci empurrou a caipira pelos ombros. – Tira essa roupa! – puxou a blusa da outra – Tira! – despia a parceira com pressa

 

Vera tirou as próprias calças e sapatos de qualquer jeito e ficou nua rapidamente. – Era o que você queria? – beijou-a

 

--Quero mais! – empurrou-a mais uma vez e saiu da mesa, ficando de pé – Quero você inteira! – empurrou a caipira até que encostasse na parede – Você é minha! – beijou-a – Minha... meu amor... – seguiu beijando, mordendo e arranhando o corpo da outra até chegar no sex* – E só minha! – ajoelhou e invadiu a intimidade da parceira com boca e lábios famintos

 

--Ah... – segurou a morena pelos cabelos da nuca com uma das mãos – Ai, Sayzinha... – fechou os olhos – Ah...

 

Sayruci arranhava as coxas da caipira enquanto provocava-lhe o sex* de todas as formas.

 

--AH!!! – gem*u alto ao atingir o orgasmo – Ah! – sorriu – “Essa mulher é um arraso, Ave Maria...” – pensou extasiada

 

Nisso, Natasha e Veruska chegavam cheias de bolsas com enfeites para a decoração italiana.

 

--Amiga, deixar isso guardado em ordem, porque quando acabar a fase árabe a gente vai ter que rebol*r pra mudar a decoração toda bem rapidinho! – Natasha forçou a maçaneta mas a porta não abriu – Tá trancada! – estranhou

 

Sayruci e Vera entreolharam-se apavoradas.

 

--Tô com a chave aqui. – Veruska mostrou a bolsa – Consegue pegar nesse bolsinho? – indicou com o queixo – Não tô querendo colocar as bolsas no chão. É o chaveiro da Barbie.

 

--Consigo, peraí. – ajeitou-se com suas bolsas para liberar uma das mãos

 

E dentro da sala, Vera e Sayruci corriam como baratas tontas.

 

--Pronto. – Natasha pegou as chaves e se preparou para abrir a porta – É qual delas mesmo? – derrubou no chão – Ai, gente! – revirou os olhos

 

--Tá com a mão furada, amiga? – Veruska provocou

 

Sayruci vestia-se correndo enquanto Vera tentava calçar os sapatos.

 

--Pronto. – pegou as chaves de novo – É qual delas? – repetiu a pergunta

 

--Essa da cabeça amarela.

 

Vera procurava uma flanela e Sayruci arrumava nervosamente os adereços de dança dentro da caixa.

 

--Tem certeza? – Natasha perguntou forçando a porta – Não abre! – reclamou

 

--Deixa eu ver. – Veruska assumiu o lugar da outra – Pronto. – abriu a porta e entraram

 

--Ué? – Natasha estranhou – Vocês tavam aqui? – olhou surpreendida para as duas mulheres

 

--Trancaram a porta por que? – Veruska não entendeu

 

A morena estava segurando uma prancheta com papel e caneta em uma das mãos e com a outra uma saia formada por véus, enquanto a caipira limpava a mesa com uma flanela.

 

--Vocês tavam tentando entrar? Nem reparei, desculpem. – Sayruci olhou para as mulheres – Eu tava conferindo tudo pra parte árabe do festival e vi que tem uma saia ruim. – mostrou a peça – O cinto tá avariado. – tentava ser natural – No mais, tudo está ok.

 

--E eu consertei essa mesa e agora tô limpando, uai. – Vera também tentava disfarçar – Tranquei a porta com medo de ladrão. – mentiu – Nunca se sabe, né? – deu um sorriso amarelo

 

--Deixa a saia separada aí que eu vejo de consertar isso, mona. – Natasha afirmou despreocupada – Galho fraco. – colocou as bolsas em cima do sofá

 

--Verinha, já que você consertou a mesa, amanhã a gente leva ela pra ser mais uma no festival. – Veruska deixou suas bolsas no mesmo lugar – Tem café, gentem? – perguntou afetada

 

--Café não, mas fiz aquele chá árabe com hortelã, chá verde e especiarias que vocês adoram. – sorriu – Tá na chaleira, é só esquentar.

 

--Te amo, gostosa! – Veruska soprou um beijo para a amiga – Vem, Nat, tomar um chá quentinho pra espantar esse frio. – seguiu para a copa

 

--Arrasou, Say! – Natasha fez o mesmo e seguiu atrás da outra

 

Vera e Sayruci entreolharam-se e riram baixinho.

 

--Essa foi por pouco, Sayzinha! – aproximou-se da amada para cochichar – Sabe que nem vi que você trancou a porta? – olhava para ela

 

--Tranquei antes de vestir a roupa de dança. – ajeitou os cabelos – Você arrebentou a saia, caipira tarada! – brincou falando baixo

 

--Não tive culpa. – sorria – Você atiçou a caipira, uai! – olhou na direção da copa rapidamente – E ainda me fez mentir com a cara mais deslavada... -- cochichou

 

--Também tive que mentir... – sorriu e segurou a mulher pela presilha da calça – Depois de você eu faço cada coisa... – beijou-a nos lábios

 

--A caipira também não tava acostumada com certas travessura não... – abraçou-a pela cintura e a beijou

 

--Olha vocês duas aí, viu? – Natasha advertiu de longe – Tô ouvindo som de beijo e isso não pode! – brincou – Respeita as mulher solteira?

 

--Olha essa pouca vergonha aí! – Veruska brincou também

 

Sayruci e Vera interromperam o beijo e riram novamente em cumplicidade.

 

“Ah, se elas soubessem...” – a caipira pensou divertida

 

***

 

Samir e Zorayde conversavam no restaurante Al-Hafeez.

 

--Primeiro festival de inverno sem Sazii... – o homem enrolava o guardanapo pensativamente – Não consegui que chegasse nem aos pés do que ela fazia... – admitiu

 

--De fato, tenho que ser descortês e concordar com isso... – Zorayde respondeu com jeito – Minha filha é muito boa cerimonialista e gourmet. Pena que você só se deu conta disso muito tarde. – afirmou antes de beber um gole de vinho

 

O homem suspirou sem nada responder.

 

--E quanto ao divórcio? – limpou os lábios com o guardanapo – Vai continuar se negando? – perguntou interessada – Eu até cheguei a pensar que Sayruci voltaria pedindo uma chance mas ela não voltou. – cruzou as pernas – E agora não creio que volte, mesmo que o relacionamento dela com aquela talzinha não dê certo! – sentia antipatia por Vera, apesar de não conhecê-la

 

--Eu paguei um detetive pra localizar Sazii e a desgraçada que a enfeitiçou. – confessou – Ele encontrou, tirou umas fotos, que mostrei pro meu advogado, mas como Sazii quer apenas o divórcio e não pleiteia bens, acaba que elas servem de nada. – olhava para o guardanapo – Meus pais querem que eu dê o divórcio porque Sazii jogou o nome dos Hafeez na lama. – pausou brevemente – Por eles eu sequer conversava com a senhora.

 

--O nome Ajami também está na lama, Samir. – passou a mão nos cabelos – “E o pior foi que meus outros filhos adoraram saber do que houve!” – pensou revoltada

 

--Foi o que eu disse a eles. – respondeu de pronto -- E que a senhora não teve culpa de nada. – continuava mexendo no guardanapo

 

--Também já tive a fase do detetive. – confessou – Depois desisti. – fez um gesto despreocupado – Noto que Sayruci é como é desde os 13 anos. – pensava na paixão da filha pela professora de balé – Não quis aceitar e fiz de absolutamente tudo pra endireitá-la. – assumiu – Hoje me convenço de que não tem jeito. Não sei como são essas coisas, mas não dá para lutar contra a natureza de alguém.

 

--Eu não posso nem acusá-la de ter me enganado porque desde o começo achei que me casar com uma Ajami seria a melhor coisa pra mim. E quando conheci Sazii, tive certeza de que era ela a pessoa certa! – pausou brevemente – Nada nem ninguém me faria desistir daquele casamento.

 

--Apesar de tudo você há de reconhecer que minha filha se dedicou a você, Latifah, à casa e aos negócios de maneira exemplar, da mesma forma como fiz com meu falecido marido. – olhava para o ex genro – Foi depois que se deixou enfeitiçar que tudo desandou.

 

--É mesmo... e nosso casamento vinha tão bem... – suspirou – Sabe, eu pensei mil coisas! – olhou para a mulher – Achei que Sazii se deixou levar por essa onda LGBT na qual Latifah se meteu pra ter ibope e nisso apareceu uma sapatão interesseira que a fisgou! – conjecturava – Então pensei em mandar matarem a tal sapatão, pensei em pagar pra darem um susto nelas... pensei em várias coisas! – confessou – Mas aí vinha um remorso, uma dor e eu desistia, além dos desaforos que Latifah vive me dizendo e que me fazem pensar de uma forma ou de outra. – cruzou os braços – Não sou bandido nem mal feitor, então acabei desistindo de todas essas ideias.

 

--E não é mesmo! Sempre soube do seu bom caráter. – respondeu convicta – Essa história já durou tempo demais, Samir, e todos nós já sofremos muito. Dê o divórcio e reconstrua sua vida, pois não falta mulher querendo um partido como você. – aconselhou – Também gostaria que devolvesse as joias de minha neta e não a deixasse mais à míngua financeiramente. Esses meses de castigo foram bons pra ela pensar. Veja que até entrou pra faculdade de Direito e tem saído com Ihab, que é o solteiro mais promissor da cidade. Desde que ele voltou dos Estados Unidos esses dois estão um grude! – comentou satisfeita

 

“Hum, dona Zorayde não sabe que Ihab é gay...” – pensou – Latifah já está com um cartão de crédito, cujas contas controlo como nunca fiz. A faculdade dela sou eu quem paga. – informou – Embora ela me ache um ogro canalha. – afirmou com pesar

 

--Ela está do lado da mãe, é natural. Coisa de jovem também. – fez um gesto despreocupado – Se Deus quiser, logo ela se casa com Ihab e será muito bom para nossas famílias. Os negócios dos Nahim têm ido de vento em popa. – fofocou – Ouvi dizer que desde que assumiu os negócios do pai, Ihab está dinamizando a empresa como nunca antes se viu! – afirmou empolgada – Muito bom que justo agora ele esteja tão bem entrosado com Latifah! -- sorriu

 

--É mesmo? Ihab está dinamizando os negócios? – achava muito estranho – “E por que será que de repente aqueles dois andam nessa amizade toda, hein?” – pensou intrigado – “O que será que eles estão tramando?”

 

***

 

Latifah e Ihab estavam em uma sala no hotel da família da jovem. Aprontavam-se para sair à noite.

 

--Honey, se prepara pra ficar gostosa! – a jovem anunciou enquanto maquiava Ihab – Agora que finalmente criou coragem, hoje cê vai sair daqui uma gata!

 

Gostou do que ouviu. – Vai ser a minha primeira vez montada! – sorriu

 

--Sabe que eu tive reparando que você tem tudo pra ser uma mulher maravilhosa? – maquiava os olhos – Tem um corpo esbelto, com cintura definida, atlético de uma forma delicada, quase não tem pelos... – comentava – Depois que vestir a roupa que eu trouxe e colocar a peruca, não vai ter quem não te chame de Khadija, mon cher! – sorriu – E com a minha maquiagem, os gatos vão gem*r seu nome, baby! – falou afetada

 

--Eu quero ser Khadija pra sempre a partir de agora! – afirmou com ênfase – Vou deixar meu cabelo crescer e procurar aquele médico que te falei pra fazer o tratamento de transição! – decidiu

 

--Isso, procura e me chama pra ir junto! Não te quero caindo na mão de golpista, nem de qualquer Zé Ruela. – advertiu – E cabeça erguida, porque toda mulher poderosa é assim!

 

--Cabeça erguida! – concordou

 

--Agora deixa eu finalizar com um batom maravilhoso! – pegou o item na caixa de maquiagem – Ele dá um efeito que os lábios incham um pouquinho. – pintava os lábios com cuidado – Pronto, agora pressiona um contra o outro e sopra um beijo!

 

Khadija fez como solicitado e piscou para Latifah.

 

--Ai, que toda boa!! – exclamou afetada – Agora se veste que eu tô louca pra infernizar nessa night contigo, anda! – levantou-se – Quando a gente chegar na festa vai ser pra bombar! – pegou a caixa de maquiagem e foi até o espelho para terminar de se maquiar – E se prepara pra beijar muito! – advertiu divertida

 

--Eu tô tão excitada! – começou a se vestir – Minha primeira vez montada, uma festa de arromba em Puerto Iguazu e você do meu lado! – sentia-se feliz – Parece até um sonho!

 

--Essa noite promete! – ajeitava os cabelos – Mas aqui, me conta uma coisa. Cê sabe andar no salto, né? -- olhava para a outra pelo reflexo do espelho – Porque esses aí que escolhi pra você não é pras fracas! – gesticulou

 

--Eu sei, boba, sempre treinei! – respondeu orgulhosa – Sei até dançar! – calçava os sapatos – Vê lá se eu ia fazer minha musa passar vergonha? Never!

 

--Hum, gostei de ver! You rocked, my girl! – bateu uma palma – Agora só falta a peruca! – foi até uma bolsa e pegou o adereço com todo cuidado – Preparada pra ser uma ruivaça?

 

--Ai, eu tô! – empolgou-se – Coloca ela em mim, Latifah? – pediu como criança

 

--Senta aí, que é pra já! – pediu e a outra obedeceu – Agora vamos encaixar direitinho – ajeitava a peruca – e usar uns grampinhos pra fixar bem!

 

--Quando acabar vamos fazer uma selfie? – pediu sorridente

 

--Lógico, né, honey, é ruim de não! – respondeu de imediato – E vamos deixar um monte de gente por aí morrendo de inveja! – falava animada – GOSTOSAA! – gritou afetada

 

--DIVAA! – olhava para a amiga com admiração

 

--Pronto! Agora pode se levantar! – reparou na outra de cima a baixo – Amiga, fala sério, que dupla fodástica que nós somos! – gesticulou afetada

 

“Eu nem acredito! Eu e minha musa juntas numa festa!” -- Khadija pensou sentindo-se nas nuvens

 

***

 

Abigail estava completamente nua e sentada numa cama de um quarto de motel. Babava em contemplação ao striptease com o qual sua nova namorada lhe presenteava em uma fria tarde do mês de julho.

 

Ao som de Prince, Moema caprichava despindo-se lentamente.

 

You don't have to be beautiful to turn me on, (Você não tem que ser bonita para me deixar ligada),

I just need your body, baby, from dusk till dawn… (Eu preciso só do seu corpo, baby, do anoitecer até o amanhecer...)

 

A loura rebol*va sensualmente desabotoando a blusa.

 

--Ô, perdição... – Abigail bestificava-se ao ver a peça de roupa caindo ao chão

 

You don't need experience to turn me on, (Você não necessita de experiência para me deixar ligada),

You just leave it all up to me, I'm gonna show you what it's all about… (Apenas deixe tudo comigo eu vou te mostrar o que é isto tudo...)

 

Moema virou-se de costas e começou a tirar a saia bem devagar.

 

--Ave Maria, e como rebol* gostoso, essa galega... – babava enquanto uma saia voava pelos ares

 

You don't have to be rich to be my girl, (Você não tem que ser rica, para ser minha garota),

You don't have to be cool to rule my world… (Você não tem que ser descolada para dominar meu mundo...)

 

Moema sobe na cama dançando e abrindo o sutiã.

 

Ain't no particular sign I'm more compatible with, (Eu não tenho sinal particular, eu sou mais compatível com),

I just want your extra time and your... (Eu apenas quero seu tempo extra e seu...)

Kiss! (Beijo!)

 

Abaixou-se rapidamente ameaçando beijar a potiguar mas não fez.

 

--Ô, mulher, isso devia ser proibido... – sentiu um sutiã sendo jogado contra seu colo

 

You got to not talk dirty, baby, if you wanna impress me, (Você não tem que falar sacanagens, baby, se quiser me impressionar),

You can't be too flirty, mama, (Você não pode ser muito galanteadora, mama),

And know how to undress me (Yeah)… (E saber como tirar minha roupa (Yeah))...

 

A loura virou-se de costas novamente, rebol*ndo e desatando os nós que amarravam sua calcinha.

 

“Essa galega é de morte...” – sentia-se muito excitada

 

I want to be your fantasy, maybe you could be mine, (Eu quero ser sua fantasia, talvez você possa ser a minha),

You just leave it all up to me, we could have a good time… (Apenas deixe tudo comigo, podemos nos divertir...)

 

Moema deixou a calcinha cair sobre a cama e se abaixou ficando de quatro. Engatinhava como felina em direção a seu alvo.

 

“E ela vem com fogo nos olhos...” – pensou empolgada – “Essa mulher me quer é muito!” – sorriu

 

You don't have to be rich to be my girl, (Você não tem que ser rica, para ser minha garota),

You don't have to be cool to rule my world… (Você não tem que ser descolada para dominar meu mundo...)

 

A jovem iniciou uma trilha de beijos e suaves ch*pões ao longo de uma perna da potiguar.

 

“A bicha aqui embaixo chega tá abrindo e fechando que nem peixe em vidro de aquário!” – pensava no próprio sex* que latej*v* de excitação

 

Ain't no particular sign I'm more compatible with, (Eu não tenho sinal particular, eu sou mais compatível com),

I just want your extra time and your... (Eu apenas quero seu tempo extra e seu...)

Kiss! (Beijo!)

Prince - Kiss [1]

 

Moema invadiu o sex* da namorada com volúpia.

 

“Eita, que ela veio com sede de vingança!” – pensou excitada – Ai, galega... – fechou os olhos e relaxou abrindo as pernas – AH! – gemia – AH!!

 

A jovem provocava os seios da parceira com as mãos enquanto deixava que língua, nariz e lábios explorassem o sex* da outra com relativa fúria. Em poucos minutos Abigail explodiu em um orgasmo vigoroso.

 

--AH, AH, AH!!!!!! – gem*u alto sentindo o corpo tremer – “Ave Maria, encontrei o amor espalhafatoso que eu sempre quis!” – pensou satisfeita

 

--Vejo que... – mordeu a barriga da outra – Você gostou do meu presente... – sorriu sensualmente

 

--E vou retribuir à altura não sabe? – inverteu as posições e seguiu direto para o sex* da outra – Ô, coisa boa! – mergulhou empolgada

 

--Ah... – fechou os olhos e gem*u – Vem, Bigs, vem! – pedia excitada – Assim, assim... – lembrava-se de fatos recentes – Assim...

 

“--Assina mais uma cheque, amor? – pedia dengosa

 

--Claro! – Abigail assinava com gosto”

 

A potiguar introduziu dois dedos e penetrou enquanto continuava excitando a parceira com a língua.

 

--AH! – gem*u mais alto – Bota tudo, bota tudo... – pedia – “Bota tudo no meu nome...” – pensou – AH!!! – chegou ao orgasmo pensando em dinheiro

 

***

 

--OH, cariño! OH! – gemia alto -- Tu linguitha em mi periquita dexame loca! – Maria Meirebel deleitava-se extasiada – És mui caliente, mujer!

--E tu no lo viste nadie! – Juanita Cacilda levantou a cabeça – Jo voy matarte te tanto gozo, no lo sabes? – perguntou sensual – Preparete, pois es la hora! – mergulhou novamente entre as pernas da outra

--OH, OH, OH, OH!!!! – gemia ensandecida – AI AI AI AI AIIIII!!!! – gritou

--Mi Diós! Que ser esto? – Ronaldo Patrício ouvia a furnicação – Gritos de Maria Meirebel? – arregalou os olhos – Jo tengo que vir isso de mui cercano! – correu para ver

--Ahora fica nas quatro patas que jo voy mostrarte una cositha! – Maria Meirebel pediu

--Mostrame! – ficou de quatro esperando – Vá que és tuya, Tafarela! – pediu

E quando Meirebel se preparava para furunfar...

CRASH BOOM BANG – som de porta sendo arrombada

--Mas o que se passa acá? – Ronaldo Patrício perguntou chocado – Jo estava aperreado pensando que mi mujer sofria de una cosa mala, más pia só lo que miro ahora? – apontava para as duas mulheres – Esta poca verguenza abaho de mi tetho! – gesticulou – Pois jo voy a matar! – sacou uma escopeta do bolso da calça

 

--Como pode isso, gente? – achava graça – Sacar uma escopeta do bolso da calça? – riu

 

--Esse espanhol tá certo, Sayzinha? – Vera estava intrigada

 

Vera e Sayruci estavam sentadas na cama lendo o conto de Abigail no notebook da morena. Sayruci estava encostada no tórax da amada e com o computador no colo, enquanto Vera encostava-se num travesseiro posto na cabeceira da cama. Abraçava a parceira pela cintura.

 

--Nada aqui tem sentido, amor, inclusive esse espanhol que Abigail inventou! – continuava achando graça – Ai, ai, que criatura doida!

 

--Passa pra outra página pra gente ver o que vem depois? – pediu para a morena

 

--Vamos ver se melhora! – fez como solicitado

 

--Oh! – Juanita Cacilda cobriu o corpo com o lençol – Tiengo miego, mi Padrecito! – gritou apavorada

--E ahora, quem poderá nos defender? – Maria Meirebel clamou

TCHANAN! – música de surpresa

E nisso, uma cabrocha vestida de preto com grená pula na cama para a surpresa de todos.

--Jo! – Gail Nasser segurava uma tamanca em cada mão

--Sapatón Roja! – as duas mulheres exclamaram satisfeitas

--No contaban con mi astucia! – deu uma tamancada na escopeta do cabra – Simbora, Sapatón! – deu-lhe uma tamancada nas fuça

 (NOTA DA AUTORA: Menção ao inesquecível seriado Chapolin Colorado)

 

--Uai? Ela agora entrou no conto e virou heroína, é isso mesmo? – Vera chocou com o que leu

 

--Sapatón Roja! – Sayruci ria com vontade – Ai, não guento!

 

A caipira acabou rindo também. – Sayzinha, não sei você, mas não me animo mais de ler esse conto! Quando eu penso que tô entendendo, ela mete uns trem doido no meio e me confunde toda, uai!

 

--Ai, ai... – balançou a cabeça divertida – Eu também não consegui ler Lésbicas da Faraó inteiramente, mas deixei um comentário. – lembrava – Vou fazer a mesma coisa agora. Deixar um comentário pra incentivar. – começou a escrever – E a senhora devia fazer o mesmo, dona Vera. – sugeriu brincalhona

 

--Anêim... – beijou a cabeça da amada – Você tem minhas senhas todas, escreve por mim, por favor! – pediu – Eu nem saberia o que comentar e quando é fé escrevo o que não devo e dou rata.

 

--Tá bom, vou fingir de Caipi e respondo. – concordou bem humorada enquanto digitava

 

--O pior é que ela só escreve tranqueira mas é cheia das leitura, né? – achava estranho – E esse conto aí ainda tem mais comentário que o outro! – reparou

 

--É o gosto de cada uma, amor. Fazer o que? – postou o comentário – Pronto, agora vamos ao seu. – saiu da própria conta para entrar na conta da parceira

 

--Eu ando muito preocupada com ela, sabe? – abraçou a cintura da morena com mais força – Aquela tal de Moema me parece uma tremenda interesseira! – pensava na loura – Ontem quando fui te buscar no restaurante vi as duas passeando no shopping. Tinha que ver! – lembrava do lance – Parecia que tava depenando Abigail! Era bem umas dez bolsa de trem que ganhou de presente!

 

--Abigail tem se conduzido de uma forma muito deslumbrada. – digitava – Eu não a conhecia antes, mas é nítido que o dinheiro virou a cabeça dela. E infelizmente só arruma namoradas lindas e interesseiras. – concluiu o comentário – Vê se tá bom, amor. – pediu

 

Vera leu e concordou. – Se eu não soubesse que foi você, pensaria que fui eu a escrever. – sorriu – Pode postar. – beijou a cabeça da namorada

 

--Pronto! – postou e na sequência fechou as abas dos sites para desligar o notebook – Eu tentei conversar com Abigail sobre essas coisas, mas ela me despachou solenemente. – colocou o computador sobre o móvel ao lado da cama – Foi até um pouco rude, eu diria. – lembrou da situação

 

--O mesmo comigo. Ela não aceita ver a verdade.

 

Sayruci virou-se de frente para a amada, entrelaçando as pernas. – Você e eu foi uma história bem diferente, que começou devagar, foi crescendo e chegou a um ponto em que eu não me imaginava mais longe de você. – olhava para a caipira – A gente praticamente casou quase sem namorar... – abaixou a cabeça e sorriu – Mas além de tudo que aconteceu antes de morarmos juntas, considero que trilhamos um caminho e... – levantou a cabeça novamente – Estamos construindo o amor diariamente.

 

Segurou uma das mãos da morena e a beijou. -- E é uma construção onde o dinheiro, status, nunca foram o mais importante. – complementou – Não foi a sua beleza que me puxou, nem esses maravilhosos olhos. – as duas sorriram – Foi o que percebi em você, foi a afinidade que nasceu e foi crescendo. – falava com carinho – E nem você se atraiu pela beleza que nem tenho. – pausou brevemente – Até hoje não entendo porque você me quis, mas não teve nada igual a esses namoro de Abigail. Ela quer as mulher porque são bonita. E as mulher quer ela porque tem dinheiro!

 

--De fato não foi a aparência que me atraiu pra você, até porque primeiro eu te quis e depois te conheci pessoalmente... mas sempre te achei uma gracinha. – segurou a outra pela camisa – E um charme! – puxou-a para um beijo

 

“Ave Maria! E não é que ela pensa assim?” – pensou encantada – Sorte a minha! – beijou-a

 

--Eu tenho orado pra Deus abrir os olhos dela. – Sayruci comentou ao finalizarem o beijo – Tomara que aconteça antes que seja tarde. – desejou

 

--E que ela encontre alguém como encontrei você. – acariciava o rosto da autora – Minha musa linda dos olhos enlouquecedores! – sorria – A capira pira... – beijou-a

 

“Ela me acha linda!” – pensou satisfeita – Hum, tenho que... te contar... – falava entre beijos – Fui convidada... pro Congresso... desse ano...

 

Sorriu satisfeita. – Mas é claro, uai! Melhor autora do mundo! – exclamou empolgada

 

--Exagerada, essa minha caipira safadinha... – beijou-a

 

--Esse ano vai ser no Rio, né? – lembrou do detalhe – E se você pedir as férias na época dele e a gente for pra lá? – propôs

 

--Ah! – achou graça – Mas viajar pro Rio é caro! – beijou-a e se levantou da cama – A gente não tem condições de viajar pro Rio e se hospedar por lá. É um dinheiro que vai fazer falta. – pegou um pente – Hotéis cariocas são muito caros! Imagine no verão! – começou a se pentear

 

--Pois eu acho que se a gente falar com a Paty Golezzo, ela bem pode arrumar um canto pra gente ficar sem morrer na paura! – olhava para a amada – Até hoje ela não te conhece e nem sabe que você é a maravilhosa Khaalii. Se ela souber, duvido que não ajude a gente! – tentava convencer a outra

 

--E por que você quer tanto que a gente vá nesse Congresso? – não entendia

 

--Porque é uma coisa que te falta fazer! Mostrar pra todo mundo quem é a Khaalii! – afirmou com ênfase – Tudo bem que Latifah promove teus conto no canal dela mas falta você se mostrar, uai!

 

--Hum... – refletia sobre o que ouviu – Algo a se pensar...

 

***

 

--Você deve ter estranhado que te chamei aqui, mas julguei que seria algo muito importante e oportuno. – Érica olhava para Abigail – Às vezes fazemos as coisas sem nos dar conta e creio que este seja o seu caso.

 

--Como assim? – não entendia – “Tanto arrodeio que essa mulher dá!” – pensou

 

--Como você sabe, a melhor contadora desse escritório cuidava das contas da dona Quitéria como uma cortesia minha; coisa que mantive pra você. – cruzou as pernas – Ela nunca me pediu isso, tampouco você, mas julguei que ela gostaria que assim fosse. Já lhe contei da dívida que tenho com ela e minha imensa gratidão em função de tudo que fez por mim e meus filhos.

 

--E eu sou muito agradecida a você também.

 

--Ocorre que ontem a contadora me procurou pedindo pra eu buscar conversar com você. – pensava em como introduzir o assunto – Em menos de um ano você gastou quase todo o dinheiro que tinha em conta. – pausou brevemente – Se continuar nesse ritmo, seus ganhos com os rendimentos das ações e os aluguéis dos imóveis não serão suficientes pra te manter. – advertiu – E você vai ficar muito mal!

 

Levou um choque ao ouvir. – Ah, eu... – ajeitou-se na cadeira – Acho que no começo eu fiquei meio empolgada, não sabe? – passou a mão nos cabelos – Mas agora que vou casar, me aquieto e tudo volta ao normal, visse? – sorriu

 

--Você vai casar? – levou um susto – Não sabia. – sorriu – E quem é a felizarda?

 

--Moema Leão! – suspirou embevecida – Uma galega linda por quem me apaixonei perdidamente e que me ama por demais! – gesticulou – Vamo juntar os trapinho em setembro, não sabe?

 

--Ah, então... que bom! – não levava muita fé – Desejo que seja um casamento maravilhoso! – estava sendo sincera – E que com ele você tenha mais cuidado com suas finanças. – advertiu novamente

 

--Vou ter! – afirmou convicta – Aliás, queria te perguntar. – debruçou-se sobre a mesa da outra – Como faz pra passar um dos meus imóveis pro nome dela? – apoiou o queixo sobre uma das mãos

 

Novamente se surpreendeu. – Olha... – debruçou-se sobre a mesa também – Sei que estou aqui como uma prestadora de serviços pra você, mas me permita, por gentileza. – olhava para a outra – Case primeiro, sinta sua esposa no dia a dia e somente aí você faz isso. – aconselhou – Lembre-se que a própria dona Quitéria teve um cuidado em relação a sua pessoa.

 

Não gostou muito da resposta mas não insistiu. – Tá certa... – afastou-se da mesa – Mas vamos conversando sobre isso. – levantou-se

 

--Certamente. – levantou-se também

 

--Bem, agora tenho que encontrar Moema no salão de beleza. – sorriu para a advogada e estendeu a mão – Pode deixar que você vai ser convidada de honra na nossa festança! Até mais, Érica.

 

Apertou a mão da outra. – Até mais.

 

Soltaram-se as mãos e Abigail partiu.

 

--Deus queira que não, mas essa aí vai se meter numa roubada... – balançou a cabeça pensativa – E dona Quitéria queria tanto que ela fosse sábia...

 

***

 

--Amiga, você tá arrasando! – Diana comentou empolgada – Terceira vez que te vejo na televisão em pouquíssimo tempo! Tá bombando!

 

Ficou toda prosa. – E o dinheiro tá começando a pingar melhor! – sorria – Não demora muito e vou ter condições de largar esse emprego aqui! – olhou para todos os lados para ver se alguém prestava atenção

 

--Deus te ouça! Essa tua chefe é uma praga!

 

--Também vou fazer uma visitinha lá na casa dos meus pais. – planejou – Quero ver se vão continuar dizendo que sou um atraso de vida! – lembrava-se do que ouvira – Duvido que não me tenham visto na TV!

 

--Relaxa, Paty. Essas coisas de família são meio complicadas e mais dia, menos dia, todo mundo cai na real. Espera que o tempo faz a parte dele. – aconselhou

 

--Eu sei. – concordou – Mas no final de agosto eles vão me rever. – cruzou as pernas – É o aniversário do meu pai e pretendo fazer uma surpresinha... – passou a mão nos cabelos – Ah, deixa eu te contar! – lembrou de um detalhe importante – Eu bem fui convidada pra palestrar numa faculdade! – sorria – Eles querem que eu fale sobre o metaverso e as novas tendências de interação digital!

 

--Hum, tá chique, viu? – ficou feliz em saber – Daqui a pouco você vai se garantir e meter o pé nesse emprego aí! -- desejou

 

–E nunca mais ouvir alguém gritando...

 

--DONA PATRÍCIA!! – Joelma berrou

 

--Ai, meus sais! – arregalou os olhos

 

--Ih, amiga! – Diana ouviu – Fui! – desligou o telefone

 

--DONA PATRÍCIA!! – berrou de novo – TEM QUE FAZER SINAL DE FUMAÇA, É?

 

--Calma, chefinha! – levantou-se de um pulo e correu para a porta da sala da outra

 

--Vá lá na sala do Rodrigo e resolva com o ele o problema da assinatura do nosso contrato com o governo do estado. – ordenou – Estão pedindo uns documentos, certidões e é tudo pra ontem!

 

--Tá, eu vou ver isso. – balançou a cabeça concordando

 

--À propósito, te vi na TV ontem. – cruzou os braços – Falou muito bem.

 

--A senhora achou? – ficou toda prosa – Ai, mas no começo eu fiquei super nervosa, depois fui me soltando e... – gesticulava

 

--DONA PATRÍCIA! – interrompeu a fala da outra – Vá fazer o que lhe mandei! Não é hora de bate papo!

 

--Ah, tá! – deu um sorriso amarelo – Tô indo! – seguiu para a sala do colega

 

--CORRE!! – berrou

 

--Tô correndo, meu Deus! – começou a correr – “Ai, se Deus quiser vou me livrar dessa agonia dentro em breve!” – pensou esperançosa

 

***

 

Após passar todo o mês de julho sem qualquer hóspede, o Morada dos Deuses Palace Hotel fechava as portas em definitivo. Desinteressado em continuar no ramo hoteleiro, o dono do estabelecimento decidiu que não valia mais a pena continuar.

 

--Que tristeza... – Rita olhava para o hotel do lado de fora – Ontem foi um chororô tão grande das camareira mais o pessoal da cozinha e hoje somos nós... – suspirou

 

--E agora, meu Deus? – Jailson lamentava – Vai ser tão difícil arrumar outro emprego, não sabe? No meio dessa crise... – os olhos marejaram

 

--E eu que pensei que Abigail fosse voltar... – Duarte olhava para o estabelecimento com tristeza – Ela era minha última esperança de salvar o Morada e nossos emprego...

 

--Bigail encontrou o rumo dela. – Rita secava os olhos úmidos com as mãos – É hora da gente encontrar o nosso. – respondeu com pesar

 

--Não suma, viu, Rita? – Jailson pediu como um menino – Não bastasse Bigail, se até você sumir eu vou... – começou a chorar – Eu vou... – não conseguiu mais falar

 

--Chore não, homi. – abraçou o amigo – Chore não... – chorava também

 

“E agora, meu Pai?” – Duarte pensava preocupado – “Onde que vou arrumar outro hotel pra eu gerenciar?” – lutava para não chorar

 

***

 

Zorayde seguia no carro com seu motorista. Voltava de uma audiência tensa onde havia se desentendido com seus filhos. Apenas Sayruci não havia aparecido.

 

“Eles podem fazer o que quiserem mas as ações de Amin são minhas!” – pensava – “Se quiserem ver um centavinho dos rendimentos delas, vão ter que me esperar morrer!” – estava decidida – “Não saíram de casa tão logo puderam? Não quiseram ser livres? Pois que paguem o preço!” – olhava para fora – “E Sayruci... essa aí nem quer saber de nada! Mas pelo menos tem mais dignidade que os irmãos. Quis declarar independência e saiu com o que era dela.”

 

Um motorista bêbado após uma longa noite de farra, vinha dirigindo por uma transversal da Avenida Paraná em alta velocidade. Em um dado instante perde o controle e se choca contra o semáforo.

 

--Meu Deus!!! – o motorista de Zorayde clamou apavorado

 

--AH! – a mulher cobriu o rosto com as mãos

 

Tentando se desvencilhar do poste, o homem joga o carro para a direita, invadindo o estacionamento da drogaria de esquina e se chocando contra um carro estacionado.

 

--AHAH!!! – ambos gritaram – Dona Zorayde, a senhora está bem? – olhou para trás – “Graças a Deus, só bati com o joelho!” – pensou aliviado

 

A parte traseira do carro havia sido esmagada pelo impacto e a mulher ficou imprensada pela carroceria.

 

Zorayde apalpou-se nervosamente e logo constatou que estava bem. – Graças a Deus, comigo tudo bem. – passou a mão no pescoço – O que é isso? – olhou para a mão e viu sangue

 

--O vidro quebrou de um jeito estranho e não lhe cortou por um triz! – abriu a porta do carro com dificuldade – Vou tirar a senhora daí. – o motorista saiu do veículo

 

A mulher olhou para o lado e viu uma verdadeira cunha de vidro espetada contra o assento do carro. Por apenas alguns milímetros, seu pescoço não fora atingido em cheio.

 

--Ajudem aqui! – o motorista gritava olhando para todos os lados – A porta não abre e preciso tirar a patroa de dentro do carro! – forçava a porta mas era em vão

 

“Meu Deus...” – pensava em choque – “Eu podia ter morrido agora...” – constatou

 

***

 

Sayruci e Latifah conversavam em uma ligação via QQOV?.

 

--Mamys, mas você não sabe como foi forte o babado! O carro da vóvys virou uma sanfona e precisou de uma verdadeira operação de ninja pra tirar ela de lá! – contava – Ela entrou em choque e só agora começa e se recuperar, daí! Não morreu por um triz!

 

--Nossa, que coisa horrível! – ficou pasma – E por que você não me contou isso antes, menina? Fico aqui sem saber!

 

A morena havia deixado a chamada no Viva Voz para que Vera ouvisse também.

 

--Ah, mamys, eu não queria te deixar down, né? E você ia fazer o que? – retrucou – O importante é que o pior já passou!

 

--Graças a Deus! – beijou o terço em seu pulso – Eu vou orar pra ela ficar bem logo!

 

“Como é a vida! Essa minha sogra fez tanta coisa ruim e quando é fé Deus mostrou pra ela que o buraco é mais embaixo!” – a caipira pensou

 

--Agora vamos pra parte boa das fofocas! – exclamou empolgada – Prepara o coração, mamys! – fez um suspense -- Papys concordou em te dar o divórcio! Ele me disse isso ontem!

 

Sayruci e Vera se entreolharam animadas. – Ai, jura, filha? – sorriu – Obrigado, meu Deus! – olhou para cima

 

--Ave Maria! – Vera se benzeu

 

--E outra coisa que você vai amar! – continuava com as novidades – Tô mandando super bem na faculdade, acredita? E sabia que esse negócio de Direito é até divertido, mamys? Tem que usar umas palavras do tipo que ninguém fala mais. – comentou afetada – Então eu tô bem estudando o dicionário pra soltar cada verbete que nem o diabo conhece! Quando geral fica sem entender, eu falo assim: Ih, gentem cadê a hermenêutica, hein? Cês querem ser advogados da onde? What a shame, mon Dieu! – riu brevemente

 

Riu também. – Você é terrível, minha futura advogada eloquente! – brincou – Tô muito feliz que esteja indo bem e gostando desse curso. – sorriu

 

--Até o papys tá feliz! Aos poucos tá tirando o escorpião do bolso. – comentou – Mas eu também tô até gastando menos, andei fazendo umas sessões de fotos, então não tô mais naquele miserê fashion no qual me encontrava. – pausou brevemente – Hum, não sei se reparou, mas finalmente pude depositar uma graninha pra você. Sempre que eu puder vai ser assim, mamys!

 

--Não foi graninha, meu bem, você depositou dez mil! – respondeu bem humorada – E nós te agradecemos muito porque chegou em boa hora! Com esse dinheiro, juntamos com o nosso, e acabamos de fazer duas compras importantes: um Meriva de uma senhora que ficou viúva há pouco tempo e um drone com uma excelente câmera. – contava – Isso vai nos dar mais independência e Vera vai poder atender nos serviços de foto e filmagem com muito mais presteza, daí.

 

--Por favor, diz que eu agradeço também, Sayzinha. – Vera pediu – “Melhor de tudo: sem ter que pagar nem um centavo à prima Socorro!” – pensou satisfeita – “E sem precisar alugar drone e câmera dos outros!”

 

--Que bom, mamys! Mas não larga teu carro na mão da Vera pra ela não abusar! Olho nessa bofa! – aconselhou – Fica esperta, be careful!

 

A caipira acabou rindo. “Ela não me engole!” – balançou a cabeça e brincou com a grama do parque

 

--Pode deixar que eu tenho dois olhos muito atentos nessa caipira! – beliscou de leve o braço dela – Querida, queria te perguntar uma coisa. – mudava de assunto -- Você vinha numa amizade com Ihab que até me surpreendeu. Mas agora ele sumiu e você se pegou com uma tal de Khadija. O que aconteceu?

 

--Aconteceu que ele virou ela: Khadija! – respondeu animada – Diz se não transformei aquela criatura na maior gata? Até eu, se gostasse de mulher, pegava! -- riu

 

--Ihab é aquela Khadija? – ficou pasma – Nossa, que transformação!

 

--Mamys, essa era outra fofoca bombástica que eu tava deixando madurar pra te contar. – falava afetadamente – A transformação Ihab-Khadija tá dando o que falar no meio dos clãs pudicos da nossa roda! – contou – Salma desmaia quase todo santo dia e Rachid tá a ponto de ter um troço! Os dois já ficaram até de mal com papys, dizendo que a culpa de tudo é minha!

 

--E seu pai fez o que?

 

--Ah, veio pra cima de mim com sanguinho nos olhos, rodei uma baiana como nunca se viu na história desse país e ficou por isso mesmo. E ele nem veio me cortar a renda, by the way! Como falei, o escorpião aos poucos tá saindo do bolso!– resumiu os fatos – Vóvys também ensaiou uns “repreende” pra cima de moi, mas agora vai amansar. Quase morreu, né? Aí o ser humano pensa na vida!

 

Estava surpresa com tudo. – Tenha cuidado, filha! E que Khadija também tenha muito cuidado! Peçam a Deus pra abrandar o coração de todo mundo! – aconselhou – Eu faço isso todos os dias e torço pra que a sua relação com seu pai seja algo mais interessante que simplesmente ele te sustentar.

 

--Relaxa, mamys. Apesar de não ser muito da vibe das reza, tua filhota é vacinada e conectada com a vida! – estalou os dedos repetidas vezes – Aquele tempo em que eu era a stupid little thing acabou!

 

Achou graça. – Você é meu orgulho, meu bem!

 

--E você o meu, mamys! – sorriu – Ah, semana que vem tô aí. Sessão de fotos pra uma grife da hora. – informou -- Posso ficar na tua casa? – pediu – Eu podia ficar num hotel, mas queria aproveitar pra ficar junto...

 

--Claro, meu bem! – sorriu empolgada – Eu vou amar ter você aqui! – exclamou com a verdade – Ela pode ficar lá em casa, não é, amor? – pediu para Vera

 

--Pode, Sayzinha, claro que sim. – concordou – “Fazer bastante serviço pra compensar os gastos que essa mina dá!” – pensou preocupada

 

--Cool! – ficou feliz -- Agora tenho que ir cuidar da vida, mamys. Kisses!

 

--Tchau, meu amor. Até a próxima. – desligou o telefone e sorriu – Latifah mudou tanto! E só pra melhor! – guardou o aparelho na bolsa

 

--Será que um dia ela perde a cisma comigo? – Vera perguntou esperançosa – Também queria que a sua mãe viesse pra ficar de bem com você! Agora que ela quase morreu, quem sabe? – desejou

 

--Deixemos o tempo fazer a parte dele. No mais, oro por todos eles em Foz. Até por Samir. – deitou a cabeça no colo da amada – Onde paramos mesmo nesse piquenique no Ibirapuera? – sorriu

 

--Eu ia te dar umas uvas! – pegou algumas frutas – Toda rainha recebe frutas da serva assim. – colocou uma uva na boca da morena. – Na boquinha!

 

Mastigou a fruta e engoliu. – Adorei! – sorriu – Quero mais! – pediu dengosa

 

--Seus desejos são ordens, minha musa. – colocou mais uma uva na boca da autora – Sabe que se aqui não fosse um lugar público, eu ia ter dar essas uva de outro jeito?

 

--Ah, é? – sentou-se novamente – Como? – pegou uma uva e imprensou entre os dentes – Assim?

 

--Você tá ficando uma menina muito ousada, Sayzinha! – desejava morder a fruta na boca da parceira mas não tinha coragem – “Ela deve tá brincando. Não ia ter coragem de fazer isso com a caipira na frente dos outro nesse parque.” – pensou – “Se eu ainda fosse uma mulher mais apresentável...”

 

--Vem! – puxou a caipira pela blusa e a beijou

 

Ficou toda prosa. “Ela teve coragem!” – pensou – Hum... – mordeu um pedaço da uva – Gostosa... – mastigou

 

--Quem? Eu ou a uva? – mastigava também

 

--As duas! Só que você, muito mais! – segurou-a pelo rosto e a beijou

 

***

 

Patrícia havia terminado de escrever sua coluna sobre a autora do mês de julho.

 

--Deixa eu reler pra ver se não tá pesado demais. – falava consigo mesma – Não quero saber de receber mais uma indireta de coletivo de autoras! – lembrava-se do texto postado por Amaralina

 

Autora do Mês: Julho

Por Paty Golezzo

Olá meninas!!

Agosto começou em todo seu esplendor e o mundo lésbico ferve com muitas novidades. Temos Camarada Sapa e Malu Capital se unindo no combate ao neofacismo (quem podia esperar??), LesGeek estreando com clipes de tirar o fôlego e a separação do casal mais dançante do lesboverso: Soul Sapa&Tão. Essa foi a parte da triste da história, mas fazer o que? A vida é assim mesmo; encontros e desencontros.

Porém, o que me traz aqui é a autora mais lida do mês que se passou. Gail Nasser, mais uma vez, em destaque. Com a finalização do conto Fuego En Las Periquitas, nossa misteriosa egípcia atingiu a marca chocante das 900 mil leituras! E tudo isso em menos de um mês!

O conto começou sem sentido e terminou com menos sentido ainda. Marcado por um espanhol diferente de tudo que se conhece no planeta, relações parentescas mais intrincadas que o labirinto do Minotauro e uma super heroína que é ninguém menos que a própria Gail, o enredo desafia o entendimento das leitoras mais atentas. Vocês leram? Alguém aqui leu? Esta que vos escreve fez isso e a mente deu um nó! rs

Não sei se o sucesso da história se deu por suas feições humorísticas à la pastelão (embora, claramente, esse não seja o objetivo da autora) ou por aquelas coisas inexplicáveis do destino, mas o fato é que os números de leituras e comentários (1001!) estão aí para confirmar que as sapinhas (pelo menos um número considerável delas) curtiram.

De minha parte, não consigo recomendar a leitura, I’m sorry! E se fosse dar uma nota, diria que está para 4,5 (isso porque Gail conseguiu o inédito de fazer minha chefia dar boas risadas em uma leitura breve).

Não estou aqui para faltar com sororidade, longe disso, mas nem sempre se pode esperar que uma obra que agrada tanto ao público tenha uma crítica positiva. Sou sempre muito verdadeira em minhas colocações, posso até ter errado na mão em algum momento, mas acho que os aplausos devem ser sempre merecidos e nunca impostos de alguma forma.

Curtam meu canal no SeuTubo e acompanhem os preparativos para o Segundo Congresso Nacional de Literatura Lésbica! O Rio tá pronto pra se transformar no maior brejo do país!

Beijocas!!!

 

--Super elegante, né? – a influencer concluiu – Vou postar!

 

***

 

--Que pena que dessa vez você ficou tão pouco! – Sayruci lamentava – Mas, você vai voltar outras vezes, não é? – olhava para a filha

 

--Of course, mamys! – respondeu afetada – E eu também não podia ficar muito tempo longe de casa porque tem a facul, provas, all of this little shits!

 

--Latifah Ajami Hafeez preocupada com a faculdade? – surpreendeu-se positivamente – Que maravilha! – sorriu

 

--Ai, pára! – fez um gesto afetado – É você e Khadija pra me fazer pressão com essas coisas. -- sorriu

 

--No que eu fico muito grata a ela! – comentou brincalhona

 

Mãe e filha caminhavam em direção ao ponto de táxi mais próximo do prédio da morena. Latifah seguia empurrando sua pequena mala.

 

--Infelizmente eu não vou poder ir pro aeroporto com você porque tenho que pegar no árabe daqui a pouco. – desculpou-se – Mas me liga assim que chegar em Guarulhos, por favor!

 

--Ih, mamys, tá super cedo! O motô pode te deixar no árabe e na sequência me levar pra Guarulhos. – fez um gesto despreocupado – Deixa que a filhona banca essa conta! – soprou um beijinho

 

--Eu não sei, meu bem, essa cooperativa aí é tão ruim de jogo! – comentou olhando para o ponto – Quando eu ainda andava táxi tive uns aborrecimentos e daí acabava apelando pro Iuba. – contava – E os taxistas só fazem o que o despachante, ou sei lá o que, autoriza a fazer. – viu o homem sentado numa cadeira de plástico – Criatura chatíssima e mal educada!

 

--Olha só, faz como eu fizer, tá? – orientou – Deixa que eu abordo o bofe!

 

Achou graça. “O que será que ela tem em mente?” – pensou divertida

 

--Bom dia, tudo bem? – a jovem abordou o homem – Convoca um motorista pra levar a gente pro Shopping Cidade Jardim e depois pro aeroporto de Guarulhos, please? – pediu com voz melosa

 

O homem deu de cara com Latifah e reparou na beleza dela. – É... – ajeitou-se na cadeira – É uma puta volta e depois o motorista ainda vai ficar um tempão não tripulado. Tem até que cobrar taxa de retorno!

 

--Mas o tempo que fica tripulado o taxímetro tá correndo, né, honey? – tirou os óculos escuros e olhou para ele

 

--É... – reparou nos olhos – “Meu Deus, que verdes!” – pensou abestalhado

 

Sayruci entendeu o lance e tirou os óculos escuros também. – E a gente queria tanto ir juntinhas! – sorriu olhando para ele – Por favor, sem isso de taxa de retorno? – pediu melosamente

 

“Minha Nossa Senhora, que olhos!” – o homem abestalhou-se – É, juntinhas... – fez sinal para um motorista – Ô, João! Leva as duas aqui, por favor. – pediu sem deixar de olhar para as duas

 

--Bom dia, moças. – cumprimentou e foi cumprimentado por elas – Chefia, vai ter taxa? – o motorista logo perguntou

 

Latifah e Sayruci capricharam nos olhares.

 

--Taxa? – seu olhar se alternava entre uma e outra

 

--Please? -- Latifah fez beicinho

 

--Por favor? – Sayruci pediu também

 

--Não... – o homem respondeu abestalhado

 

--Obrigado, bonitão! – a jovem soprou um beijinho e recolocou os óculos

 

--Obrigado! – Sayruci fez a mesma coisa

 

O taxista se aproximou e pegou a mala de Latifah para guardar no porta malas, enquanto mãe e filha ocuparam o banco de trás.

 

--E aí? Que achou dessa, mamys? – fechou a porta do carro – Ele ficou até sem fala! – olhava para a outra

 

--Como diria você, -- fechou a porta do carro também – foi fodástico! – as duas riram

 

--High five! – Latifah abriu a mão direita e as duas se cumprimentaram com um tapinha

 

***

 

Vera e Sayruci visitavam Abigail em sua casa à convite da própria. As três batiam papo na sala enquanto Moema andava para lá e para cá conversando animadamente com uma amiga ao celular. As mulheres acabavam de lanchar.

 

--Obrigada pelo chá, Abigail. – Sayruci agradeceu educadamente – Você mostrou que aprendeu bem tudo que praticamos nas aulas de etiqueta. – falava com sinceridade

 

Sorriu satisfeita. – E eu prestava atenção por demais ao que tu ensinasse, não sabe? – cruzou as pernas – Não à toa consegui a classe que me faltava pra conquistar esse monumento à beleza fêmea! – olhou apaixonada para a loura, que nem percebeu

 

--Humpf! – Vera fez um bico discreto – “A classe que conquistou se chama dinheiro, cheque e cartão!” – pensou discordando

 

--Mas eu não convidei vocês aqui à toa! – estendeu o braço e pegou um envelope sobre a mesa de centro – Queria convidar pro evento do ano, visse? – entregou o envelope à Sayruci

 

--E o que será isso? – recebeu o envelope e o abriu – Nossa, é um convite de casamento! – surpreendeu-se

 

--Eita boi! – Vera lia o que estava escrito

 

--Vai ser uma cerimônia bem não convencional! – Abigail explicava – Reservei um Beach Club de luxo em Floripa e lá nós vamos fazer tipo uma celebraçãozinha religiosa de araque. – gesticulava – Final de semana todo de festa e badalação! – sorria empolgada – Depois vamo terminar o agito no final de semana seguinte aqui na Blesb, simplesmente a melhor casa noturna de sapinhas dançantes da cidade, não sabe?

 

Sayruci e Vera se entreolharam espantadas. – Agradeço pelo convite mas não creio que a gente possa ir nessa festa em Florianópolis. – respondeu educadamente – Na parte que vai acontecer aqui na cidade, vamos ver. – fechou o envelope

 

--E por que tinham que ir pra tão longe? – a caipira não entendia – Moema é de Floripa?

 

--Nada, ela é daqui mesmo. – ajeitou os cabelos – Escolheu esse tal Beach Club por ser o mais chique do Brasil. Diz que os famoso vão tudo curiar por lá! – explicou a situação

 

“Meu Deus, como pode?” – a morena pensou com pena da outra – Então o grande dia ficou pra setembro? – guardou o envelope na bolsa – Algum motivo especial pra data?

 

--Mês da primavera! – abriu os braços brevemente – Eu que escolhi a data!

 

Vera reparou que Moema continuava no papo ao celular. “A bicha faz nem questão de conversar! Na hora do lanche só fez se exibir e mais nada!” – pensava – Se você tá certa de que é a mulher da sua vida, vai fundo! – sorriu para a outra – Porque quando a gente encontra o amor, a vida toda muda! E pra muito melhor demais da conta! – olhou para a morena

 

--Hum, fofinha! – segurou o rosto da caipira com uma das mãos e a beijou nos lábios brevemente

 

Abigail reparou no casal. Vera e Sayruci estavam uma ao lado da outra no sofá. A caipira abraçava a namorada com um braço estendido no assento, acariciando a cabeça dela delicadamente, enquanto a morena repousava uma das mãos na coxa da outra. “Não é preciso esse chicletinho todo! Minha galega não vive agarrada comigo assim o tempo inteiro e me ama é muito!” – pensou despeitada – Pois eu também encontrei o amor e quero viver isso com raça! – afirmou decidida

 

--Também desejo tudo de bom pra ambas. – Sayruci afirmou embora não levasse fé naquele casal – Que vocês saibam construir diariamente e manter o amor.

 

--Ah, minha filha! – bateu uma palma – E como a gente sabe! – riu brevemente – Se minha cama e os quarto de motel falasse... Ave Maria! – riu novamente – É o amor mais espalhafotoso que eu já vi!

 

“Pobre Abigail...” – Sayruci pensou – “Ela confunde amor com coisas passageiras e materiais...” – sorriu para ser gentil

 

“O tempo passa e essa criatura nunca aprende!” – Vera pensou – “Mulher mais custosa não há!” – sorriu também para disfarçar

 

***

 

Latifah e Khadija se divertiam em uma festa temática numa danceteria badalada em Ciudad del Este. As duas dançavam juntas fazendo passinhos.

 

--Delícia, hein? – um rapaz se aproximou da dupla – Tava te sacando ali com meus parsa! – olhava para Latifah de cima à baixo – Mais gostosa impossível!

 

“Bofe desagradável!” – Khadija pensou contrariada

 

--Jura? – a jovem respondeu sem interesse – Pois passa pra próxima que eu não curti! – jogou os cabelinhos e continuou dançando

 

--Hum! – Khadija fez cara feia – “Olha se uma diva como essa ia querer um bofe do tipo!” – pensou desaforada

 

--Porr*, gata, que é isso? – insistiu ao abraçá-la pela cintura – Cê não é nenhuma santinha, que eu sei... – tentou beijá-la

 

--Saiba também, -- desvencilhou-se dele com raiva – que eu só pego quem eu quero! – ajeitou a roupa – E você tá out! Some!

 

Khadija parou de dançar e ficou olhando para o homem com raiva.

 

--Mulher nenhuma me diz não! – tentou agarrá-la novamente

 

--Não, não e não! – Latifah tentava se desvencilhar – Não queira ver meu dark side! -- ameaçou

 

--Solta ela agora! – Khadija ordenou imperativa

 

--Ih, a maluca, aí? – achou graça – Vaza, que a parada aqui não é contigo! – respondeu de cara feia

 

--Eu disse NÃO! – Latifah se desvencilhou mais uma vez

 

--Vaza você idiota! – Khadija deu-lhe um tremendo soco no rosto, que sem esperar por isso, caiu no chão

 

--Ai! – o homem e Khadija exclamaram ao mesmo tempo – Acho que quebrei a mão, habibem! – falou para a amiga – A unha com toda certeza! – sentia dor

 

Pessoas viram a cena e levaram um susto.

 

--Maurinho tomou um soco. – um dos amigos do jovem falou para os demais – Vamo lá porr*r todo mundo! – vieram se aproximando

 

--Gentem! – Latifah arregalou os olhos – SOCORRO, PEOPLE, TEM TARADO NESSA MERDA! – gritou – Tomou uma garrafa de bebida que um jovem segurava e a jogou contra um globo de luz

 

--Ei! – o rapaz reclamou

 

O impacto com a garrafa fez o globo quebrar e soltar algumas faíscas. Alguns jovens levaram um susto e um pequeno tumulto se formou.

 

--Corre, vem! – segurou Khadija pelo braço e aproveitaram a confusão para escapar

 

***

 

--Amiga, olha, te baixou um Jiraia que puta que pariu! – colocava uma bolsa de gelo sobre a mão da outra – Não conhecia esse teu lado animal! – brincou

 

As duas mulheres estavam sentadas na cama de um quarto de hotel.

 

--Ah... – abaixou a cabeça – Quando vi o abuso daquele bofe ridículo desci do salto geral! – admitiu – Nunca tinha feito isso, detesto violência, mas... – olhou para a amiga – Às vezes parece que é só o que sobra, né? – sorriu envergonhada

 

--Pois você foi o must! – sorriu empolgada – Sabe qual é o nome disso? Sisterhood! – piscou para ela – Sororidade, honey. – levantou-se da cama -- E diva é assim mesmo! Se tiver que descer do salto, desce e detona! – gesticulou

 

--Também achei fodástica aquela sua ideia de jogar a garrafa do outro bofe no globo de luz! – lembrava – Verdadeira cortina de fumaça pra gente vazar! – segurava a bolsa de gelo sobre a mão dolorida

 

--Uma diva também tem que ser ninja, honey! – respondeu afetada – Aprende comigo, isso tudo é técnica pra dar um vazari!

 

Achou graça. – E olha se uma diva como você ia ficar com um bofe daqueles!

 

--Never! – afirmou enfática – E também é só por sororidade que vim parar contigo nesse hoteleco paraguaio de meia pataca! – reparava no ambiente – Lugarzinho cafona!

 

Reparava também. – É, né? Mas não tinha outro melhor nas redondezas... – comentou – E tá tarde pra ficar dirigindo tanto...

 

--Tá mesmo. – olhou rapidamente para o relógio – Vamos nos preparar pra dormir, honey. – começou a se despir – Na falta de um modelito felices sueños, vai de lingerie. – olhou para a cama onde iria se deitar – Só espero não encontrar supresas debaixo dos lençóis! Pulga não dá!

 

Abaixou a cabeça para não ver a amiga. – Não vai ter pulga, nem pensa nisso! – pausou brevemente – Latifah, qual o tipo de... bofe que você prefere? – perguntou curiosa – Já te vi com tanta variedade que fico sem saber. – olhou para a outra de relance – Assim, o tipo que te faria se apaixonar?

 

--Me apaixonar? – desforrou a cama e se sentou – Ainda não sei qual o tipo me faria me apaixonar. – passou a mão nos cabelos – Simplesmente ainda não aconteceu isso comigo. – sorriu -- E você? – deitou-se e virou de lado, olhando para a outra – Qual o seu tipo?

 

“Você!” – pensou sem verbalizar -- Sabe que também ainda não sei? – respondeu de cabeça baixa – “Eu sou lésbica?” – pensava intrigada – “Meu Deus, me ajuda a entender isso!”

 

Fim do capítulo