Isadora

Não consigo tirar a Marina da minha cabeça, quando ela entrou na minha sala eu fiquei completamente paralisada.

Ela é linda, pude perceber que ela é doce, amorosa e completamente encantadora, uma mulher maravilhosa.

Fiquei com verdadeiro ódio do Alberto, tudo que a Marina falou que viveu por culpa do preconceito dele e da família, quando ele entrou na sala eu imediatamente vi a forma que a Julia reagiu a presença dele, já vi esse tipo de reação em muitas mulheres vítimas de abuso.

Quando eu assumi essa delegacia, logo percebi que ia ter problemas com o Alberto, percebi que ele era um homem um pouco violento, mas jamais imaginei que fosse o homem que a Marina descreveu, mesmo ela não tendo contado tudo que aconteceu eu posso imaginar o que ela não quis falar.

Ele vive me cercando, me convidando pra sair, rejeito todos os convites, mas ele não desiste, realmente acho que ele é um idiota, não tem como ele não ter percebido até hoje que eu sou lésbica, posso não sair gritando isso aos quatro ventos, mas nunca escondi de ninguém minha orientação sexual, apenas tento ser discreta, minha profissão exige que eu tenha descrição em relação a minha vida particular, isso é uma exigência da própria profissão independente se eu sou homem ou mulher.

Mas voltando a falar da Marina, que mulher linda, confesso que fiquei de queixo caído, o corpo dela é maravilhoso, os olhos azuis, e o cabelo longo e loiro.

            - Isadora... Isadora... ISADORA!

            - Nossa, por que você está gritando? Eu estou bem aqui do seu lado, não a necessidade de gritar não. – falo pra minha irmã.

Estamos em casa, divido um apartamento com a Luiza e nele moramos, eu a Luiza e a Isabel minha irmã caçula.

            - Eu estou te chamado a um tempão já, mas parece que você está no mundo da lua.

            - Ela não está no mundo da lua, e sim no mundo da loira. – Luiza fala sorrindo.

            - Como assim mundo da loira? – Isabel pergunta.

            - Ela ta assim desde mais cedo, quando conheceu uma loira que devo admitir a mulher é um espetáculo.

            - Não tem nada disso, só estava pensando mesmo. – tento me defender.

            - Tenho certeza que só estava pensando mesmo, - Luiza sorri – pensando em como a Marina é linda, aqueles olhos azuis os cabelos loiros, em como aquele corpo dela é maravilhoso.

            - Então quer dizer que você ta aí sonhando acordada com essa tal de Marina é isso? – Bel pergunta – me conta onde se conheceram ela é bonita mesmo?

            - Não estou sonhando acordada com ninguém, eu a conheci porque a prima e a filha dela foram roubadas e a Marina foi busca-las na delegacia.

            - Nunca tinha visto a Isadora olhar pra uma mulher do jeito que ela olhou pra Marina, assim que a mulher entrou na sala a Isadora ficou de boca aberta, tive que dar uma cutucada nela pra ela fechar a boca.

            - Mentira, não fiquei de boca aberta.

            - Ficou sim, só faltou babar.

            - Eu quero conhece-la, ela deve ser um espetáculo pra ter deixado a Isa dessa forma.

            - Ela é muito linda mesmo. – falo.

            - Ta vendo, olha só a cara de boba que ela ficou. – Luiza brinca. – vou te mostrar ela Bel, deixa só eu achar ela aqui.

            - Você tem o contato dela? – pergunto.

            - Não, mas pelo que percebi ela é a dona daquele hospital o sobrenome dela é Rios, o mesmo do hospital que fomos, então tenho certeza que vou achar uma foto dela na internet.

            - Pera aí, você disse que o sobrenome dela é Rios? Por acaso ela é a Marina Rios, médica e dona do hospital Rios?

            - Acho que é isso mesmo, porque? você a conhece? – falo.

            - Meu Deus, claro que sim, aquela mulher é minha ídola, ela é linda, rica, uma medica super respeitada, é a presidente do hospital Rios, um dos melhores hospitais do Brasil.

            - Como você sabe de tudo isso? – fiquei curiosa.

            - Porque eu acompanho ela desde quando eu decidi fazer medicina e resolvi procurar conhecer mais sobre os médicos e os hospitais do nosso país.

            - Olha só, achei – Luiza fala e mostra a foto dela. – é essa a Marina que você está falando? – Bel olha a foto e sorri.

            - Sim, é ela mesma, - ela se levanta e começa a pular – não acredito que você a conheceu pessoalmente, você tem que me apresentar ela, quero ser como ela quando eu for mais velha, ela é linda, poderosa, uma super médica, e mesmo sendo rica ela não é esnobe, quando ela assumiu o hospital ela implantou vários programas para atender pessoas mais carentes, mesmo sendo um hospital particular ele hoje atende muitas pessoas que não teriam condições de pagar por um bom tratamento, nossa eu amo essa mulher.

            - E, não sei não em Isadora, acho que você vai ter que disputar a Marina com a Isabel.

            - Que disputar o quê, Isabel ainda é muito nova, não tem a menor chance.

            - Não sou tão nova assim, já tenho 16 anos, e relaxa mana, eu a amo, mas é um amor de admiradora, pode ficar com ela pra você, ai vai ser o máximo se você namorar ela, vou poder conhecer minha ídola pessoalmente. – fala sorrindo e se sentando.

            - Quem falou em namorar aqui garota? Confesso que eu gostei dela sim, mas não acredito que possa acontecer alguma coisa, não vi ela me olhando dessa forma.

            - Mais eu sim, - Luiza fala e eu olho pra ela – eu reparei que quando você não estava olhando, ela te olhava de uma forma muito diferente, eu vi o desejo no olhar dela, e quando você sorriu, ela até respirou mais forte, pode ter certeza que ela ficou afim de você também.

            - Não acho qu... – paro de falar porque meu celular toca informando que recebi uma nova mensagem, pego ele e leio.

A Julia acabou de acordar, ela está bem, consegui acalmar ela, muito obrigada pela ajuda de hoje.

Marina Rios.

            - Pelo seu sorriso é ela, não é? – Luiza fala.

            - Sim, ela só está avisando que a Julia já acordou e está bem.

            - Vocês conheceram a Julia Rios também? E o que aconteceu com ela.

            - Conhecemos sim, ela que foi assaltada, ela passou mal e a levamos para o hospital. – respondo e me levanto. – boa noite pra vocês, já vou dormir.

Saio e vou em direção ao meu quarto, e ligo para a mulher que não sai da minha cabeça.

            - Olá delegada Isadora.

            - Oi doutora Marina, como vocês estão?

            - Não precisava ter ligado, nós estamos bem, não precisa se preocupar.

            - Fiquei preocupada sim, mas esse não foi o único motivo para ligar pra você

            - Não? E qual seria o outro motivo? – essa pergunta foi feita com uma voz tão sexy.

            - Liguei para poder ouvir sua voz, ela é muito sexy sabia doutora? – a linha fica muda – ainda está aí?

            - Sim estou, achei a mesma coisa da sua, e fica mais sexy quando você me chama de doutora.

            - Então vou te chamar de doutora mais vezes doutora. – faço minha voz mais sexy ainda, e me deito na cama.

            - Nossa, isso foi bem sexy. – ela praticamente gem* no telefone, e eu fico toda arrepiada.

            - O que foi sexy, com quem você está falando?

            - Com ninguém Julia, volte a dormir e deixe de ser curiosa. – escuto ela falar. – viu? ela esta bem melhor, já até voltou a se meter na minha vida.

            - Família é assim mesmo, e pelo que você me falou vocês duas são como irmãs.

            - Sim, somos como irmãs mesmo, e melhores amigas, mas e você, tem irmãos?

            - Dois, um irmão mais velho que mora com meus pais no interior e uma mais nova de 16 anos, que mora aqui comigo.

            - Ela mora com você e não com seus pais?

            - Ela veio para poder estudar, ela quer ser médica e conseguiu convencer meus pais a deixarem ela vir estudar na capital, aí sobrou pra mim cuidar dela.

            - Nossa, eu não imagino minha bebê longe de mim, não importa a idade, acho que nunca vou conseguir ficar longe dela, nessa última semana ela estava viajando com a Julia e eu fiquei aqui quase morrendo de tanta saudade.

            - Isso significa que você é uma boa mãe, a minha disse a mesma coisa, mas a Isabel é muito insistente, os perturbou tanto até que eles disseram sim, mas me fizeram prometer cuidar dela.

            - Isso é bom, vocês são unidos?

            - Sim, muito, sempre que posso eu vou visita-los.

            - Me desculpe a pergunta, mas eles sabem que você é lésbica?

            - Sabem, meu irmão mais velho é gay, ele se assumiu primeiro, no início meus pais não aceitaram muito bem, mas eles nunca o maltrataram e com o tempo eles se acostumaram, aí quando eu me assumi foi bem mais fácil.

            - Fico feliz que existam pais que aceitam seus filhos como são e não como deviriam ser, se todos aceitassem teríamos bem menos preconceito e jovens tirando suas próprias vidas, seria um mundo um pouco melhor.

- Posso escutar a tristeza na sua voz, não fique triste, você é uma mulher incrível, bem sucedida, tem uma filha linda que é praticamente sua cópia, você tem que se orgulhar de tudo que conquistou, não lamente o seu passado, foi ele que te tornou quem você é hoje.

- Eu não o lamento, porque você tem razão, tudo que vivi me transformou em quem sou hoje, me deu a força necessária de correr atrás do que eu queria, me deu a coragem de realizar meus sonhos, e um dos sonhos que eu mais queira já realizei, o de ser mãe, sempre tive três sonhos, já realizei o primeiro que era conquistar meu espaço e ser reconhecida no mundo da medicina, o segundo era ter minha princesa, e dentre eles ela foi o melhor de todos.

- Você disse que tinha três, e já realizou dois deles, isso quer dizer que ainda falta o terceiro.

- Sim, o terceiro é um pouco complicado porque ele não depende só de mim.

- Qual seria ele, quem sabe eu não possa te ajudar?

- Não sei se você pode me ajudar com ele, mas se pudesse eu ficaria muito feliz.

- Só vamos saber se você me dizer qual é.

- Ok, o terceiro é me...

- Mamãe eu tive um sonho ruim – escuto a voz da Manuela pelo telefone.

- Sinto muito Isadora, vamos ter que deixar essa conversa pra outra hora, minha bebê está precisando de mim.

- Eu entendo, pode ter certeza que vou cobrar o fim dessa conversa, posso te ligar ou mandar mensagem amanhã?

- Vou adorar, boa noite delegada.

            - Boa noite doutora.

Encerro a ligação e fico pensando que nunca me senti tão bem em apenas ter uma conversa com outra pessoa.

Ao mesmo tempo que ela me trás paz, ela faz meu corpo pegar fogo, aquela voz dela estava me deixado doida, e não vejo a hora de o amanhã chegar logo.

Fim do capítulo