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Capitulo 2
Marina
Pensei que nunca mais voltaria a ver esse homem na minha frente, já se passaram tantos anos.
- Marina o que você está fazendo aqui? – olha pra Julia – e você também Julia? O que fazem aqui? - diz de forma ríspida.
A Julia se encolhe na mesma dá hora, ela sempre teve medo dele.
- Isso não é dá sua conta Alberto, e nós já estamos de saída. – respondo no mesmo tom que ele usou.
- Claro que é dá minha conta, eu trabalho aqui. - me olha com raiva.
- O que é isso Alberto? Como você entra assim na minha sala sem nem bater, e quem te deu o direito de falar dessa forma com qualquer um dentro da minha delegacia? – a delegada fala baixo, mas com autoridade.
- Eu vim te entregar esses papeis que precisam da sua assinatura.
- E porque não pediu para outra pessoa traze-los, afinal não é você mesmo que diz que tem muito trabalho e não tem tempo a perder?
- Sim, mas como é pra você, preferi trazer pessoalmente, - fala olhando pra ela com um olhar de cobiça, fico com nojo na mesma da hora.
- Já falei que você não precisa me trazer esses papeis pessoalmente, e nunca mais entre aqui sem bater e nem desrespeite ninguém na minha frente, - vejo que ela também está olhando pra ele como se tivesse nojo – pelo que posso ver vocês já se conhecem?
- Sim, a Marina é minha irmã e a Julia minha prima.
- Ele é seu irmão mamãe? Você me disse que não tinha irmão. – Manu diz abraçando minha perna.
- Você tem uma filha? Resolveu abandonar aquela vida errada foi? Até que ela é bonitinha. – fala olhando pra ela, e ela se esconde atrás de mim.
- Você não é meu irmão, deixou de ser a muitos anos. – olho com raiva pra ele.
- Que isso Marina, se você abandonou aquela vida quem sabe não possa voltar pra casa, tenho certeza que o papai e a mamãe te aceitariam agora – fala sorrindo e olha pra Julia – e você Julia, também mudou de vida ou ainda é a mesma?
A Julia continua paralisada, na verdade ela está tremendo, e tenho certeza que ela não vai aguentar.
- Ficou muda foi? O que aconteceu? você nunca foi tímida. – fala.
Ele começa a se aproximar dela e eu ajo na mesma da hora, coloca a Manu sentada na cadeira e me coloco na frente a Julia.
- Nem ouse encostar na Julia, juro que eu acabo com você se tentar se aproximar mais, não ligo que estamos dentro de uma delegacia. – falo com raiva e ele sorri.
Sinto a Julia se segurando nas minhas costas e tremendo muito.
- Alberto, deixe esses papeis aqui e saia agora mesmo da minha sala. – a delegada fala com a voz agora um pouco mais alta.
- Tudo bem eu vou, já que mudou de vida, vê se aparece na casa dos nossos pais, tenho certeza que agora eles vão te receber de braços aberto, e você também Julia. – ele sorri e sai da sala.
- O que foi isso? – a detetive pergunta, mas eu não respondo.
Me viro e olho pra Julia, e o que eu já imaginava acontece, ela não está respirando direito.
- Julia, se acalme, - faço ela se sentar – respire devagar, você está com a sua bombinha?
- E...ela foi le...levada. – responde com dificuldade pra respirar.
- Droga, eu não tenho a reserva aqui comigo, - olha pra delegada - vamos ter que ir pro hospital, ela tem asma e como não está com a bombinha, ela precisa de atendimento urgente.
- Vamos, eu mesma levo vocês, - ela me diz – vamos no meu carro que será mais rápido.
- Manuela, vai ficar tudo bem com a dinda, - olha pra ela e vejo que está assustada – detetive você pode ir atrás no meu carro e levar a minha filha pra mim por favor? – ela assente que sim, - vamos para o hospital Rios.
Saímos e a delegada nos leva no carro dela com a sirene ligada, chegamos bem rápido, ela estaciona em frente e saímos nós duas levando a Julia pra dentro que no momento está desmaiada, ela desmaiou um pouco antes de chegar.
- Doutora Rios, o que aconteceu? – uma enfermeira me pergunta.
- Uma crise de asma e não estava com a bombinha, ela desmaiou a poucos minutos precisamos aplicar o remédio nela imediatamente. – falo a deitando em uma maca. – me traga também um sedativo.
A levamos pra dentro e a enfermeira trás o medicamento, aplico imediatamente e aproveito e aplico o sedativo, é melhor coloca-la pra dormir por enquanto.
- Ela vai ficar bem? – só agora que percebo que a delegada ainda está aqui.
- Vai sim, ela já está voltando a respirar normalmente, apliquei o sedativo porque eu a conheço e sei que se ela acordar agora e eu não estiver bem o suficiente para acalma-la, ela vai ter outra crise. – falo alisando os cabelos da Julia.
- O que aconteceu para desencadear essa crise, foi o Alberto não foi? – pergunta, mas somos interrompidas pela chagada da detetive com a Manuela.
- Mamãe – ela corre pra mim chorando, a pego no colo.
- Não precisa chorar princesa, a dinda já está melhor, ele ficou muito cansada aí a mamãe a colocou pra dormir, não precisa se preocupar, ela vai acordar daqui a algumas horas.
- Você ajudou ela igual daquela vez que ela ficou com medo do rato e teve que vir pro hospital? – pergunta fazendo todos rirem.
- Isso mesmo, ela é muito medrosa, ela viu um rato lá na delegacia por isso que tivemos que traze-la pro hospital de novo.
- Chefinha o que aconteceu? – Thiago entra correndo no quanto – é a loira 2? ela está bem? – pergunta indo pro lado da Julia.
- Ela ficou com medo do rato de novo tio T.
- Mas de novo? Que mulher mais medrosa, mas pensando bem se eu ver um rato acho que eu não desmaio eu morro mesmo. – diz dramático colocando a mão no peito.
- Não, você vai é gritar igual doido e matar o rato de susto. – respondo e ele ri.
- Tem razão, bem capaz de ser assim mesmo chefinha.
- Thi, leve a Manu pra dar uma voltinha.
- Mas mamãe eu quero ficar com a dinda até ela acordar.
- Ela não vai acordar por agora princesa, vai com o Thi que prometo que te trago de volta antes dela acordar.
- Já que vou ter que ir com ele, posso comer outro pirulito agora? – me olha com os olhinhos pidões.
- Você não tem jeito mesmo né? Isso é a convivência com a Julia, mas pode sim, só mais um.
- Ebaaaaaa, - a coloco não chão e ela sai arrastando o Thiago,- vamos tio T, eu te dou um, mas não o de morango, ele é o meu preferido.
- Sua filha é uma graça doutora. - a detetive diz.
- Quantos anos ela tem? – a delegada pergunta.
- Ela tem 5 anos.
- Ela é muito inteligente pra idade dela.
- Sim, e usa essa esperteza pra conseguir tudo o que quer, aquela danadinha consegue convencer qualquer um. – sorrio, me sento na cadeira que esta ao lado da cama segurando a mão da Julia.
- Doutora, será que você pode nos dizer o que aconteceu? – pergunta a delegada.
- Delegada, me chame de Marina por favor.
- Só se você me chamar de Isadora, - ela diz me dando aquele sorriso lindo.
- Tudo bem Isadora.
- Ótimo, então Marina, pode nos falar o que aconteceu? Vocês são mesmo parente o Alberto?
- Infelizmente sim, mas apenas no sangue, porque a muitos anos que não tenho contato com ninguém da minha família que não seja a Julia e minha vó que faleceu a alguns anos.
- Porque, o que aconteceu? - a detetive pergunta – desculpa eu me envolver, é que eu fiquei preocupada com ela.
- Não tem problema detetive.
- Apenas Luiza por favor.
- Ok Luiza, não tem problema perguntar, mas não posso dizer todos os motivos, a história não é só minha, é da Julia também, e é uma história que além de mim que presenciei tudo, ela só contou pra minha vó.
- Marina eu já vi aquele tipo de reação antes, e me preocupa ela ter reagido assim com uma pessoa que trabalha pra mim e que deveria ser um homem da lei. – fala Isadora.
- Aquele homem jamais deveria ter um distintivo, ele é um monstro. – falo com raiva.
- O que ele fez pra vocês? – Luiza pergunta.
Eu penso em contar, mas como eu disse antes, a história não é só minha, é uma história horrível, não tenho o direito de falar sem que a Julia permita.
- Sinto muito, realmente não posso falar, não sem a permissão da Julia.
- Eu entendo que você não queira quebrar a confiança dela, mas preciso que você compreenda que eu sou uma delegada e o Alberto trabalha pra mim, se ele fez algo pra vocês talvez eu possa ajudar.
- Eu agradeço, mas não a necessidade de ajuda, o que aconteceu foi a anos atrás e eu quero deixar no passado, não quero trazer isso de volta pra minha vida.
- Mas ele voltou pra sua vida, e pela reação que a Julia teve, pra ela não ficou no passado, ainda está no presente.
- Ela teve essa reação porque ele tentou se aproximar dela, e eu não vou permitir que isso aconteça novamente, não quero nem ele e nem ninguém da família dele perto de nenhuma de nós.
- Tudo bem, já percebi que não vou conseguir fazer você me falar porque ela teve essa reação, mas será que você pode me dizer então porque nunca ouvimos falar que você era irmã dele? Nem ele e ninguém da família dele nunca disse nada sobre você.
- Você conhece ele a muito tempo? Conhece a família dele?
Pergunto preocupa, porque se ela os conhece não quero ter contato com ela, e isso é uma pena, eu a achei muito linda.
- Conheço o Alberto a uns dois anos, quando assumi a delegacia ele já trabalhava lá, e já encontrei com a família dele em algumas festas que teve, mas não sou intima deles se é isso que você quer saber.
- Isso é bom, apesar de ter te conhecido hoje, não consigo imaginar você convivendo com eles, - olha pra ela e resolvo perguntar o que está na minha cabeça – quando ele entrou na sua sala ele deu a entender que foi lá só pra te ver, desculpa perguntar, mas vocês tem algum tipo de relacionamento? – na hora que pergunto ela faz uma careta e a Luiza começa a rir.
- Bem que ele queria, vive atrás dela, mas acho que ele não entende que não faz o tipo dela. – Luiza responde.
- Como assim, você não gosta de loiros delegada? – pergunto.
- Na verdade não, prefiro as loiras. – responde me olhando intensamente.
- E ele sabe disso? Sabe que você gosta de mulher?
Agora fiquei confusa, porque sei que ele é um preconceituoso.
- Não sei, nunca falei isso com todas as letras pra ele, mas não escondo quem eu sou, se ele ainda não percebeu é porque ele é um idiota, ou se já percebeu e continua insistindo deve ser porque tem um ego grande de mais e não aceita um não.
- Acho que é a primeira opção mesmo, porque se ele já tivesse percebido, nunca te trataria da mesma forma.
- Por que diz isso? – essa foi a Luiza – você já viu ele tratando alguém que seja homossexual diferente? porque comigo ele nem olha na minha cara, e já cansei de ver ele fazendo piadinhas sobre isso – olho pra ela sem entender muito bem, - eu também gosto de mulheres, não sei como ele não percebe que a Isadora não curte homem, estamos sempre juntas, e ela nunca escondeu de ninguém.
Sinto uma estranha dor no peito ao escutar essas palavras, não sei porque, mas não gostei de saber que elas estão juntas.
- Então vocês duas tem um relacionamento? – vejo as duas fazerem uma careta agora.
- Credo não, jamais teria alguma coisa com essa morena aí, ela é como uma irmã pra mim. – Isadora diz.
- Credo porquê? Você teria é muita sorte se tivesse algo comigo, sou muito gostosa – Luiza fala sorrindo – mas falando sério, eu também nunca teria nada com a ruiva, nos conhecemos desde criança, somos como irmãs, o que eu quis dizer foi que ela está sempre comigo, saímos juntas todas as vezes, e ela quando se interessa por uma mulher não consegue esconder, e você ainda não respondeu a minha pergunta.
- Ok, vou responder, eu disse isso porque ele é um preconceituoso, um verdadeiro homofóbico, não só ele como toda a família também.
- Sei que ele não gosta muito de mim pelo fato de eu ser lésbica, mas nunca o vi fazer nada mais que umas piadinhas. – Luiza fala.
- Pode acreditar, ele sabe disfarçar muito bem, eu vivi na pele esse preconceito.
- Você então já ficou com mulheres? – Isadora pergunta e vejo um pequeno sorriso nos lábios dela.
- Na verdade nunca tive vontade de ficar com um homem, desde de muito nova sempre soube que eu gostava era de mulheres.
- E a sua filha? Adotada não pode ser, porque ela é praticamente uma cópia sua.
- Eu sempre quis ser mãe, e depois que eu terminei meus estudos resolvi realizar esse sonho e fiz a inseminação, a Manuela é uma produção independente.
- Meus parabéns, ela é muito linda, puxou a mãe. – ela diz me olhando intensamente com aqueles olhos cor de mel.
- Obrigada. – fico um pouco sem graça.
Não sou muito de namorar, não sou santa, as vezes quando a carência bate eu fico com alguém, mas nunca dura muito tempo, o relacionamento mais longo que tive durou somente alguns meses, e eu nem era apaixonada por ela.
- Desculpa atrapalhar essa intensa troca de olhares entre vocês, - Luiza diz com um sorrisinho no rosto - mas voltando ao assunto anterior, Marina o que quis dizer com viveu na pele?
- Você e insistente né? – sorrio.
- Faz parte do meu trabalho fazer perguntas, não consigo desligar.
- Marina, se não quiser responder não precisa. – Isadora fala.
- Tudo bem, posso responder sim, - respiro fundo – eu disse isso porque quando eu tinha 14 anos dei o meu primeiro beijo e foi com uma menina e a Julia também beijou uma outra garota, o Alberto viu e nos arrastou pra casa, ele contou para nossos pais, isso gerou a maior confusão, não vou entrar em detalhes, mas por causa disso fomos expulsas de casa, nossa vó que nos acolheu e cuidou de nós, se não fosse pela vovó não sei o que teria sido de mim e da Julia.
- Vocês foram expulsas de casa com apenas 14 anos? – Isadora pergunta.
- Sim, o Alberto, meu pai e o pai da Julia, são homens extremamente preconceituosos, e nossas mães não fizeram nada para nos defender, - deixo uma lágrima escorrer – eles nos xingaram de tantos nomes, nos humilharam e até nos bateram, fiquei trancada no meu quarto por uma semana sem nenhuma noticia do que tinha acontecido com a Julia, depois de um tempo eles nos deixaram voltar pra escola mas nos fizeram jurar que nunca mais íamos nos envolver com outra garota, nós éramos muito novas e concordamos, mas não tem como negar o que você é, um mês depois o Alberto descobriu que ainda nos encontrávamos com as mesmas meninas e novamente apanhamos, depois que eles cansaram de nos bater nos expulsaram, aquela noite foi a pior noite de toda nossa vida, deixou marcas profundas em mim, e na Julia ainda mais.
- O Alberto também bateu em você? – Isadora pergunta.
Eu seco meu rosto e olho pra ela.
- Ele foi o que mais bateu, - ela está com uma expressão de raiva no rosto – ele é uma pessoa extremamente violenta, eu quero apenas distancia dele.
- Por que vocês não os denunciaram? - Luiza pergunta.
- Porque estávamos com medo, a Julia ficou muito traumatizada, aconteceu muito mais coisa, mas não vou falar porque diz respeita a ela também, nossa vó tentou nos convencer a denunciar, eu até estava disposta, mas a Julia não conseguia nem tocar no assunto, ela teve que fazer terapia para conseguir superar, pensei que tinha conseguido, mas depois de hoje vejo que me enganei, ela não superou e talvez nunca supere.
- Foi muito grave o que aconteceu com ela não foi? – Luiza pergunta, e vejo tristeza em seu olhar, ela está conversando comigo, mas olhando pra Julia.
- Foi sim, eu consegui impedir que o trauma fosse maior, mas mesmo assim é difícil pra ela superar o que aconteceu, - olho pra elas – se vocês não se importam, eu gostaria de não falar mais nesse assunto.
- Tubo bem, não vamos mais falar disso. – Isadora fala e vem na minha direção. – nós já vamos, precisamos voltar pra delegacia, aqui está meu número, me liga e me de noticias da Julia por favor.
- Pode deixar eu ligo sim. – pego o cartão que ela me deu.
- E pode me ligar também se você quiser apenas conversar, vou adorar receber uma ligação sua. – diz me dando um sorriso maravilhoso.
Elas se despedem e vão embora.
Fico com a Julia mais um tempo depois vou atrás da minha princesa.
Fim do capítulo
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Lea
Em: 23/05/2022
Fiquei aliviada em saber que a Manu é filha só da Mari.
Como sofreu essas garotas.
Isso não é família, são uns monstros.
Além de espancar as garotas,esse monstro abusou da Júlia?(Que verme esse Alberto)
Isadora se encantou pela Mari e foi recíproco. E Luiza se interessou pela Júlia!
Resposta do autor:
Manu é só dá Mari msm, ela é uma mulher independente e conseguiu realizar o sonho de ser mãe.
Marina e a Júlia já sofreram muito nas mãos dessa "Família". Coisas que deixaram cicatrizes profundas nelas.
Alberto foi o pior deles, e o que ele realmente fez ainda vai ser revelado mais pra frente.
E sim aquela sala da delegacia foi como um cupido para as nossas 4 mulheres.
Marta Andrade dos Santos
Em: 16/02/2022
Nossa!
Resposta do autor:
E estamos apenas no começo.
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