Capítulo 18

Lianna se jogou em sua cama e sorriu. Passou as mãos pelo rosto e bateu os pés no chão, balançando a cabeça e rindo sem fazer barulho para não acordar a prima. Felicidade. A felicidade parecia uma borboleta batendo asas e fazendo cócegas em seu estômago. Respirou fundo, tocando os lábios e sentindo o cheiro dos cabelos de Nicole em suas mãos. Suspirou e decidiu tomar um banho antes de dormir. Em poucas horas devia estar de pé e com energia para brincar com Milena. Não tinha certeza se conseguiria dormir com tamanha inquietação alegre dentro de si. Suspirou mais uma vez e fechou a porta do banheiro.

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Nicole sequer voltou ao salão de festas para ver se a festa ainda acontecia. Como dissera a Lianna, sem ela lá, não tinha graça nenhuma.

Em casa, caiu no sofá abraçando uma almofada forte contra o peito. Sorriu tanto, mas tanto, que parecia que a expressão tinha congelado em seu rosto. Fechando os olhos, parecia que sentia os lábios de Lianna sobre os seus. A delicadeza. A leve pressão que ia se tornando cada vez mais envolvente e exigente. Parecia que a outra adivinhava exatamente como gostava de beijar. 

"Nicole, Nicole você está perdida!" - pensou com leveza.

Lembrou da pele quente contra a sua, a forma como os dedos dela pressionavam e acariciavam sua nuca. Arrepiou-se. Um calor que se espalhava do pescoço descia em ondas por seu corpo. Havia sentido em alguém que conhecia há menos de 15 dias fazer todo essa revolução com seu corpo e mente? "Provavelmente estou enlouquecendo..." - respirou fundo e apertou as mãos ao redor da própria cintura. A pele queimava. "Se é loucura... É a melhor que poderia me acontecer!"

Ouviu um miado dengoso e olhou para os pés do sofá. Uma gata de pelos longos a olhava, sentada no tapete, com olhos curiosos.

-Carlota Regina! Venha aqui sua bolo-fofo! -pegou a grande gata cinza no colo e encheu-a de beijos. O animal roçou o topo da cabeça contra o queixo da dona e delicadamente se acomodou em seu colo. 

-Carlotinha, agora sei porque vocês gatas gritam pelo telhado! Estou com essa vontade! Gritar para o mundo a minha felicidade! - a gata a encarou, de alguma forma parecendo julgá-la. - Sim, sua dona é uma louca! De pedra! - riu mais alto ainda e foi para seu quarto com a fiel companheira nos braços.

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Manoela entrou na sua suíte, tirou os sapatos e jogou-os junto com a bolsa em um canto qualquer. Um carro de aplicativo a havia levado ao hotel, já que bebera demais para dirigir em segurança e Bruno não se encontrava em melhor situação. Ele até insistira para que ela passasse a noite em sua companhia, mas ela delicadamente declinou. A verdade é que sua cabeça estava cheia. Doía. Latejava a cada passo que dava em direção ao seu quarto. Ela preferia pensar que a ressaca havia chegado mais cedo. Não queria trazer à consciência as questões que há muito custo conseguira enterrar dentro de si. Aliás, nem sabia de onde haviam surgido. Nunca fora de pensar muito. Fazia o que queria e pronto. As coisas aconteciam sempre da maneira que desejava e era feliz assim. Era? Balançou a cabeça e fugiu do pensamento incômodo. Despiu-se e observou o próprio corpo no espelho que tomava toda uma parede do seu quarto. Havia marcas que entregavam um sex* bem feito. Mais, um sex* que ela esperara meses para fazer. Não que tivesse se abstido, longe disso. Mas queria Bruno. Colocara um alvo nele e insistira até conseguir o que queria. Ela sempre conseguia o que quer que desejasse. Era isso que importava. Os seus olhos no entanto, pareciam embaçados, estranhos. Pareciam carregar milhares de perguntas que ela não queria e não podia responder. Suspirou e se dirigiu ao banheiro para tomar um banho relaxante antes de dormir. Havia deixado um recado na recepção para Marlene não acordá-la. Precisava dormir. Muito. Dormindo não pensava em coisas que não deveria.

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Lianna acordou com um súbito peso sobre sua barriga. 

-Liiii! Acóidaaa! -Milena estava sentada sobre seu abdômen, empolgadíssima.

A administradora sorriu, abraçou e beijou a prima. Olhou para a porta do quarto e viu Fernanda parada, escorada na porta, com um pano de prato no ombro.

-Desculpe, Li. Não consegui mais segurar essa pestinha quieta! -sorriu condenscendente.-Quando fui verificar a lasanha no forno, ela fugiu para cá...

Lianna sentou-se, subitamente assustada. Olhou o relógio. 11h45 da manhã.

-Fer, porque não me acordou! Olha a hora!

-Não acordei porque vi a que a senhorita chegou junto com os raios do sol! -olhou-a levantando as sobrancelhas seguidas vezes e com um sorriso de canto. -E quero saber todos os detalhes...

Lianna jogou uma almofada na amiga, enquanto se levantava da cama.

-Só por essa carinha de bobona, já sei que a noite foi ótimaaas! -falou Fernanda, rindo e correndo para a cozinha, antes que a amiga lhe acertasse alguma outra coisa.  

Algum tempo depois, Lianna entrou na cozinha com Milena no colo. As duas conversavam animadamente sobre um desenho animado que a menina adorava. Quando percebeu que Fernanda lavava a louça, a administradora empurrou-lhe com o quadril e tomou-lhe a esponja das mãos. 

-Hey, dona Fernanda! Você não está de folga hoje? Vá se sentar!

-Eu estou de folga, Li, mas não aguento ficar parada, você me conhece... Fiz uma lasanha para o almoço... Não se importa de eu almoçar com vocês, não é? Os dedetizadores já liberaram o meu apartamento, mas Laura e Luana só vão chegar mais tarde... Aquilo lá fica tão triste sem elas...

-Uhhhhhh apaixonadinha! -debochou Lianna.

-Sim, muito! Não nego! -gargalhou. - Falando nisso... E essa carinha aí?

-Que carinha o quê, Fer...

-Esse sorrisinho permanente no rosto... A pele linda... Ah, safada, me conta tudo!

-Lianna virou-se e fez-lhe sinal para que moderasse as palavras, já que Milena às olhava atentamente.

-Ok, ok! Eu sei que crianças nessa idade são iguais a satélites, tudo elas captam... Mas, vem cá, aqui entre nós... Rolou né?

-Rolou nada, sua pervertida!

-Ah, mas algo aconteceu sim, não vejo esses olhinhos brilhando assim desde o teu namoro com o idiota do Gustavo. -falou revirando os olhos ao citar o nome do ex namorado da amiga.

-Ai, Fer, supera! Eu que fui a traída, perdoei o Gustavo e você ainda fala dele nesse tom!

-Você nunca ouviu falar que ninguém odeia mais o seu ex que sua melhor amiga? Para mim vai ser sempre um idiota! 

-Deixa ele pra lá, mulher! - ela abaixou o olhar e torceu o pano de prato entre os dedos. -Aconteceram alguns beijos...-falou baixo, um pouco mais alto que um sussurro.

-Eu sabia! Essa Nicole não dorme no ponto, gostei! Essa é das minhas!

-E como você sabe que foi com a Nick?

-Pra cima de mim, minha querida? Qualquer um perceberia os olhares entre vocês... Ela parecia orbitar ao seu redor, bebia suas palavras até quando você falava as coisas mais simples. E eu te conheço, você não a traria para conhecer a Milena se não fosse especial...

-Ela é... -as bochechas de Lianna assumiram um tom rosado e ela virou-se para continuar a lavar a louça, mas mais para esconder da amiga o rubor.

-E aí, o que mais aconteceu? -Fernanda não desistiria, tinha anos de prática de extrair quase à força as informações da amiga.

-Só isso... Mas foi... Incrível...-ela parou de lavar o prato que estava em suas mãos e apoiou-as dos dois lados da pia. -Incrivel! -suspirou.

Quando Fernanda ia pedir por mais detalhes, Dona Suzana entrou pela porta, Milena correu para ela e Lianna implorou com os olhos para que a amiga deixasse o assunto para depois.

*******

Nicole acordou às 13h com o telefone tocando. Por um segundo acreditou que seria Lianna. Uma felicidade asfixiante tomou seu peito, para no segundo seguinte se dar conta de que não havia dado o seu número para ela e sim, ficado com o número do telefone da outra mulher. 

Suspirou, passou as mãos pelo rosto afastando o sono dos olhos e atendeu a ligação. Era a secretária de sua mãe, explicando que ela era requisitada em uma reunião no outro dia, na primeira hora, em outro estado. Tentou replicar que recém havia chegado de uma viagem, mas não adiantou. A mãe precisava dela para conseguir o apoio de um grande investidor que ajudaria muito as suas fundações. Ela não poderia negar jamais. Confirmou os dados com a moça do outro lado da linha e levantou-se conformada. Verificou as malas que nem havia desfeito e acrescentou mais algumas coisas. Foi até a cozinha e encontrou Carlota Regina deitada no banco que ficava à janela. Era o lugar favorito da gata e o seu também. Sentou-se e pegou-a nos braços.

-Carlotinha, vou ter que viajar... Sim, de novo! -afagou o focinho macio e a ouviu ronronar. -E vou ficar mais uns dias longe de Lianna... Logo agora...

A gata miou como se compreendesse o que a dona falava.

-Eu sei, Carlota Regina, eu vou avisar a ela... Tá achando que eu sou esses cafagestes que some no outro dia? Não responda, sua insuportável! Eu sei que já fiz isso várias vezes, mas Lianna é diferente... - Suspirou. - E agora dei pra isso, ficar suspirando pelos cantos... E falando contigo como se fosse me responder! -riu, largando a gata de novo sobre o estofado e digitando rapidamente no celular.

-'Bom dia, Lila, sou eu Nicole! Dormiu bem?' -pensou que a mensagem era muito clichê, mas a enviou mesmo assim.

Alguns minutos depois, o telefone vibrou com a resposta.

-'Nicole? Quem é essa?' -as mãos da loira tremeram ligeiramente, mas em seguida outra mensagem chegou. -'Calma! Estou brincando! Dormi sim, já estou há algum tempo na ativa por aqui rsrsrsrs E você?'

-'Recém acordei, ou melhor me acordaram... Vou ter que viajar de novo, negócios...' -foi a resposta que Nicole enviou.

-'Ah, que pena! Mas são ossos do ofício, não é como dizem? Demoras?'

-'Uns dias, acredito que até o fim de semana estou de volta...'- nervosa, acrescentou - 'vou sentir sua falta...'

Desligou a tela do celular e o colocou sobre a mesa, virado para baixo. Caminhou nervosamente ao redor. Se perguntava se havia sido precipitada... O telefone vibrou e ela não tinha coragem de abrir a mensagem. O telefone vibrou de novo e a gata miou olhando em sua direção. Parecendo tomar o miado como incentivo, finalmente pegou o aparelho em mãos e leu a resposta de Lianna.

-'Eu também sentirei, minha linda!'

Sorrindo, abriu a próxima mensagem.

-'Mas sempre podemos falar pelo celular, não é? Se não estiveres muito ocupada... Quando puder me mande mensagem, que responderei o mais rápido que conseguir! Combinado?'

Com a sensação de fogos de artifício explodindo dentro do seu coração, ela respondeu.

-'Combinadíssimo.'

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Ao final do domingo, Lianna estava sozinha em casa. A tia saíra para ir ao mercado. Milena dormia. Fernanda fora para casa. A administradora se recriminou por ter deixado o computador no hotel. Haveria uma grande reunião no outro dia e, apesar de estar com tudo pronto, preparo nunca era de mais. A reunião seria sua primeira grande ação depois de assumir a administração do hotel. Estava empolgada, fizera uma apresentação impecável. Nada poderia dar errado.

Fim do capítulo