JUSTIÇA IMPLACÁVEL

Quinto Capítulo

Chloe estava parada na frente do prédio da amiga, decidindo se subia ou não, até o seu apartamento. Foi quando viu um carro esporte parar no outro lado da estrada, e dentro dele, estava Letícia com outra mulher.

— Obrigada pelo jantar, Toni.

— Eu é que te agradeço. Adoro conversar com você! — Falou sincera.

— Acho que você é uma santa, por conseguir suportar o meu mau-humor, dos últimos dias.

— É só uma fase, logo passa.

— Tomara! Até eu mesma, já não tô me suportando mais... — Letícia parou de falar, quando viu Chloe parada no outro lado da rua. — Parece, que alguém decidiu vir falar comigo.

— Já estava na hora! — Toni comentou brincando, quando também olhou na direção da garota. — Vai! Sai logo do meu carro, e vai lá conversar com ela.

— Você sabe que não manda em mim, né? — Falou ranzinza. Mas, no fundo, estava feliz por ver a amiga a esperando para conversar. — Obrigada! — Ela inclinou o corpo para o lado do motorista, e beijou Toni no rosto, antes de sair do seu carro.

Toni ligou o carro e foi embora, enquanto Letícia ficou parada esperando o trânsito diminuir para atravessar a rua. Ela ficou ansiosa para saber, o que Chloe queria e não a perdeu de vista. Quando conseguiu se aproximar da amiga, a ansiedade deu lugar a tensão... e se a loira, não estava ali por ela?

Frente a frente, as duas se olhavam nervosas, uma não sabia o que a outra estava pensando e isso só aumentava a agonia entre elas. Mas Chloe foi até o apartamento da morena para tentar se acertar com ela e não ia recuar.

— Podemos conversar? — Perguntou incerta se ela aceitaria. Letícia olhou fixo nos olhos da loira... o que mais elas teriam para conversar? — Por favor, Letícia! — Pediu apreensiva.

— Vamos subir. Não quero ficar exposta aqui na rua, com você... — A morena falou desviando os olhos dela e começou a caminhar para a portaria do prédio.

...

As duas estavam sentadas, de frente uma para a outra na sala da morena. Chloe pela primeira vez, se sentiu tímida na frente da amiga.

— Eu queria te pedir desculpas... — Começou insegura.

— ...?

— Por demorar a vir falar com você, sobre aquela noite.

— Você não era obrigada a fazer isso... eu até prefiro ficar longe de você se a minha preferência sexual, não te agrada. A última coisa que eu quero é forçar alguém a conviver comigo, acreditando que na primeira oportunidade, eu vou agarrá-la. Eu nunca tive segundas intenções com você. Nunca!

— Eu não tinha intenção de te magoar. Eu só agi feito uma idiota. E também, não pensei que você fosse me agarrar naquela noit...

— Como não? — A morena a interrompeu chateada. — Você não conseguiu dormir, acredito que você mal conseguia ficar deitada ao meu lado na cama naquela noite. Poxa, Chloe! Quando foi que eu tentei algo com você? Você pensa que uma lésbica não consegue se controlar dormindo ao lado de uma amiga? Teve um momento naquela noite, que você me olhou como se quisesse dizer: “Olha, vai embora! Porque agora, eu não confio mais em você dormindo na mesma cama comigo.” Você percebeu que eu estava quase dormindo quando você me abordou com o assunto Toni? Eu estava cansada e em nenhum momento naquela noite eu te desejei como mulher. — Desabafou magoada, enquanto Chloe a encarou enigmática. Ela sentiu uma angústia sufocar o seu peito, em saber o quanto decepcionou a sua amiga.

Sinceramente, ela não sabia o que dizer para tentar salvar a amizade delas. Suspirou desanimada e olhou em silêncio para o chão.

— Posso te fazer uma pergunta? — A loira falou olhando novamente nos olhos da morena, que apenas assentiu com a cabeça. — Por que você nunca me falou a verdade, sobre a sua sexualidade...?

— Por opção, eu não costumo comentar sobre a minha homossexualidade. Sou uma pessoa discreta, e não gosto de exibir as minhas companhias íntimas. E eu nunca na minha vida, sai à noite para um bar ou boate gay, atrás de sex* fácil ou perigoso. Fora, que não suporto ser abordada por mulheres atiradas. E a coisa mais importante, que eu quero que você saiba... é que... eu nunca dei em cima de mulher hétero, por respeitá-las. — Falou cansada.

Ambas ficaram em silêncio, com o olhar fixo em qualquer coisa, que não fosse uma na outra.

— Eu gosto de você, Letícia! Mas eu não sei te explicar, porque fiz aquele papel ridículo naquela noite. Não quero perder a sua amizade, e não desejo me afastar de você! — Suspirou vencida. — Mas se você não consegue me perdoar... eu não vou insistir. — Ela se sentiu quebrada, e imaginou o que a amiga havia sentido.

— Eu realmente fiquei muito chateada com você, Chloe... porque eu não imaginava que você fosse reagir daquela forma. Mas agora, é como se algo tivesse se partido dentro de mim, em relação a você. — Falou sincera, levando Chloe a sentir os seus olhos molharem.

A lágrima silenciosa que caia suavemente pelo rosto da loira, foi como uma flecha atravessando a armadura que a morena tentou erguer entre elas. Fragilizada e emocionada, ela se levantou e puxou a amiga para um abraço carinhoso. Chloe fechou os olhos e se entregou ao abraço se sentindo protegida. Letícia passou a mão suavemente pelos cabelos loiros, que caiam como cascatas sobre o seu ombro.

...

— Tiger, é verdade que a Chloe... quase foi atropelada?

— Ela não sofreu um atentado, senhorita Ribeiro...

— Como você sabe?

— Marcelo estava lá, e a protegeu. Ele me disse que o homem que dirigia o carro, não parecia ter intenção de atingir a senhorita Carvalho de propósito.

— Por que eu não fui informada, sobre esse incidente?

— Porque eu estava fazendo um trabalho fora da cidade, e só fiquei sabendo quando retornei. E Marcelo não tinha como falar, diretamente com a senhorita. — Letícia ficou, cada vez mais intrigada.

— E, porque o cara fugiu do local?

— Não sei... talvez ele tenha ficado nervoso. — Falou dando de ombro, como se fosse uma atitude normal.

Letícia encarou Tiger atentamente, tinha algo errado naquela história. Ele parecia displicente com a segurança de sua amiga, mas ela estava pagando muito bem, pelos serviços prestados.

— A Chloe me contou que está saindo com ele, isso é verdade?

— Temo que sim.

— Porquê? Eu estou pagando o cara como segurança sem ela ficar sabendo, não para eles se tornarem amigos íntimos. — Falou séria. — Ele está sendo antiprofissional... ele tinha que ter se negado a sair com ela, desde o primeiro dia. — Ela falou irritada.

— Eu concordo com a senhorita, mas ela estava sendo muito insistente com ele. — Letícia o encarou duvidando de suas palavras.

— Eu quero que ele se afaste da Chloe. Coloque outra pessoa, no lugar dele.

— Sim, claro! Mas, vou precisar de pelo menos dois dias. — Isso não era verdade. O que ele precisava era de mais tempo para o seu sobrinho.

...

Após Tiger sair, deixando a morena sozinha com os seus pensamentos, Letícia começou a andar muito agitada, de um lado para o outro na sua sala.

— O que está acontecendo com Tiger... porque ele insiste que esse Marcelo, é a pessoa certa? Céus! O que está acontecendo aqui? — A morena falou sozinha.

Antes de Tiger ir embora, ela havia marcado um encontro com o tal Marcelo para o dia seguinte. Letícia queria explicações de suas atitudes, e também queria conhecê-lo pessoalmente.

...

No mesmo dia, no apartamento da morena...

— Quer sorvete, Chloe? — Perguntou a morena.

— Claro que quero! — Disse ela

— E que tal um filme? — A loira sorriu aceitando.

Letícia terminou de colocar o sorvete de chocolate na tigela. Ela colocou uma porção bem generosa, pois sabia que a loira era apaixonada pela guloseima. Depois, ela ergueu o braço por cima da mesa americana e quando Chloe esticou a mão para pegá-lo, Letícia o tirou do alcance dela.

— Não sei se você merece, por ter me deixado esperar. — Letícia falou sorrindo.

— Não foi minha culpa! Eu fiquei presa no trânsito. Marcelo não apareceu para me dar uma carona como combinamos e eu tive que pegar um Uber.

— Marcelo? Vocês dois tem se encontrado bastante, não é? — comentou Letícia.

— Sim, nos tornamos amigos após aquele incidente em que ele me salvou. — Respondeu pegando a tigela de sorvete. — Mm! Está uma delícia!

A morena ficou perturbada com o pensamento de que precisava contar a verdade para a amiga. Mas como faria isso, se as coisas tomaram um rumo completamente diferente?

Ela estava começando a pensar que o tal Marcelo era um canalha que se aproveitou da situação a favor dele. Também que mulher não ficaria agradecida por ser salva por um rapaz jovem e bonito, e disposto a lhe dar total atenção? Mas Chloe precisava saber a verdade.

— Chloe, eu preciso...

— Ah! É ele! Eu vou atender lá na sala. Já volto! — Preocupada, a morena percebeu o entusiasmo que a amiga atendeu a ligação no celular. Observou de longe, que a loira estava com um sorriso no rosto ao falar com ele ao telefone.

— Tá tudo bem? — Perguntou quando a loira voltou.

— Sim. Ele ligou para pedir desculpas por não ter aparecido, para me dar carona até a sua casa.

— Entendo. — Letícia estava notando um brilho diferente nos olhos da loira. Ela percebia que a amiga estava mais envolvida com o rapaz do que imaginava. A morena gostaria que a loira fosse com mais calma naquela relação.

Chloe colocou o celular em cima da mesa, perto delas antes de pegar novamente a tigela com o sorvete.

— Realmente está uma delícia! — Falou saboreando o sorvete.

— Prefiro o meu chá. — Comentou displicente.

— Falando assim, você parece uma velha. — A loira provocou.

— E você parece uma adolescente deslumbrada. — Falou sem conseguir se conter.

— Você sabe que eu adoro sorvete de chocolate! — Reclamou Chloe.

— Eu não estava falando do sorvete... — Imediatamente, Chloe encarou a morena nos olhos. Os olhos azuis tentavam decifrar o que a morena queria dizer com aquilo. Se a loira não se enganava, ela estava falando sobre o seu amigo Marcelo.

— Você gostaria de me dizer algo? — Perguntou direta.

— Só gostaria que você tomasse mais cuidado com esse cara. Você não conhece o caráter dele, e nem se ele é uma boa pessoa. — “ Vai Letícia, conte a verdade pra ela! ” dizia baixinho, uma voz em seu interior.

Como Chloe não gostou do que ouviu, ela tratou de defender Marcelo para a amiga:

— Quando eu fui salva por ele de ser atropelada por um carro, ele me pareceu ser uma boa pessoa. Não acredito que qualquer um faria aquilo. Ele arriscou a própria vida para salvar a minha. E nós nem nos conhecíamos. Não acho legal essa sua observação depois do que ele fez por mim. — Comentou um pouco irritada com a amiga.

— Ei! Calma, Chloe! Só estou tentando abrir os seus olhos, para um cara que você mal conhece...

— Acho melhor nós duas mudarmos de assunto. — A loira continuou chateada e Letícia cedeu, pois, não queria perder mais terreno para aquele filho da...

— Okay! Não está mais aqui, quem falou. — Brincou sem graça.

A loira não conseguia entender o que estava acontecendo com a sua amiga Letícia. Por que ela estava deliberadamente, pegando no pé daquele rapaz? Ela parecia estar com ciúmes, mas não havia motivo para tal sentimento.

A loira podia afirmar com certeza, que ela e o Marcelo estavam se tornando apenas bons amigos que se conheceram a pouco tempo. “Ciúmes?”

Letícia tentou fugir do olhar de interrogação da loira, quando a convidou para ir para a sala assistir ao filme. A moça concordou.

...

Fim do capítulo