Sexto Capítulo

 No final das contas, a noite ao lado da morena foi muito agradável. Elas assistiram ao filme tomando sorvete e comendo pipoca. Como ficou tarde para ir embora sozinha, a loira aceitou quando Letícia a convidou para dormir no seu apartamento. Chloe aproveitou e perguntou se podia tomar um banho, antes de ir dormir.

— Vou pegar um pijama para você dormir e vou deixá-lo em cima da cama no quarto de hóspedes, enquanto você toma banho.

— Obrigada! — a loira agradeceu sorrindo. Feliz, Letícia sorriu de volta. A morena agradecia a amizade que tinha com a loira. Chloe tinha um lugar especial no seu coração.

Não queria que ninguém a magoasse ou a machucasse, e ela faria o que estivesse ao seu alcance para que isso nunca acontecesse. A morena havia decidido que no dia seguinte, ia confrontar o tal Marcelo. Letícia não o conhecia, mas já o odiava!

Quando entrou no quarto, enquanto colocava delicadamente o pijama dobrado em cima da cama como havia prometido, Letícia ouviu o barulho do chuveiro ligado.

Sem querer, ela imaginou a água caindo suavemente no corpo nu da amiga. Aquele pensamento a deixou excitada e ela sentiu uma vontade absurda de entrar naquele banheiro e tomar banho com a loira.

Mas ao perceber que estava desejando a amiga, a morena respirou fundo saindo apressadamente do quarto.

Aquilo não estava certo! Chloe não merecia ser tratada como se fosse um objeto sexual, como se fosse uma mulher qualquer.

No fundo, Letícia sabia que era bem mais do que desejo o que sentia pela loira de olhos azuis. Não conseguia determinar quando foi que se apaixonou pela amiga, mas sentia ser um sentimento muito forte e avassalador. Foi como se aquele sentimento tivesse sido despertado quando havia sido confrontada pela loira. Naquele momento, ela percebeu que o desejo sempre esteve presente, mas que havia ficado adormecido por medo de perdê-la.

Por isso mesmo, ela precisava continuar escondendo o que sentia e o quanto passou a desejá-la. Temia como a loira iria reagir ao descobrir os seus verdadeiros sentimentos por ela. Assim, como não sabia como a amiga iria reagir ao descobrir a verdade que a morena estava escondendo dela.

Teria dias difíceis naquela semana para resolver alguns problemas na galeria e precisava manter os pés no chão. Não podia ser impetuosa e tentar avançar o sinal com a loira. Não depois de ter dito a ela que na0 a desejava como mulher. A morena preferia sofrer com aquilo engasgado em sua garganta, do que sofrer com a rejeição da amiga. Não iria passar por aquilo de novo.

Chloe se concentrou na água quente que caia no seu corpo e pensou no seu novo amigo Marcelo. Ela não conseguia entender a antipatia que Letícia sentia por ele.

“Letícia”, a loira sentia o seu sangue ferver quando pensava na morena. Isso passou a ser uma constante na sua vida nos últimos dias. Ela fechou involuntariamente os olhos e deixou que a água batesse no seu corpo, sentindo uma onda gostosa de prazer, que começou na espinha e terminou na sua parte mais íntima. Não conseguiu evitar um pequeno gemido de frustração.

Letícia não sabia que Chloe também passou a deseja-la, e que em silêncio tentava entender e absorver o que estava sentindo por ela. Prezava pela amizade que havia conquistado da morena e depois do papelão ridículo que fez naquela noite com ela, se sentia envergonhada por ter agido daquela forma. Além do mais, ela havia deixado claro que não a desejava... que não se sentia atraída por ela.

Letícia adormeceu pensando no que faria no dia seguinte e ouvindo a chuva que batia de leve na janela do seu quarto. A loira adormeceu pensando na amiga.

...

No dia seguinte, Chloe abriu a porta do quarto e foi buscar as suas coisas espalhadas pela sala da morena. Tinha uma entrevista importante agendada para aquela manhã e não queria se atrasar. Estava escrevendo um bilhete para a amiga, antes de sair do apartamento quando a morena saiu do seu quarto e foi se despedir dela.

Só deu tempo de combinar sair mais tarde para almoçar juntas, e Chloe precisou sair correndo. Mas subitamente antes de sair pela porta, ela voltou e deu um beijo de despedida na amiga.

Foi um beijo rápido que mais tarde ao se lembrar, iria deixar a loira sem graça. Na pressa, ela havia dado um beijo rápido nos lábios da morena que havia correspondido como se aquele gesto íntimo, já fizesse parte da rotina delas.

Mais tarde...

A música que tocava no restaurante parecia bem distante, e a loira esperava ansiosa a presença da morena. Letícia entrou no restaurante e procurou a mesa que a loira estaria sentada a esperando. Quando encontrou aquele par de olhos azuis, rapidamente ela caminhou em sua direção.

— Oi, Chloe! Espero não a ter feito esperar por muito tempo.

 Conversas e risadas discretas nas mesas vizinhas, eram os únicos sinais de que as duas não estavam sozinhas.

Chloe pensou em se levantar da cadeira onde estava sentada para dar um beijo na face da morena, quando lembrou que talvez não fosse uma boa ideia. Ela sentiu o rosto pegar fogo e as bochechas ficarem vermelhas de vergonha da lembrança do selinho. E aqueles lábios vermelhos, que pareciam um imã atraindo a boca da loira.

Cumprimentou a amiga com o coração disparado no peito.

— Eu também acabei de chegar. — Respondeu agitada. Letícia percebeu que a loira estava um pouco estranha.

— Você está bem?

— Sim! Porque não estaria? — Perguntou alarmada.

— Não sei, me diz você...

— Só estou um pouco nervosa por causa da entrevista de mais cedo. — Mentiu.

— Hm! E como foi? Deu certo?

— Sim. Consegui entrevistar o ex-promotor do caso da “Máfia das mulheres escravas sexuais”. Mas ele não quis me dar muita informação sobre o que aconteceu nos bastidores daquele julgamento. — Fez uma breve pausa — Eu tentei argumentar que tudo deveria ser de conhecimento público, mas ele foi muito taxativo nas respostas. Depois desse encontro, eu acredito que ele também estava envolvido nessa tramoia toda que foi aquele julgamento.

— Você tem que tomar cuidado, Chloe! Eu já te falei antes que você está se metendo com as pessoas erradas. Eles são muito perigosos e poderosos. Existem muitas pessoas importantes e influentes nas garras dessa máfia. — Chloe olhava atenta ao que Letícia dizia. — O incidente que você sofreu com o carro que quase te atropelou, eu acredito que tenha sido um atentado!

— Você está sendo muito melodramática! Está vendo coisa onde não existe! — Retrucou chateada. — Só estou tentando fazer o meu trabalho de repórter. Foi pra isso que estudei por cinco anos.

— Não estou tentando fazer você desistir do seu trabalho, só estou tentando fazer você refletir sobre o perigo que você pode estar correndo. Pelo menos, me deixa contratar alguém para ser o seu segurança. Eu ficaria mais tranquila se você aceitasse. — Assim, ela poderia tirar Marcelo da jogada, já que a morena não confiava nele.

— Não quero, Letícia! E por favor, não insista nessa história absurda de segurança. — Letícia se sentiu numa sinuca de bico. Naquele momento, ela não via outra alternativa, a não ser deixar que a amiga se envolvesse com Marcelo. Ao menos, imaginou que ele a manteria em segurança na presença dele.

O garçom se aproximou da mesa e elas fizeram os seus pedidos. Um clima estranho tomou conta delas. Era a primeira vez, que uma não queria interagir muito com a outra. Durante o almoço o silêncio predominou na mesa delas.

No final do almoço, quando já estavam se despedindo na frente do restaurante, Letícia entregou uma cópia da chave do seu apartamento para a amiga.  

— Eu quero que você fique com essa chave. Assim, quando você quiser, poderá entrar no meu apartamento. Gostaria que você ficasse lá por alguns dias. Me fazendo companhia e também, me deixando mais tranquila.

— Letícia, não sei se é uma boa ideia! — Falou sem pensar. — Eu nunca fiquei com a chave de ninguém! Se eu fizer isso, vou me sentir invadindo o seu espaço!

— Chloe, por favor! Faz isso por mim? Além disso, adoro a sua companhia. — Terminou a frase com um olhar pidão, que deixaria 0lhar do gato de botas no chinelo.

— Okay! Você venceu!

— Te espero mais tarde, lá em casa! — A morena começou a andar indo embora, antes que a amiga mudasse de ideia.

Chloe a observou entrar no carro e com um sorriso no rosto, começou a caminhar de volta para a própria casa. Era incrível a confiança que a amiga depositava nela.

“Você é linda, e tem um corpo incrível!” foi o que a morena comentou com ela, quando num determinado dia, a loira estava se sentindo pra baixo em relação aos homens que se envolvia.

...

Muito séria, Letícia encarou Marcelo que estava sentado na frente dela. Então, era ele o cara que a amiga estava se envolvendo. Bom, não conseguiu ver nada de especial nele. Ao contrário, ele tinha um sorrisinho idiota que não saia do seu rosto desde que entrou na sala particular da morena.

— Eu quero explicações para o seu envolvimento com a minha amiga, na qual você está sendo muito bem pago para proteger e não ficar dando em cima dela.

— Não tive outra opção a não ser salvá-la de ser atropelada pelo carro. Depois ela começou a falar comigo agradecida pelo que fiz. Eu não podia simplesmente ignorá-la.

— Mas, é o que você devia ter feito! E eu não estou cem por cento certa sobre a veracidade dessa história.

— Infelizmente, a senhorita terá que confiar em mim. Pense bem, saindo com ela fica até mais fácil, protegê-la. — Comentou sarcástico.

— Ou seja, você quer unir o útil, ao agradável. — Desdenhou — Só que você se engana, se pensa que vou tolerar que se aproxime intencionalmente dela.

— Lamento dizer, mas isso já aconteceu! Não quero ser um desmancha prazer, mas se eu me afastar dela, como vou protegê-la?

— Não tenho certeza se você é a pessoa certa para esse trabalho. — A morena olhou para o ex-segurança. — Tiger, eu pensei que você me apresentaria um profissional, e não esse rapaz que aparenta ser... inescrupuloso! — Comentou destemida na frente dele.

— Acho melhor, a senhorita tomar cuidado com o que diz ao meu respeito. Salvei a vida da moça como me foi designado a fazer. Não sou culpado se ela se interessou por mim. — Comentou arrogante. — Além do mais, ela é adulta e já sabe muito bem o que quer.

  ...

Fim do capítulo