Capitulo 12
Capítulo 12
Os dias que se seguiram foram incrivelmente calmos. Lianna até mesmo estranhou este fato. Manoela chegava no horário, recebia suas tarefas e as realizava sem lhe dirigir mais do que duas ou três palavras durante todo o dia. Às 17h, horário em que o expediente encerrava, ela simplesmente pegava sua bolsa e ia embora.
Ela aparentemente estava apenas suportando o trabalho. Não se esforçava em aprender, não perguntava, não interagia. Estava lá, apenas.
Por um lado, Lianna considerava mais tranquilo trabalhar assim, preferia o silêncio à animosidade abertamente hostil com que fora brindada nos primeiros dias de convivência com Manoela. Por outro, se sentia preocupada com o futuro da rede de hotéis, quando a Sra. Maria Isabel faltasse e tudo ficasse nas mãos da filha.
Quase todos os dias saía horas após o expediente, sempre buscando resolver algo a mais, fazendo seu trabalho cada vez melhor. Gostava do ambiente, das tarefas, do sentimento de dever cumprido quando finalmente chegava em casa.
Não se encontrara mais com Nicole. Adorara sua companhia, ansiava por vê-la de novo. Passaram momentos tão agradáveis que se esquecera de pegar o número de seu telefone. Claro que podia pedi-lo à Manoela, mas guardava algum receio da resposta da morena.
O sábado finalmente chegou. Devia remeter o relatório sobre o desenvolvimento de Manoela à Sra. Maria Isabel. Usando de toda a imparcialidade e impessoalidade possível, digitou em algumas linhas o que ocorrera durante a semana. Os pequenos incidentes, mas também os dias posteriores em que ela chegava no horário e realizava as tarefas que lhe eram passadas de maneira satisfatória.
Ela não sabia, mas Graça também enviara um relatório sobre as atividades que a administradora desenvolvera e sobre o desenvolvimento de Manoela.
Maria Isabel os recebera, esperando as várias reclamações sobre Manoela. Quase como a mãe de uma criança agitada temia a reunião de pais e mestres a cada fim de semestre. No entanto, aparentemente, a filha não causara demasiados problemas após o início conturbado. A conhecendo como conhecia, ela desconfiava desse comportamento. Resignada, torceu para que estivesse errada.
**************
Manoela entrou em sua suíte e se deixou cair no sofá da sala. Tirou os sapatos e jogou a bolsa em cima de uma poltrona. Agradecia mentalmente pelo fim da semana. Sua mãe devia receber o 'relatório' de suas atividades naquele dia e provavelmente ligaria furiosa, gritando e ameaçando. Revirou os olhos. Pensou que era óbvio que Lianna faria descrições horríveis a seu respeito. “Aquela pequena puxa saco!”.
O lado positivo era a festa que Nicole daria à noite. Muita bebida, boa música, gente bonita. E o Bruno. Suspirou e sorriu, abraçando uma almofada. Não sentia nem vontade de almoçar, tamanha era sua ansiedade. Resolveu ligar para a amiga. Ela havia viajado com a mãe para a África do Sul para ajudar com alguma coisa das instituições que elas ajudavam a gerir. Não se falaram muito durante os últimos dias por causa do fuso-horário e também pq não tinha paciência para ficar longos minutos ouvindo a amiga falar sobre as crianças, as dificuldades e vários outros detalhes. Entretanto, sabia que ela devia estar chegando no país ou, quem sabe, até já estivesse na cidade ultimando os detalhes da festa.
O telefone chamou algumas vezes antes que Nicole atendesse:
-Fala minha linda, achei que tinha me esquecido, todos esses dias sem me ligar?!
-Tá carente, Nick? - gargalhou, Manoela.
-Estou, me descola o telefone da sua chefinha que ela resolve isso! - Nicole provocou, sabendo como a amiga reagiria.
-Me erra Nick! Já encerrei o 'expediente' e não quero saber daquela lá, só da sua festa! Já está na cidade?
-Ô amiga ciumenta essa minha! Mas respondendo sua pergunta, já estou sim, chegamos de manhã!
-Que bom! Então tudo certo pra mais tarde?
-Sim, sim. Tá todo mundo confirmado, tudo certinho, já! Por falar nisso... - Manoela sentiu que a amiga enrolava para falar. - Sabe como eu consigo o telefone da Lianna, queria convidar ela... Eu brinquei antes sobre te pedir o número dela, mas realmente queria que ela fosse na festa...
"Ah, pronto!" - pensou Manoela. "Era só o que me faltava!"
-Claro que não tenho né, Nick. E mesmo se tivesse, duvido que aquela criatura chata daquele jeito ia querer ir em festa! Aposto que deve estar trabalhando em casa, uma hora dessas ou quem sabe limpando e cozinhando! - revirou os olhos, em sinal de tédio.
-Manu, já falei que não gosto que você se refira assim a ela. Se você não notou, eu estou muito a fim dela!
-Ah, fala sério né Nicole! Como se eu não te conhecesse...
-Aparentemente não conhece mesmo! - sem dizer mais nada, Nicole desligou.
Manoela permaneceu alguns segundos olhando aturdida para a tela do telefone. "O que aconteceu aqui?"
*******
Nicole desligou a chamada com uma sensação horrível no peito. Não gostava de atritos, ainda mais com Manoela, a quem considerava como melhor amiga. Nem sabia porque tinha reagido assim. Já tinha presenciado os preconceitos da outra mais vezes do que era capaz de contar. No entanto, ouví-la falar de Lianna daquele jeito de algum modo afetara seu íntimo.
Pensando bem, era realmente estranho. Ela vira a moça três vezes, saíram uma, foi bem divertido e, no entanto nada demais aconteceu. "Nicole, Nicole, o que está acontecendo com você?".
Pegou as chaves do carro e saiu. Dirigir a acalmava, precisava colocar as ideias em dia.
*******
Lianna terminara suas últimas tarefas e se preparava para ir embora. Estava satisfeita em como a semana havia sido produtiva. Decidiu deixar seu notebook em vez de levá-lo para casa, pois pretendia dedicar o fim de semana a Milena. Um sorriso iluminou sua face ao lembrar da prima. Planejava levá-la no parque, ver os peixes no lago que lá havia, comer guloseimas e brincar bastante com ela. Sentia falta do seu furacãozinho como a tia chamava a pequena.
Na saída de sua sala encontrou Graça que também estava indo embora. Partilharam o elevador, conversando amenidades. Se despediram no saguão, enquanto a outra se dirigiu para a saída, Lianna foi conversar com Carlos para saber se sua tia já chegara.
-Pronta para aproveitar o fim de semana, menina?- perguntou educadamente o senhor.
-Oi Carlos, claro. Pretendo descansar bastante e pensar em hotéis somente na próxima segunda-feira. - sorriu para ele.
-Isso mesmo! Meu filho trabalha bastante durante meses, já lhe contei que ele trabalha em um navio, não é?! Mas quando está em terra firme, ele sai bastante. Curte, como ele diz. Vocês jovens precisam aproveitar!
-Minha diversão esse fim de semana será com Milena, vou mimar bastante aquele pequena! Ainda mais que tia Suzana vai pegar o turno da Irina, vai estar bem ocupada... Ela já chegou?
-Ainda não! Uma pena vocês não se encontrarem...
-Pois deixe um beijo meu a ela, Carlos. Vou indo lá senão perco o trem! -falou já se dirigindo à saída.
Lianna saiu apressada, mas mesmo assim, quando chegou à estação foi informada pelo funcionário que o trem recém havia partido. Suspirando resignada, ela saiu em direção à parada de ônibus. Demoraria bem mais para chegar em casa agora. Principalmente porque o ponto mais perto era quase em frente ao hotel, teria que voltar todo o caminho e esperar passar um veículo que fosse para algum lugar perto de onde morava. Seu estômago roncou, reclamando o almoço que ela não havia comido ainda.
Quando passava em frente ao hotel novamente, percebeu que um grande SUV cinza parecia acompanhá-la. Os vidros escuros não a deixavam ver quem era. Ela acelerou o passo, começando a ficar intimidada. No momento em que decidiu entrar no hotel e pedir ajuda à Carlos, o carro parou e quando o vidro abaixou ela viu Nicole sorrindo em sua direção.
-Nicole Linhares está tentando me matar do coração? -falou, com uma expressão entre assustada e brava a qual a loira achou adorável.
-Calma, mulher! Sou eu! Levou a sério o negócio do sequestro, não é?
Lianna respirou tão profundamente que Nicole quase pode escutar o som de dentro do carro.
-Está indo para casa? Entra aí que eu te levo!
Novamente uma figura solitária observava a cena do alto do hotel.
*******
Manoela ficou pensando sobre a conversa que tivera com Nicole. A outra reagira mesmo daquela forma por uma garota que conhecia há menos de uma semana? Pegou uma garrafa de água no frigobar e se dirigiu à grande janela que dava vistas para a frente do hotel.
Ficou um longo tempo apenas observando o movimento das pessoas e carros.
Passado algum tempo que não foi capaz de determinar percebeu o carro de Nicole se aproximar pela avenida.
"Ah então ela resolveu vir me pedir perdão pessoalmente! Finalmente caiu em si!"
No entanto, para sua surpresa, viu a amiga parar o carro e abrir a porta para uma moça entrar e em seguida ir embora. Ela sabia quem era. E sabia o que tinha que fazer.
Tomada por uma energia súbita aumentada pela raiva, ciúmes e alguns outros sentimentos que não conseguia nomear, largou a água e saiu batendo a porta da suíte.
Dirigiu-se para o escritório que ocupava com Lianna. Sabia que não havia ninguém lá, pois vira pela janela quando Graça foi embora. Precisava apenas contar com a sorte. Se sua visão não a enganara, a administradora não carregava sua pasta quando entrou no carro de Nicole.
Passou pelo segurança que lhe olhou curioso, mas logo saiu apressado quando percebeu que era ela e notou a expressão que transfigurava seu rosto. Adentrou rapidamente em sua sala e percebeu o objeto que procurava em cima da mesa de Lianna. Agora seria o momento decisivo. Abriu o notebook e pressionou o botão de ligar. A tela de senha apareceu. "Droga!".
Lembrou que um amigo formado na área da informática sempre falava que a maioria das pessoas usava senhas baseadas em coisas da sua vida pessoal. Ela não sabia a data de aniversário dd Lianna senão tentaria isso. Parou um pouco, pensando nas parcas informações que tinha a respeito da outra. O dedo batia na mesa, enquanto ela observava a tela. Após alguns segundos, digitou uma palavra , torcendo para ser a certa. Um sorriso maligno se desenhou em seus lábios quando a tela inicial apareceu. "Lianna, Lianna, uma administradora cheia de formações e blablablás e coloca o nome da tia como senha? Quanta ingenuidade!"
Fim do capítulo
Atrasado... Mas antes tarde do que nunca né? ;)
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Marta Andrade dos Santos
Em: 26/01/2022
Vixe ou mulherzinha aperiada
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paulaOliveira
Em: 26/01/2022
Tem como deixar a história apenas na Lianna e na Nick? pq essa Manoela não dá não!
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